Enquanto
Emily se arrumava junto das mulheres da família, Jonas já estava pronto,
escondendo-se do sol em um dos alojamentos de turistas que ficava próximo da
tenda em que ocorreria o casamento. A calma dos dias anteriores já o havia
abandonado. Lá no fundo tinha medo que Emily se deixasse levar por suas
angústias e desistisse de se casar.
-
Acalme-se. Jéssica ligou informando que a noiva está pronta e em alguns minutos
estará aqui lhe dizendo sim. – Lorenzo lhe disse.
-
Quando você se casar eu me lembrarei de te provocar também.
-
Se um dia isso acontecer novamente, estarei feliz demais para me preocupar com
provocações.
Diante
do aviso do irmão Jonas saiu, cumprimentou o idoso padre e se postou no altar à
espera da noiva. Viu quando Milena e a mãe chegaram e se sentaram em seus
lugares. Também observou Jéssica se colocar junto de Lorenzo. Avistou Marta,
sentada e observando-o emocionada. Ela foi a última convidada a chegar e seria
a primeira a deixar o RS. Ainda naquela tarde ela retornaria ao abrigo. Não
queria deixar as crianças sem sua proteção. Ainda mais agora, com uma recém
nascida.
-
Cuide bem de minha filha. – Ela disse a Jonas ao cumprimentá-lo.
-
Sempre. E você, cuide bem da minha. – Foi a resposta de Jonas.
Emily
caminhou até Jonas lentamente, de
braço dado com seu fiel amigo Márcio. Na falta do pai ou do irmão, o amigo e
funcionário se ofereceu para guiá-la até o altar. Jonas observava-a e só tinha
olhos para ela. Sabia que estava nervosa, mas não transparecia. Seus passos
eram firmes como os de uma rainha, o olhar tinha como destino o seu. Belíssima
em um vestido branco, discreto e moderno, seus cabelos louros estavam soltos.
Não poderia ser uma noiva mais simples e elegante. Ela surgiu exatamente como
ele imaginou. Emily Fruett em alguns instantes seria uma Vicentin. E Jonas não
conseguia estar mais satisfeito com isso. Um aperto de mão com Márcio e ela lhe
foi entregue. Com ambos diante do Padre, com as mãos dadas, a cerimônia teve
início.
O
sermão do Padre foi breve, falou sobre a vida. Não a menina que ambos esperavam
levar para casa muito em breve, mas o tempo a que todos temos na terra. Tempo
que devemos aproveitar para ser feliz.
-
O tempo passa. E lá no fim todos queremos olhar para trás e ver uma trilha de
felicidade. – Lembrou o religioso.
Quando
chegou o momento das juras Jonas e Emily ficaram de frente, ainda segurando as
mãos um do outro. Havia paz no coração de cada um deles. Tinham um passado
juntos, se conheciam intimamente e, agora, teriam um futuro. E ele seria lindo,
ambos acreditavam.
-
Eu aceito me casar com você, para estarmos juntos na alegria e na tristeza, na
saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, por todos os dias da minha vida. –
Eles disseram juntos, num único som, que garantiu o que todos já haviam
percebido. Jonas e Emily complementavam-se, desejavam o mesmo da vida e estavam
prontos para trilhar aquele caminho.
O
beijo dos noivos foi rápido. Não desejavam desagradar ao Padre e tinham tempo
para carinhos mais afoitos depois. Seguiram para os cumprimentos. Beijos e
abraços, votos de felicidade e muita euforia. De vovó Ângela veio o voto mais
afoito. E também o que mais cedo Emily gostaria de atender.
-
Pegue meu neto de jeito nessa noite de núpcias e faça meu bisnetinho. –
Orientou a idosa, avó de Jonas. Todos riram, mas poucos imaginaram o quanto
Emily torcia para que aquele desejo se realizasse.
-
Eu vou tentar vovó, eu vou tentar.
Logo
todos os convidados estavam servindo-se de um almoço que misturava pratos
típicos do sul com o refino dos temperos que Emily tanto gostava. O resultado
foi uma grande reunião de amigos, regada a vinho de ótima qualidade, pratos
deliciosos e música tradicional. Jonas não parava de sorrir tendo Emily em seus
braços.
Eles
passaram de mesa em mesa, agradecendo a presença naquele dia que tornava-se o
mais feliz de suas vidas. Para ser perfeito, faltou apenas a presença de Vida
junto deles. Infelizmente as leis não permitiam que nenhuma criança naquela
situação saísse do abrigo.
-
Logo ela estará com vocês. – Marta disse enquanto acariciava o rosto de sua
filha. – E eu também me sentirei avó de Vida.
-
Claro, porque é minha mãe. – Uma lágrima solitária rolou pela face de Emily.
Antes
de se sentarem para comer, os noivos ainda saíram pela vinícola para uma sessão
de fotos. Tudo ali representava lindos cenários, da adega onde os vinhos
ficavam armazenados aos campos de vinhedos. As câmeras puderam captar muitos
beijos e afagos, pouco comparado com o amor que havia entre eles.
Foi
só depois que todos haviam encerrado o almoço e saboreavam as sobremesas que
Emily chamou a todas as mulheres para pegar o buque. Algumas correram para
tentar pegar as flores. Outras, como
Milena, sequer se animaram.
-
Isso é para quem tem namorado, pelo menos. – Disse a irmã do noivo.
Jéssica
também não quis participar da brincadeira. Estava feliz com Lorenzo exatamente
daquele jeito. Sem cobranças, nem planos. Só aproveitando o que a vida lhes
deu. Lorenzo, aliás, naquele momento, servia mais doce para Clara. Ela estava
muito feliz ali. Tinha tios, avós, bisavós e logo ganharia uma prima. Apesar de
ter apenas quatro anos, Clara entendia as conversas que ouvia. E ficou curiosa
para saber quem era Vida. Jéssica lhe explicou que o irmão de Lorenzo e Emily
iriam adotar uma bebê, chamada de Vida.
-
Será filha deles. Mas não sairá da barriga dela.
-
E pode isso? – Clara estranhou. Sabia que os bebês saíam da barriga das mamães.
-
Pode. Emily escolheu ser mamãe dela e Jonas escolheu ser seu papai. Porque a
amam.
Elas
não falaram mais a respeito disso. O que não significava que Clara tenha
deixado o assunto de lado. Agora, tendo o ‘tio Lorenzo’ ao lado, lhe deixando provar
todos os doces que tinha vontade, Clara pensava que se pais e mães podia
escolher uma filha, ela também podia escolher um pai.
-
Tio Lorenzo...você gosta de mim né? Minha mãe sempre diz para eu ser bem
comportada e eu sou, não sou?
-
Você é, Clara. E eu gostaria de você mesmo que não fosse tão comportada assim.
– Lorenzo respondeu achando graça de Chiara.
-
Gosta muito, muito, muito? – Perguntou ela com o rosto sujo com mais uma
colherada cheia demais com um doce de chocolate.
-
Muito, muito, muito. Mais do que você imagina.
-
Então escolhe ser meu papai. Eu quero ser a sua filha. Eu prometo que vou me
comportar bem como sua filha.
Lorenzo
olhou para Clara emocionado. Ela era uma criança carente de atenção. Por mais
que Jéssica se esforçasse, não conseguia suprir a falta do pai. Pegou-a no colo
e, mesmo não podendo confirmar aquilo, lhe disse o que ela precisava ouvir.
-
Vou te contar um segredo Chiara. Mas não pode contar pra ninguém, nem mesmo pra
mamãe.
-
Tá bem!
-
Eu quero ser o seu papai sim. Um dia você será a minha filhinha. Mas a mamãe
ainda não sabe disso. Então fica sendo um segredo nosso, está bem. Enquanto
isso, eu sou o ‘tio Lorenzo’, que está aqui para te ajudar sempre que precisar.
Está bem assim?
-
Sim. Mas tios também podem colocar a gente pra dormir ou é só os papais?
-
Os tios também podem.
-
Então está bem assim sim. – Ela lhe deu um beijo estalado na bochecha e
lambuzou-o de chocolate. Lorenzo não poderia estar mais feliz.
Quando
Clara foi correr junto de outras crianças o baile do casamento já estava
animado. O relógio já marcava quase 16hs. Leonel e Giovanna prepararam tudo
para que a comemoração entrasse a noite. Emily e Jonas dançavam colados, sem
parecer ver mais ninguém, Lorenzo resolveu fazer o mesmo com Jéssica. Naquele
momento um grupo tocava músicas antigas da cultura gaúcha, alguns convidados
riam da letra que enaltecia às terras do sul, outros tentavam acompanhar com
passos de dança.
-
Eu não sei dançar essas músicas. – Jéssica avisou ao namorado.
-
Eu sei, não se preocupe. Nem com a dança nem com nada. Só sorria. – Era muito
tentador para ela seguir aquele conselho.
“Quem quiser saber quem
sou
Olha para o céu azul
E grita junto comigo
Viva o Rio Grande do Sul
...
Oh, meu Rio Grande
De encantos mil
Disposto a tudo pelo
Brasil
Querência amada dos
parreirais
Da uva vem o vinho
Do povo vem o carinho
Bondade nunca é demais
...
Deus é gaúcho
De espora e mango
Foi maragato ou foi
chimango
Querência amada
Meu céu de anil
Este Rio Grande gigante
Mais uma estrela
brilhante
Na bandeira do Brasil”
Jéssica dançou como pode, colada a Lorenzo, sentindo seu
calor durante todo o fim de tarde na Serra gaúcha. Era bom sentir aqueles
braços envoltos de sua cintura, em especial depois da noite de amor vivida na
véspera. O desejo foi crescendo e ela quis repetir tudo aquilo.
- Afirmar que ‘Deus é gaúcho’ não é um pouco exagerado,
não? – Jéssica provocou-o quando finalmente deixaram a pista de dança. Lorenzo
sorriu e ela se perdeu naquele riso feliz e relaxado. Beijou-o, surpreendendo-o
em tomar a iniciativa.
- Nós não somos um povo reconhecido por sua modéstia,
Jéssica. Somos orgulhosos. Para o gaúcho, tudo que é daqui é mais belo, mais
forte e mais saboroso. Por isso dizemos que Deus é gaúcho, por ele ter sido
muito generoso com nossa terra.
- E você concorda com a música? Mesmo quando ela fala da
beleza da mulher gaúcha?
- Concordo. São belas. Mas eu me apaixonei por uma
paulista, por isso melhor eu me calar nesse momento.
- É, das mulheres não posso falar. Mas quanto aos homens,
eu e Emily podemos atestar que são muito especiais.
Lorenzo pressupôs que aquela falta de timidez toda fosse
efeito do vinho. E resolveu aproveitar. Sabendo que seus pais olhariam Clara,
levou Jéssica para conhecer a casa da família. Passou pela sala, cozinha,
biblioteca e chegou ao seu antigo quarto. Jéssica pensou que fossem passar a
noite ali, naquela cama, mas logo depois viu o olhar de Lorenzo perder a leveza
de minutos atrás. Ele entrou naquele cômodo porque desejava lhe mostrar o
antigo quarto, mas aquele lugar lhe dava tristeza.
- Você não gosta de estar aqui. – Ela concluiu. A
decoração era muito antiga e ela quase conseguia imaginá-lo naquela cama com
Alice.
- Não. Nós vamos dormir numa das cabanas turísticas ou
voltar para minha casa na cidade. Esse lugar não me faz bem.
- Você ainda a ama?
- Não! Por favor, Jéssica. Não crie fantasias. Alice está
morta e ela se tornou passado na minha vida há tempo suficiente para não nos
atrapalhar. Ela é apenas uma lembrança triste. É difícil imaginar que Alice
perdeu a vida tão jovem. Isso não tem nenhuma ligação conosco. Meu futuro é
você. Então vamos esquecer o passado. Vou pedir que mamãe se desfaça de tudo
que há aqui, monte outro quarto para nós, em outro cômodo e com ligação com um
quarto para Clara.
O sol caiu e foi hora de Jonas e Emily se despedirem dos
convidados após 10 horas de festa, vinho e muita dança. Emily estava exausta já
que negou-se a descer dos saltos altos. Jonas teve de carregá-la. O que não foi
nenhum incômodo ao noivo.
- Seus pés devem estar inchados.
- Agora você cuida de mim.
Emily não sabia quais surpresas seu marido havia lhe
reservado. Sua noite de núpcias não seria na casa da família, nenhuma das
cabanas nem hotéis da cidade. Ele preparou o seu lugar favorito na vinícola, a
adega de barris de carvalho onde o vinho ficava envelhecendo. Lá havia um
espaço com lareira, mesa de jantar e, desde aquela tarde, uma cama. Que talvez
nem fosse utilizada.
- Eu nunca, jamais imaginava que você pudesse ser tão
romântico, Jonas. Imaginei uma suíte de hotel, algumas garrafas de vinho e uma
cama macia. Mas não isso.
- Garanto que a cama é macia e há bem mais que algumas
garrafas de vinho, minha esposa. Eu gosto desse lugar. É aqui, desde a minha
adolescência, que eu venho para pensar. O cheiro do carvalho e do vinho me faz
sentir em casa. Espero
realmente que você goste de ter aqui a nossa primeira noite como casados.
- Estou achando maravilhoso até agora. Para ficar
perfeito, só falta você tirar essa roupa e abrir o meu vestido.
- Sim, mas bem perto da lareira para você não sentir
frio.
- Não tem chance alguma de eu sentir frio, Jonas. Eu
estou fervendo de ansiedade. Eu quero você, agora, pela primeira vez como
oficialmente sua.
- E quem sou eu para negar uma ordem da senhora Vicentin?
O vestido, de corte moderno, não tinha uma carreira de
botões em pérolas. Ótimo. Foi simples descer o discreto fecho e deixar a
cascata branca cair até seus pés revelando um justo corpete rosa claro. Rendas
e fitas misturavam-se numa combinação sensual, mas não vulgar. Era uma lingerie
romântica e recatada. O busto do corpete deixava seus seios mais altos e
fartos. Jonas não resistiu a sentir-lhes o perfume.
- Fantástica. – Disse salpicando beijos na pele macia e perfumada
de seu colo. Ela era tão branca que sua pele era repleta de pequenas sardas.
Emily sentiu quando as mãos de Jonas correram de sua
cintura até o quadril e depois para as coxas. Conhecia aqueles toques muito
bem. E, ainda assim, ele conseguiu surpreendê-la e arrepiá-la. Jonas desceu sua
calcinha rendada enquanto ainda mantinha o corpete cobrindo a parte superior de
seu corpo. Ajoelhou-se e lhe deu o mais íntimo dos beijos.
- Aaaa Jonas. – Ela gritou e agradeceu por não estarem
num hotel com pessoas nos quartos ao lado. Ali ela podia gritar muito sem medo
de se expressar.
- Acalme-se, minha esposa, estou apenas começando.
Sentindo a parceira tremer, a fez deitar-se à frente da
lareira e continuou acarinhando-a. Queria tornar aquela noite inesquecível.
Quando ele finalmente tirou as próprias roupas e abriu o
corpete de Emily, ela já tinha a pele formigando por mais carícias. Precisava
daquele homem, completo, sem segredos ou mistérios que ela desconhece-se. Jonas
era o seu par perfeito na terra. E ela sentia-se feliz em ser amada por ele
ali, perto do fogo e do vinho.
- Eu te amo. Quero ser sua para sempre. – Lhe disse no
auge da paixão.
- E vai ser. Eternamente amada por mim.
Jonas perdeu-se naquela mulher sem pensar em mais nada
que não fosse sua beleza, sua perfeição e o tanto de felicidade que ela
conseguia pôr em sua vida. Emily tornou-o um homem completo. E, naquele
momento, ele reforçava todas as juras feitas. Ela seria amada e respeitada.
- Por todos os dias da nossa vida. – Sussurrou em seu
ouvido enquanto amava-a.
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