O interrogatório de David no FBI
mais se pareceu uma entrevista. Não por vontade de Peter. Para ele, qualquer
pessoa com participação em crimes tinha a mesma obrigação de colaborar para a
sua resolução. O fato de ser o Primeiro Ministro Inglês era um detalhe sem
importância. E, mesmo ele não sendo o culpado de tudo o que se passou na vida
de Rachel, era o responsável por aquela teia de mentiras. Stone não concordou.
- Estamos falando de um chefe de
estado e não de um criminoso. Pegue leve...e lembre-se que ele pode nos
auxiliar no caso.
Aquele tratamento especial, Peter
desconfiava, tinha ligação com a reunião que David teve com o presidente dos
EUA. Muito provavelmente, ele buscava apoio da Casa Civil Americana no caso de
Rachel Turner. E isso desagradava e muito o senso de justiça de Peter.
Independente dos desvios de Rachel terem sido causados por uma criação indevida
e abusiva por parte de John, ela havia matado, assassinado pessoas a sangue
frio. E deveria pagar por isso. Não em regime fechado, afinal a conhecia e
entendia que merecia a liberdade junto da família. Mas também não deveria sair
ilesa enquanto muitas famílias choraram por suas atitudes. Rachel deveria
seguir monitorada pelo FBI e com a circulação restrita por uma tornozeleira eletrônica.
Era nisso que Peter acreditava.
- Me conte exatamente quando descobriu
que Rachel Turner e Melanie, sua filha sequestrada, são a mesma pessoa. – Pediu
Peter.
- Quando você ainda a chamava de
Rebecca Lowe, senhor Burke.
Aquilo irritou muito Peter.
- Quero detalhes, por favor. – A
arrogância daquele homem lembrava a postura de Rachel durante os
interrogatórios. Mesmo nunca tendo convivido com ele, Rachel tinha muito de
David Williams. – Quero saber como descobriu e porque não tomou nenhuma atitude.
Não a procurou e tão pouco alertou as autoridades de que Rebecca era uma farsa.
- Ora Peter. Eu me decepcionei
muito. Não esperava que minha menina fosse uma assassina. Por isso não a trouxe
para junto de mim. Eu entrei em choque ao saber de sua história de serviço à
MI5, traição e prisão, fuga e então consegui entender o que ela estava tentando
fazer ao se aproximar do FBI, de Neal Caffrey e de você.
- Mas não a denunciou.
- Ela é minha filha. Não a
entregaria para vocês, não importa o quanto estivesse decepcionado com minhas
descobertas.
- Se tivesse feito isso talvez o
agente que ela matou ainda estivesse conosco aqui e ela não teria mais essa
morte para se arrepender. – Peter lembrou-o que os resultados daquelas mentiras
foram muito profundos e definitivos.
- É impossível salvar a todos,
Senhor Burke. Sinto pelo seu colega. Mas não me cabia salvá-lo. E nem esperava
encontrar minha filha dessa forma. Eu achava que as pistas me levariam ao seu
sequestrador, não à Melanie.
- Eu imagino seu choque ou ver no
que ela se transformou.
- Sim. E esse foi o meu maior erro.
– Nesse momento Peter viu emoção em David. – Não disse nada para Brígida nem
Melissa. Elas sabiam que eu procurava por Melanie, mas não exatamente como. Eu
guardei o segredo e fiquei acompanhando tudo pela imprensa. Que ela foi presa e
eu achei que era o fim. Já tinha pesquisado todo o seu histórico e sentia medo
inclusive de vê-la ser condenada a morte. Então soube de sua fuga.
- Imagino a decepção de um pai nessa
situação. – Peter falou.
- Não, senhor Burke. Nesse momento
eu senti orgulho. Lembro até hoje da manchete de um tablóide inglês que
debochava da situação. Dizia “ela colocou vários homens fardados para correr” e
eu me surpreendi ao ver-me torcendo por minha filha. Para que ela fosse feliz,
independente de seus erros.
- E depois? – Peter não fingiria que
entendia esse tipo de comportamento. Mas talvez isso explicasse a forma como
Rachel encarava a vida.
- Vieram tempos difíceis. Não tive notícias
dela e mais ninguém aproximou-se das pistas que deixei para o diamante. Cheguei
a pensar que estava morta e contei toda a verdade para Melissa e Brígida. Elas
ficaram com raiva. Mas então meses depois Rachel reapareceu e eu soube que era
avô! – Agora o orgulho se manifestava em sua voz. – George me conquistou à
distância. Que menino especial! E eu a protegi como pude.
- O que quer dizer com isso? – Peter
previa uma resposta a quem iria desgostar.
- O senhor foi muito inteligente ao
inseri-la em sua equipe. Minha filha é a melhor agente que sua equipe poderia
ter. Mas às vezes o acordo com o FBI ficava frágil por algumas dificuldades. E
eu o sustentava.
- Está afirmando que fraudou
decisões da justiça?
- Estou dizendo que fiz ajustes
necessários para manter o rumo correto. Ora Burke! Nunca se imaginou porque a
MI5 não lutou para que Rachel fosse cumprir pena na Inglaterra? Ou porque,
depois que ela pegou em armas, descumprindo o acordo, ele não foi revogado? Ou,
ainda, porque você acha que conseguiu um novo pacto após ela e Neal terem fugido
para a França? Não foram coincidências! Eu estive sempre protegendo minha
filha!
- Então porque não veio falar com
ela? Porque mandar Nohan e Melissa em seu nome?
- Porque eu sabia que Rachel não me
receberia bem e gostaria que ela convivesse com a irmã primeiro, sem
desavenças. Mas o ressurgimento de John Turner acabou com esses planos. Eu vi
que protegê-la à distância seria impossível.
Peter não queria discutir nada
daquilo. Na verdade, se levasse tudo aquilo ao pé da letra, teria que abrir
novos inquéritos. E não pretendia. Já lhe bastava a investigação contra John
Turner.
- O que sabe de John e como pode nos
ajudar a encontrá-lo? – Perguntou de forma direta.
- Não vão pegá-lo. Ele é
escorregadio.
- Temos a pedra para atraí-lo.
- Verdade. – David respondeu
amenamente. – Mas ele sabe que, se tiverem a pedra farão isso. A única
informação de que você dispõe, Peter, e ele não, é que o diamante jamais esteve
escondido. Entregue isso a John e você perdeu sua única vantagem.
- Então qual sua sugestão?
- Como pai, eu não lhe diria nada.
Por motivos óbvios. Como chefe de estado eu te digo que Rachel foi treinada por
ele, conhece sua maneira de pensar. Saberá antecipar seus passos. Porém, a
recíproca é verdadeira. Ele conhece Rachel.
- Ela está envolvida emocionalmente.
Não podemos confiar apenas nela.
- Apenas não, mas ela é o seu melhor
trunfo nessa guerra.
Rachel estava longe de pensar em
guerras naquele momento. Ao contrário, saiu com Ell e Diana para esquecer dos
problemas. Estavam acompanhadas das crianças e caminhando pela cidade. Sophia,
Teddy e George iam à frente, Valentina e Helen seguiam em seus carrinhos.
- Você não planeja aumentar a família,
Diana? – Elizabeth perguntou.
- Não. Sem planos. Teddy já ocupa
todo meu tempo e meu coração.
- Ele é tão lindo e tão educadinho! –
Ell comentou enquanto elas seguiam pela rua. Ela, porém, percebeu que Rachel não
estava participando da conversa. – Algum problema, Rachel.
- Não. Nenhum. – A ruiva respondeu
sorrindo...e mentindo.
Rachel estava atenta, agora mais do
que nunca. E enquanto as amigas olhavam as vitrines, percebeu que um homem de
cabelos castanho claro, olhos negros e roupas leves estava há seis quarteirões
atrás delas, sempre mantendo uma distância segura, atravessando de calçada em
alguns momentos, mas sempre observando-as.
-
Meninas...vou pegar uma água. Porque não vão indo e eu já encontro vocês e as
crianças?
Diana
desconfiou daquela desculpa, mas foi com Elizabeth por pensar que, se havia
algo de errado, era melhor garantir a segurança daquelas cinco crianças. Mesmo
assim, pensou que talvez Rachel estivesse cometendo uma loucura. E deu o alerta
para Peter ficar de olho nos registros da tornozeleira. Ela estava certa que
Rachel não ia comprar água nenhuma e sim correr atrás daquele homem que as
acompanhava há algumas quadras. Também era uma agente e tinha percebido. Apenas
achava que o conflito seria ruim naquelas circunstâncias.
Ell
e Diana seguiram com as crianças numa direção enquanto Rachel foi em outra e
continuou acompanhando o perseguidor com o olhar. Ficou satisfeita quando ele
veio atrás dela e deixou Elizabeth e Diana seguirem tranquilas com George,
Helen, Sophia, Valentina e Teddy. Rachel decidiu então que era hora de parar de
fugir e passar ao ataque.
Continuou
caminhando até uma praça e o homem continuava acompanhando-a. Mas quando ela se
afastou do movimento natural da rua, ele se afastou e seguiu para outro
caminho. Rachel percebeu que ele havia entendido se tratar de uma emboscada. Ele
correu. Ela o perseguiu. E só então lembrou-se que estava desarmada e aquele
homem poderia ser um aliado de John, perigoso demais para ser perseguido sem armamento.
Rachel
então permitiu que ele escapasse e ficou na praça frustrada por aquela situação.
Mesmo que não fosse alguém a mando de John, era um risco e ela estava se
tornando um perigo para seus filhos. Quando juntou-se a Ell e Diana na loja
combinada, viu pelas expressões delas que sua desculpa havia sido ineficaz. Elas
perceberam. E, pior do que isso, deram o alerta. Peter e Neal estavam a
caminho.
-
Desculpe, Rachel. – Diana falou. – Mas se algo lhe acontecesse Neal jamais me
perdoaria por não ter pedido reforço.
-
Tudo bem, Diana. Sua intenção foi boa.
Isso
era verdade. Mas não resolvia o problema. Rachel precisou encarar duas caras
zangadas. A primeira foi fácil. Explicou para Peter que percebeu alguém lhes
seguindo e julgou que conseguiria enganá-lo, atraindo-o para a praça e assim o
pegaria desprevenido e sozinho. Depois de imobilizá-lo, chamaria reforços e o
levariam para a polícia.
-
Na teoria está lindo, mas, na prática, não foi bem assim. – Peter lhe disse.
-
Sim. Ele percebeu tudo e escapou.
Mais
difícil foi encarar Neal. Eles voltaram para casa juntos, em silêncio, em
respeito aos filhos. Rachel já previa a tempestade quando finalmente eles
chegaram em casa. Neal
ajudou George a tomar banho e o deixou assistindo um filme em seu quarto. Quando
desceu para a sala, encontrou Rachel ninando Helen. Depois de ganhar uma
mamadeira a menina estava pegando no sono.
-
Vou deixá-la no berço e desço para conversarmos.
-
Estou te esperando. – Neal respondeu.
Com
raiva, ele poderia ter acrescentado. Neal vinha sendo paciente. Compreendia que
Rachel passava por um momento difícil e que não era de sua personalidade ser
covarde. Não esperava dela outra atitude que não o ataque ao perceber uma perseguição.
Mas não quando estava junto de cinco crianças. Sua paciência havia encontrado o
limite. Rachel precisava aprender a resolver seus problemas sem criar outros, a
ser responsável, a cuidar de sua família e a respeitar os votos feitos quando
se casaram. Ou estaria jogando fora a única família verdadeira que conseguiu
ter na vida.
-
Nunca mais faça isso! – Ele foi direto e objetivo, assim que ela desceu e pegou
uma garrafa de vinho branco da geladeira. Antes dela engolir o primeiro gole
ele já a estava bombardeando. – Eu não estou brincando, Rachel. Nunca mais.
Rachel
entendeu as razões de Neal. Mas não o tom de sua voz, nem a postura agressiva. Ela
é a dona de suas atitudes, decisões e arcava com a responsabilidade. Era bom
Neal aprender a respeitá-la.
-
Desde quando você acha que manda em mim, Neal? Diga! Quando foi que eu te dei o
direito de ordenar o que faço ou deixo de fazer? Eu não me recordo disso!
-
E você acha que eu irei aceitar que você coloque não só a própria vida em risco
como a dos nossos filhos e amigos? Um pouco de juízo faz bem, Rachel!
-
Falou o homem que pulou de paraquedas no meio de New York carregando um
Picasso!
-
Não coloquei a vida de ninguém em risco! Muito menos a de cinco crianças que eu
digo amar! – Neal gritou, mesmo sabendo que iria magoá-la.
-
EU NUNCA COLOQUEI-OS EM RISCO! NUNCA DEIXEI DE PENSAR NELES!
-
Não pensou coisa nenhuma! Como não está pensando enquanto grita dessa forma e
assusta George que está bem acordado lá encima, assustado com essa briga. Baixe
a voz agora!
-
Você não manda em mim! – Mas os gritos diminuíram. – Não duvida do amor que eu
tenho pelos meus filhos, Neal. Esse é um limite que eu não aceito ultrapassar.
Jamais machucaria ou os deixaria se machucar. Eu daria minha vida por eles. E também
nunca iria expor Ell, Teddy ou seus filhos a nenhum mal. Espero que já tenha se
arrependido de insinuar isso.
-
Não me arrependo coisa nenhuma! Basta de relevar às suas loucuras porque te
amo. Chega! Você colocou Helen e George em risco e isso eu não aceito. Me diga o
que aconteceria se o seu perseguidor, seja lá quem for, estivesse armado?
-
Eu...
-
Eu respondo por você, Rachel: eu e Peter poderíamos estar chorando agora porque
nossas famílias não existiram mais.
-
Você não sabe o que está falando. Eu era o alvo, não Ell, não Diana, nem as
crianças. Se houvesse um confronto, seria eu a vítima. Os garanti a segurança
deles.
-
E colocou um alvo no próprio pescoço! Realmente, Rachel! Isso me tranquiliza. –
A raiva dele não arrefecia. – Basta Rachel. Eu mantenho o que te disse: nunca
mais faça isso.
-
Ou o que, Neal? Vai me deixar? É essa a sua ameaça?
-
Eu não vou esperar, Rachel, que as disputas de poder e guerras vingativas
acabem com a vida de outro filho meu. Eu aprendi essa lição com Liz. Primeiro
foi Harabo. Agora é John. Onde nós vamos parar?
Rachel
prendeu o ar nos pulmões e não conseguiu responder aquela provocação. Talvez
porque não era uma provocação, era opinião formada, era sentimento. Neal ainda
a culpava pela morte de Liz. E a considerava irresponsável o bastante para
arriscar Helen e George. Com os olhos cheios de lágrimas ela resolveu que
aquela batalha estava perdida. A guerra, talvez não. Mas a batalha sim.
-
Não que eu espere que você entenda, Neal...mas eu vou explicar ainda assim. Não
é vingança. Nunca foi. Porque eu não desejo me vingar de John, só quero
entender meu passado. E, se um dia eu errei quanto a Liz, eu já paguei o
bastante.
Neal
sabia que havia magoado Rachel. Só que ela precisava daquele tratamento de
choque. Não restava mais nada para ele fazer que pudesse freá-la e impedi-la de
cometer uma loucura. Então foi obrigado a isso. E se seguissem conversando, a
magoaria ainda mais. Resolveu que não podia ficar ali e caminhou para a porta.
-
Neal, está anoitecendo. Onde você vai?
-
Eu estou falando com as paredes, Rachel. Você não ouve e, se ouve, não
reconhece quando erra. E eu, se ficar aqui, vou gritar mais coisas que só
servirão para nos magoar. Não me espere porque não virei dormir em casa.
E
ele saiu, deixando Rachel com raiva. No meio de toda a reviravolta que sua vida
familiar passou, somente Neal era uma certeza, o porto seguro, o abrigo da
tempestade. Agora estava à deriva.
TSC,TSC q coisa feia Rachel, o Neal tem razão ela tem q tomar juízo antes q aconteça algo com os seus filhos
ResponderExcluirÉ, ela não é fácil :( :(
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