Três dias haviam se passado desde o
episódio da tentativa de fuga. Após esse início turbulento nossa vida tinha
ganho certa rotina. Eu saia cedo, por volta de 8hs, em direção ao escritório,
ela ficava dormindo, ou fingindo dormir, como eu sabia. Ana levou um susto ao
entrar no quarto na manhã após nossa primeira noite na casa. Ela entrou e viu
Isabella dormindo no chão e me ligou em completo desespero:
-
Por que fez isso com a menina Bella? Ela parece um anjinho atirado naquele chão
duro. Você não tem coração?
-
Menos Ana. Isabella não é uma menina, não é um anjo, o chão de meu quarto não
mata e meu coração vai muito bem.
-
Ela é sua mulher!
-
Por favor, Ana, eu gosto muito de você, mas não quero que se intrometa nisso.
Deixe Isabella quieta, sozinha de preferência.
-
Sozinha? Aquele cão de guarda não sai de perto dela.
-
James está aí?
-
Sim.
-
Ótimo. Deixe que ele faça seu trabalho.
Ela
continuava brava comigo por julgar ‘inaceitável’ Isabella dormir no chão ou eu
não vir para casa almoçar com ela. Nisso eu até concordava, achava que nossa
relação estava fria demais. Mal nos falamos no segundo dia na casa. Após eu
ficar até tarde na rua, cheguei cansado e a encontrei já em sua cama
improvisada. Juro que pensei em acordá-la e exigir sexo, mas vi ao lado da cama
um copo d’água e a embalagem do remédio para dor. Acabei saindo para encontrar
Tânia. A noite pegou fogo, como sempre, aliás, e voltei para casa apenas para
trocar de roupa, ver minha mulher ainda dormindo e encarar o olhar zangado de
Ana.
Hoje
foi bem diferente. Não era por Tânia me manter bem satisfeito que iria esquecer
de comparecer com Isabella, afinal era minha responsabilidade colaborar para
uma gestação o mais breve possível. Alonguei minha manhã em casa por duas
razões. Primeiro porque queria ouvi-la gemer novamente e segundo porque
precisava esclarecer algumas coisas com James. No momento pode ter passado despercebido,
mas depois, com calma, percebi que nada daquilo teria acontecido se James
tivesse próximo de Isabella no momento em que me afastei. Nunca aquele garoto
teria conseguido enganar um segurança experiente. Então onde ele foi?
Quando
eu estava no escritório Ana foi me levar uma xícara de café e avisou que minha
mulher estava na piscina.
-
E a sombra também fica lá. Me admira você não se incomodar de outro homem
passar mais tempo com sua mulher do que você.
-
Ele é pago para isso.
-
Verdade. Nesse momento está sendo bem pago para observar sua mulher de biquíni.
Ela
estava nadando. Na borda estava uma boia e o chapéu de sol para proteger a pele
alva. Ao lado da piscina estava James olhando ela ao sol, como se pudesse ser
abduzida dali.
-
Isabella! – Ambos perceberam minha presença. – Saia daí, vá para o quarto e
aguarde lá.
-
Mas por quê? – Gritou ela.
-
Porque eu mandei você ir para o quarto. Você não está de férias, ou em um SPA.
Está aqui para fazer o que eu mando!
Ela
subiu batendo os pés e nem mesmo foi capaz de cobrir o traseiro com a canga.
Meu sangue ferveu, principalmente ao ver para onde os olhos de James estavam
voltados.
-
Eu posso saber o que você faz aqui? – Perguntei diretamente.
-
Cumpro suas ordens, patrão.
-
Então vamos deixar estabelecido, se é que eu não fui claro, que seu papel é
seguir minha mulher quando ela sair sem minha presença e se certificar de que
ela não fuja dessa casa. Ficar vendo ela se bronzear não está entre suas
atribuições.
-
Mas ela já tentou fugir.
-
O episódio do início da semana não se repetirá.
-
Ontem ela tentou.
-
O que? – Como assim? Como não fiquei sabendo?
-
Ela estava na sala de ginástica e pediu que eu fosse pegar água. Quando voltei
ela não estava. Encontrei ela na garagem, provavelmente procurando pelas chaves
de um dos carros. – Desgraçada. Continua tentando me trair!
-
OK. Fique de olho então. Mas mantenha certa distância da piscina.
-
Como o senhor preferir.
-
Outra coisa. Na noite que fomos a premiére, eu pedi que observasse Isabella de
longe e não permitisse que fizesse loucuras. Mas eu saí por um momento e logo
outro rapaz a abordou, eles dançaram e podiam ter ido mais longe se eu não
voltasse a tempo. Onde você estava?
-
Eu observei tudo, de longe.
-
E não fez nada por quê?
-
É que eu não sei o que sua esposa lhe contou, mas...
-
Fale o que viu!
-
Não foi ele que a abordou. Ela se ofereceu. E se eu interviesse, poderia causar
um escândalo.
-
Que seja. Agora...pode tirar a manhã de folga. Vou ficar em casa com minha
mulher e seus serviços serão desnecessários.
Até
pensei em questionar Isabella quanto a tudo aquilo, mas qual o objetivo? Ouvir
uma mentira após outra, tudo sem fundamento quando sabia que tudo combinava
perfeitamente com a falta de caráter dela. Isabella já tinha assumido ser uma
vagabunda e tinha tentado fugir antes. É claro que James estava falando a
verdade. Fui para o quarto e ela já tinha tomado uma chuveirada e estava
passando creme nas pernas.
-
Vejo que o tornozelo já sarou.
-
Sim, só precisava de repouso.
-
E repouso não lhe faltou. Repousou tanto que resolveu dar espetáculo na
piscina?
-
Espetáculo? Será que vale tanto assim um simples banho de sol?
-
Não sei. Mas podemos perguntar para James, ele teve oportunidade de assistir.
-
Já chega Edward! O que quer? Você o colocou como minha sombra e agora reclama?
-
Não me provoque Isabella, já sei de suas artimanhas e quando pensar em chegar
perto da garagem novamente ou se oferecer para qualquer homem, pense no seu
pai, na cadeia ou em como sua vida pode piorar se eu assim decidir.
-
Do que está falando? Que garagem?
-
Não quero falar disso. Só estou avisando para que não se repita. – Eu fui até
onde ela estava e ergui a camiseta que ela usava. – Agora vem aqui, não quero
mais conversar. Chega de papo.
-
Achei que já tinha tido sua cota nessa madrugada.
-
Não tenho cota. Você é minha em qualquer hora. Eu paguei por isso, esqueceu?
-
Como se você permitisse.
O
sexo foi ótimo como em qualquer outra oportunidade, mas logo depois eu saí para
trabalhar. Talvez à noite tivéssemos mais uma rodada, ela era fantástica.
Quando cheguei no escritório tinha algumas coisas para organizar e teria uma
reunião, mas resolvi desmarcar. Era paz o que eu precisa. Só que não fiquei só
por muito tempo. Jasper veio conversar, mas a companhia dele sempre era
benéfica.
-
Como está a esposa misteriosa?
-
Como sempre, esperta e ardilosa.
-
Mas deve ter algo de bom, afinal você a quis de volta.
-
Apenas peguei o que já havia comprado.
-
E está valendo o custo? Não me refiro a sua vida sexual que parece estar ótima
visto que não veio trabalhar essa manhã, mas vale ter uma mulher obrigada? Ter
sexo por chantagem quando pode ter qualquer uma, começando por uma loira
escultural chamada Tânia.
-
É diferente com Isabella. Ela será a mãe do meu filho. As outras serão as outras,
mas Isabella quando for embora deixará meu filho.
-
Você não era tão obsessivo assim por um filho.
-
Estou ficando velho. É normal que minhas prioridades mudem.
-
E é só por isso que faz sexo com ela? Para engravidá-la?
-
Eu não quero falar de minha vida sexual com Isabella.
-
Sempre falou da com Tânia. E das muitas outras também.
-
Já disse, com ela é diferente. - Eu nem queria pensar no quanto ela era
diferente. – Mas não veio aqui só para isso veio?
-
Não. Vim para avisar que a moça que pediu para vigiar...
-
Alice.
-
Alice está bem preocupada. Fez ligações para muitos amigos de Bella, alguns que
sabem de seu casamento. Não acho que vá demorar muito para chegar em Charlie e
em você.
-
Charlie está em um local reservado, em tratamento para o alcoolismo.
-
Mas você disse que...
-
Isabella é arisca e parecia que apenas a prisão não a estava deixando com medo
suficiente, por isso surgiu essa história de dar bebidas a ele. Tudo balela,
ele logo deverá estar bem, se cooperar com a própria saúde. Quanto a Alice,
preciso que faça uma visita a ela e deixe claro que não deve mexer muito nisso.
Assuste ela.
-
Edward eu sou seu amigo, mas também sou um militar. Não posso sair por aí
apavorando as pessoas.
-
Está bem, eu mando James.
-
Não, deixe que eu vou. Esse James dá medo em qualquer um.
-
Isabella parece que não tem medo algum. Andou se engraçando pra ele.
-
Sério? – Ele não pareceu acreditar. – Eu não confiaria minha mulher a um homem
como ele.
E quem disse que eu confiava...
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