Os
ponteiros do relógio pareciam estar mais lentos do que de costume. Cada segundo
levava muito tempo para passar. Ana foi internada tão logo chegou. Era atendida
por uma competente equipe médica. Estava num dos melhores hospitais do país.
Nada disso amainava a preocupação que tomava o coração de Christian. Já fazia
muito tempo e ninguém lhe dava notícias. Diziam apenas que ela estava sendo
atendida. Ali, de nada adiantava ser o grande Christian Grey. Não podia fazer
absolutamente nada.
- Por que ninguém me dá notícias? –
Seus familiares e de Ana haviam chegado e ele estava amparado nos braços de Grace.
- Os médicos precisam de calma para
trabalhar, filho. O importante é que deem atenção total a ela nesse momento.
Ele sabia, concordava, mas só seu
coração sabia o desespero que sentia.
- A família de Anastásia Steele? –
Disse um médico vindo da emergência.
- É Anastásia Grey! – Não era mais
verdade, mas ele exigia que ela fosse chamada assim. – Eu sou marido dela.
- O Senhor e mais alguém pode me
acompanhar. Vamos conversar.
Christian e Ray foram. Na sala
asséptica e toda branca, a expressão do médico já antecipava que o estado de
Ana exigiria cuidados.
- Bom, eu sou o doutor Charles
Macken, sou cirurgião geral e apenas um dos que atende Anastásia.
- Vá direto ao estado dela, por
favor. – Grey tentava se controlar.
- O que podemos dizer positivamente
é que apesar dos machucados, alguns graves, e do quadro de fraqueza e
desidratação com que ela chegou, não há risco de morte. Ela tem tudo para
evoluir bem.
- Ainda bem. – Ray afirmou
agradecendo aos médicos e a Deus.
- Ela está grávida. – Grey afirmou.
– Como está o bebê? – Ele não sabia bem com se sentia a respeito dessa
gravidez. Mas tinha certeza que desejava que Ana o tivesse forte e saudável.
- Aí o quadro é mais complicado. A
fase inicial da gestação é muito delicada. Até o momento ela mantém a gestação,
mas nós ainda tememos por um aborto. Ela teve uma ameaça de aborto, com sangramento.
Mas foi contido com remédios. As próximas 48hs são decisivas. Se o quadro
estabilizar, será uma gestação com boas chances, mesmo que de risco.
- Então não podemos fazer nada? –
Para Grey essa sensação de impotência era terrível. Não poder mudar nada com um
comando, uma ordem era desesperador.
- A ginecologista e obstetra
responsável pode lhe dar mais detalhes, senhor Grey. – Christian assentiu e
continuou ouvindo o médico. – Deve estar se questionando porque um cirurgião
lhe chamou para falar.
Na
confusão, sequer tinha pensado nisso. Só agora um arrepio lhe correu a espinha.
- Não se assuste. – Tarde demais. –
Ocorre que, aparentemente na intenção de proteger o ventre, sua esposa teve
muitas lesões nas mãos, antebraços, um dos punhos e uma no tornozelo esquerdo. Não
são fraturas graves, mas eu prefiro corrigir cirurgicamente a da mão e
tornozelo esquerdo para que ela não fique com nenhuma sequela ou dificuldade
motora no futuro.
- Com as cirurgias ela ficará bem? –
Ray questionou.
- Na verdade são micro
cirurgias. E ela não ficará com nenhuma
sequela ou cicatriz.
- Ok. – Não gostava da ideia, mas
tinha que ouvir o médico. – Quando eu poderei ver minha esposa?
- Eu vou preparar a cirurgia. O
senhor pode ficar com ela alguns minutos até que a enfermeira vá buscá-la para
irmos para centro cirúrgico. Só que estamos mantendo-a sedada.
Apesar de já esperar por isso, ver
Ana pálida e cheia de machucados era doloroso demais. Assim que ficou sozinho
no quarto Grey sentiu as lágrimas escorrerem por seus olhos. A pele tão delicada não deveria ser ferida
nunca. Aproximando-se bem, começou a dar leves beijos por toda sua face. O
carinho só aumentou. Beijou seu cabelo, ombro, braços...até chegar as mãos
feridas.
- Você fez isso pelo nosso bebê, Ana.
Eu sei. Eu não te mereço. Olhe do que você é capaz por amor aos nossos filhos
enquanto eu não fiz nada? Inferno! Mas eu te quero mesmo assim. E quero esse
bebê também. Eu tenho fé, Ana, que o seu esforço não foi em vão. Vai ficar tudo
bem com ele.
Um
barulho na porta atrapalhou o momento.
- Preciso prepará-la para a
cirurgia. – Disse uma enfermeira.
- Me deixe mais um minuto a sós com
ela, por favor.
A
mulher assentiu e deixou o quarto.
- Ana, você tem machucados na mão e
o médico irá fazer uma pequena cirurgia. – Não importava que ela não pudesse
responder. Sabia que ela podia sentir que estava ali. – Vai ficar tudo bem e eu
vou estar aqui quando você acordar. Eu não vou sair do seu lado nunca mais Ana.
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Christian achava que teria mais
algumas horas de desespero na sala de espera. Estava sim, muito nervoso, mas
não foi tudo calmo como esperava. Além da imprensa que tentava conseguir
informações a todo custo e esta enlouquecendo sua assessoria, o advogado veio
até o hospital nada contente com a situação. O homem, de total confiança de
Grey queria que ele comparecesse na delegacia e desse um depoimento alegando
que os tiros foram dados em defesa da própria vida e da esposa.
- Eu disparei nove vezes à queima
roupa bem no meio do peito desse desgraçado. E não me arrependo.
- Mas, Grey, você não pode dizer
isso para um juiz. A menos que queira passar um tempo preso. A arma era
registrada como sua?
- Não...ela era de uma ex
minha...por motivos que não veem ao caso eu a guardei. Me foi bem útil.
- Então nós vamos dizer que essa
arma já estava lá e que você a tomou de Jack quando ele ameaçou te matar. O que
você fez foi apenas um ato de defesa.
- Faça o que preferir. Mas não vou
sair daqui.
O
homem já estava suando em desespero. Grace veio ajudar.
- Filho, a Ana está na sala
cirúrgica e não vai acordar tão cedo. Vá para casa, tome um banho, dê atenção
ao Teddy e depois dê o seu depoimento. É melhor resolver isso agora para depois
poder auxiliar na recuperação de Anastásia.
Não era algo que ele desejava fazer.
Queria ficar ali, falar com o médico assim que acabasse o procedimento
cirúrgico e depois segurar-lhe a mão até que toda essa tempestade passasse. Foi
a menção a Teddy que o fez deixar o hospital sem dizer nenhuma palavra aos
repórteres. Seu filho devia estar estranhando o fato de não ter ninguém da
família em casa. Teria que conversar com ele e explicar que a mamãe estava bem,
mas que levaria algum tempo até ela voltar para casa. O menino estava ansioso.
- Eu quero ver ela.
- Ainda não pode. Ela tá dormindo
pra ficar boa e voltar pra casa.
- Mas eu quero!
- Teddy...criança não pode ir onde a
mamãe tá.
Fazendo pirraça, o menino saiu
correndo para o andar de cima. Melhor nem ir atrás para evitar brigas. Na
verdade estava rindo. Nervoso e irritado Teddy era ainda mais parecido com ele.
Passava a mão no cabelo e arqueava a sobrancelha exatamente da mesma forma.
- Gail...por favor, acalme minha
ferinha que subiu chateado comigo.
- É claro, senhor Grey. A Senhora
Ana...como está?
- Machucada, mas ela é forte,
guerreira e deseja viver. Tenho certeza que vai se recuperar. Eu vou tomar um
banho e sair para resolver umas coisas.
Encarar o chefe de polícia foi um
pouco mais chato e complicado que Teddy.
- Quer dizer, senhor Grey, que eu
coloco meus homens a sua disposição e, quando aparece uma pista, o senhor
prefere agir sozinho.
- Eu pago muitos impostos justamente
para ter os homens do estado a minha disposição. E quanto a agir
sozinho...recebi um contato que dizia que ela estava naquela casa e fui
conferir. Iria chamar vocês se fosse verdade...para não usar seus homens sem
necessidade...só que ele me viu por lá e acabou com o senhor já sabe.
- O senhor o matou por vingança? – O
policial foi direto.
- Eu tinha todos os motivos para
isso...mas não. Ele tinha uma arma apontada para minha esposa e ateou fogo no
lugar. Eu o desarmei e matei. Era ele ou nós e eu não permitiria que minha
mulher sofresse ainda mais nas mãos dele.
- Foram 9 disparos.
- Eu sei.
- Porque tantos? Não bastava
imobilizar? O senhor preferiu perder tempo em sair do fogo para dar mais tiros.
Existe uma explicação para isso, senhor Grey?
- Nesse momento, Policial, minha esposa
passa por uma cirurgia porque covardemente aquele monstro a agrediu com tal
violência a ponto de colocar em risco sua gravidez. Meu filho pode morrer. Ele
a sequestrou e não pediu o resgate, queria apenas torturar minha mulher.Existe
uma explicação para isso?
- Um crime não explique o outro,
senhor Grey.
- O senhor é casado? - Viu a aliança no dedo do homem de meia idade.
– Se tem por ela um décimo do sentimento que eu tenho por minha esposa, estou
certo de que faria o mesmo que eu. E agora, se acabaram suas perguntas, tenho
de ir ver como a Sra. Grey está se recuperando.
- Precisarei do depoimento dela. –
Informou o homem chocado com o ódio que via nos olhos de Christian.
- Somente depois que ela estiver em
casa. Seu estado é grave e não quero que tenha nenhum agravamento.
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A cirurgia foi um sucesso e os
médicos acreditavam que Ana não ficaria com nenhuma sequela do que ocorreu.
Talvez fosse necessário fazer algumas sessões de fisioterapia por causa do tornozelo, mas a recuperação
seria simples. A conversa com a ginecologista foi mais preocupante.
- É evidente que o bebê sofreu um
trauma. Mas a batalha não está perdida. – Disse a senhora na casa dos sessenta
anos. – Enquanto houver vida nós seguiremos zelando por seu filho.
- E...eu preciso lhe fazer uma outra
pergunta.
- Diga.
- Imagino que tenham lhe dito que
minha esposa sofreu esses ferimentos durante um sequestro. A senhora a examinou
intimamente...deve saber se ela sofreu alguma violência sexual.
- Sim, eu questionei a equipe assim
que percebi o quanto ela está machucada. Sinto muito pelo que houve. É preciso
que fique claro que não fiz nenhum tipo de perícia em sua mulher. Isso é um
procedimento feito por solicitação da policia e que precisa de autorização da
família ou da paciente. Como ela chegou com quadro de emergência a prioridade
não foi essa. Mas é provável que eles ainda solicitem que um perito em
violência sexual a examine.
- Mas a senhora a viu...tocou. – Não
queria ninguém tocando Ana dessa forma. – Pode dar a resposta de que preciso.
- Inicialmente eu pensei que sim.
Ela tem marcas típicas de estupro como vergões nos seios e nas coxas. Mas
depois percebi que não. Quando a examinei observei que não tem nenhum machucado
interno na vagina. Também não havia sêmen nela. Então posso afirmar que ela não
foi forçada a ter relações com penetração. O que não significa que ela não
tenha sofrido nenhuma violência sexual.
- Menos mal. Muito obrigada,
Doutora. – Não queria que Ana carregasse esse tipo de fantasma. – Então eu não
autorizarei nenhum tipo de perícia. Ela não precisa passar por mais essa
humilhação.
- É um direito de vocês. – Disse a
mulher antes de se despedir e seguir para atender novos pacientes.
Ele ficou no quarto de Ana
observando seu sono tranquilo. Ela não parecia sofrer nenhuma dor nesse
momento. A mão operada descansava sobre a cama enquanto a outra estava pousada
no ventre.
- Você é tão MÃE, Ana. Sabe? Queria
ter tido uma assim, igualzinha a você. Que soubesse dar amor e limites na
medida certa. Uma mãe doce, amável e delicada que já me amasse desde que eu
estava no ventre. Eu só ganhei isso bem depois, só quando a Grace me adotou.
Mas você deu isso ao Teddy desde o início. Enquanto eu era um idiota completo e
só fazia de atrapalhar. – Também colocou uma mão sobre a barriga ainda plana de
Ana. – Se esse bebê nascer vai ser diferente. NÃO! NÂO. Não existe SE. Esse
bebê vai nascer e vai ficar tudo bem. Eu já me livrei daquele demônio...nada de
ruim vai acontecer mais.
Uma noite mal dormida naquela
cadeira ao lado da cama e o sol nasceu prometendo notícias melhores. Christian
foi acordado pela enfermeira que verificava como Ana estava. Ainda dormindo ela
gemia por qualquer toque.
- Está tudo bem com ela? Por favor,
tome cuidado.
- Está tudo bem. É normal que sinta
dores com todos esses ferimentos.
- Quando ela vai acordar? – Estava louco
para ver aqueles lindos olhos azuis vivos e brilhantes. – Porque dorme tanto?
Esses remédios não são perigosos para o bebê?
- Fique tranquilo. São drogas leves,
apenas para ela não sofrer desnecessariamente. Seu filho não corre risco nenhum
com elas. E a deixe dormir. Quanto mais, melhor.
Ele saiu, colocou outra roupa
trazida por Taylor, tomou um rápido café na lanchonete e voltou para lhe fazer
companhia.
- Os médicos dizem que você deve
dormir. Mas to tão ansioso para falar com você, te beijar, te dizer o quanto te
amo...que estou bem tentado a cortar seus medicamentos, senhora Grey.
Ela
seguia dormindo tranquilamente.
- Volta pra mim Ana, volta, por
favor. – Já estava completamente ensandecido. Precisava ouvir a voz de Ana.
- Eu sou sua. – Ela respondeu numa
voz ainda trêmula e final.
- Ana...Ana...meu amor...não sabe o
que eu senti nesses últimos dias.
Christian ia chorar, sentiu as
lágrimas nos olhos, mas freou os próprios sentimentos ao ver a tempestade
emocional que Ana vivia. Ela começou a chorar demais, o pranto não tinha fim.
Tremia tanto que agrava a dor dos ferimentos. Ele apertou a campainha para
chamar a enfermeira.
- Calma baby, passou, acabou. Eu
acabei com ele. Nunca mais ele vai te tocar.
- Eu sei, eu vi você atirando nele.
- Me perdoa, eu não devia ter feito
isso na sua frente. – Seu choro não parava. – Por favor, Ana para de chorar.
- Tu..t..tudo qeq que ele fez....eu
não queria ir com ele, mas ellleee ia pegar o Teddy.
- O Teddy fez tudo o que você pediu.
Esteve seguro o tempo todo.
Ana fechou os olhos por um momento.
Quando voltou a abrir o pranto tinha cessado.
- Os médicos te falaram do meu bebê?
– Ela estava insegura e Grey se sentiu mal por isso. Era culpa dele.
- Não. Kate me contou que você
espera o NOSSO bebê.
- Língua de trapo.
- E eu contei pra ela o que eu te
fiz quando descobri do Teddy. Você tem uma amiga muito fiel. Acho que ela só
não me assassinou porque teve pena do meus estado. Sem você eu fico um caco.
- Não está bravo comigo?
- Ana...eu passei três dias
implorando para todos santos que a humanidade já viu que intercedessem por nós.
Eu devo ter uma centena de promessas para pagar. Nesse momento se você me
dissesse que espera quíntuplos eu ia achar ótimo. Porque não há nada que eu não
aceite desde que você esteja viva e saudável.
- Mas eu não quero que você aceite,
quero que você ame nossos filhos.
- Shiiiiii não chora mais. Acredite,
Ana, se amar é se preocupar mais com vocês do que comigo, eu já amo...vocês
três já são a minha vida.
- Ele está bem?
- Está se recuperando...vocês dois
estão. – Decidiu amenizar a situação que ainda era grave. – Ele ainda precisa
de muitos cuidados, mas eu vou cuidar disso e vocês vão ficar bem.
- Tudo dói.
- Eu vou chamar o médico. Calma.
Christian
saiu no hospital correndo sem se importar com quem via. Sorria como há muito
não fazia.
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