Giovanna e Leonel observavam o filho e a nora com olhar
atento. Eles tinham as mãos dadas e os olhos vidrados um no outro. Pareciam um
só. E eram, na visão de Giovanna. Porque estavam dividindo o mesmo sonho, o
mesmo objetivo. Sim, eles estavam prontos para serem pais.
- Vida é uma criança de sorte. – Leonel disse ao casal. –
Poucas foram tão desejadas.
Jonas acenou ao pai concordando com a afirmação. Emily
sorriu encarando a futura sogra. Não sabia como explicar o sentimento que tomou
conta de seu coração. Foi de repente, inesperado, quase assustador. Quando
percebeu Vida já estava guardada em seus sentimentos. Não iria admitir perder
Vida. E se tivesse que comprar uma briga com os sogros por isso, estaria pronta
para a guerra. Vida já tinha mãe.
Não houve guerra. Porque Giovanna sabia reconhecer aquele
olhar de leoa defendendo a cria. Desde que soube, há 45 anos, que esperava seu
filho mais velho, viu aquele olhar ao se postar na frente de um espelho todas
as manhãs. Emily e Jonas poderiam até se enganar dizendo que escolheram ou
decidiram ficar com Vida. Não era verdade. Foi Vida quem os escolheu.
- Eu fico feliz em saber que Vida é amada dessa forma. –
Giovanna disse sorrindo. – Para jovens que diziam só se preocupar com as
carreiras vocês estão me saindo bem interessados em formar família.
- Talvez tenhamos percebido que já não somos tão jovens.
– Jonas respondeu.
- Bobagem. Têm a vida pela frente ainda. Eu fico feliz em
abrir mão da maternidade de Vida. Serei uma avó muito satisfeita.
- Obrigada Giovanna. Ela já é muito importante pra mim.
- É claro que é! Vida é a sua filha! – Giovanna achou que
tinha de lhe dar um aviso. – Querida, o processo de adoção é longo. Então vou
lhe falar o que me disseram quando eu estava esperando para levar Milena para
casa. Encare esse período como uma gravidez. Tem seus medos, suas angústias,
mas lá no fim lhe deixará o mais belo dos presentes.
- Eu a conheço há dois dias e já não consigo me imaginar
sem ela. – Emily respondeu.
- Eu sei como é. – Giovanna abraçou Emily e o filho antes
de voltar a falar. – Sou avó! Que felicidade! Nem consigo imaginar a alegria de
vovó Ângela quando souber da bisneta.
- Alegria dupla. – Leonel lembrou. – Mamãe irá querer
conhecer a filha dessa moça que conquistou Lorenzo. Só tenho medo dessa relação
não durar.
- Eu não apostaria nisso, papai. Lorenzo está apaixonado.
E nós sabemos que esse comportamento não é normal para ele. Lorenzo mudou por
ela. Fazia muito tempo que não o via sorrir assim.
- É. Eu vou conversar com ele depois. Se Jéssica o faz
feliz, eu estarei satisfeita. Mesmo que não seja a moça com a qual o imaginei.
– Apesar da preocupação, o sorriso logo voltou aos lábios de Giovanna. – Agora
que Deus ouviu minhas preces e colocou duas filhas nos caminhos dos meus
rapazes, quem sabe eles não se animam e logo ganho netos naturais? Vocês vão
tentar dar um irmão pra Vida. Não vão?
Jonas não iria falar nada. Não achava que sua família
precisava saber do drama de Emily. E também não queria que a noiva se sentisse
mais pressionada. Na verdade, achava que a mãe deveria sentir-se satisfeita com
Vida e deixar de falar em netos por um tempo. Mas já que não foi assim, apertou
a mão de Emily dentro das suas e deixou para ela a decisão de falar ou não. Ela
optou pela sinceridade.
- Nós já estamos tentando, Giovanna. Mas eu tenho um
problema de saúde que dificulta a concepção. Estamos tentando a inseminação
artificial. Mas ainda não conseguimos. – Emily falou e se sentiu mais leve. Não
estava mais enganando seus sogros.
- Minha querida...eu não sabia...não quis...
- Não se preocupe, mamãe. – Jonas interferiu. – Emily
sabe que não precisamos de filhos, apesar de desejarmos. Se não conseguirmos,
nossa família estará completa com Vida.
Giovanna concordou com o filho. Mas se preocupou ao não
ver a mesma certeza nos olhos de Emily. Jonas podia repetir o quando quisesse, era
óbvio que Emily não estava disposta a ficar apenas com Vida. Ela não falou nada,
apenas encerrou o jantar e se despediu deles. Pretendia ligar e tentar
conversar com Lorenzo ainda naquela noite. Para não deixar mágoas crescerem.
Giovanna até tentou. Mas o telefone tocou sem parar
dentro do carro de seu filho. Não que ele não desejasse falar com a mãe ou
estivesse realmente chateado. Apenas tinha se esquecido do aparelho
propositalmente para dar atenção a Jéssica e a Clara. Agora a menina já dormia
tranquilamente na cama da mãe enquanto eles conversavam. A conversa mais franca
que já havia tido com alguém.
Entre beijos, carícias e guloseimas beliscadas no sofá da
sala Lorenzo contou detalhes de sua vida. Das coisas mais sem importância como
suas viagens favoritas até seu amor pela família e responsabilidade com o
trabalho. Não passou despercebido a Lorenzo que Jéssica lhe ouvia atentamente,
mas não contava nada. No início achou que era por se envergonhar por não ter
grandes viagens para relatar. Depois percebeu que não era isso. Jéssica não
gostava de falar do passado. E isso o estava incomodando. Nada poderia ser pior
do que a mentira. Preferia que ela fosse franca e lhe dissesse o que de tão
grave havia para esconder.
- Acho que você já sabe o bastante do meu passado
Jéssica. Agora vamos ao seu. – Disse e a viu desviar o olhar. – Porque você
foge do assunto?
- Não fujo...só não quero reviver certas coisas.
- Nem eu gosto de tudo o que está no meu passado. E mesmo
assim te contei sobre Alice.
Não era a mesma coisa. E Jéssica percebia isso
claramente. Lorenzo sofria ao falar de Alice porque a amou e perdeu cedo demais.
Talvez ainda amasse um pouco, apesar do tempo. Eles tinham o relacionamento
perfeito e ela se foi durante um acidente. Aos olhos dele, Alice seria para
sempre a mulher perfeita. Ela não. Ela foi a adolescente estúpida que se
envolveu com quem não deveria e teve de arcar com a responsabilidade. E assumir
seus erros para Lorenzo era aceitar ser julgada por ele.
- Você contou uma história de amor. Trágica, mas bonita.
Não é belo o que tenho para te dizer, Lorenzo.
- Mesmo assim eu quero ouvir. – Com isso ele deixava
claro que não ia desistir. – Comece me dizendo onde estão os seus pais. Eles
sabem que têm uma neta e ela vive com dificuldade? Não têm condições de ajudar?
- Eles moram em Curitiba, Lorenzo. Onde eu cresci. E
vivem muito bem. Ao menos era assim há uns cinco anos, quando eu deixei minha
casa.
- Você é do Paraná? – Lorenzo surpreendeu-se por não ter
reconhecido um sotaque diferente.
- Não. Meu pai é do exército. Eu nasci e vivi em São Paulo até os oito
anos. Depois ele foi transferido para Curitiba. Vivemos lá desde então. Quando
eu tinha 17 anos eu conheci um rapaz que se tornou meu namorado. Ele não era
nem de longe o sonho dos meus pais.
- O que provavelmente te atraiu ainda mais. – Esse tipo
de rebeldia adolescente Lorenzo conseguia entender. – Você engravidou dele?
- Sim. Após muitas e muitas brigas lá em casa por causa daquele
namoro.
- Bom, levando em consideração que esse rapaz não está
aqui criando Clara junto de você, vou acreditar que seu estava certo e ele não
era digno o bastante de namorá-la.
- Não é bem assim. Quando eu descobri que estava grávida
eu contei para os meus pais, peguei uma mochila de roupas e fui embora morar
com ele. – Ela narrava a história de cabeça baixa e Lorenzo começava a achar
que Jéssica tinha coisa pior para contar.
- Você era menor de idade! Seu pai podia ter te trazido
de volta. – Era o que ele faria se fosse sua filha.
- Mas não trouxe. Ele sabia que eu estava grávida. Eu
tinha feito a minha escolha.
- Não tinha idade para fazer escolha nenhuma! Era para
ter sido cuidada pela família. – Ele estava nervoso e atrapalhando a história
dela. – Desculpe. Continue, Jéssica. Você foi morar com ele. E porque não deu
certo? Qual o nome dele, afinal?
- Bruno. Quando eu cheguei na casa dele descobri que
Bruno não morava com a família. Era um bairro afastado, mais perigoso e eu
nunca tinha ido lá. Meu pai jamais deixaria eu ir num lugar assim. Ele morava
sozinho, mas os amigos entravam e saíam em todo o momento. Vinham buscar
‘mercadoria’.
- Droga?
- É. Bruno sempre dizia que não devia me preocupar, que o
‘esquema’ era seguro e nada ia acontecer. Mas eles tinham medo da polícia,
tinham armas escondidas e estavam sempre vigiando. Eu comecei a temer ficar lá.
- Então fugiu para São Paulo?
- Não nesse momento. Quando eu estava morando com Bruno
há dois meses nós tivemos uma discussão. Era tudo muito novo, muito estranho
pra mim. E ele me disse que não precisava de uma menina fresca junto dele. Uma
patricinha. Disse que precisava cuidar de uns negócios e ia viajar. Eu fiquei
com medo de ficar ali sozinha, a polícia rondava o bairro.
Ela tinha pânico de um dia ver a casa sendo invadida pela
polícia e ser responsabilizada pelo que ali era escondido. Então tomou uma
atitude impensada. Sabia onde Bruno escondia dinheiro e pegou um pouco. Refez
sua mochila e foi embora. Foi até a rodoviária e comprou uma passagem. Chegou em São Paulo grávida e
sozinha.
- Na época eu mantive um telefone celular e ele ligou
alguns meses depois. Não sei se por perceber a minha saída ou a falta do
dinheiro. Perguntou onde eu estava e eu disse que em São Paulo. Mas
ele não pressionou para eu voltar nem disse que viria. Ficou feliz em eu ter
ido embora. Nunca quis ver a filha. Ela não leva seu sobrenome, nem recebe nada
dele. Bruno não existe mais nas nossas vidas. E prefiro que permaneça assim.
Não quero que Clara cresça vendo drogas, nem seja lá o que for que ele faz hoje.
Lorenzo não podia negar que aquela história o desagradou.
O risco que Jéssica e Clara correram de morrer no meio de um tiroteio com a
polícia o assustava. E estando grávida Jéssica podia ter sido presa. Concordava
que ela fez o certo em se afastar do antigo namorado. Mas criar uma filha
sozinha, daquela forma, sem a ajuda dos pais, foi loucura. Por alguma estranha
razão, tudo aquilo só o fez se orgulhar mais dela. Jéssica escolheu uma vida
mais difícil para conseguir educar melhor a filha. E cada vez mais ele sentia a
vontade de cuidar delas e amá-las se fortalecer dentro dele.
- Devia ligar para sua mãe. Reatar os laços. Ir
visitá-los. – Aconselhou.
- Não. Não ainda. Talvez se um dia tudo estiver bem eu os
procure. Mas agora não. Serviria apenas para ouvir meu pai dizer que estava
certo e que eu deveria tê-lo obedecido. Prefiro lutar sozinha. Sou mãe,
Lorenzo. Não posso mais me esconder na proteção deles nem saberia me portar
como eles esperam. Esse tempo de menina mimada acabou. Eu tenho é que trabalhar
e criar Clara. Mas se isso tudo fez você se decepcionar, eu entenderei.
- Eu acho, Jéssica, que você ainda não me conheceu o
bastante se pensa que eu vou embora pelo que ouvi. Não. Nada que me disse
serviu para te diminuir. É a sua história. Fico feliz que a tenha dividido
comigo. Mas ela já passou. Agora nós vamos começar a viver a nossa. E eu adorei
saber que viveu em
Curitiba. Sinal que o frio não te assustará quando viajarmos
para o casamento de Emily e Jonas.
Jéssica o encarou surpresa. Ir para o sul, viajar,
comparecer em um casamento elegante como o de Emily não estava em seus planos.
A razão principal era obviamente a falta de dinheiro. Mas também havia o
restaurante. Estava começando no novo trabalho. Não podia fazer isso. E teria
de avisar Lorenzo.
- Eu não irei ao casamento, Lorenzo. Não conheço Emily
tão bem assim e...não combino com esse tipo de festa. – Disse séria e olhando-o
nos olhos.
- Vocês podem não se conhecer bem, mas eu sou o irmão do
noivo e tenho de estar lá.
- Você sim, claro.
- E eu não abro mão da sua presença. Não se preocupe com
nada. Eu cuidarei de tudo. Tenho certeza que Emily e Jonas sabem que eu não te
deixaria. Temos que começar os preparativos.
Não eram poucos. Emily que o diga. Estava tão perdida em
compromissos que contava ainda mais com sua equipe. E ter contratado Jéssica se
mostrava cada vez mais um acerto. Ela se dividia entre o restaurante, o noivo,
seu tratamento médico e o casamento. E agora ainda precisava dar atenção a
Vida. Seu dia precisava de mais horas. Como isso era impossível, ela corria de
um compromisso para o outro, sem parada de descanso.
Dois dias depois ela e Jonas deixaram a sogra e o sogro
no aeroporto e correram para o Lar de Amparo administrado por Marta. Tinham uma
filha para visitar. Assim que tomaram a decisão e comunicaram à família, ela e
Jonas entraram com o pedido de guarda provisória e adoção de Vida. Para isso
contrataram um advogado especializado em casos de família, mas nem ele
conseguiu que a menina já ficasse com eles. Vida ficaria no abrigo até que eles
ganhassem a guarda definitiva. E isso poderia demorar bastante. Envolveria
entrevistas com assistentes sociais e muita burocracia. Ao menos eles receberam
a informação de que teriam a prioridade na guarda, principalmente após Rafael e
Melissa abrirem mão da adoção.
- Claro que nós abriremos mão de Vida por você e Jonas.
Desejamos toda a felicidade para vocês. – Melissa abraçou a amiga quando soube
da notícia.
Eles então tentaram deixar de lado a tristeza por Vida
não ser oficialmente deles e aproveitar para curti-la mesmo à distância.
Ligavam para Marta com frequência para ter notícias, compravam presentes e
preparavam o quarto que receberia a bebê. Era realmente uma gravidez. Com a
vantagem que podiam dar colo à filha sempre que quisessem. Normalmente os
candidatos a adoção não podiam fazer tantas visitas, mas como Emily sempre
frequentou o abrigo isso não despertava desconfianças. Naquele momento,
enquanto ela curtia a filha, Jonas e Marta conversavam.
- Outros casais interessados em adotar não terão acesso a
Vida, certo?
- Não. Eu não deixarei que a vejam. Vida já tem seus pais
escolhidos. Não se preocupe Jonas. Logo terão a documentação.
- Ótimo. Não quero que Emily sofra. Já basta a dificuldade
com o tratamento e a decepção em não conseguir engravidar.
- Mas agora que têm Vida, vocês continuarão tentando?
- Sim, amanhã mesmo ela fará uma nova inseminação. A
médica garantiu não haver risco. Enquanto for seguro nós iremos tentar.
- Ótimo. Então vá ver sua noiva e sua filha e não fique
se martirizando.
Ele caminhou sorrateiramente pelo corredor e chegou na
varanda da imensa casa que servia de abrigo. Observou Emily embalar Vida em
seus braços. Um pequeno pacotinho, tranquilo e sonolento. A menina tinha os
olhos fechados e ressonava docemente aceitando os braços que a ninavam.
Jonas preferiu não atrapalhar o momento de mãe e filha.
Estavam lindas juntas. Pareciam se complementar. Vida sentia a segurança dos
braços de sua mãe e mantinha-se tranquila enquanto Emily parecia aproveitar-se
do calor e do perfume da bebê.
- Não se preocupe Vida. Não importa quanto tempo leve,
não vamos desistir. Mamãe e papai vão levar você para casa assim que deixarem.
E desse dia em diante você terá um quarto só seu. E muitos brinquedos. E,
talvez, até um irmãozinho. E uma mãe e um pai! Não, isso você já tem. Vai poder
me chamar de mamãe Vida! Espero que queira me chamar de mamãe. Eu quero muito
ouvir isso. – Ela conversava com a filha.
- Acho que também vou querer ser chamado de pai. – Jonas
interrompeu a conversa.
- Olha filha, papai chegou. Manda um beijo pra ele.
Jonas pegou Vida dos braços de Emily e sentiu-a se mexer.
Ela era jovem, mas já reconhecia quando não era no colo da mãe que se encontrava.
Mas logo se aconchegou em Jonas e aceitou seus afagos.
- Não se preocupe, Vida. Logo você estará em casa.
- Veja! Ela reconheceu sua voz e abriu os olhos! – Emily
disse, alegre.
- É claro, sou o pai dela.
O coração de Emily dava cambalhotas de felicidade.
Discretamente ela havia escondido temores de que Jonas apenas tivesse aceito
Vida apenas para lhe satisfazer e não por ter sentimentos por ela. Isso vinha
por terra cada vez que os via juntos. Eles já se reconheciam, já se amavam.
Vida tinha conquistado seu pai rapidamente.
Com Jonas lhe segurando a mão, na manhã seguinte Emily
refez o procedimento de inseminação artificial. Se tudo corresse bem, ao se
casar, já estaria grávida. Se mais uma vez desse errado, subiria ao altar
sabendo que ainda não estava esperando seu filho e de Jonas. Mesmo assim, agora
com Vida, já não se sentiria tão triste. Eles já tinham alguém para amar.
Depois de um dia de repouso por insistência de Jonas,
chegara a hora de fazer os últimos arranjos do matrimônio. Para esses contou
com Melissa. Precisava fazer a última prova do seu vestido, comprar um joia que
combinasse, colocar na mala roupas de frio e lingeries sensuais.
- Preciso fazer limpeza de pele antes de viajar! –
Lembrou-se enquanto ambas caminhavam pelo shopping.
- Sim, porque Jonas não diria o ‘sim’ diante do Padre se
você não fizesse. – Melissa brincou com a amiga. - É claro que você fará. Mas
na véspera. Que dia você viaja?
- Na sexta a tarde eu e Jonas embarcamos. Para você e a
maior parte dos convidados eu reservei passagem para a quinta-feira. Poderão
aproveitar a fazenda e visitar a vinícola.
- Ótimo. E depois vocês saem em lua de mel?
- Na verdade não. Jonas tinha organizado tudo para
ficarmos 10 dias em Milão.
Nós conhecemos, mas seria a primeira vez juntos. Tivemos de
cancelar. Não conseguiríamos ficar tanto tempo sem Vida. Então vamos passar
três dias numa das cabanas da vinícola. Ela é usada por turistas às vezes e é
maravilhosa.
- Que romântico. – Melissa disse animada. Estava longe de
ser a lua de mel perfeita, mas entendia que era o possível. Nunca imaginou que
eles viajariam para longe sem Vida. – Acostume-se. Eu e Rafael também mudamos
bastante os destinos de férias depois que nos tornamos pais.
Seis dias antes de viajar para o Rio Grande do Sul Emily
ficou menstruada. Ela havia programado a data do casamento para não coincidir e
já estava preparada. Contou para Jonas de forma objetiva e mostrou-se firme.
Não permitiria que aquela decepção estragasse o casamento.
- Já temos Vida e vamos continuar tentando. – Disse ao
noivo enquanto ele mais uma vez lhe aquecia e massageava o corpo para reduzir
as cólicas.
- Vamos sim. – Desde que ofereça riscos para você. A
segunda parte da resposta Jonas guardava para si a fim de não iniciar uma
briga. Ela estava frágil e ele cuidaria dela.
Foram três dias de muita dor. Por isso ela se afastou do
restaurante antes do esperado. Nada a que sua equipe não pudesse sobreviver. Na
quarta-feira amanheceu bem e disposta, sendo recepcionada por uma linda bandeja
de café da manhã montada por seu noivo.
- Sente-se bem? – Ele repetiu a pergunta de todas as
manhãs.
- Ótima! Não quero mais pensar em dor. Agora apenas
felicidade passará por minha cabeça. E estou esfomeada.
- Ótimo. Então coma. Depois vamos visitar Vida antes de
irmos trabalhar.
- Eu comprei mais uns brinquedinhos para ela.
- Porque isso não me surpreende? – Jonas brincava. Sempre
que saiam para passear voltavam com alguma coisa para a filha.
Com o corpo recuperado, café tomado e visita feita, Emily
chegou ao restaurante na hora do almoço. E muito disposta para trabalhar. Após
o movimento acalmar, era hora de encarar o último item da sua lista de
organização. Falar com a equipe pela última vez como solteira. O fechamento do
restaurante duraria três dias. Márcio, os dois chefes de cozinha e o restante
dos funcionários já sabiam.
- Eu gostaria de agradecer a cada um de vocês. Aqui eu
tenho funcionários e amigos. Vocês sempre foram a minha família. E é muito bom
que pelo menos uma parte de vocês vá me ver iniciar uma nova família agora. –
Disse aos funcionários.
A maior parte deles iria viajar para ver a cerimônia. E
os poucos que não iriam, seriam incapazes de manter o funcionamento. Então
estariam de folga. Jéssica era um caso diferente. Ela não era sua amiga ou
funcionária antiga a ponto de ser convidada para o casamento. Mas era a
namorada do irmão do noivo. E por algum motivo que ainda não tinha entendido
muito bem, gostava de Jéssica. Queria aquele relacionamento fortalecido. Então
chamou a ajudante de cozinha em seu apartamento. O de solteira, antigo e vazio,
para conversarem num local bem apropriado.
- Esse é o meu antigo closet, Jéssica. Como pode ver tem
roupa demais. Coisas que não levei para o apartamento onde vivo com Jonas
porque não tive tempo de organizar. E também por falta de espaço.
- É muita coisa mesmo. – Jéssica, já estranhando o fato
de estar ali, surpreendeu-se ainda mais com a quantidade de roupa.
- Sim. E por isso tenho certeza que vamos encontrar algo
perfeito para você usar no casamento. – Ela encarou a funcionária. – É claro
que você vai com Lorenzo.
- Ele me disse sim...mas eu não espero que...
- Você vai. Isso é um fato, Jéssica. E eu tenho certeza
que Lorenzo adoraria te levar a um shopping e comprar algo lindo. De preferência
com uma joia cara e que fizesse você ficar encabulada. Os homens são assim!
Adoram nos mimar. Mas acabamos virando seus capachos se permitimos. Você tem
todo o direito de aceitar os presentes e recusar o vestido que irei te
emprestar. Mas acho que não deve fazer isso.
Emily havia pensado muito antes de fazer aquilo. Algo lhe
dizia que Jéssica precisava de uma ajudinha. Por mais maravilhoso que Lorenzo
parecesse, aquela sua interminável vontade de mimar a namorada podia se tornar
chata. E minar um relacionamento. Emily também já havia sido uma jovem de 22
anos ansiosa por crescer profissionalmente e se tornar independente. Jéssica
precisava de alguns conselhos. E ela tinha para dar.
- Mantenha sua independência, Jéssica. Não permita que
ele decida sua vida, pague pelo seu sustento ou se torne mais importante do que
você é. Lorenzo é um cara maravilhoso. Mas a sua independência também é.
- Eu não quero ser bancada por ele. – Jéssica tratou de
dizer.
- Ótimo. Isso pode ser tentador agora, mas acaba nos
menosprezando. E, se aceita meu conselho: nunca se menospreze. Você é uma
mulher linda e forte. Caminhe de cabeça erguida e lute pelo que você deseja. É
isso que manterá Lorenzo louco por você.
Com um vestido simples e elegante na bagagem, além de sapatos
e acessórios, Jéssica voltou para casa. Junto dela também ia uma grande dose de
autoestima e de orgulho próprio. Há tempos não pensava em como se valorizar e
ficar mais bela. Agora tinha uma razão. Lorenzo estava mudando a sua vida, seus
desejos, objetivos e sonhos de uma forma radical. Mas concordava com Emily. Ele
não podia tornar-se responsável por ela. Era sua namorada, não filha. Por isso
não aceitava mais presentes. A não ser quando ele lhe levava flores e
chocolates. Esses estavam permitidos. Estava ansiosa para surpreendê-lo no
casamento.
Jéssica e Clara embarcaram ao lado de Lorenzo e o voo de
1h30min foi tranquilo. Clara adorou ver as nuvens que, segundo ela, pareciam
com algodão doce. Ela não quis saber de dormir durante a viagem. Aproveitou
cada minuto. E só apagou quando foi instalada na cadeirinha infantil do carro
de Lorenzo.
- Como seu carro estava aqui em Porto Alegre ? E
porque há uma cadeirinha? – Jéssica estranhou e perguntou enquanto Lorenzo
colocava o cinto em Clara como aquilo fosse sua rotina.
- Pedi que um amigo trouxesse o carro e deixasse aqui no
estacionamento. E mandei instalar a cadeirinha dela. Vamos andar bastante de
carro. Chiara tem de estar segura.
- Muito bem pensado, Lorenzo. – Ela estava encantada por
ela.
Lorenzo beijou-a, feliz em ver que, finalmente, ela se
acostumara a lhe chamar pelo nome. A cada dia ela o fazia mais feliz. Ainda
mais agora que sabiam detalhes da vida do outro e não escondiam nenhum segredo.
Estavam juntos porque gostavam da companhia um do outro. Mesmo que alguns
pudessem pensar que Jéssica estava com ele para ter uma vida mais tranquila,
ela não usava do seu dinheiro e até aceitar um presente era difícil. O que não
o impedia de tentar. Agora mesmo ele entregava para ela dois pacotes. Em caca
embrulho havia um casaco pesado. Ela e Chiara estariam aquecidas durante
aqueles dias.
- Não reclame. Você não deixou que te desse um vestido
para o casamento e eu aceitei. Mas é inverno e aqui pode fazer muito frio. Não
quero que adoeçam.
Jéssica tinha pensado nessa possibilidade. E sua mochila
contava com blusas de frio. Não devia aceitar o presente. Mas ele já havia
comprado. E as roupas eram lindas. O casaco macio e com capuz de Clara era cor
de rosa. E o dela marrom.
- Obrigada. Pelos casacos e por sempre pensar em nós. –
Foi só o que pode lhe dizer.
Para a surpresa de Jéssica, Lorenzo não morava na fazenda
e sim na cidade de Bento Gonçalves. Não
é grande como São Paulo. Mas uma cidade com grande população e muito
desenvolvida. Além de bonita. Antes de chegarem em casa, Lorenzo acordou Clara
para lhe mostrar a fonte do vinho. A água avermelhada que vertia da fonte de
pedra atraía muitos turistas e chamou a atenção da pequena.
- Eu posso ir lá tio Lorenzo?
- Pode. Mas não coloque as mãos na água ou se sujará
toda.
Só depois de passearem pela cidade é que Lorenzo levou
suas convidadas até a casa. Feita em pedra e com uma arquitetura simples, o lar
de Lorenzo era bonito e discreto como ele. Mas ao contrário do apartamento em São Paulo , ali ele
acumulava muitos objetos e fotos. E não demorou para Jéssica avistar uma sobre
o balcão. Nela Lorenzo bem mais jovem, abraçado a uma garota sorridente de
longos e brilhantes cabelos negros e olhos azuis.
- Alice? Ela era linda.
Há tempos Lorenzo não vinha ali. E, para sua surpresa,
percebeu que também há muito tempo não pensava em Alice. Não fazia mais
sentido mantê-la ali. Ele pegou o porta-retrato e guardou dentro de um móvel.
- Desculpe. Eu não me lembrei de tirar essa foto.
- Não precisa. É a sua vida. Não vou ter ciúme dela. Você
deve ter boas lembranças dela aqui.
- Não. Alice nunca viveu aqui. Nós morávamos com meus
pais na fazenda. Anos depois eu saí de casa. – Ele abraçou-a e beijou seu
pescoço. – Mas estou bem interessado em formar lembranças felizes aqui.
Logo Clara estava ambientada com a casa e Lorenzo
satisfeito em ver a menina correr feliz. Nunca aquela casa ouviu tantas
gargalhadas. Tempos atrás ele teria aberto uma garrafa de vinho e bebido
sozinho. Hoje preparou uma térmica de água quente para fazer chimarrão. Iriam
se aquecer com a bebida enquanto Clara brincava. Essa diferença de vida lhe
agradava.
- Alguns amigos de meu pai bebiam em Curitiba. Eu gostava.
É forte.
- Sim. Forte, amargo e quente. Aqui parece ter outro
gosto. O que preparo em São
Paulo não fica igual.
- Não sei como você consegue viver em São Paulo. Parece
tão apegado ao Sul.
- Eu gosto de São Paulo. Se não tivesse ido lá, não teria
conhecido você. Mas gosto das tradições. Gosto de caminhar pelos parreirais.
Gosto de preparar o chimarrão. Da simplicidade do campo. E de chegar aqui e
provar o churrasco assado por meu pai. O sabor é diferente de ir a uma
churrascaria.
- Fiquei curiosa para provar esse churrasco. – Jéssica
disse enquanto bebericava da bebida amarga.
- Você vai provar logo mais. Emily pediu um cardápio
diferente para o almoço do casamento. Então hoje todos provarão do típico
churrasco gaúcho. Vamos jantar lá. Papai e nonno já me avisaram que devo chegar
cedo para ajudá-los a fazer o fogo.
- Sério?!?!? Jantar com toda a sua família? – Por essa
Jéssica não esperava.
- Sim. E muitos outros convidados. Vamos dormir lá essa
noite. Minha avó está ansiosa para conhecer Chiara.
Ansiosa era pouco. Vovó Ângela havia descansado por toda a
tarde após ajudar Giovanna a preparar as saladas e a sobremesa do jantar. Agora
estava sentada na sala esperando pela menina que, segundo Leonel, deveria
acolher como bisneta. Afinal, era filha da mulher que ganhou o coração de seu
neto mais velho.
Ela e Francesco esperavam pelos convidados. Queriam ser
apresentados a Jéssica e Clara e poder lhes mostrar que eram bem vindas àquela
família. O coração de vovó Ângela saltitou ao ouvir o barulho do carro de
Lorenzo chegando. Viram Lorenzo, galante como sempre, abrir a porta para
Jéssica. Ela era realmente muito jovem. Mas ao passar um braço em volta de sua
cintura enquanto carregava a menina com o outro, ele deixava no ar a mensagem
de que ela era a sua companheira.
- Veja, meu velho. Ele está feliz. – Ângela disse
sorrindo.
- Sim. Veja se não os deixa constrangidos. – Francesco
respondeu.
- Que bobagem! Eu não constranjo ninguém!
Se Jéssica sentiu-se nervosa, Clara não estanhou em nada
as pessoas desconhecidas. Entrou correndo como se conhecesse a todos e se
postou diante ‘dos vovôs’ pronta para cumprimentá-las como Lorenzo havia
ensinado.
- Buona nonno e la nonna di notte. – Disse lentamente.
- Buona notte principessa. – Fancesco respondeu. – Você
deve ser a Chiara.
- Sou sim!
- Linda menina. Venha aqui com a vovó Ângela. Eu quero te
dar um beijo.
Jéssica aproximou-se mais devagar. Porém, foi tão bem
recebida quanto. Os avós de Lorenzo pareciam recebê-la de braços e corações
abertos. Até os pais lhe pareceram mais calorosos, menos surpresos e mais
carinhosos ao lhe abraçar.
Giovanna não demorou a chamar o filho em particular para
esclarecer qualquer desavença que pudesse ficar entre eles. Não conseguia
sequer pensar em ficar afastada do filho.
- Não fique magoado comigo. Eu te amo tanto, Lorenzo. Só
quero o seu bem.
- Não estou magoado.
- Você ignorou meus telefonemas.
- Apenas não gostei da forma como Jéssica foi tratada.
Agora estou aqui com vocês. Quero apenas que a recebam como acolheram Emily.
Não é tão difícil.
- Ela será acolhida, se te faz feliz, Jéssica tem todo o
meu carinho.
A noite foi animada. Dos 40 convidados que viriam para o
casamento, 29 já estavam na fazenda. Há tempos Leonel não assava churrasco para
tantas pessoas e ele ficou satisfeito em ver todos tão animados. Lorenzo o ajudava
a manter o fogo da churrasqueira e a virar a carne. Mas Leonel via que o filho
não tirava os olhos de Jéssica e Clara, agora recebendo a atenção de Melissa.
- Ela te pegou de jeito hem. – Disse batendo nas costas
de Lorenzo. - Será que em breve estarei casando outro filho?
- Vamos com calma, papai. Jéssica é muito jovem, tem uma
carreira para construir. Não quero pressioná-la.
- É claro, meu filho. Mas saiba que teriam todo o meu
apoio. Tudo o que interessa é a sua felicidade. – Depois de duas décadas
cinzentas, Leonel finalmente via o filho feliz. E queria mantê-lo assim.
Clara logo deu sinais que precisava dormir e quando
Jéssica fez menção de erguê-la, Lorenzo aproximou-se para levá-la. Vovó Ângela
não perdeu a oportunidade.
- Que idade você tem, Jéssica? – Perguntou a idosa.
- Tenho 22 anos.
- E uma filha de quatro? – Surpreendeu-se. – Rapidinha
você hem.
- Mamãe! Por favor. – Leonel já estava acostumado ao
comportamento de Ângela, mas os convidados, em especial Jéssica ,
poderiam ficar constrangidos. – Não fale assim.
- Oraaaa por quê? Não foi uma crítica. Quem dera meus
netos tivessem sido rapidinhos também. – Ela olhou para Lorenzo. – Você mesmo.
Podia ter me dado alguns bisnetinhos. Só te perdôo porque agora tem Jéssica,
que nos deu Chiara. Um encanto de menina!
- Fico feliz em saber que estou perdoado. – Lorenzo ria
com Clara nos braços.
- Além disso, eu também fui bem rapidinha. Tive Leonel
aos 19 anos. Nunca se envergonhe de ter tido Chiara cedo, Jéssica. Ter filhos
não é vergonha. Não saber criá-los sim. Essa menina deve ser o seu orgulho.
- Ela é. – Jéssica concordou.
- E continue rápida. Trate de laçar Lorenzo, levá-lo ao
altar. E fazer meus bisnetinhos, claro.
Antes que o vermelho tomasse conta da face de Jéssica,
Lorenzo puxou-a em direção a casa. Iriam colocar Clara na cama e depois sair
sozinhos. Estavam precisando e merecendo alguns minutos de paz. Depois de
acomodar a menina que já estava em sono profundo, Lorenzo pediu que Ana viesse
olhá-la de hora em hora.
- Não se preocupe. – Respondeu a empregada. – Não
faltarão olhos sobre essa criança. Vão tranquilos.
- Ótimo. Não sei se voltaremos para dormir aqui ou se
ficaremos em alguma das cabanas. – Lorenzo mentiu. Na verdade não pretendia
retornar hoje, mas não queria alertar a família.
Lorenzo tinha bem claro na mente o que aconteceria
naquela noite. Já tinha em seu bolso a chave de uma das cabanas e pretendia ter
Jéssica só para si por algumas horas. Durante a tarde pediu que um funcionário
aquecesse o local com a lareira e levasse vinho. O lugar estava mais romântico
do que qualquer suíte de núpcias. E, apesar de não serem eles que trocariam
alianças naquele final de semana, essa seria sim uma noite de núpcias.
Ao final de semanas de relacionamento conturbado com Jéssica,
finalmente conseguiu que ela confiasse nele e se torna-se oficialmente sua
namorada. Vinham namorando, se conhecendo, agradando um ao outro. Mas não
haviam passado de carícias e amassos sobre o sofá. Dia desses, quando ele já
estava com a camisa aberta e sem o cinto da calça Clara começou a choramingar,
cortando o clima. Hoje nada os impediria de passar a noite juntos. A noite
toda. Apenas se amando.
Logo que chegaram à cabana Jéssica entendeu qual o plano
do namorado. Ele queria sexo. Ótimo. Porque ela também vinha desejando-o há
dias e não sabia como dizer isso sem parecer uma vadia oferecida. Desde que
abandonou Bruno e teve Clara vinha se dedicando a filha e a arte da conquista e
sedução foi esquecida. Hoje desejava ser mais experiente nisso. Lorenzo é um
homem vivido, iria esperar ousadia da parte dela.
- Isso tudo é para me seduzir? – Disse aceitando a taça
de vinho.
- Funcionou?
- Acho que sim. – Ela foi sincera. – Não quero ficar mais
uma noite sem você.
- Jéssica...as vezes eu te quero tanto que chega a doer.
Preciso tocar toda a sua pele, cada pedaço, cada milímetro. Tomar você inteira,
num só gole. Até um embebedar.
- Então porque não me tomou antes? Podia ter conseguido
tudo já, eu não conseguiria te negar nada.
- Você quer negar algo? Se quer, a hora para falar é
agora. Esperei até agora para você poder mudar de ideia. Mas eu não sou de
ferro. Não aguento mais. Diga se me quer. É jovem, Jéssica. Pode descobrir que
ama outra pessoa.
- Não. Eu amo você. E quero ser sua.
- Ótima escolha.
Lorenzo podia tê-la levado para a cama. Mas achou que
ali, na frente da lareira e sobre um tapete macio como uma nuvem estariam tão
bem acomodados quanto. Jéssica estava com a pele quente e macia como só ela
conseguia ter.
- Me beija, Lorenzo. Preciso que me beije. – Ela lhe
sussurou.
Lorenzo fez mais do que atender ao pedido. Além de
beijar-lhe os lábios até deixá-la sem fôlego, abriu-lhe a calça jeans e começou
a acariciá-la intimamente. Ela não esperava. E logo no início enrijeceu os
músculos. Mas depois relaxou e deixou-o explorá-la sem medos ou inibições.
- Linda. E tão delicada que pareço estar tocando algo
proibido. Perfeita.
Jéssica também o acariciou, dos braços e costas de
músculos bem marcados ao peito firme. Ele era forte, rígido, quase bruto,
apesar de tocá-la tão leve quanto uma pluma. Jéssica deixou qualquer réstia de
inibição para trás e segurou-o com uma das mãos. Sentiu o desejo dele pulsar
entre seus dedos. E implorou para que ele avançasse sobre seu corpo.
Quando ele alcançou os seios pequenos e alvos, beijou-os
e mordiscou-os com delicadeza. Toda ela parecia exigir carinho e atenção. Até
que sentiu-a tremer e percebeu que não poderia prolongar aquela tortura por
muito mais tempo. Ela precisava de alívio tanto quanto ele.
- Por favor, Lorenzo. Chega. Não aguento mais. –
Implorou.
- Eu sei. – Ele respondeu.
Ainda de olhos fechados Jéssica sentiu o corpo gelar
quando ele se afastou. Ela sabia que não duraria muito tempo. Lorenzo precisava
de seu corpo. Não a deixaria ali sem prazer e sem alívio. Então ouviu um
barulho peculiar. E entendeu que Lorenzo estava abrindo e vestindo um
preservativo.
- Você lembrou. Que bom. Porque eu não estou tomando
pílula.
- É minha responsabilidade cuidar de você, Jéssica. Eu
sempre vou lembrar. Nunca vou brincar com o seu corpo. Não assim, pelo menos.
Agora relaxa, você está protegida.
Jéssica fez feliz o que ele mandou. Na cama era bom
obedecer um homem como Lorenzo. Ele sabia o que falar e onde tocar para fazer
do seu corpo uma gelatina. Entrou nela centímetro por centímetro, como se
ganhasse um espaço que a partir dali seria só seu e fincasse uma bandeira.
Apesar da delicadeza das palavras, brindou-a com estocadas rápidas, fortes,
seguras e firmes. Quanto mais duro e forte ele investia, mais derretida ela
ficava. E quando finalmente ele alcançou o orgasmo, ela já estava num estado de
quase inconsciência, sem condições de falar nada relativamente coerente. Então
apenas se aconchegou a ele e deixou o sono vir pensando que havia encontrado o
paraíso e que não pretendia deixá-lo nunca mais. Essa paz que sentia dentro de
si deveria ser sinal de que havia encontrado seu par no mundo.
Emily também já havia encontrado seu par no mundo. Mas
paz estava longe de ser sua sensação naquele momento. Era a madrugada da ante véspera
de seu casamento, deveria estar dormindo para evitar olheiras, mas estava
nervosa, ansiosa e elétrica demais. Enquanto Jonas dormia tranquilamente ao seu
lado na cama, ela continuava com o cérebro ativo. E quando ela lhe perguntou
como conseguia manter aquela calmaria, ele, ainda sonolento, respondeu:
- Porque não? Vamos assinar um papel e festejar. E na
semana que vem você estará dormindo ao meu lado como sempre. Porque eu estaria
nervoso?
A teoria de Jonas era válida. Mas não serviu para acalmar
seu coração de noiva apreensiva. Queria poder dizer sim logo e tornar-se Emily
Fruett Vicentin, a mãe de Vida e esposa de Jonas, além de chefe de cozinha
renomada. Sim, sua vida estava bem mais corrida e cheia de sentimentos nos
últimos tempos.
Ainda agitada ela embarcou ao lado de Jonas para sua
ultima viagem enquanto solteira. Quando voltasse para São Paulo seria uma
senhora casada. Ao chegar em
Porto Alegre , tomaram um carro alugado e seguiram para a
Serra. Estava a 24 horas de dizer sim a Jonas.
- Acalme-se, Emily! Não pode ficar nervosa assim. –
Melissa lhe obrigou a tomar algo mais forte que chá e descansar durante toda
aquela tarde.
Naquela noite Lorenzo e Rafael saíram com Jonas para a
despedida de solteiro. Nada demais, Melissa havia obrigado Rafael a jurar. Não
iriam embebedar o noivo nem levá-lo para passar a noite com mulheres. Nada
disso. Apenas uma conversa de rapazes num bar da cidade. Enquanto isso, os
cuidados com a beleza da noiva tiveram início. Cremes para todos os lados,
massagens relaxantes e tudo o que Emily precisava para se acalmar.
- Amanhã, quando acordar, você colocará seu vestido de
noiva e se preparará para dizer o sim. – Giovanna estava se deliciando com o
momento.
Como que por milagre, naquela noite Emily dormiu melhor e
acordou bem disposta. Era o dia de seu casamento. Não pensou no buffet. A
organização não passou por seus pensamentos. Também não ligou muito para os
convidados. Só tinha pensamentos para Jonas. Esse era o dia deles. E quando
finalmente colocou seu vestido de noiva, sentiu que estava realizando um sonho
mais antigo até mesmo do que ela imaginava.
- Eu vou me casar. – Disse encarando-se no espelho já
pronta. E quase surpresa com o que via. Era a noiva. Não a amiga, nem a madrinha.
Era a noiva. E tinha um noivo lhe aguardando no altar.
- Vamos gente! Apressem-se. Eu tenho que casar. E não
quero deixar Jonas esperando. – A Emily que todos conheciam estava de volta.
Objetiva e segura. Pronta para dar o passo mais importante de sua vida e dizer
o sim definitivo ao homem que ama.
Nenhum comentário:
Postar um comentário