Elizabeth chegou
à casa, estacionou seu carro e subiu para a suíte que dividia com Miguel. Tudo
tinha cara de despedida, de última vez. Olhar para aquela cama com lençóis
perfeitamente esticados e lembrar-se de tudo o que viveram ali, de como foi
feliz nos braços de Miguel. Seu casamento foi tão bom que chegou a pensar quem
poderia passar a vida ao lado daquele homem. Mas não. Miguel não conseguia ser
fiel. Uma mulher não bastava. Os juramentos do casamento não representavam
nada. Foi assim com Alejandra e agora com ela.
Numa
desorganização que combinava com seus sentimentos, jogou dentro da mala roupas,
acessórios, objetos particulares, seu kit de medição da glicemia, alguns cremes
e maquiagens. Não pegou o frasco do perfume. Tinha sido um presente de Miguel.
‘O aroma tem o seu frescor e a sua força. Deveria levar seu nome’. Ele sabia
como derrubá-la com algumas palavras doces e surpreendentes.
Depois
olhou para sua bolsa pensando se deveria retirar algo. Da carteira pegou o
cartão da conta bancária conjunta da qual jamais retirou um centavo. Mais nada
ali era de Miguel ou pago por ele. De frente para o espelho e com certo
lacrimejar nos olhos, retirou os brincos, um presente recente de seu marido, e
deixou-os sobre a pia. Fez o mesmo com sua aliança. Era o símbolo de um
casamento encerrado. Mas não conseguiu se desfazer do colar. Talvez porque ele
representasse o sentimento no coração de Miguel. E esse não acabou. Eles ainda
se amavam.
-
Você ficará comigo. – Disse olhando para o colar.
-
Se pretende levar meu coração, significa que ainda me quer. – Miguel chegou,
correndo, desesperado para dissuadi-la da ideia. – Não desiste de mim. Não
desiste de nós.
Miguel
estava desesperado, não conhecia uma forma de fazê-la mudar de ideia,
perdoá-la. Demorou a segui-la. Pensou que talvez não devesse tentar
convencê-la. Mas a ideia de não vê-la mais, de não tomá-la mais, de não ouvi-la
mais logo pela manhã era dolorosa demais. Então veio para casa na esperança de
ainda dissuadi-la.
-
Você desistiu, Miguel. E não me deu alternativa.
-
Eu peço perdão. De joelhos, se você quiser. – As lágrimas escorriam pelo rosto
dele. - Eu não quero que você se
humilhe, Miguel. Eu confio no seu amor. Mas não posso dormir ao lado de alguém
em quem eu não confio. Me tornaria uma esposa chata e obsessiva, sempre
desconfiando. Sempre me perguntando na cama de quem você está.
-
Não, não.
-
Acabou Miguel.
-
Eu te amo.
-
Eu também te amo. Mas acabou.
Elizabeth
deixou a casa dos Benitez com a certeza de que jamais voltaria colocar os pés
ali. Aquela casa não lhe trouxe felicidade. Mesmo sabendo que jamais voltaria
amar daquele modo, com aquela intensidade. Quando chegou em casa, estava ainda
tentando frear o sofrimento e as lágrimas. Era início de noite e Bia estava no
apartamento, com Eva nos braços. Não pode mentir para irmã.
-
Meu casamento acabou. Estou voltando a viver aqui.
Beatriz
abraçou a irmã. Conhecia a sensação de fracasso que um divórcio trazia. Deu à
irmã o conforto de que necessitava, mas, logo depois, quis entender o que se
passava. Eles se amavam. Não devia acabar assim. Tentou questioná-la, fazê-la
falar. Mas Liz não quis falar.
-
Não estou me sentindo bem. Quero ficar sozinha. Depois nós conversamos.
A
angústia ainda estava presa em sua garganta. A péssima sensação de estar
abdicando de sua felicidade. Pela primeira vez dês de que entrou para a
polícia, seguir para a central e analisar um caso não era uma opção. Estava sem
energia. O enjôo veio forte e a fez correr ao banheiro e esvaziar seu estômago
enquanto ainda lembrava-se de ver Alejandra no colo de seu marido. Sem dizer
nenhuma palavra à irmã, aceitou a xícara de chá oferecida por Bia e retornou ao
seu quanto para dormir e esquecer aquele dia horrível.
A
bebida muito adocicada fez efeito e Liz só acordou algumas horas depois quando
lhe bateram na porta do quarto. Assustada com o estado de Elizabeth, Bia achou
que era hora de reunir o trio. Ligou para Matheus sabendo que ele não demoraria
a vir.
-
Não trouxe Paty? – Liz perguntou ao vê-los.
-
Ela entendeu que era um assunto nosso. – Matt respondeu. – O que Miguel fez
para te deixar nesse estado, Liz?
-
Ele foi o mesmo Miguel de sempre, o que eu conheci naqueles arquivos policiais
e eu evitei aceitar. Miguel não conhece o significado de fidelidade. Ele me
traiu. E eu o deixei. Fim da história.
-
Não é tão simples, Liz. A vida não é assim. – Bia disse.
-
Terá de ser. Eu não voltarei atrás na minha decisão. Acabou o meu casamento.
-
Você o ama!
-
Isso não resolve tudo, Bia. Não seja tão ingênua.
-
Liz, aceita uma opinião masculina. Se ele assumiu que te traiu e pediu perdão é
porque te ama. Vocês deveriam conversar. Talvez valha a pena lhe dar uma nova
oportunidade. – Matt disse enquanto acariciava os cabelos da amiga. Só ele
tinha essa liberdade.
-
Você trairia Paty? Iria para a cama com outra mulher?
-
Não. – Ele respondeu sem pensar. Não havia dúvida.
-
Porque você sequer olha para outra mulher. Patrícia lhe basta. Miguel não é
assim.
-
Mas... – Bia tentou interferir.
-
Não há mas! Agora vocês dois, saiam do meu quarto. Eu vou descansar e amanhã
trabalhar como sempre. Eu vivi sem Miguel por muito tempo, posso reaprender
isso.
Ela
só não esperava que fosse tão difícil. Quase três semanas depois e a dor
parecia não diminuir. Ela continuava sem dormir bem, sem tem a mesma
concentração no trabalho e sem poder comer porque seu estômago rejeitava tudo o
que consumia. Passava mal todas as manhãs e logo depois olhava-se no espelho
ignorando toda aquela dor, maquiava-se e seguia para o trabalho. A dor
particular e a raiva lhe davam ainda mais vontade de resolver aquele caso.
Pilhas de processos se acumulavam em sua casa. Cansada ou não, passou a
trabalhar até tarde em seu escritório particular. Ou, por sentir-se mal,
trabalhar ali durante a manhã e só depois seguir para a PF.
Naquela
manhã, ela estava analisando o caso quando Bia chegou. Era cedo. Muito cedo.
Horário em que ela deveria estar saindo de casa. E Elizabeth preocupava-se
porque sabia o que a irmã vinha fazendo. Desde que sua reportagem saiu na
mídia, Bia continuou investigando quadrilhas de prostituição. Sabia agora que
não fora a única a receber ameaças. Bia e Paty também foram vítimas. Alguém
tentava assustá-las. Sinal que estavam perto da verdade. De sua parte, só fez
intensificar as buscas policiais. Não iria se esconder feito um rato. Mas ver a
mesma postura em Beatriz a assustava.
-
Eu já pedi para você parar de mexer com isso, não pedi? Isso é perigoso demais
para uma jornalista.
-
Eu sei me cuidar, senhora policial. – Ela beijou a face da irmã. – Como você
está?
-
Levando a vida. Reaprendendo a viver. – Ela tinha organizado sua vida para
estar junto de Miguel e ele deixou um vazio difícil de suportar. Ainda assim,
corajosamente, ignorava cada uma de suas ligações.
-
Afogando-se em trabalho, pelo que posso ver. – Bia olhou para o grande mural
que se transformou a parede do escritório. Ali, muitas fotos dispostas numa
ordem bem peculiar. – É um mapa?
-
Sim. Com todos. Desde kara e Olívia, depois Miguel e Javier até chegar em Caleb. Cada um dos
personagens que envolveu esse caso, seus passos e as possibilidades. Falta
apenas uma pela se encaixar, Bia. Eu estou perto. Sei que estou.
-
Quem é essa? – Bia apontou para a foto de uma bela loira.
-
Gabriela Alencastro. A filha de Javier.
-
Alguma desconfiança paira sobre ela?
-
Nenhuma, mas ela faz parte dessa história. Por isso a coloquei aí.
-
É um quebra-cabeça e tanto, Liz. Boa sorte.
-
Eu vou até o final disso, Bia. Vou descobrir quem é o comandante dessa
quadrilha. E, quando isso ocorrer, vou acabar com ele. Sem dó.
Miguel
não tinha uma investigação para cuidar. Tinham uma multinacional, o que
representava tanto trabalho quanto. Ao invés de mapa de suspeitos, tinha
balanços financeiros para analisar. E não dava atenção a nada disso. Naquela
manhã ele pediu o cancelamento de todas as suas reuniões. O motivo?
Recuperar-se da bebedeira da noite anterior. Vinha bebendo muito. E terminando
todas as noites solitário. Noite passada esteve com Matheus. Ele era amigo de
Liz, poderia lhe dar alguma informação dela. Estaria sofrendo? Sentindo sua
falta? Talvez, pelo menos um pouco. Matt não lhe disse muita coisa. Falou
apenas que precisava dar tempo à Liz. Ela não esqueceria uma traição fácil.
Estava machucada.
-
Ela ainda me ama. Não ama? – Perguntou sem perceber o quão ridículo aquilo
soava.
-
Ama. Mas para Elizabeth isso não torna tudo mais simples. Ao contrário. Se não
te amasse, não estaria tão ferida. – Foi a resposta de Matheus.
De
manhã, já perto do meio dia, Miguel deixou o quarto com a barba por fazer e, na
cozinha, encontra-se com a mãe.
-
Erga-se! Comporte-se como um homem! Ela não era mulher para você, Miguel.
Qualquer um percebia isso. – Rúbia repetiu seu discurso favorito das últimas
semanas.
-
Basta! Nunca
hables así de Elizabeth! Todo esto es tu culpa. – Acusa a mãe.
- Minha? Eu não o obriguei a ir se
deitar com Alejandra!
- A jogava em meus braços em cada
oportunidade. Fez de tudo para que eu traísse minha esposa.
- Miguel, não seja injusto. Se você voltou
para os lençóis de Alejandra é porque ainda deseja algo dela. Deveria reatar
seu casamento com Ale.
- Eu só quero distância de
Alejandra, madre. Só isso. E vou lutar para reatar meu casamento com Elizabeth.
É só ela quem me interessa.
- Mas não será assim! Alejandra vem
tentando contato com você para poder lhe dar a notícia, mas você não aceita
recebê-la. Então eu mesma falarei. Alejandra está grávida. Espera um filho seu.
Meu neto. E eu exijo que você oficialize o divórcio daquela mulher horrível e
dê um lar para meu neto! Agora!
Miguel não conseguia acreditar no
que ouvia. Só podia ser mentira. Coincidências assim não existiam. Alejandra
não iria engravidar numa noite em que ele estava bêbado e sequer se lembrava do
que tinha feito. Impossível.
- Isso é mentira!
- Não fale assim comigo! É verdade.
Alejandra espera o meu neto. Trate de procurá-la, pedir perdão por tudo que a
fez passar e pedir para que se case com você novamente.
Miguel riu mesmo sabendo que nada
havia de engraçado naquela situação. E tomou uma decisão. Longe da que sua mãe
esperava.
- Eu já sou casado, madre. Com a
única mulher com quem já sonhei passar a vida. E não pretendo fazer movimento
algum para reverter isso. Se for mesmo verdade que Alejandra espera um filho
meu, ela terá de se acostumar com a ideia de ser mãe solteira. E eu sinto pela
criança. Ela merecia uma mãe melhor. Meu filho poderá sempre contar comigo.
Alejandra não.
Por
mais três dias Miguel conseguiu evitar Alejandra. Suas ligações, mensagens,
e-mails, tudo recusado. Até que ela o impediu se sair com seu carro no portão
da BTez. Descontrolada, postou-se na frente do veículo chamando a atenção dos a
atenção dos pedestres. Sem poder acelerar sem causar um acidente, viu-se
obrigado a recebê-la. Ela confirmou a história contada por Rúbia. E lhe mostrou
o exame positivo de gestação.
-
O que espera que esse papel mude nas nossas vidas? O que espera que eu faça,
Alejandra?
-
É seu filho! – Ela acusou-o. – Como pode ser tão frio?
-
Ele não foi desejado, nem esperado, Ale. Não deveria supor que eu estaria
feliz. Você o terá e eu irei assumi-lo. Fim da história.
-
Podemos dar uma família a ele.
-
Como você mesma disse, eu sou um péssimo marido. Não há família para nós.
Agora, se puder me dar licença...
-
Não pode fazer isso comigo!
-
Eu estava bêbado quando você foi me encontrar naquele bar e me levou para um
hotel. Deveria saber o que fazia, Alejandra. Eu vou assumir minha parte na
responsabilidade. E você a sua. Sinto muito. E daqui para frente, entre em
contato apenas por assuntos essenciais, sobre o bebê.
Naquele
momento, Beatriz voltava para a redação do jornal caminhando. Havia estado numa
entrevista coletiva dada pelo governador para explicar o recente aumento da
violência no estado. Mais assaltos, mas roubos de veículos, mas seqüestros e,
acima de tudo, mais execuções. Talvez fosse esse mar de notícias negativas o
responsável por sua paranóia, mas ela caminhava tendo a sensação de estar sendo
seguida. Cada passo acompanhado por alguém. E isso foi irritando-a. Por vezes
olhou para os lados e não avistou ninguém suspeito. Mesmo assim apertou o passo
e seguiu para a redação.
-
Beatriz? – Gritou a recepcionista assim que a viu. – Chegou isso para você.
Era
um envelope. Dentro uma foto dela trabalhando na noite anterior. Como se um
aviso de que ela foi notada. Atrás da foto um recado: ‘Não darei um terceiro
aviso. Esse mundo não é para você.”
-
Esse mundo não é para ninguém! E eu não vou parar. – Ela guardou o bilhete,
junto ao anterior, na gaveta de seu escritório. Um dia ainda sentiria orgulho
de não ter se acovardado frente a ameaças.
Porém,
após redigir sua matéria sobre a violência, não teve mais cabeça para trabalhar
e foi para casa. No caminho, porém, passou na farmácia e comprou algo que Liz
estava precisando. Só que a irmã ainda não havia percebido. Esse deveria ser o
único quesito onde ela era mais experiente que Elizabeth. Compra feita, ela
seguiu para casa. O relógio marcava 20hs quando chegou ao lar. E viu Liz
preparando uma xícara de chá. Mais uma. Ela vinha fazendo muito isso
ultimamente.
-
Estômago? Mais uma vez? – Bia provocou. – E as tonturas?
-
Hoje sem tonturas. Aquele dia foi minha glicemia muito baixa. Eu já expliquei
isso milhares de vezes. – E deu aos dois desmaios recentes a mesma explicação.
-
Vai se enganar até quando? – Bia foi direta. – Eva vai ganhar uma priminha ou
priminho.
Elizabeth
ficou tão pálida que Beatriz jurou que ela fosse vomitar mais uma vez. Mas não.
O choque passou logo. Prova de que essa possibilidade já tinha lhe ocorrido.
Porém, foi descartada por pura teimosia. Bia lhe estendeu o teste e o resultado
não foi nada surpreendente. As duas linhas estavam ali, bem evidentes,
contrariando a tudo o que ela sempre disse que faria na vida.
-
Eu...eu...estou grávida. Não posso acreditar.
-
Parabéns! Parabéns! Parabéns! – Bia gritava. – Agora você tem de falar com o
Miguel.
Liz
não estava assim tão empolgada e voltou para o quarto sozinha, carregando o
teste como se tivesse esperança da segunda linha desaparecer. Não podia estar
grávida. Não fazia ideia de como ser uma mãe relativamente boa. E agora nem
mais casada estava. Ao fechar a porta pode ouvir Bia fazendo uma ligação. Tinha
certeza de que logo Matt e Patrícia estariam ali, comemorando a notícia que ela
ainda tentava digerir.
Ela
estava certa, Matt e Paty chegaram sem entender o que acontecia. Percebiam
apenas que Bia estava muito feliz, animada e disposta. Enquanto Elizabeth tinha
a expressão apavorada.
-
Podem dizer o que está acontecendo? – Matheus perguntou.
-
Eu estou grávida! – Liz adiantou-se antes que Beatriz também cumprisse essa
tarefa. – E não sei direito o que sentir. Muito menos o que fazer.
-
Calma Liza. Você está surpresa e não é o melhor momento para a chegada de um
bebê. Mas tudo vai se ajeitar. – Matt tentou ajudar a amiga.
-
Não é o Miguel o problema...sou eu. Era para eu me sentir mais feliz. Qualquer
mulher se sentiria...mas eu não estou. Não sei o que fazer com um filho! Minha
vida, minha carreira na polícia! Nada disso é para uma criança.
-
Tudo isso se ajeita, Liza. – Patrícia disse. – O importante é você pensar se
deseja esse bebê.
-
É difícil não desejar sabendo que ele já está aqui dentro. Mas eu nunca quis
isso. Jamais me imaginei vivendo isso. E eu sempre me cuidei. Devo ter me
esquecido de tomar alguma pílula na lua de mel. Um único esquecimento e aqui
estou eu!
-
O melhor a fazer é jogar limpo e ligar para Miguel. Conta pra ele, conversem.
Talvez esse bebê tenha vindo para unir vocês.
-
Você é tão romântico, Matt. Chega a ser bonito de te ouvir. A vida não é linda
assim. – Liz respondeu um tanto amarga.
Eles
ainda conversaram por mais algum tempo. Até que Beatriz pediu para que ficassem
com Eva para que ela saísse.
-
É bom para você ir treinando, Liz. – Brincou com a irmã.
-
Para onde você vai? É tarde.
-
Primeiro vou no apartamento de Willian, ficar com ele, namorar. Vou ficar lá
até umas 4h30 da manhã. Quando tenho que checar uma informação.
-
Onde?- Liz cada vez mais se preocupava com a irmã.
-
Você sabe onde. Descanse, Liz. Eu estou bem.
Matheus
e Paty ainda ficaram no apartamento por mais algum tempo. Mas depois Liz pediu
que eles levassem Eva para passar a noite com eles. Não estava com cabeça para
cuidar da sobrinha naquela noite. Precisava pensar e descansar. Sozinha, pensou
muito e descansou pouco. Passava das 23hs e sua cabeça vibrava em pensamentos
que não chegavam a nenhuma conclusão. Durante todas aquelas semanas não atendeu
as ligações de Miguel nem leu suas mensagens. Estava com saudade dele.
Precisava dele. Então discou os números que jurou não chamar nunca mais. Não se
surpreendeu ao perceber sua voz fraca, confusa e trêmula. Miguel estava bêbado.
-
Liz, Liz...é você? Minha Liz...fala comigo. – Ele pediu.
-
Sou eu...onde você está, Miguel?
-
Num bar....eu não saio deles sem você. Volta pra mim. Eu te amo tanto, Liz. Eu
não vou sobreviver sem você.
-
Não fala assim. Não diz isso. – Era tão difícil resistir.
-
É a verdade. É você quem me mantém vivo. Só você.
-
Eu preciso te ver, Miguel. Mas não na sua casa.
-
No nosso motel. Me encontra lá. Na suíte que você gosta. Vem ser minha, vem? –
Por um momento ele achou que sonhava. – Vem!
-
Está bem. Eu vou. Pegue um táxi, Miguel. Não quero que se acidente.
Miguel
entrou no quarto do motel de luxo alguns minutos depois de Liz. Antes de sair
do bar, jogou água no rosto e tentou tornar sua mente mais clara e a aparência
menos terrível. Ficou apresentável para vê-la após algumas semanas. Sua Liz
pareceu tão dolorosamente cansada quanto ele. Ela estava sentada na cama, as
costas curvadas, nenhum sorriso no rosto. Miguel temeu que uma reconciliação
sexual não fosse ocorrer ali. Então arriscou e foi objetivo. Tomou-a nos braços
sem lhe dar chance de fuga. Elizabeth nem tentou. Precisava daquilo. Precisava
dele.
-
Eu quero você! – Ele disse.
-
Eu preciso de você. – Ela respondeu.
Elizabeth
reconheceu intimamente que aceitou aquele encontro, num motel, porque queria
aquilo. Precisava de sexo. E estava disposta a oferecer alívio a Miguel. Como
iriam resolver seus problemas depois do sexo, era outro problema. Que ela não
traria para aquela cama. Talvez fosse a última vez, uma recaída. Nada mais.
Talvez fosse um recomeço. Impossível dizer por enquanto.
Ela
arrancou as próprias roupas enquanto via Miguel brigar com os botões da camisa.
Ela mesma o despiu logo depois. Acariciando os músculos como que para decorar
cada centímetro daquela perfeição.
-
Não faz isso. – Ele disse. – Não se despeça. Não é a última vez.
Miguel
ergueu-se rapidamente, girando na cama e prensando Elizabeth em seus braços.
Queria mantê-la assim, aquecida em seu calor, para poder arrancar dela qualquer
vontade de deixá-lo. Precisava dela, do seu gosto, da sua paixão.
Miguel
beijou-a inteira, até ouvi-la suspirar. Estava feliz em tê-la nos seus braços. As
vezes a nuvem de confusão forjada pelo álcool fazia-o crer que tudo não passava
de um sonho. Mas então um gemido de Liz o trazia de volta à realidade e
percebia ser tudo de verdade. Até que alcançaram o máximo de prazer possível
para um casal e ele desmaiou por cima de Elizabeth. Abraçados, os dois
adormeceram abraçados.
Ao
contrário de Liz e Miguel, para Willian e Beatriz não houve sono após o amor.
Mais uma vez Will via a namorada vestir roupas terrivelmente ousadas para sair
na rua e ir até uma região da cidade em que aqueles eram os trajes eram
normais.
-
Não vai. Por favor. Fica aqui, comigo. – Will pedia sem muita esperança de ser
atendido.
-
Falta pouco. Só quero confirmar uma informação. Confia em mim.
Beatriz
saiu logo após beijá-lo. E Willian ficou com uma sensação estranha no peito.
Não gostou daquela despedida. Beatriz não deveria sair. Não naquela noite. Ele
então correu e desceu as escadas do prédio na esperança de ainda encontrá-la na
rua. Seu prédio não tinha vagas extra de garagem e Bia sempre deixava o carro
na rua. Então saiu correndo pela calçada gritando para chamar-lhe atenção.
-
Bia! Bia! Bia! – Ele chamou-a muito mais desesperado do que imaginava.
Beatriz
ouviu Willian gritar seu nome num misto de alívio e medo. Quando desceu sozinha
e seguiu pela rua deserta, sentiu um arrepio na nuca. Entendeu a razão quando
chegou ao veículo e encontrou dois homens armados.
-
Destrava o alarme do carro. – Um dos mascarados disse. – Calada se não quiser
levar um tiro.
Ela
obedeceu e imaginou que eles levariam seu carro e a liberariam logo depois. Mas
não era bem essa a intenção.
-
Entre na porta de trás. Nós vamos fazer um passeio. – O outro disse
empurrando-a e a ameaçando com a arma.
Foi
nessa hora em que os três ouviram os gritos de Willian. E ela sentiu medo por
ele. O que um homem de camiseta e calça do pijama poderia fazer contra dois
homens armados? Nada. Mesmo assim Willian se arriscou chamando por ela e
correndo até o carro.
De
dentro do carro, Beatriz arrependeu-se de sua coragem da pior forma possível.
Pelos vidros escurecidos pode ver quando um dos homens disparou três tiros no
peito de Willian. Ele caiu na hora enquanto o homem sentava ao volante e,
usando a sua chave, saía em disparada. Aquilo não era apenas um assalto.
Estava sendo sequestrada.
Alheia
a tudo o que se passava na vida de sua irmã, Elizabeth acordou antes do sol
raiar. Ainda estava nos braços de Miguel. E era muito bom estar ali. Sentia o
calor dele abraçando-a. Miguel estava desmaiado de tão bêbado, mas ainda a
abraçava como se temesse que fugisse.
-
Em que enrascada nós entramos em Miguel.
Pais. Eu e você. – Ela falava enquanto
acariciava seus belos cabelos negros.
O
clima foi quebrado pelo toque do celular de Miguel. Elizabeth não resistiu e
pegou-o no bolso do casaco. Então olhou a mensagem. Não era nada de mais.
Apenas um alerta de e-mail de trabalho. Mas a sequência de mensagens recebidas
por ele naquela tarde chamou sua atenção. Foram várias. De Alejandra. Era
errado. Invasão de privacidade. Mas mesmo assim ela abriu uma por uma.
[Tenho consulta médica na próxima segunda. Vem
comigo?]
Elizabeth
não entendeu por qual razão Miguel acompanharia Alejandra numa consulta médica
e chegou a pensar tratar-se de um engano. Então abriu a outra mensagem.
[Ignorar-me não resolverá nosso problema. Ele está
aqui. Crescendo dentro de mim.]
Essa
afirmação esclareceu muitas coisas. E a crueldade daquela brincadeira do
destino fez seu coração desesperar-se. Não podia ser real. Não ao mesmo tempo.
Não daquela forma. Buscando pela última confirmação, abriu a mensagem mais
recente. E logo percebeu o tom mais amargo de Alejandra, talvez por ele ter
ignorado seus recados anteriores.
[Está amarrado a mim por causa dessa criança. Feliz
ou não, ela não desaparecerá. Estamos ligados pelos próximos 18 anos, no
mínimo. Me ligue, antes que eu faça um escândalo!]
Alejandra
estava grávida. E parecia bem disposta a usar aquela criança para infernizar a
vida de Miguel. Certamente teria o apoio da sogra. E ela? Rúbia nunca a
aceitou. Certamente preferiria o neto vindo de Alejandra do que o filho de uma
policial. Não estava interessada em entrar naquela disputa.
Ela
levantou-se com as pernas um pouco trêmulas. Vestiu as roupas observando o sono
de Miguel. Ele tinha a expressão cansada. Deveria estar destroçado com a
notícia da gravidez. Sabia que aquele era mais um obstáculo entre eles. Um dos
grandes.
-
Você está ignorando a gravidez de Alejandra por choque. Você queria bebês. Você
vai aceitar e vai amá-lo. Talvez até voltem. E como receberá o nosso?
No
fundo, ela sabia a resposta. Ele iria amar aquele bebê. Porque era o filho
deles. E Miguel vinha de uma família em que os pais era honrados e sabiam
cuidar e zelar pelos filhos. Um dia ela contaria para ele. Primeiro o deixaria
resolver sua situação com Alejandra, sem a interferir. Se decidisse ficar com a
ex, não tentaria dissuadi-lo.
-
Adeus, Miguel. Fique bem. – Assim como na noite em que se conheceram, deixou o
quarto de motel com ele adormecido. Quando Miguel acordasse não teria notícias
dela.
Elizabeth
pegou seu carro e saiu em
disparada. O relógio 7h05 minutos e o sol ainda não estava
forte. A noite de sexo tinha deixado-a relaxada, mas, a notícia de que não era
a única grávida acabou com qualquer chance de felicidade.
Naquele
momento Beatriz já estava longe. Dentro em um jato particular no qual embarcou
sem passar por nenhum tipo de alfândega ou apresentar passaporte, ela sentia
pânico. Pessoas se juntaram a dupla de seqüestradores e essas falavam um idioma
estranho. Ninguém se entendia. Até que o silêncio se fez. E uma mulher, loura,
usando um vestido decotado e saltos muito finos entrou no avião.
-
Você! – Beatriz a reconheceu.
-
Eu, Bia. É um prazer conhecê-la. Apesar dos meus avisos que você ignorou
teimosamente. Não precisava ser assim. Mas você e sua irmã têm uma tendência a
coragem excessiva.
-
Ela vai te pegar. Escute o que eu estou te dizendo. Ela vai te pegar, Gabriela!
Ela vai te pegar! Ela está muito perto de descobrir você.
-
Eu sei, queridinha, eu sei. Por isso resolvi não te matar. Seria muito simples
o seu corpo aparecer por aí. Sabendo que você está viva, Liz vai ter outras
preocupações. E vai largar essa investigação na mão de algum outro policial.
Algum menos irritante que ela.
-
Ela vai acabar com você!
-
Não se iluda, queridinha. – Ela chamou um dos seqüestradores. – Imagino que ela
já esteja sem celular. Certo?
-
Sim chefe. Também tiramos o gravador, bloco e caneta que tinha na bolsa.
- Ótimo.
Esses apetrechos não lhe serão úteis em sua nova função, Bia. Podem deixá-la
com essa roupa mesmo. Essa combina bem com o seu futuro.
-
Me deixe em paz!
-
Se queria paz, deveria ter obedecido quando lhe dei a chance de parar. Queria
tanto conhecer o meu mundo, Beatriz...agora vai entrar nele. E nunca mais sairá!
Beatriz
estava com medo e não queria transparecer. A imagem de Willian morto aparecia
sempre que fechava os olhos. Ele morreu por sua culpa. E ela estava indo para
algum lugar do mundo, feito uma escrava, para a diversão daquela mulher.
A
mando de Gabriela, um homem ligou para Elizabeth. Ele tinha um texto claro para
dizer. Quando ela atendeu a chamada de número restrito, disse apenas:
-
Ela foi levada por sua culpa. Você nunca mais a verá. – E desligou o telefone,
quebrando o chip logo depois.
De
alguma forma Elizabeth sou que falavam de Beatriz. Ela foi levada para algum
lugar. Bia estava em perigo.
FIM...
Sim, acabou. Mas não foi exatamente um final. A segunda temporada vem logo...logo após um rápido descanso das autoras. Daqui a algumas semanas Vida Roubada chega.
O foco será na nova e complicada vida de Bia, escravizada em algum lugar do mundo. E, claro, seguir contando as histórias de Liz e Miguel, Matt e Paty. Bjss e até logo. Enquanto isso curtam Diaba Ruiva e Alguém Para Amar.
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