Quando chegou ao canteiro da obra Jonas já se deparou com
muita gente. Além da polícia e do conselho tutelar, curiosos cercavam o
terreno. Muitos filmavam a cena. Logo aquilo estaria na televisão. O bebê, a
construtora e ele estariam nos jornais do dia seguinte.
- Maravilha. Era tudo o que eu precisava. – Ele exclamou
ao entrar.
Antes de sequer ver a criança, teve de ir falar com o
policial. Para eles era apenas mais um caso. Tudo ficou registrado. Uma menina
de 2,520Kg e menos de 10hs de vida. Ainda estava com o cordão umbilical.
- Boa noite. Sou Jonas Vicentin, um dos proprietários da
construtora que se responsabiliza pela obra. – Apresentou-se ao policial.
- Boa noite. Eu sou o policial Ramires. Nós estamos
apenas fazendo o registro. Não trará nenhum problema à empresa.
Da forma como o policial Ramires falava, parecia que
aquela era a sua preocupação. Longe disso. O que o trouxe ali fora a
indignação. Não entendia como era possível desfazer-se de um ser humano como se
não passasse de um móvel usado.
-O mais provável, devido a altura do muro, é que a mãe
tenha atirando-a. E o cobertor no qual estava enrolada amorteceu a queda.
- Está viva? – O sentimento era um misto de raiva,
aflição e esperança.
- Sim, surpreendentemente.
- O que será feito dela?
- Será encaminhada ao hospital e depois o conselho
tutelar a levará para um dos abrigos do governo. Tentaremos encontrar a mãe e
responsabilizá-la pelo crime de abandono de incapaz.
- Eu posso ver a menina?
- Sim, está na ambulância.
Era tão pequena que parecia que os policiais fardados do
atendimento de primeiros socorros tinham de se esforçar para pegá-la com delicadeza.
Difícil crer que fora jogada pelo muro, mais ainda que alguém foi capaz de
fazer isso. Porque não deixou na frente de um hospital então? Ou de um
orfanato. Emily estava certa. A vida é muito injusta.
- Está tudo bem com ela? – Perguntou, ansioso.
- Parece que sim, senhor. Ela vai pro hospital para o
pediatra avaliar, mas está tudo certo sim. É forte a pequenina.
Jonas teria voltado para casa e ficado à espera de Emily.
Mas surpreendeu-se ao vê-la chegar no canteiro de obra, desviando dos buracos
com seus saltos altos nada indicados ao local. Ela atraía olhares dos curiosos
e também dos policiais. Todos percebiam que estava nervosa. Emily correu como
pode até Jonas e abraçou-o com entusiasmo.
- O que faz aqui? Eu já ia embora...
- Lorenzo me disse que encontraram uma criança e eu vim.
Não brigue comigo. Tive de ligar para a insuportável da Juliana para ver onde
era a obra.
- Emily...a menina está bem. Não se preocupe. Vamos
embora. Ela será bem cuidada.
- Posso vê-la, pegá-la?
- Acho melhor não... – Mas não concluiu a frase ao vê-la
já invadindo a ambulância. Emily não tinha freio quando decidia uma coisa.
E nunca a tinha visto mais decidida. A recém nascida foi
acalentada, embalada nos braços de alguém que sonhava ter um bebê para chamar
de seu. Aquela cena emocionou Jonas tanto quanto o assustou. Tinha medo de
Emily se apegar demais naquela menina. Não era a filha deles. E não poderia
servir de ‘treino’ para Emily. Merecia uma mãe de verdade, não alguém que
sofria com um drama tão pessoal como era o caso da sua noiva. Mas a cena era
linda. Isso não pode negar.
- Vocês a estão chamando como? – Emily perguntou à
enfermeira e policiais que a observavam embalar a menina. – Que nome deram para
essa bonequinha?
- Nenhum, ainda. – A enfermeira respondeu. – Nesses
casos, Vitória costuma ser a escolha.
- Não! Muito óbvio. Ela merece algo diferente, só seu –
Emily acariciou o rosto da menina e ela parecia quase sorrir, satisfeita. –
Vamos te chamar de Vida. O que acha? Vida! Sim, é isso! Vida!
- Vida? Isso não é nome. – O policial respondeu.
- Agora é! Não ligue Vida. Você tem um nome especial,
apenas isso. – Ela percebeu que a menina mexia os lábios insistentemente. – Ela
está com fome. Onde tem mamadeira?
- Aqui não tem. Ela precisa ir para o hospital.
- E o que estão esperando?!?! Vida não pode ficar com
fome!
Quando, finalmente, a ambulância seguiu rumo ao hospital,
Jonas ainda olhava surpreso para Emily. Ela tomou as rédeas da situação como se
isso lhe fosse natural. E era. Emily é o tipo de pessoa que age enquanto os
outros ainda pensam. Quando eles caminharam em direção ao seu carro, não teve
dúvidas do destino.
- Gostou do nome? – Ela lhe perguntou.
- Sim, combina. Se tem algo inegável, é seu desejo de
viver.
- Você não achou esses paramédicos muito lentos? Imagine
que não perceberam que Vida tinha fome. – Ela lhe disse já sentada no banco do
carona.
- Eles só precisavam de uma comandante. Encontraram.
- Bobo! – Emily lhe deu um beijo rápido.
- Você abandonou o restaurante sem chefe de cozinha? Logo
a minha Emily, empresária essencial ao negócio todos os dias! – Jonas provocou-a.
- Não seja implicante, Jonas. Eu deixei minha nova chefe
no comando. Decidi promover uma das cozinheiras a chefe. E por isso convidei Jéssica
para ser minha mais nova auxiliar de cozinha. Espero que não se importe.
- Nem um pouco. E se isso representar que minha futura
esposa passe mais tempo em casa, sou capaz de agradecer pessoalmente a Jéssica.
- Ótimo. Agora dirija mais rápido. Quero chegar junto com
a ambulância ao hospital e ter certeza que a enfermeira está atendendo bem
Vida. – Jonas achou melhor não contrariar. – Me empreste seu celular. Saí
correndo do restaurante e não peguei o meu.
Sim, ele imaginou sua reação ao saber que um bebê havia
sido deixado justamente numa obra dele. Parecia uma provocação divina. Enquanto
eles lutavam, alguém descartava um filho como se não tivesse valor algum.
Também estava mexido com a situação. Não era apenas Emily a se comover e se
envolver emocionalmente com a menina. Vida. Agora ela tinha nome. Escolhido por
sua noiva. Estava óbvio que o envolvimento delas não ia parar ali. Jonas lhe
entregou o aparelho. Isso não significava que sua preocupação havia passado.
- Para quem vai ligar? Emily, é tarde. As pessoas estão
dormindo.
- Ela tem o sono leve. Não se preocupe.
Como Jonas já desconfiava, Emily telefonou para Marta. E
contou rapidamente o caso de Vida. A conversa teve partes bem objetivas como o
que poderiam fazer para ajudar a menina. E, também, temas comuns. Emily contou
que menina sorria. Mesmo com apenas algumas horas de vida. Algo que Marta
pareceu ignorar. Importante mesmo era saber que ela estava bem e seria
amparada. Com a ajuda da mãe adotiva Emily fez uma lista de tudo o que Vida
precisaria nas próximas horas. Pretendia comprar cada item. E ainda fez um
pedido especial a Marta.
- Ela será enviada para um abrigo. Quero que você
requisite a permanência dela aí no Lar de Amparo. Pode fazer isso por mim?
- Posso, é claro. Mas Emily...você sabe que recém
nascidos pouco ficam em
abrigos. Logo alguém irá adotá-la. E em casos assim, que
ganham a mídia, é comum surgirem muitos candidatos. Se a quer, você e Jonas
terão que lutar por ela. E logo. Além disso, vocês ainda não são casados e isso
ainda pesa na decisão dos juízes mais tradicionais.
Quando soube do imprevisto que levou Jonas a deixar o
restaurante sem se despedir dela, Emily agiu por impulso. Também não sabia
muito o que fazia ao pegar a menina no colo. E ao ligar para Marta obedecia
muito mais seu coração do que a razão.
Ficar com Vida, torná-la sua, seria uma decisão muito
importante. A qual ela não podia tomar sozinha. Não agora quando estava noiva
de Jonas e tentando engravidar do bebê dele. Jonas, ao contrário dela, vinha de
uma família tradicional. Tinha pais e avós ansiosos por um neto. Um neto de
sangue. Mesmo assim, nada a impedia de ficar com Vida e seguir com seu
tratamento.
- Eu ainda não sei, Marta. Por enquanto vamos nos
preocupar em manter Vida
segura – Respondeu sabendo que Jonas estava atento às suas reações e não tinha
ouvido o conselho de Marta.
Depois de desligar, já no hospital à espera de notícias
sobre Vida, Emily trouxe o assunto de volta. Perguntou delicadamente o que seu
noivo acharia caso ela resolvesse manifestar o desejo de ficar com Vida. Teve
dele uma resposta sensata e calculada. Bem diferente de como ela se sentia
naquele momento.
- Eu não quero que você coloque Vida no lugar do nosso
filho, Emily. Ela não irá suprir essa falta.
- Não é isso! Eu não estou desistindo do nosso bebê. É só
uma possibilidade. Apenas isso.
- Será mesmo? – Ele lhe acariciou o rosto. – Eu não estou
lhe negando isso. Mas quero que pense melhor. Assim, no calor da situação, você
pode agir por impulso e se arrepender depois. E Vida precisa de alguém que a
ama e proteja para sempre.
O medo de Jonas era que, no futuro, quando tivessem um
filho natural, Emily não visse da mesma forma a ideia de ter uma filha adotiva.
Para ela, no entanto, aquele questionamento soava como se ele não aceitasse a
ideia de ser o pai da filha de outro homem. Emily se calou. Mas a ideia de
ficar com Vida seguiu dentro dela.
Rafael e Melissa também foram ao hospital e conheceram
Vida. Com um filho de cinco anos, eles já sentiam falta de um bebê em casa e,
ao conhecerem Vida, cogitaram a ideia. Mas tinham o receio de que, caso fosse
divulgada a adoção, a família sanguínea voltasse a se aproximar interessada em dinheiro. Afinal ,
quem atirou a menina pelo muro saberia onde procurá-los.
- Acho que esse tipo de adoção é feita em sigilo. Provavelmente
a mãe nunca saberá com quem a menina ficou. – Rafael disse à esposa. – Você
gostaria de tê-la?
- Porque não?! Somos casados há bastante tempo, nosso
filho já está crescido, temos como criá-la. A justiça não hesitaria em nos dar
a guarda!
- É, vamos pensar nisso. – Ele concordou.
O relógio marcava 4hs da madrugada quando Emily e Jonas
chegaram em casa. Eles
dormiram abraçados, mas cada um ainda guardava suas próprias preocupações.
Mesmo que sobre as mesmas questões. Vida dominava os pensamentos de ambos.
Nenhum dos dois acordou cedo na manhã seguinte. Ele já tinha cancelado os
compromissos. Ela iria chegar mais tarde ao restaurante. Já eram quase 10hs
quando tomaram café e se surpreenderam com um aviso do porteiro. Os pais de
Jonas estavam subindo.
- Mãe! Pai! Que surpresa! – Jonas recepcionou-os enquanto
Emily se trocava. – Que fazem aqui?
- Ora! Quando meus dois filhos resolver sair pelo mundo,
tenho todo o direito de ir atrás. Não seriam algumas filas de aeroportos a me
impedir. – Giovanna afirmou. – Onde está minha futura nora?
- Estou aqui, Giovanna. – Emily disse voltando para a
sala. – É um prazer revê-la.
- Fiquei surpresa ao saber que estavam em casa! Achei que
estariam trabalhando a essa hora. Mas é ótimo vê-los. Temos duas semanas até o
casamento! Precisamos decidir os últimos detalhes. Tudo certo com o vestido, Emily?
- Tudo perfeito. E também com os convidados que irão a
Bento Gonçalves. Não precisa se preocupar.
- Ótimo. Preciso que você confira se o cardápio é de seu
gosto. E também temos de decidir o recheio do bolo! O Padre confirmou o horário
de fim da manhã para a cerimônia. E eu contratei a decoradora. Muitas flores
serão usadas na decoração. – Giovanna estava encantada em poder fazer o
casamento de seu segundo filho. Mas percebeu o olhar cansado do casal. – O que
há crianças? Se eu e Leonel viemos em má hora podemos...
- Não, mãe. Claro que não. É que nós tivemos uma noite
diferente.
Jonas poderia ter contado aos pais o que aconteceu, mas o
noticiário da TV resolveu esse problema. Imagens de sua construtora, de Vida
chorando nos braços da equipe médica e de Emily deixando o local junto dele
passaram enquanto o apresentador contava que uma menina já batizada de ‘Vida’
havia sido encontrada após abandono logo após o parto.
- Você a encontrou? – O pai de Jonas perguntou.
- Não. O chefe da obra. Mas eu fui lá como responsável
pelo local.
Eles fizeram alguns planos rápidos para o dia. Mesmo
podendo ficar naquele apartamento ou no de Lorenzo, Giovanna e Leonel
preferiram um hotel. Como sempre fazia quando ia a São Paulo, Giovanna avisou
que gostaria de fazer algumas compras. Emily e Jonas não puderam acompanhar o
casal, mas eles combinaram de jantar no restaurante da nora naquela noite.
Lorenzo foi encontrar os pais no meio da tarde. Era uma
das vantagens de trabalhar numa empresa própria. Ele evitou entrar em detalhes
sobre seu relacionamento com Jéssica. Não por vergonha dela, mas porque ainda
era algo muito recente. Queria dar a ela tempo de se acostumar com ele antes de
ter de encarar a família. Mas seus pais viram nele mais do que a habitual
destreza profissional. Lorenzo estava estranhamente feliz.
- Trate de nos contar o que, ou quem, colocou esse brilho
que vejo em seus olhos. – Giovanna exigiu. – Posso estar velha, mas não sou
cega. Alguém conquistou você. Entrou nesse coração. Conte para essa mãe
inquieta.
- O meu coração está ótimo, mãe. Aquiete o seu. – Foi só
o que Lorenzo disse.
- Mas...porque? Prometo que seja quem for terá o meu
apoio!
- Pare Giovanna! – Leonel falou. – Até parece que aos 44
anos Lorenzo liga para o meu e o seu apoio! Lorenzo é homem feito. Na hora que
quiser nos apresentará quem está deixando-o com esse sorriso bobo nos lábios.
Buscando distrair os pais, Lorenzo perguntou se eles não
gostariam de conhecer Vida, a menina salva por Emily e Jonas. Giovanna não
precisou de mais nenhum incentivo. Eles foram ao hospital e puderam ver a
menina.
- Acho que Emily escolheu muito bem o nome dela. Vida é
linda. Veja Leonel! Me lembra Milena quando a pegamos pela primeira vez. Veja! É
uma princesinha.
- Sim. Ela é um encanto mesmo. – Lorenzo respondeu no
lugar do pai que, calado como sempre, sorria para a bebê.
Quando todos se reuniram naquela noite, algo nunca visto
ocorreu. Emily não entrou na cozinha. Sentou-se junto de Jonas e saboreou o
jantar. Todos sorriam e conversavam amigavelmente. Mas havia em Lorenzo certa
ansiedade.
- Está louco para ir na cozinha de Emily, meu irmão! Vá lá.
Tenho certeza que ela não se incomodaria. – Jonas, como bom italiano, falava
mais do que deveria. – Jéssica começou hoje já, não é Emily?
- Sim. Ainda estamos regularizando, mas pedi que ela
viesse para se ambientar com o lugar. Mas já está indo embora, o horário dela não
é o da noite. Por causa da Clara. – Emily respondeu notando que Lorenzo ficou
constrangido. – Se quiser ir lá, fique a vontade. Mas não a desconcentre. Ela
tem muito a que aprender.
- Alguém pode explicar quem é Jéssica? – Giovanna pediu. –
E quem é Clara?
- Jonas poderia aprender a ser discreto, mamãe. Mas já
que ele falou, eu farei melhor do que isso. Vou buscar Jéssica para conhecê-los.
Ela é tímida, por isso tentem não enchê-la de perguntas.
Mais do que tímida, Jéssica ficou apavorada com a
possibilidade de conhecer os pais de Lorenzo. Na noite passada, enquanto Jonas
e Emily iam cuidar da bebê abandonada, ele a levou em casa e, ao se despedir,
tornou a se declarar para ela.
- Agora não sou mais o irmão do patrão. – Disse-lhe. – Já
pode me dar uma chance de te amar.
- Mas continuamos em mundos diferentes. Lorenzo...você não
vê que eu sou uma auxiliar de cozinha mãe solteira enquanto você é um empresário?
Pode ter qualquer mulher.
- Posso?
- Sem dúvida nenhuma.
- Ótimo. Então está na hora da mulher que eu quero
aceitar ser minha namorada. E me dar um beijo. – Ele foi aproximando os lábios
e tocou-a muito delicadamente. – Não pode me negar. Disse que eu posso ter
qualquer mulher. E a que desejo é você.
Ela o beijou e assim tornou-se oficialmente a namorada de
Lorenzo Vicentin. Parecia algo fantasioso demais. Mas ele a deixou na porta de
casa jurando que era realidade e que fariam dar certo. Ela só não esperava
conhecer os sogros na noite seguinte.
- Eles vão adorá-la. Não se preocupe.
Eles foram simpáticos como de costume. Mas não a
aceitaram da forma natural como Lorenzo esperava. Por mais agradáveis que
tentaram ser, eles não conseguiram disfarçar o estranhamento pelas informações
que Jonas e Emily deram enquanto Lorenzo falava com Jéssica na cozinha. A moça
é vinte anos mais jovem, tem uma filha e vive praticamente na miséria.
- O que se passa na cabeça de Lorenzo? – Leonel disse
antes do casal retornar.
- Dêem uma chance à menina. Ela é realmente encantadora. –
Jonas disse ao pai e a mãe, que estava estranhamente muda diante dessa
surpresa.
Quando viram Jéssica, eles disfarçaram qualquer
sentimento ruim. Ela, sem conhecê-los, sequer notou qualquer estranhamento.
Lorenzo sim. Ele viu a mãe ser apenas educada, não carinhosa. E Leonel observar
Jéssica como se ela fosse diferente.
- Boa noite, Jéssica. É um prazer conhecer alguém...importante
ao nosso filho. – Foi o que de mais carinhoso Giovanna disse.
Sem querer magoar a namorada Lorenzo lhe fez um carinho
leve no rosto e pediu que fosse tirar o uniforme e esperá-lo na porta que logo
iria levá-la até em casa.
Quando ela fez o que ele pediu com um sorriso doce, ele se
voltou à família. Já não tinha o mesmo sorriso de antes.
- Eu vou encarar o comportamento de vocês como resultado
do estranhamento. Unicamente isso. E vou levar Jéssica para casa e na próxima
vez que a encontrarem, espero que essa surpresa tenha passado. – Avisou.
- Meu filho! – Giovanna saiu de seu torpor. – Jamais
trataria Jéssica mal. Apenas ela...ela não é como imaginei. É tão jovem para
você. Poderia ser sua filha.
- Mas não é. Jéssica é minha namorada! E tem uma filha
linda, chamada Clara. Acostumem com isso. Boa noite para vocês.
Lorenzo deixou os pais junto com Emily e Jonas. Eles se
sentiram culpados. Não desejavam magoar a garota, nem ao próprio filho. E
esperavam poder acertar as coisas depois.
- Depois eu falarei com ele. – Leonel disse. – É claro
que jamais tentaria me intrometer em suas escolhas.
- Eu também! Ainda mais depois de todos esses anos. A
felicidade de meus filhos é tudo o que importa. Mas sou mãe. Quero o melhor
e...o tinha imaginado com uma mulher madura. Já tinha até imaginado que não
teria netos de Lorenzo. Agora, com essa menina...bom que ele seja feliz.
Uma coisa atraiu a atenção de Emily diante daquilo tudo. A
pobreza de Jéssica e sua juventude mexeram muito mais com Giovanna do que o
fato de Jéssica já ser mãe. Ao que parecia, os Vicentin não se importavam em
ter netos adotivos. E isso animou seu coração. Mas ela não esperava por mais
uma surpresa.
- Vocês aceitariam a filha de Jéssica como neta? Caso um
dia Lorenzo se case com Jéssica, é claro? – Emily perguntou.
- Mas é claro! Porque não!?!?!? O amor está na criação,
na construção dos laços! E não no sangue. – Giovanna disse.
- Você não contou a ela, Jonas? – Leonel perguntou ao
filho.
- Não, papai. Acho que Emily ainda não conhece tudo da
nossa família.
- O que eu não conheço?
- Emily, querida, Milena não é nossa filha de sangue. Nós
a adotamos ainda bebê quando Giovanna desejou mais um filho e já não podia tê-los.
– Leonel explicou. – Ela é nossa filha tanto quanto Jonas e Lorenzo são nossos
filhos. Apenas não saiu do ventre de Giovanna. Mas nós a embalamos, ensinamos
valores e colocamos o nosso sobrenome.
- Eu não imaginava. Ela...ela é uma Vicentin. Ela
realmente parece de vocês. – Emily estava emocionada.
- É porque ela é nossa. – Giovanna disse. – Milena é
minha filha. É isso que o meu coração diz quando olho pra ela.
Aquela frase ecoou dentro de Emily. Porque ela dizia o
mesmo que sentia, mas não externava, por Vida. Ela olhou para Jonas e ele
entendeu o que se passava dentro dela. Quando ia falar, porém, Giovanna voltou
a se pronunciar. E dessa vez a fala assustou-a, forçando-a a tomar uma atitude.
- Eu e Leonel estivemos vendo Vida hoje mais cedo.
Lorenzo nos levou ao hospital onde ela está. Ela é um encanto. – Disse a mãe de
Jonas.
- Nós também achamos, mãe.
- Tanto que, agora que vocês estão em São Paulo. E nós ficamos tão
sozinhos lá na vinícola...pensamos que uma criança seria muito bem vinda em
nossas vidas. E ainda temos força para educar alguém. Vamos requerer a adoção
de Vida. – Giovanna disse e viu Emily empalidecer. – Está se sentindo bem,
Emily?
Não. Ela não estava bem. Porque a dor que estava sentindo
era muito parecida com a de quando percebeu que não estava grávida. Era como se
perdesse a filha. Como se lhe tirassem a filha. Não podia aceitar aquilo. Claro
que Giovanna e Leonel poderiam criá-la bem. Mas não era justo. Não podia
aceitar. Jonas observou Emily e entendeu que aquela decisão estava tomada. E não
mais baseada em uma emoção repentina. Era um amor arraigado, profundo, mesmo
que recente.
- Vocês terão de reconsiderar isso, mãe. – Jonas informou
aos pais.
- Porque, filho? – Leonel estranhou.
- Porque eu e Emily decidimos que Vida será nossa filha. Nós
vamos adotá-la.
- Mas...vocês ainda nem se casaram, vão iniciar uma vida
juntos e... – Giovanna estava surpresa com a decisão.
- Eu sinto que Vida é minha! É nossa! – Emily explicou da
única forma que conseguiu. – Ela é nossa desde o momento em que a deixaram lá. Nossa!
Nossa Vida!
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