Leonor não disse absolutamente nada que desagradasse
Emily. Guardou os segredos de sua amiga e paciente. Um silêncio, porém, poderia
ser mais esclarecedor do que qualquer palavra. Jonas chegou em casa com a
garganta engasgada e tendo na boca o amargo sabor da traição. Emily estava
mentindo, traindo sua confiança e desrespeitando o juramento dito ao se
casarem.
- Preciso falar com você. Onde está Vida? – Ele perguntou
assim que entrou e viu Emily na cozinha, preparando algo fumegante ao fogão.
- Acabei de colocá-la no berço. Algum problema, Jonas?
Com um arrepio na espinha Emily entendeu que, de alguma
forma, Jonas ficou sabendo do que ela preferia esconder apenas para si. Tanto
sofrimento e superação para receber notícias ruins e precisar tomar uma difícil
decisão. Tão difícil que preferiu guardá-la para si. Sem dividir com Jonas
aquele sofrimento. Agora precisaria lhe dizer tudo o que se passava.
Esperava que Jonas voltasse para a sala após ver Vida,
nervoso, irritado e, talvez, disparando alguns gritos. Mas não. Ele era o mesmo
de todos os outros dias, apenas tirou o paletó dos ombros e sentou-se à mesa,
chamando-a para conversar.
- Desliga o fogo das panelas e vem aqui. – Disse,
calmamente. – Senta aqui pra gente
Emily sabia que não havia como fugir. Talvez se ele
estivesse gritando ela poderia responder qualquer coisa e fugir do assunto,
mas, assim, Jonas a obrigava a também agir de forma sensata e lhe dizer toda a
verdade.
- Você...descobriu tudo não é?
- Não. Eu descobri ‘apenas’ que você me esconde algo. O
que já é bem grave. Eu fui até o consultório de Leonor e fiquei sabendo que fui
excluído de uma consulta médica. Isso, mais as suas crises piorando e o fato de
você ter adiado uma inseminação me sugere que há algo de muito errado.
Bem no fundo Jonas já desconfiava. No caminho do
consultório até em casa sua mente criou um milhão de possibilidades. Todas
ruins. E a pior delas era a mais provável. Tudo o que Jonas mais desejava era
estar errado e precisar se desculpar com Emily por acusá-la de esconder algo
tão sério.
- Fale, Emily. Porque eu não fui avisado da consulta? O
que você me esconde.
- Eu...me desculpe Jonas. Eu não queria mentir, não
desejava te assustar, te fazer sofrer preocupado comigo. Eu só quero te fazer
feliz.
- O que vai me assustar?
Jonas viu Emily se levantar e ir ao quarto. Quando ela
retornou, trazia uma pasta com o logo de um laboratório. Emily estendeu alguns
laudos e chapas de exames de imagem sobre a mesa. Jonas pouco entendeu de tudo
aquilo. Era um emaranhado de informações técnicas que só aos médicos fazia
sentido.
- O que significa? – Ele perguntou, já ressentido-se de
não ter Leonor presente naquela conversa.
- Significa que eu manifestei um agravamento no quadro. É
como se a raspagem de alguns meses não tivesse ocorrido, o prognóstico se
acelerou, talvez pelos hormônios do tratamento. Meus ovários, trompas e parte
do intestino estão cobertos pela endometriose e...e Leonor acha que pode
evoluir para algo mais grave.
- O que? Seja clara, Emily.
- Apareceram alguns pequenos cistos de ovário no exame.
São...tumores pélvicos. Há uma chance de, devido a gravidade da situação, eu manifestar...
- Câncer? É isso?
- Não! Cistos não são tumores malignos. A chance de eu
desenvolver câncer de ovário é de 0,5%.
- Mas existe. – E ele precisava evitar. – O que Leonor
decidiu?
- Leonor apenas indica. A decisão não é dela. – Emily via
nos olhos de Jonas a necessidade de ouvir a verdade. Pena que ele não gostaria
nada do que saberia. – A indicação de Leonor é que eu faça imediatamente uma
histerectomia total. Retire útero e os ovários. Mas eu não farei isso, Jonas.
Não quero.
- Não quer? Não há querer Emily. Estamos falando da sua
saúde, da sua vida.
- Eu não vou aceitar ser esterilizada quando sei que
posso ter um bebê. Eu não desisti!
O pior de tudo era olhar dentro dos olhos de Emily e ver
que não se tratava de uma dúvida ou de uma atitude impensada. Ela estava segura
da decisão. E nada que ele falasse seria forte o bastante para fazê-la desistir.
- Então qual é o seu plano, Emily? Me informe. Já que eu
não tenho o direito de opinar e você já decidiu.
- Não diz isso. Por favor.
- É a verdade. Diga, quando fará mais uma tentativa de
inseminação?
- Em três dias. – Jonas viu os olhos de sua mulher se
enxerem de lágrimas. – Não me olha assim, Jonas. Me faz sentir mal. Eu só quer
ter uma família completa. Depois que eu tiver o bebê, eu faço a cirurgia,
prometo.
- Se você já decidiu, não tenho nada para te dizer. Mas
gostaria que você pensasse, Emily. Você tem uma filha agora.
Jonas saiu novamente de casa. Queria conversar, talvez
até beber um pouco. Sua primeira busca por companhia foi Lorenzo, mas ele não
atendeu o telefone. Depois recorreu a Rafael. Ele poderia ouvi-lo sem
julgamentos. Teriam uma longa conversa.
- Fale, meu amigo. Conte tudo o que tem para contar. Mas
sem pegar nessa garrafa novamente. Você não é desses que afoga as lágrimas em
álcool. – Rafael disse ao encontrá-lo no bar de um hotel da região.
Lorenzo não atendeu ao telefone porque também estava no
meio de uma conversa séria junto de Jéssica. Na verdade, tentava iniciar essa
conversa. E a namorada sempre fugia. Primeiro foram buscar Clara na escolinha,
depois passaram na casa delas para pegar algumas roupas e seguirem para o seu
apartamento.
- Você se sentiu mal hoje cedo. E é seu segundo mal estar
essa semana. Não vou deixá-la sozinha em casa cuidando de Clara.
- Segundo...
- Sim, segundo. Não tente me enganar, Jéssica. Já sei que
você não teve um acidente de trabalho. Você passou mal na rua e machucou o
rosto. Agora arrume uma mochila e vamos.
Jéssica não respondeu nada e apenas fez o que ele pediu,
para alegria de Clara. A menina já considerava muito natural ir dormir na casa
do papai e tinha deixado por lá alguns de seus brinquedos. O quarto de hospedes
era o seu quarto, sem que Lorenzo jamais a contradissesse. Logo que chegaram
ela correu para colocar suas bonecas sobre a cama e deixou Lorenzo e Jéssica
sozinhos na sala.
- Se sente bem? – Ele perguntou. Após passar o dia todo
pensando no que Jonas lhe disse, estava quase certo que Jéssica esperava um
filho seu. E, apesar de sua juventude, não conseguia sentir nada que não fosse
felicidade pela notícia.
- Estou ótima. Lorenzo...nós precisamos
conversar...eu...eu tenho que te contar uma coisa.
- Conta então.
Jéssica percebia que Lorenzo estava imaginando algo muito
longe da realidade. E estava disposta a contar sobre Bruno e dizer tudo o que
estava acontecendo. Mesmo que ele ficasse revoltado por ela não ter dito tudo
imediatamente iria convencê-lo a não pagar nada a Bruno. Seria injusto, além de
não resolver nada. Todo esse planejamento para a verdade foi em vão. Parecia
armadilha do destino. Quando estavam cara a cara o interfone tocou.
- Seus pais estão aqui, senhor Lorenzo. – Avisou o
porteiro.
Sem entender a razão da visita inesperada já que há menos
de 48 horas ele estava junto dos pais no Rio Grande do Sul. Eles realmente
precisavam parar de aparecer assim, de surpresa e quando bem desejavam. Dessa
vez haviam interrompido algo importante. Leonel e Giovanna pareceram perceber o
desagrado do filho.
- Desculpe aparecermos assim, Lorenzo. Mas você foi
embora tão intempestivamente que fiquei preocupada e convenci Leonel a virmos.
Você não se importa, não é? - Giovanna disse logo depois de abraçar Lorenzo.
- Não, mãe, claro que não. Mas, se não pude ficar no sul
era por ter motivos. Poderiam ter me ligado.
- Foi o que eu disse. – Leonel parecia constrangido. –
Mas sabe como sua mãe é. Jéssica, como vai querida?
- Bem, senhor Leonel. Giovanna, como vai?
- Vou bem...mas me diga a razão dessa mancha em seu
rosto.
Jéssica ficou tímida e Lorenzo viu seu rosto tornar-se
rubro. Seu constrangimento fez com que ele responde-se. Sem nada dizer de
claro, apesar de Giovanna não demorar a tomar as próprias opiniões.
- Foi por isso que eu vim antes, mãe. Jéssica sofreu um
desmaio ontem e bateu o rosto. Hoje ela também teve uma indisposição e por isso
eu a trouxe para dormir aqui, junto de Clara, obviamente.
- Desmaio...mal estar? – Havia um sorriso doce nos lábios
de Giovanna. – Será possível? Eu seria a mãe e avó mais feliz do mundo. Você
fez bem em voltar. Tem
de cuidar bem dela. Me diga, Jéssica...o que está sentindo?
- Por favor, Giovanna. Deixará Jéssica constrangida. –
Leonel falou.
- Não, não...não é minha intenção. Mas eu preciso saber
se serei avó.
Achando que não tinha mais muita escapatória, Lorenzo foi
claro com a mãe.
- Sim, mamãe...em breve nós teremos um bebê.
Depois dessa afirmação tranquila e segura de Lorenzo,
Jéssica entendeu que precisava esclarecer tudo. Não estava grávida. E, até onde
sabia, ser pai era o último dos planos de Lorenzo. Impossível não achar
estranho o fato dele permanecer tão tranquilo diante da ideia dela ter
engravidado sem seu consentimento.
- Que maravilha! Mais um netinho! – Giovanna não se
continha de felicidade.
- Meus parabéns, meu filho. – Leonel bateu no ombro de
Lorenzo. – Mas um filho deve nascer na família. Vocês têm de oficializar essa
união.
- Sim, papai. É claro. Eu e Jéssica vamos conversar sobre
isso.
- Poderia ser na vinícola também, como Jonas e Emily. Ou
algo mais moderno. Como preferirem e... – Giovanna já fazia os planos.
- Não vai ter casamento nenhum. Eu não estou grávida! –
Jéssica gritou, atraindo três olhares surpresos e assustados.
Leonel e Giovanna se surpreenderam, mas quem levou o
maior susto foi Lorenzo. Ele só disse aos pais que teriam um bebê porque tinha
se convencido de que era isso. Também assustou-se com o grito e o tremor na voz
de Jéssica. Havia algo de muito errado. Precisavam conversar a sós. Ainda bem
que seus pais entenderam isso.
- Nós vamos para o hotel de costume, meus queridos.
Liguem para marcarmos um jantar amanhã.
- Claro, papai. Durmam bem.
Diante daquele clima ruim, restou a Jéssica preparar uma
xícara de chá e se sentar à frente de Lorenzo para contar tudo. Ele não a
olhava com raiva, mas estava nervoso. Pudera, sabia que ela havia mentido, ou,
no mínimo, omitido algo muito grave.
- Então você passou o dia achando que eu estava grávida.
- Sim, o que obviamente não é real. Então o que é,
Jéssica? Eu estou cansando dessa brincadeira de adivinhação.
- Bruno apareceu ontem na saída do meu trabalho. Foi isso
o que aconteceu, isso que me deixou nervosa. Eu consegui escapar, mas ele vai
voltar. Eu sei que vai!
- O que? Conte tudo com calma, Jéssica. Com detalhes, por
favor.
Ela contou tudo o que sabia. O encontro na parada de
ônibus, o tapa, a queda na calçada e sua fuga. Isso explicava seu choro que
assustou Clara e causou o retorno de Lorenzo um dia antes do previsto. Jéssica
também contou que desmaiou naquela manhã ao ver Bruno observando-os. E explicou
o que ele dizia querer para deixá-la em paz.
- Eu não queria te contar porque não vou deixar que dê o
dinheiro. Eu não peguei nem um terço desse valor e ele percebeu que você tem
grana. Se der, ele vai voltar e pedir mais...e não...
- Está enganada. Eu nunca pagaria uma chantagem desse
tipo. Tem de parar de presumir o que eu farei, Jéssica.
- E o que você fará?
- Por enquanto manterei você segura e falarei com um
advogado para ver o que é possível fazer. Ele é o pai biológico de Clara, então
precisamos ter cuidado. Não quero que ele se aproxime dela. O resto é detalhe.
Agora se acalme. Eu vou conferir se Clara já adormeceu e nós vamos deitar
também.
Quando já estava na cama, abraçado à Jéssica e ainda
pensando nas alternativas que dispunha para ver-se livre daquele homem que
tirou a tranquilidade da namorada, Lorenzo sentia um pouco de tristeza. Não por
Bruno, tinha certeza que conseguiria livrar-se dele. Também não era por Jéssica
ter mentido. Ela é muito jovem e ficou nervosa. Menos ainda pela cena
envolvendo seus pais. Eles eram capazes de compreender aquele engano. O que o
entristecia era a pitada de decepção que sentia bem lá no fundo do peito.
Aquela possível paternidade ficou em seu pensamento por apenas 12hs, mas deixou
certa tristeza ao não se concretizar. Já tinha imaginado ver o ventre de Jéssica
crescer com seu filho, cuidar dela em toda a gravidez, segurar-lhe a mão
durante o parto, observá-la amamentar, dar um irmão para Clara. Nada daquilo
foi real.
- Lorenzo, o que foi? Não fique chateado comigo, por
favor. – Jéssica aconchegou-se ainda mais em seus braços.
- Não estou chateado. Estou apenas fazendo...planos.
Durma tranquila.
Nos dias que se seguiram Jéssica e Clara não voltaram
para casa. Lorenzo não contou para a namorada, mas pretendia que elas jamais
voltassem. Por enquanto, usava a aparição de Bruno como desculpa para tê-las
ali. Consultou um advogado para saber exatamente quais armas Bruno tinha e como
poderia revidá-las. Já sabia exatamente o que fazer.
Enquanto Bruno não aparecia, a escola de Clara foi
informada de que ninguém poderia pegar a menina a não ser Jéssica e Lorenzo.
Além disso, Jéssica não ia nem voltava sozinha do trabalho. Para ela é muito
confortável, mas atrapalhava a rotina de trabalho de Lorenzo. E isso a
incomodava.
- Você tem seus horários, seus compromissos. Eu e Clara
estamos atrapalhando a sua vida. Faz três dias já, Lorenzo. Não podemos
continuar assim. – Jéssica lembrou-o naquela manhã. Ela chegava cedo ao
trabalho porque Emily não viria nem hoje nem nos próximos dias e a equipe tinha
sido reforçada por Márcio.
- Eu já disse que vocês não atrapalham. Vocês tornam a
minha vida mais bonita, só isso. Agora vá trabalhar e fique tranquila, ninguém
nos fará nada de mal.
Poucos sabiam que aquele era um dia especial para Emily.
Ela faria uma nova tentativa de inseminação. Apesar de todas as anteriores não
terem dado o resultado esperado, ela seguia confiante. Estava, porém, muito
triste. Desde que Jonas descobriu que vinha lhe escondendo o agravamento da
doença, ele não era o mesmo. Estava frio com ela. E desviava do assunto sempre
ela tentava amenizar a situação.
- Você escolheu isso, Emily. – Ele lhe dizia.
Somente Vida os fazia sorrir, juntos. Na primeira semana
em casa ela se adaptou muito bem e apesar de não estarem na melhor fase como
casal, os dois conseguiram passar pela visita da assistente social. Ela avaliou
que Vida estava sendo muito bem cuidada por seus novos pais. A guarda
temporária era deles e a definitiva sairia logo.
Já a possibilidade de gerar um irmão para Vida ainda
causava muitas brigas. Naquela manhã os dois sabiam que Emily daria mais um
passo. Para ela, era um degrau a mais para a maternidade. Para ele, era jogar
fora a chance de ser feliz junto da filha que ambos já tinham. Jonas resolveu
tentar uma última vez trazer luz para os pensamentos de Emily. Era um passo
arriscado demais.
- Por favor, desista disso. – Ele implorou. – Nós não
precisamos de outro filho. Você pode se tratar.
- Eu preciso, Jonas. Nada me fará desistir.
- Eu posso proibir que usem o meu esperma. – Jonas ameaçou.
- Não, não pode. Eu tenho a autorização assinada por
você. Além disso, eu poderia usar de outro doador. – Era mentira. Não faria
isso. E ambos sabiam. – Por favor, me apóia. Vem comigo. Eu não quero passar
por isso sozinha.
O pedido não comoveu Jonas. Nem mesmo quando lágrimas
ameaçaram brotar em seus olhos. Porque ele também estava machucado. E, se
seguisse com isso, seria ele a chorar no futuro.
- Não. Não vou te apoiar em algo que vai te matar!
- Não fala isso. – Agora ela chorava abertamente.
- Se era para se entregar à morte, desistir de viver
feito uma covarde, não deveríamos ter casado.
- Eu te amo!
- Não ama! Quem ama não é egoísta! E você está sendo.
Está escolhendo abandonar eu e Vida.
- Não! Não! Não! Eu vou viver! Vou conseguir!
- E se não for assim?!?!! Diga! – Jonas insistiu no
tratamento de choque que dava em Emily. – Serei eu a chorar a sua morte. Como
eu criarei Vida sozinho? Você está deixando-se morrer por não se tratar. Faz
isso sem pensar na dor que vai causar em nós. Vida já foi abandonada por uma mãe. Não
merece passar por isso novamente.
- Eu não estou abandonando minha filha nem você.
- Está. E se era para nos abandonar dessa forma, nós
nunca deveríamos ter ficado juntos. Você deveria ter ficado sozinha no seu apartamento,
agarrada a uma boneca de pano e sem ninguém para sofrer a sua ausência.
Jonas foi embora levando Vida. Deixou Emily sozinha, em prantos. Lhe doeu
fazer isso. Mas era, talvez, sua única chance de fazê-la ver o erro que estava
cometendo. Vida também resmungou ao ser colocada na cadeirinha do carro.
- Eu sei Vida, papai foi duro com mamãe. Mas ela é muito
teimosa. E nós dois não pudemos ficar sem ela. – Ele explicou como se a filha
fosse capaz de entender tudo.
Sim, Emily é teimosa e reconhece isso. Ela chorou deitada
na cama e reconheceu as razões de Jonas. Isso não chegou nem perto de
dissuadi-la de seus planos. Tinha certeza de que era capaz de engravidar,
suportar qualquer dificuldade da gravidez e dar a Jonas um filho biológico.
- Talvez um menininho parecido com ele. – Ela já
conseguia imaginá-lo carregando o bebê nos braços, todo orgulhoso como era com
Vida.
Quando isso acontecesse valeria a pena cada sacrifício e,
então, somente então, concordaria de ter o útero retirado. Porque só depois
disso se sentiria completa. E tinha dentro de si a certeza de que era capaz de
realizar aquele objetivo.
Emily secou as lágrimas e tomou um banho quente para
relaxar. As horas daquele dia pareceram se arrastar e quando finalmente chegou
o momento ela se arrumou, maquiou, calçou seu salto alto e dirigiu até a
clínica. O caminho já era conhecido por ela, mas, dessa vez, sentia algo de
diferente. Estava confiante.
- Olá, Leonor. Estou aqui, podemos começar.
- Venha até meu consultório, Emily. – Quando lá estavam a
médica voltou a falar. – Tem certeza do que está fazendo? Jonas me procurou
e....
- Tenho certeza. Jonas é contra, mas é do meu corpo que
estamos falando. E eu quero gerar um filho. Está decidido.
- Se é assim, vamos iniciar os exames prévios. Você
conhece os procedimentos. Uma enfermeira vai acompanhá-la.
Os exames prévios eram uma última garantia que a paciente
estava apta a fazer a inseminação naquele momento. Eram testes rápidos, feitos
momentos antes e que dificilmente apresentava alguma incompatibilidade. Emily
voltou à recepção enquanto esperava os resultados. Foi então que viu Jonas
chegar, com a expressão angustiada no rosto.
- Onde está Vida, Jonas?
- Com meus pais. Eles estão passando uns dias na cidade e
cuidarão bem dela por algumas horas. – Ele não sabia bem o que falar. – Eu
precisava te ver.
- Não mudarei de ideia. Quero gerar um filho seu. Não
tenta me convencer do contrário, por favor. – Ela tinha medo de voltar a
chorar, agora em público.
- Não vou. – Enfim, Jonas aceitou sua decisão. – Não
concordo. Acho loucura. Mas não vou te deixar sozinha. Eu estive do seu lado em
todas as outras inseminações e nessa não será diferente. Eu te amo, Emily. E é
bom que você esteja certa e consiga superar isso. Porque se não for assim, não
sei o que eu faço da minha vida.
- Eu vou conseguir, nós dois vamos. Eu te amo!
O longo e emocional beijo trocado por eles na recepção da
clínica só foi interrompido por Leonor. Ela veio chamar Emily de volta ao
consultório. Precisava conversar com ela e ficou muito satisfeita ao encontrar
Jonas lá. Sua presença seria importante.
- Porque me trouxe de volta ao consultório, Leonor? Eu
tenho de me trocar para o procedimento e... – Emily seguia ansiosa como sempre.
- Não. Você não fará inseminação, Emily.
- Por favor, Leonor. Eu já me decidi, sei dos riscos e
vou fazer então vamos logo com isso e...
- Eu não posso te inseminar. Já disse. – A médica estava
convicta. – É impossível.
- E eu posso saber o motivo?
- É claro. – Havia um pequeno sorriso nos lábios da
médica. – Eu acabo de pegar o resultado dos seus últimos exames. Você está
grávida, Emily. De poucas semanas, mas está.
- O que.... – Emily estava em choque, sem conseguir
articular as palavras.
- Como é possível, Leonor? – Jonas se manifestou.
- A reprodução humana tem seus mistérios. Por mais
avançada que a medicina esteja, nem sempre é possível explicar a tudo. Emily
fez uso de hormônios que favoreceram sua fertilidade.
- Mas várias inseminações não deram certo. – Emily disse.
– Não pode ser um engano?
- Não. Eu conferi o exame. Entre a última inseminação e
hoje você concebeu naturalmente. Parabéns ao casal.
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