Rachel
encarava Mozz num olhar nada amigável. Até mesmo Neal não parecia muito
simpática à ideia se aproximar da assistente social que viera vistoriar a casa.
Mas Mozz não podia desistir. Não quando aquilo iria ajudar Ell e Sofia.
Resolveu então se explicar.
-
Eu entendo, Rachel, que você não queira essa assistente social jogando charme
para o Neal. Mas, convenhamos, as mulheres fazem isso o tempo todo. Ninguém
mandou você se casar com um homem como ele, que todo o ser do sexo feminino
quer um pedaço porque o acha lindo, charmoso e maravilhoso e...
-
Você não está me ajudando, Mozz! – Neal cortou-o antes Rachel explodisse de
raiva e ciúme. Ela continuava encarando-o com a expressão muito feia e
desconfiada.
-
Está bem, está bem. É pela Sofia e por Ell. E até pelo Peter...mesmo vocês
sabendo que por ele eu não perderia tanto do meu tempo.
-
E como essa mulher pode ajudar os Burke? – Rachel queria saber tudo.
E
Mozzie contou tudo, em detalhes, quase num fôlego só. Seu plano era simples.
Precisavam de um parecer favorável à Sofia permanecer onde estava. Algo que ao
menos atrase os planos dos seus interesseiros tios. Enquanto isso, precisariam
provar que eram gananciosos e desejavam apenas o dinheiro da menina.
-
Mas qualquer assistente social daria parecer positivo. Elizabeth é ótima mãe.
Não precisamos da Olívia! – Rachel respondeu.
-
Mas seria uma garantia. É importante, Rachel!
-
É mesmo. – Neal respondeu sabendo que Rachel não deixaria os amigos sem ajuda.
– Mas existem dezenas de assistentes sociais em New York. Olivia
não poderá ajudar.
-
Eu encontrarei um meio de que o caso de Sofia caia na mesa de Olívia. Mas,
antes disso, ela já deve estar envolvida com você...conosco...com os Burke.
Vocês entenderam!
Rachel
preferiu não participar de tudo aquilo. O que os não vem, o coração não sente,
dizem. Além disso, Neal estava bem avisado de que deveria manter as mãos de
Olívia bem distantes dele. Preferiu ir cuidar de seus problemas particulares. E
Thomas Carter, mesmo preso, ainda conseguia mantê-la preocupada. Perguntava-se
como ele sabia do seu diamante e se poderia ter mais informações do que ela.
Mas iria até Carter. Era isso o que ele desejava, que fosse até o presídio
ainda hoje, antes dele ser deportado à Inglaterra. Claro que ela não iria. Ou
com aquela coleira eletrônica que o FBI a obrigava a usar, saberiam que foi
visitar um criminoso e ela seria presa. Era esse o plano dele. Deitou-se
pensando nisso enquanto os homens ainda estavam na sala.
-
Ainda acordada? – Neal aproximou-se testando o terreno. – Não está preocupada
com Olívia, certo?
-
Não. Olívia está longe dos meus pensamentos. Afinal eu tenho um marido fiel.
-
Tem mesmo. No que pensa, então?
-
No diamante. Preciso intensificar nossas buscas. E com Carter, perdemos muito
tempo. Amanhã, enquanto você joga seu charme em Olívia, vou checar aqueles
endereços. Com Peter distraído pelos problemas, é a nossa chance.
-
Ótimo. Só acho que eu e Mozzie precisaremos da sua ajuda numa parte do nosso
plano. – Seria um dia muito divertido.
-
Vamos burlar algumas regras? Já estou ansiosa por amanhã. Vamos dormir.
Na
manhã seguinte, queriam muito permanecer na cama. Mas foi não foi impossível. Neal
correu para o FBI. Ia adiantar seu trabalho para, na hora do almoço, sair com
Mozzie. Peter não podia desconfiar de nada do que fariam. Rachel deixou as
crianças na escola e foi atrás de seu passado. Tinha à sua frente um mapa com
dois endereços marcados. Um deles estação de metro Lexington Avenue – 63rd Street. Uma pista lhe
levava para lá, porém a data de fundação do lugar desmontava essa hipótese.
Restava uma única hipótese. Um prédio da década de 30. Sala 709. Essa era a
sala onde trabalhava o homem que teve seu diamante em mãos. Foi essa a
informação que arrancou de um criminoso das antigas, anos atrás.
-
E como eu confirmo isso? – Ela pressionou.
-
Só perguntando pra ele. Pena que bateu as botas tempos atrás. – Ele respondeu,
debochado.
Impossível
dizer se aquela pedra estava até hoje lá ou se o defunto teve tempo de
resgatá-la do prédio. Teria de bater à porta do 709 e descobrir o que havia por
lá. E seria isso o que faria naquela manhã. Mesmo que, para isso, tivesse de faltar
ao trabalho no FBI.
Rachel
não foi a única a se atrasar para o trabalho. Henrique estava com sérios
problemas. Um problema barulhento, saltitante e animado. E que fazia Sara
caminhar em círculos pelo apartamento, fazendo seus saltos, estridentes, baterem
repetidamente no chão e dando o tom do seu nível de estresse.
-
Acalme-se! Por favor, Sara! Vai assustá-lo!
-
Assustada estou eu, Henrique! Como assim esse menino é seu sobrinho e vai viver
aqui agora?
Também
não estava nos planos dele, mas diante da situação, era o menor dos problemas
de Henrique. Seu irmão e sua cunhada sofreram um acidente de carro. Estavam
mortos. E aquele menino, de apenas quatro anos, não tinha ninguém além dele no
mundo. Não podia virar-lhe as costas. Foi um choque. Ele foi chamado na Inglaterra
por conta disso e quando disseram que Nicolas estava num abrigo,
responsabilizou-se por ele. O menino tinha mudado de país e precisava de
atenção. Algo que Sara parecia não perceber.
-
Eu não posso simplesmente me livrar dele!
-
Eu sei...mas...não tem mais ninguém?
-
Ninguém melhor do que eu, Sara.
Foi
com a cabeça cansada pela briga com Sara que Henrique chegou no FBI. Neal
percebeu que ele não estava bem, mas, como estavam longe de ser amigos, não
comentou nada. Todos estavam envolvidos em algum caso, menos Rachel, que não
havia aparecido.
-
O Peter quer falar com a sua mulher, Neal. – Diana avisou.
-
Logo ela deve aparecer. – Ele teve de disfarçar.
Ainda
levaria algum tempo. Afinal, naquele momento, Rachel conversava com antigos frequentadores
do prédio. Era um edifício muito antigo, simples e com pouca segurança, se
comparado aos ricos condomínios empresariais da cidade. E, por isso mesmo, um
ótimo esconderijo para uma pedra preciosa. Mas ninguém conhecia o proprietário
da sala 709. O jeito foi tentar informações na portaria mesmo.
-
Bom dia, o senhor pode me dar uma informação? – Disse ao homem usando de todo o
seu charme e persuasão.
-
É, claro.
-
Eu preciso muito conversar com o proprietário da sala 709.
-
Infelizmente não poderei ajudá-la, Senhorita. O proprietário não vem aqui com
frequência.
-
Poderia me dar seu contato? Seu nome?
-
Não. Infelizmente não. – Seu olhar era duro e, obviamente, o funcionário não
gostava de ser pressionado.
Rachel
saiu enraivecida. Ela planejava entrar na sala de alguma forma na sala. Era bom
saber que o local ficava abandonado vários dias. Se tivesse ficado observando,
veria o funcionário do prédio correr ao telefone. Tinha uma ligação importante
à fazer.
-
Ela esteve aqui. Está chegando perto. – Avisou.
-
Obrigado por avisar. Agora falta pouco. – Ouviu em resposta.
Quando
voltou ao FBI Rachel também não se dedicou muito aos casos. Peter sequer a viu
entrar, estava ao telefone, com a expressão bem fechada. Talvez fosse com
Elizabeth. Ela então concentrou-se no que Mozz tinha lhe pedido por mensagem de
texto. Pesquisou sobre Patrícia
e Talles Harris. E depois foi até a casa dela. A tia de Sofia merecia uma
simpática visita. Para sua surpresa, Patrícia
não a impediu de entrar em sua casa, nem fingiu não tê-la reconhecido. Era uma
mulher esperta e não ofendeu sua inteligência.
-
Eu sei quem você é Rachel.
-
Que ótimo. – Rachel respondeu. – Assim economizamos apresentação.
-
Se veio bancar a amiguinha de Elizabeth Burke e me intimidar, caia fora. Não
tenho medo de você.
-
Pois deveria. – Disse bem séria. – Mas não precisamos chegar a esse ponto.
Respeito suas motivações. A conta bancária de Sofia é muito atrativa mesmo.
-
Eu quero minha sobrinha, não o dinheiro dela. Eu amo a menina. – Patrícia tinha
o discurso pronto.
-
Claro, claro. E eu fui condenada injustamente. Jamais matei ninguém! Eu
dispenso o papinho de enganar juiz Patrícia. Guarde suas mentiras para alguém
que acredite.
-
O que você deseja?
-
A amizade, Patrícia. Podemos ser boas amigas.
-
E porque eu desejaria ser amiga de alguém ligado a Elizabeth Burke?
-
Porque os Burke são os pais da Sofia! A sua sobrinha que você ama. Lembra? E
também porque se eu for sua inimiga, será muito, muito pior. Você terá notícias
minhas!
Ela
deixou a casa e não virou para ver a expressão confusa de Patrícia Harris.
Depois pegou um taxi ainda decidindo se ai ou não ao FBI. Neal não atendia ao
celular. Então ligou para Mozzie.
- Já
fiz minha parte. Já posso ter meu marido de volta? – Perguntou.
-
Ainda não. Neal e estamos num bar que Olívia frequenta. Ela deve aparecer logo
logo e, coincidentemente, vamos beber juntos.
-
Eu prefiroo não saber dos detalhes, Mozz.
-
Não seja ciumenta, Rachel. Neal nem liga para Olívia. E, se você deseja saber, ele
também não gostou nada de saber do meu plano com Patrícia. Me diga, ela se
interessou por você?
Durante
suas investigações, Mozzie descobriu que Patrícia, apesar de sempre usar os
homens dos quais precisava de algo e ser atualmente casada com Talles, sempre
envolveu-se com mulheres. Lésbica, seduziu e casou com ele apenas para ter o
dinheiro de o dinheiro de Sofia ao alcance. Ao saber disso, Mozz percebeu que
outra mulher, tão esperta quanto Patrícia, poderia desconcentrá-la. E fazer com
que Talles visse quem ela era de verdade. Sem o apoio do marido, Patrícia não
colocaria as mãos em Sofia.
- Ela
gosta de perigo. Eu joguei a isca e vou esperar ela morder. – Rachel respondeu.
– Ela vai me procurar. Logo. E nós vamos registrar uma cena bem quente para o
querido Talles se decepcionar.
-
Ótimo. Porque já ajustei tudo para amanhã o caso de Sophia ser entregue para
Olívia. Hoje nós vamos adoçá-la e ela se sentirá muito simpática em relação a
Ell. Sairemos vencedores.
-
Ótimo, Mozzie. Porque quando tudo isso terminar, precisarei do seu apoio. Como
vão as pesquisas sobre Melissa?
-
Digamos que eu estive um pouco ocupado.
-
Eu sei, Mozz. Mas preciso que se empenhe nisso assim que Sophia esteja em
segurança.
-
Conte comigo. – Mozz respondeu. – Agora tenho de desligar porque Olívia está
chegando e já viu Neal.
Sem
dar chance para Rachel responder, Mozz desligou e ficou observando a bela loira
se aproximar. Neal acenou, fazendo cara de surpreso, e chamou-a até sua mesa.
Claro que ela veio. Elas dificilmente dizem não a Neal Caffrey. Olívia
sentou-se, aceitou uma bebida e conversou. Neal desculpou-se pelo comportamento
ciumento de Rachel afinal, eles passavam por um momento difícil.
-
Não por aquelas lindas crianças, suponho. – Olívia respondeu.
-
Não. Na verdade trata-se de um casal muito amigo nosso. – Mozz interferiu. –
Aliás, permita-me que me apresente. Sou Mozzie. Um amigo de Neal e Rachel.
-
Claro! O George falou de você com entusiasmo. Você é um tio muito querido,
Mozz. Me conte de que se trata o problema.
Neal
sentiu-se um tanto excluído. Olívia parecia encantada sim, mas não por ele. O
que era algo surpreendente. Então deixou os dois a sós e foi buscar outra
rodada de bebidas. Quando voltou, eles pareciam amigos íntimos. Muito íntimos.
-
Seria uma injustiça que essa família tão harmoniosa fosse desmanchada. Se eu
tivesse como ajudar, Mozz, faria. – Olívia derreteu-se pela triste história
contada por Mozz. A família que adotou a menina Sophia e agora podia perdê-la.
-
Não se preocupe, Olívia. Vamos torcer para que a profissional que o Estado
escolher para o caso também tenha o seu bom coração. – Mozz respondeu sabendo
que amanhã o documento estaria com Olívia. Ele mesmo trocou o endereçamento dos
envelopes.
No
fim da tarde, quando voltaram para casa, Neal sentia o ego um pouco machucado.
-
Olívia mais interessada em você do que em mim. E Rachel jogando charme
para Patrícia. É, hoje não foi meu dia de sorte.
-
Não seja guloso Neal. Você não queria nada com Olívia mesmo. Digamos que foi
até bom. Assim Rachel não o põem para dormir no sofá por ciúme.
Era
verdade. Rachel não criou brigas naquela noite, nem no dia seguinte. Estava
concentrada em suas missões. Ajudar Elizabeth seduzindo Patrícia e conseguir
entrar naquele endereço. Precisava entrar na sala 709 do antigo prédio e ver o
que ele escondia. Naquela manhã retornou ao endereço e novamente não conseguiu
passar da portaria. Para piorar, percebeu que o porteiro a havia reconhecido.
Então
resolveu manter-se mais afastada e seguir trabalhando. Afinal, seus sumiços
logo seriam motivo de estranhamento por Peter. Mesmo estressado pelos problemas
familiares, ele era daquele tipo de chefe que sempre sabia onde cada integrante
de sua equipe estava. A sorte de Rachel é que todos ali andavam cheios de
problemas. As semanas seguintes foram estranhas, cheias de atrasos e
compromissos de ultima hora, permitindo a Rachel fazer suas escapadas e vigiar
o prédio. Mesmo assim, Peter via. E pediu para Diana observar de perto o que se
passava.
-
Peça que seja feito um relatório dos registros de locomoção da Rachel. A
tornozeleira dela nos dirá onde que ela vai quando some assim.
-
Mozzie pediu a ela para ajudar no caso de Sophia. – Diana lembrou o chefe.
-
Eu sei. E ele não me disse como Rachel ajudaria. Espero que não seja nada
ilegal. Mas o fato é que tenho o palpite de que Rachel está se aproveitando
dessa liberdade que tem pelo fato de estar me ajudando para objetivos
particulares. E não gosto de ser enganado. Peça o relatório, Diana. E eu conto
com sua lealdade nisso.
-
Claro, chefe.
Quem
também estava deixando seus problemas particulares influenciarem o trabalho no
FBI era Henrique. Seu sobrinho estava há três semanas em sua casa. E ele não
sabia o que fazer. E o comportamento de Sara também não ajudou.
Henrique
estava longe de ser amigo de Neal. Mas, vendo-o desconcentrado e irritado,
chamou para uma conversa informal. Quando ele aceitou, viu que o problema era
grave.
-
Diga logo o que há! Se eu e Rachel pudermos ajudar. – Ofereceu.
-
Vocês não. Mas talvez George possa.
-
George? O meu filho pode ajudar você? – Neal não entendeu nada.
Quando
Henrique explicou que Nicolas havia caído em sua vida e que, mesmo isso
trazendo problemas aos montes, não pretendia abandoná-lo, Neal sentiu simpatia
pelo colega. Ainda se lembrava de seu desespero na primeira noite com George.
Ouvindo-o chorar e não saber o que fazer. Ser pai, assim, sem treino, não era
fácil. E Henrique poderia estar certo. Um amiguinho faria bem ao menino que acabara
de perder a mãe e o pai e veio morar numa cidade estranha.
-
E Sara? Como está lidando com isso? – Ele precisou saber.
-
Já ameaçou me deixar umas três vezes. Diz que não serve para babá. E está
pensando em voltar para a Europa. Eu e Nicolas não fomos convidados a
acompanhá-la, é claro.
-
Eu sinto muito. – Neal já tinha sido abandonado uma vez por Sara. Lembrava bem
da sensação. – A Rachel que não me ouça, mas, se eu fosse você, não desistiria
dela. Luta pela Sara. É uma mulher complicada, mas fantástica.
-
Mas não para ter família. Você perdeu Sara, mas construiu a sua.
-
Fui fisgado pela minha ruiva. Não foi questão de escolha. A vida quis assim,
mas se você ama Sara, mostre para ela que Nicolas adoraria tê-la como mãe.
-
E se ela não quiser?
-
Então deixe-a ir e cuide de seu sobrinho.
O
tempo passou e quando já faziam muitos dias do encontro de Rachel e Patrícia, a
tia de Sophia procurou pela ruiva. Rachel já estava preocupada achando que seu
charme não havia picado a bandida. Afinal, nunca havia se envolvido com outra
mulher antes. Mas Patrícia, ousadamente, telefonou para o FBI desejando marcar
um encontro. Disse ter repensado seu comportamento e percebido que elas
poderiam ser ótimas amigas.
-
Você gosta do perigo, Patrícia. E vai cair perfeitamente. – Ela ligou para
Mozzie. – Nossa ratazana está a caminho da ratoeira. Marquei num hotel. Preciso
que você instale câmeras.
-
Perfeito!
Na
hora marcada, ela estava lá. O equipamento estava lá. E chegara a hora do show.
Rachel se vestiu no limite no sensual e do romântico. Seduzir mulheres não era
sua praia, mas imaginava, não deveria ser muito diferente. A campainha tocou e
teve de encarar o desafio.
- Patrícia!
Não sabe a ansiedade que senti esperando você. Você me pareceu tão desconfiada
quando lhe visitei que, tive receio, não nos veríamos mais.
-
Eu...fiquei na dúvida. Você é amiga de Elizabeth. E...
-
E o que? Diga! – Rachel incentivou.
-
Você tem esse ar de perigo.
-
E você gosta do perigo. É isso, Patrícia?
-
É. Eu gosto. Me senti atraída.
-
Que bom. – Rachel tornou o tom de voz mais baixo, quase um sussurro. – Vamos
deixar Elizabeth longe de nós. Eu não quero me envolver com esse assunto.
-
Será que eu posso mesmo confiar em você, Rachel?
-
Não. – Não podia tentar passar-se como santa, ou ela desconfiaria. – Ninguém
deve confiar em gente como eu. Como nós. Somo iguais, Patrícia. Muito iguais.
O
beijo soou como natural para Patrícia. Quase como se fosse ela a armar, a tomar
a iniciativa. Tão acostumada a armar arapucas, tinha caído direitinho no plano
de Mozz. Ele e Neal assistiam tudo do outro quarto, ao lado, em que junto com
Ell e Peter, puderam acompanhar a atuação de Rachel.
Tudo
estava combinado. Quando tivessem registros o suficiente para minar o casamento
dos Harris, Neal iria telefonar para o celular de Rachel e estragar o momento
de romance das duas.
Uma
coisa levou a outra e Patrícia, rapidamente, tirou as próprias roupas e
arrancou a blusa de Rachel. Foram para o chão enquanto trocaram carícias que irritaram,
e muito, Neal Caffrey. Antes do planejado, mas já com as imagens de que
necessitavam, Neal ligou pra Rachel.
- É
meu marido! Meu marido! – Rachel ergueu-se do chão agradecida pelo toque do celular.
O gosto daquela mulher era repugnante. E isso nada tinha a ver com ser mulher,
mas sim com o fato de não sentir nada de bom. – Alô! Neal! Eu sei que estou
atrasada querido.
-
Preciso que venha para casa agora! Estou com problema com as crianças! – Disse
alto o bastante para Patrícia também ouvir.
-
Sim, sim. Estou indo. – Ela desligou rapidamente e logo estava se vestindo. –
Desculpe, Patrícia. Mas preciso ir. Agora!
-
Eu vou te ver logo? Não vou?
-
Claro, querida. Vamos nos ver muito em breve.
Na
verdade, não foi tão breve assim. Porque agora tudo estava nas mãos de Mozzie.
O parecer da juíza a respeito de com quem Sophia deveria crescer sairia em três
dias. Ela ainda iria analisar o relatório de Olívia e ouvir os dois casais envolvidos,
no julgamento.
Quando
o dia chegou, Rachel, Neal, Mozzie e outros convidados viram tudo sentados na
plateia. Estavam ansiosos. A primeira a falar foi Ell. Ela contou sobre como
Sophia lhe era importante, trouxe amor para sua casa e uniu ainda mais ela e
Peter. Ele também disse não ter como imaginar sua casa sem Sophia. Ele também
lembrou o quanto ela era apegada à sua irmã mais nova, Valentina.
A
pequena Sophia também foi ouvida. Estava tímida. Não queria desfazer dos pais,
nem magoar os tios que pareciam desejar tê-la por perto. Mas, quando a juíza
perguntou, não teve dúvida em responder.
-
Quero ficar com minha mãe, meu pai e minha irmã. – Disse claramente.
Olívia
foi a próxima a ser ouvida. Orgulhosamente, disse à juíza e aos presentes que
não tinha dúvida alguma em afirmar que os Burke eram os melhores pais possíveis
para Sophia. E que tirá-la daquele lar não só seria um erro, mas também uma
crueldade com a menina.
- Sophia
Burke é amada por seu pai e sua mãe. Ela deve seguir com os Burke. – Reiterou
antes de se retirar.
Mozzie
não poderia estar mais satisfeito! Metade do plano saiu perfeitamente. E o
restante tinha tudo para ser assim também. Logo cedo Talles recebeu as provas
do encontro de Rachel e Patrícia. Era impossível prever seu comportamento no
julgamento. Até o momento ele nem estava por ali. E era possível perceber o
nervosismo de Patrícia quando foi chamada para falar. Mesmo nervosa, ela
manteve o discurso de boa tia.
- Respeito
o sentimento de Peter e Elizabeth por nossa sobrinha. Mas é nossa. O sangue
precisa ser respeitado.
Quando
Talles finalmente chegou, aparentava estar um pouco alcoolizado, o que não
poderia ser mais perfeito. Quem daria Sophia para um homem assim? E, ao falar,
ele destruiu o discurso de Patrícia.
-
Sophia nem tem o sangue dessa mulher. Ela não sabe do que está falando. –
Gritou.
-
Talles! Não, meu amor.
-
Não sou seu amor, sua vagabunda! Você só casou comigo pelo dinheiro dessa
menina!
Nesse
ponto, Mozz, Neal e Rachel já comemoravam. Não havia chance de Ell e Peter
perderem sua filha. E quando os ânimos se acalmaram e a juíza falou, foi apenas
para confirmar.
-
A menor Sophia Burke deve continuar no lar onde está. E sua herança seguir sob
os cuidados dos pais adotivos até que complete 18 anos. Sendo assim, declaro
encerrada essa sessão.
-
Isso é injusto! Injusto! Injusto! – Patrícia bradava na saída.
Mas
ninguém estava interessado em ouvir. Elizabeth e Peter comemoraram num longo
abraço. Sua família estava segura.
Rachel
tratou de beijar Neal e mostrar, esfregar na cara de Patrícia, que tudo não passou
de uma encenação. Rachel e Neal riram ao ver o desespero de Patrícia.
-
Adeus, Patrícia. Vou sair com meu homem! Boa sorte na sua próxima armação!
-
A culpa foi sua! – Patrícia acusou-a.
-
Eu disse para não confiar Patrícia, eu avisei. Adeus, querida.
E Mozz foi comemorar com alguém que fez parte
de tudo aquilo. Olívia foi perfeita. E, mesmo tendo a enganado um pouquinho,
não se importaria de continuarem a se ver. A assistente social também parecia
bem interessada.
-
Querido, Mozz! Tudo acabou bem! – Ela disse lhe acariciando o rosto.
-
Sim, graças a sua ajuda. Obrigada, Olívia!
-
Fico feliz em poder ajudar.
-
É...e para comemorar...se você quiser...poderíamos jantar juntos...se não
nenhum incômodo e...
-
Aceito, eu aceito. – Ela estava encantada por Mozz.
Neal
e Rachel, Peter e Ell também poderiam escolher esse tipo de comemoração
romântica, mas optaram por algo mais familiar. No final da tarde, todos foram
ao parque. Foi a oportunidade de integrar o sobrinho de Henrique às outras crianças.
Sara não apareceu no passeio em família.
-
Ela tem uma tendência a ser insuportável, não ligue, Henrique. – Rachel disse.
-
Eles são namorados, Rachel. – Neal lembrou à esposa.
-
O que não a torna menos insuportável. – Ela respondeu.
Nicolas
e George gostaram muito um do outro e correram pelo gramado. Contavam, também,
com a parceria de Daniel. Henry trouxe o filho para participar das
brincadeiras. Para completar o grupo e ainda ficar de olho em Melissa, Rachel
telefonou para ela e convidou, dizendo para trazer sua filha, Chiara e a mãe,
Brígida. Quando viu a menina ruivinha, George não desgrudou mais dela.
-
É de família! – Neal brincou. – Os Caffrey são vidrados em ruivas.
-
Bobo! Ficaram amiguinhos.
-
É. Vamos deixar as crianças brincar. Enquanto eu beijo a minha ruiva.
Distraidamente,
Rachel ficou de olho em
Melissa. Ainda tinha dúvidas das razões daquela mulher ter
entrado em sua vida. Mesmo assim, sentia simpatia por ela. Desconfiava de
Melissa, mas não a temia. E adorou ver que Chiara e George gostaram um do
outro.
- Parece
que, pelas crianças, nós ainda nos veremos muito, Melissa.
-
Sim, Chiara e George gostaram um do outro. – A advogada respondeu. – E eu
gostei muito de você ter nos convidado. Chiara e mamãe também.
- É,
sua mãe gosta das crianças. – Rachel percebeu como ela afagou Helen e agora
brincava com Chiara e George.
-
Sim, ela gosta. E Henry também. Ele me parece um homem muito bom, agradável e ótimo
pai.
-
Mais do que isso, Melissa. Henry é o amigo mais leal que eu já tive. É o irmão
que eu não tive, já que sou filha única. Cuide bem dele. Sei que vocês saíram
por esses dias.
-
Nós não estamos namorando, Rachel. – Melissa pareceu nervosa. – Ainda não, pelo
menos.
-
É, ainda. – Foi a resposta de Rachel.
Quando
Diana chegou ao parque trazendo Teddy, a alegria das crianças ficou completa.
Eram um grupo grande e animado. Só Valentina e Helen ainda ficavam mais
quietinhas, junto dos pais. Os demais não paravam de correr para todos os
lados. Helen, aliás, não queria sair dos braços de seu pai.
-
Papa! – Helen já balbuciava.
Aproveitando-se
da distração de Rachel e Neal com a filha pequena, Diana chamou Peter para lhe
dar um recado. Havia saído o relatório da tornozeleira de Rachel.
-
Apenas um local não vinculado aos seus casos ou a Patrícia Harris. Um antigo
prédio. Ela foi muito lá recentemente.
- Ótimo,
Diana. Eu vou checar. Obrigado.
Nos
dias que seguiram, Peter fez exatamente isso. Só o fato de Rachel andar onde
não deveria, seria motivo para devolvê-la à cadeia. Mas ele não a denunciaria.
Afinal, além da relação de amizade, ela acabara de lhe ajudar muito em algo
completamente pessoal. Por isso, ele mesmo iria checar o que ela estava
aprontando antes que sua agente cometesse alguma loucura que a mandasse para a
cadeia mesmo, sem que ninguém pudesse protegê-la.
Só
que olhando o prédio em questão, não via nada de diferente. Velho, com uns nove
andares, era só mais um prédio antigo de NY, com suas velhas escadas de
emergência pendendo das janelas e uma antiga livraria e café na loja térrea.
Porque então, Rachel vinha observando aquele lugar há semanas? Os registros da
tornozeleira lhe diziam que ela dava voltas na quadra, às vezes entrava, outras
ficava no comércio do outro lado da rua. Mas sempre vinha.
Pois
naquele dia, ele fez exatamente isso. Sentou-se no café e ficou esperando até
ver a ruiva se aproximar.
-
Oi, Rachel! Que bom vê-la por aqui!
-
Peter! – Com essa ela não contava.
-
O que há nesse prédio, Rachel?
-
Nada eu...
-
Sem mentiras, Rachel. Os registros da sua tornozeleira são claros. E é muito
bom que você tenha uma explicação para isso. Ou eu posso pensar que você quer
roubar algo daqui.
Não
estava nos planos incluir o FBI nessa questão. Mas não podia deixar Peter
pensando que ela pretendia roubar o prédio. Até porque, ali, dificilmente teria
algo de valor, além do seu diamante, se fosse esse o caso. O fato é que teve de
abrir o jogo para Peter.
-
Eu preciso olhar a sala 709. E verificar se há ali alguma pista. Mas a portaria
sempre diz que o proprietário não se encontra. Meu plano era entrar escondido.
Por isso venho observar o lugar.
-
Ver a melhor hora, observar as câmeras de segurança, rotas de fuga. Sim,
conheço o modo operante de vocês. – Peter não gostou nada daquilo. Ela queria
sim roubar. – Essa pedra não é sua, Rachel.
-
Pois eu digo que é.
-
A lei diz que não. – Peter argumentou.
-
Meu pai morreu procurando essa pedra. Eu vou descobrir onde ela está! Você pode
me ajudar a olhar o lugar. Legalmente. O seu distintivo pode abrir aquela
porta, Peter.
-
Eu não posso usar o distintivo assim!
-
Você me deve isso. Eu o ajudei com Sophia. – Na visão de Rachel, era justo.
-
Está bem. Mas você não irá roubar nada que estiver lá. Entendeu, Rachel? Se
pegar algo, prendo você.
Não
foi difícil para Peter exigir que a portaria fornecesse a chave da sala 709.
Houve reclamações, é claro, mas ninguém questionava um pedido policial. Se o
proprietário questionasse e seus superiores reclamassem, teria de colocar em um
relatório que houve uma denúncia de contrabando escondido ali e nada fora
encontrado. Certo não era, mas, Peter lembrou à sua consciência, se não fizesse
isso, Rachel e seus amigos entrariam de outro modo. Assim, ainda continuava
mantendo um pouco da ordem.
Foram
acompanhados pelo porteiro, o mesmo com quem Rachel falou semanas antes. Ele
não parecia nada feliz, mas abriu a porta. Logo na entrada uma coisa chamou a
atenção de Peter. A janela aberta.
-
O proprietário esteve aqui há pouco?
-
Não. Ninguém esteve aqui a semana toda.
-
Isso é mentira. – Peter respondeu. E explicou. – Houve chuva com vento essa
noite. Se essa janela estivesse aberta, a sala estaria revirada e úmida. Alguém
abriu essa janela agora pela manhã.
-
Ninguém que passou pela portaria veio para essa sala, Senhor. – O homem
repetiu.
Era
um escritório comum. Mesa, cadeira, luminária e arquivos. Dois ou três quadros
de gosto duvidoso nas paredes. Algumas pastas vazias sobre a mesa. Rachel ficou
olhando o lugar louca para procurar um cofre escondido, mas na frente de Peter
isso era péssima ideia. Então simplesmente abriu uma gaveta do arquivo em
alumínio e tirou caixas para verificar a papelada.
-
Ei! Você não pode mexer aí! – O homem gritou.
-
É você quem vai me impedir? – Ela respondeu.
Mas
logo não estava mais sequer ouvindo o homem. Ficou perdida no que via naquela
caixa. Rachel ficou pálida. Peter percebeu a mudança no clima e correu para
junto dela. Sua agente nunca havia ficado assim, sem reação. Quando olhou
dentro da casa, Peter viu documentos e algumas fotos de um homem.
Um
homem que ele não reconhecia. Não lhe dizia nada. Mas que fez Rachel perder o
chão. Pele clara e enrugara, barba e cabelos brancos. Olhos azuis muito claros.
Ele vestia uma camisa escura e parecia forte, mesmo com a idade já avançada.
-
Quem é esse homem, Rachel? Porque você ficou assim?
-
John. – Rachel respondeu. – Meu pai. Esse foi o homem que me criou, Peter. Que
me treinou. Que me transformou no que eu sou.
Havia
dor nos olhos dela. E Peter lembrou-se em como Rachel sempre
defendeu seu pai, mesmo quando o acusavam de tê-la usado. Ela o amava e o
defendia pelas crueldades cometidas no intuito de usá-la na busca daquele
diamante.
-
Então quem usa essa sala, seja quem for, investigou o seu pai adotivo. Talvez
investigue você também. Se acalme. Nós vamos descobrir.
-
Não Peter, você não entendeu. Esse homem na foto é o meu pai...envelhecido. Não
o homem que Harabo diz ter matado naquela explosão. Esse homem é o meu pai
hoje! John não morreu! Ele está vivo...ou esteve até pouco tempo. Ele não
morreu há uma década, como eu acreditava.
Os
tiros que ouviram impediram Peter de raciocinar sobre o que Rachel acabara de
afirmar.