Kate chegou a sentir medo ao olhar a
expressão que tomava o rosto de Christian ao fechar a porta do escritório. Ele
estava tenso devido a tudo o que se passava, claro, mas a notícia da gravidez o
tinha deixado ainda mais pálido e desesperado.
- Desde quando você sabe?
- Uns 10 dias...mais ou menos. –
Observou ele se fechar ainda mais. – Ela ficou muito nervosa quando descobriu e
veio conversar comigo Grey. Acredite ela também não ficou feliz com isso.
- Então tinha que ter se cuidado! A
Ana não é mais uma menina, já tem um filho! – Mas no fundo era a mentira o que
mais o incomodava.
- Você também não é um menino e já
tem um filho e nem por isso se preocupou! – Não era mulher de ter medo de falar
a verdade.
- Eu usei preservativo! – Christian Grey
dando explicações. Até Kate se surpreendeu. – Ela não me disse uma palavra. O
que estava esperando?
- Olha Grey...eu não sei o que você
quando soube que Ana esperava Teddy, mas deve ter sido algo muito grave porque
você não fez apenas com que Ana se separasse, mas você perdeu a confiança dela.
Quando soube que esperava outro bebê ela entrou em desespero. Estava tão feliz
com você e de repente tudo desabou novamente. Ela ia fugir com Teddy antes de
você perceber as mudanças em seu corpo.
Era como se uma pedra pesasse no
estômago de Grey. A mulher com quem fez amor em cada uma das noites desde a
reconciliação vinha planejando deixá-lo. Que sentido tinha então vir
aproximando-o de Teddy, fazê-lo amar o garoto para então tirá-lo quando
estivessem apegados?
- Ela queria se vingar de mim? Me
fazer sofrer? É isso? – Interrogava.
- Claro que não! Será que você não
vê? A Ana morria de medo que você fizesse o mesmo que fez há cinco anos, seja
lá o que for!
Kate viu o que jamais imaginou. Grey
deixou o corpo cair sobre uma das poltronas do escritório, escondeu o rosto
entre as mãos e chorou feito criança. Não parecia o homem com quase 35 anos,
mas sim um jovem em completo desespero. A dificuldade em lidar com Teddy, as
brigas com Ana, a solidão dos últimos anos, o sequestro e essa descoberta, tudo
veio a tona. Era um pranto sofrido que Kate jamais imaginou ver surgir do homem
que muitos juravam ser o dono do universo tamanho era seu poder. Por um momento
sentiu pena. Mas durou pouco. Quando tornou a falar Christian disse algo que
revoltou Kate.
- Eu bati nela Kate! Por isso ela se
separou de mim há cinco anos. E eu vivo num inferno desde esse dia.
- Você fez o que? – Kate sabia que
Grey era adepto do sadomasoquismo e que sua relação e de Ana era ‘regada’ a brincadeirinhas
de submissão. Mas jamais imaginou que ele fosse capaz de ferir a esposa, muito
menos estando grávida. – Você é doido o que?
- Eu sou um desgraçado.
- É mesmo! – Não ia passar a mão por
cima só porque ele estava sofrendo. – Como pode bater nela? Que inferno Grey!
Claro que só algo assim faria a Ana deixar você. Doida do jeito que ela era, te
endeusava mesmo eu dizendo que não era essa coca-cola toda.
- Ela deve ter achado que eu ia
machucá-la novamente...por isso resolveu me deixar. Fugir de mim porque eu sou
um monstro.
- É bem provável.
- Mas eu não ia...não agora, depois
de tantos anos sentindo o que é a vida sem ela. Você pode duvidar, Kate, mas eu
aprendi a minha lição e eu jamais vou machuca a Ana novamente...nem fazer o
Teddy sofrer.
- Agora, sabendo disso tudo, eu
ainda me pergunto porque a Ana tentou tanto aproximar você do Teddy. Se fosse
eu, jamais você colocaria os olhos no meu bebê.
- Eu jamais fiz nada de ruim pra
ele! Nunca! E nós estamos próximos, ele confia em mim. – Na tempestade de
emoções que vivia, um sentimento finalmente ficou claro. – Eu amo meu filho
Kate.
Mesmo sem desejar, Kate apiedou-se
de Grey.
- Então trate de encontrar a Ana e
convencer ela disso. – Ela saiu do escritório e o deixou sozinho para chorar e
colocar os pensamentos em ordem.
Todos na sala estranharam o fato de
Kate ter saído sozinha do cômodo e não ter falado nada do que se passou lá.
Christian ficou mais de uma hora sozinho, saiu com os olhos inchados do choro e
avisou que tomaria um banho. Teddy encontrou-o no corredor. O menino estava
triste, mas percebeu que o pai estava
pior e ofereceu carinho.
- Você tá chorando por causa da
mamãe? – Disse ele esticando os braços para ganhar colo.
- Sim, Teddy. O papai tá muito
triste sem a mamãe. – O menino passou os braços por seu pescoço.
- Eu também to com saudade dela. Mas
ela volta, não volta?
- Volta! Olha bem pro papai, Teddy!
Eu prometo que a mamãe vai voltar. Você confia em mim?
- SIM!
Quando retornou para a sala Grey
ainda estava triste, mas revigora pela confiança que Teddy tinha nele. Tinha
que pensar, tentar se manter frio para encontrar uma saída. Era impossível que
Jack não deixasse nenhum rastro, nenhuma falha. Ele ia errar e precisava estar
ligado para perceber a falha.
Foi nessa pilha de nervos que quase
cinco horas depois recebeu um novo vídeo, entregue de forma similar ao
anterior. Nesse Ana aparecia deitada ao fundo, dormindo sobre um colchonete.
Jack aparentava estar cada vez mais perturbado andava de um lado para o outro e
preparando uma refeição elegante demais. O ambiente escuro e sujo contrastavam
com a louça fina e o vinho caro que enchia as taças. De repente ele falou:
-Estou há quase dois dias com a doce
Anastásia. Passa rápido, não é? Não ia te enviar nada hoje. Mas mudei de ideia
pra te mostrar como estou tratando bem sua esposinha. Veja as belas refeições
que eu lhe trago? É ela que não quer comer nada.
Ele puxa um saco preto de lixo com
embalagens de isopor e papelão e muitos restos de comida.
- Que fique claro! Se ela morrer de
fome a culpa não é minha. – Ele gargalhava entre as frases. – Uma pena, sei que
isso te incomoda. A outra comia melhor, não? Jéssica, a delicada e obediente
Jéssica. Sabe que foi bem fiel a você? Arranquei poucas informações dela. Uma
pena...tão linda. Morreu por sua culpa. – Disse pouco antes de o vídeo
terminar.
- Foi ele quem matou a Jéssica...e não
tem nem vergonha de assumir. A gente tem que pegar esse desgraçado logo. – Era duro
dizer. – Ele não vai deixar a Ana viva. Vai matá-la só para me destruir.
Meia hora depois a agonia de todos
continuava.
- Senhor? – Taylor chamou Grey ao
escritório. – Preciso lhe dar um recado da empresa. – Era desculpa e Grey soube
imediatamente que tinha haver com Ana.
- Fale! Os homens descobriram algo?
- Não, fui eu olhando o vídeo. – Os segundos
demoravam a passar. – Eu aproximei a imagem do saco de lixo.
- E? – Ele rezava para que fosse uma
pista confiável.
- Olhe isso. – Na foto era perceptível
um símbolo, um logo de empresa, talvez. Mas era irreconhecível. – Agora olhe
isso. – A segunda imagem era a fachada de um restaurante de luxo que continha
uma imagem bem parecida, mas em ótima resolução.
- Você acha que ele comprou a comida
lá?
- Exatamente. São muitas embalagens. Ou
ele fez uma compra grande, para várias refeições ou busca a comida diariamente.
E como é ele quem traz esses vídeos até
o centro da cidade, eu aposto na segunda opção.
- Sim, você pode estar certo. – Tinha de
estar.
- Dessa vez ele nos deu rastro para
seguir, senhor. Mas eu acho que devia comunicar a polícia e pedir ajuda.
- Eu vou fazer isso. Mas não agora. Só
depois que descobrir onde fica o cativeiro. Eu vou pegar ele.
- Mas...
- Não discuta comigo Taylor...coloque
vigias nesse restaurante e me avise assim que ele aparecer. Precisamos seguir
ele.
- Ok.
- E Taylor?
- Sim.
- Me lembra de triplicar o seu
salário.
- Assim que senhora Grey estiver em
segurança. – Respondeu o funcionário e amigo fiel.
A polícia seria sim avisada. Mas, se
possível, apenas para recolher o corpo de Jack. Dessa ele não ia sair vivo.
Esse era o objetivo que tomava os pensamentos de Grey.
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