Encerrar a noite de trabalho em uma boate como
a que agora era o lar de Samantha, trazia aquela sensação dolorosa de ter
superado mais um dia. Restavam apenas alguns homens no salão da boate e outros
nos quartos com alguma garota. Ela havia pego um cliente logo cedo, passado
três horas com o rapaz bem jovem e lhe tirado cada centavo. Apenas de Otto, o
chefe do lugar, não gostar dela, reconhecia sua eficiência. Ainda assim, fazia
questão de atormentá-la e lhe forçar a trabalhar cada dia mais, sem importar
que ela era uma das mulheres que mais rendia à boate.
-
Vá atender aquele homem que chegou tarde. Ele ainda quer beber. – Ele lhe
disse, sabendo que ela entenderia o recado.
-
Já estamos fechando. Logo amanhecerá e ele já chegou bêbado aqui.
-
Não perguntei sua opinião. – Otto reiterou a ordem e ficou observando a
prostituta obedecer.
-
Quer uma bebida? – Ela foi direto ao ponto, acompanho os olhos do homem irem
direto aos seios expostos por um sutiã rendado e nada recatado. – Ou consome ou
vai embora. Será dia em pouco tempo.
-
E se eu quiser consumir você e não esse álcool horrível que vocês vendem?
-
Pagando, pode ser. Mas tem de ser jogo rápido. Pague pela mercadoria
antes....vou te esperar no quarto 5.
-
Logo estarei lá, belezura.
Trinta
minutos depois, terminado o serviço com o homem, Samantha tomou e somente sob a
água corrente deixou cair algumas lágrimas. Sentia dores pelo corpo. Dores que
ela se lembrava de ter aquelas mesmas dores na adolescência quando se deitava
com vários clientes por noite, às vezes ao mesmo tempo em encontros arriscados
e regados a álcool e drogas. Foi nesse momento em que Gregory entrou em sua
vida e foi fácil seduzi-lo até que ele não mais conseguisse vê-la sair com
outros. Gregory comprou e venceu a briga com Otto para tê-la como exclusiva. E
quando ele foi transferido para uma boate de nível inferior à Noxotb, o amante
conseguiu convencer Gabriela a integrá-la à quadrilha. Ela foi de escrava a
amante e, depois, criminosa. Agora sua sorte voltou a girar. Gregory estava
longe dela, talvez morto. E ela voltara à prostituição sob o comando de Otto.
-
Mas estão enganados se pensam que nada farei. Já saí disso uma vez, saio
novamente. – Ela jurou antes de desligar o chuveiro e sair do banho.
Um
tanto mal humorada, Elizabeth chegou à central de polícia já perto de meio dia.
Estava interessada em ouvir de Rebeca cada uma das descobertas feitas e ver com
seus próprios olhos a comprovação de que era Sebastian Gonzáles o seu próximo
alvo. Porém, também precisava do ombro da amiga para ouvir tudo o que tinha a
contar. Da maior alegria de todas, sabendo enfim o sexo de seu bebê. E da
incômoda briga com Miguel que aconteceu na saída da consulta.
-
Que cara é essa? Algum problema na ultra do bebê? – Não levou mais do que três
segundos para a policial desconfiar que havia algum problema.
-
Não. Está tudo bem com ele.
-
ELE? Quer dizer que...
-
Sim, Beca, é um menino! Miguel não poderia estar mais feliz...com isso, porque
no resto da consulta ele só fez reclamar e acabou com a minha paciência.
-
Mas o que aconteceu? Me conta. – Rebeca insistiu.
Liza
contou tudo, desde o começo quando ela já se irritou com o atraso da médica.
Houve um motivo para ela marcar a consulta para às 7h. É que fazia de tudo para
a sua condição não atrapalhar a rotina de suas investigações, segundo a Drº
Francisca lhe disse, um parto se estendeu por toda a madrugada, impedindo-a de
chegar tão cedo. Quando os exames enfim começaram, houve um momento de grande
emoção ao, enfim, puderam ver e ouvir o bebê.
-
Tecnicamente, a faculdade me preparou para tudo isso, mas saber que é o meu
filho aí, não qualquer outra criança, faz um nó surgir em minha garganta. –
Emocionado, Miguel desviava o olhar da tela para o rosto de Liz. – Obrigada,
meu amor.
-
Ele está bem? – Liz perguntou, também um pouco nervosa e atrapalhada pela
emoção.
-
Sim...podemos dizer que sim. – Francisca disse com a voz um tanto travada. Ali
o casal de pais entendeu que talvez nem tudo estivesse bem.
Elizabeth
estava próxima de entrar no oitavo mês de gravidez e, apesar de manter-se muito
ativa e evitar comentários que gerassem preocupações, já sentia alguns
incômodos gerados pelo ganho de peso. Nada fora do normal e sem razões para
reclamar a todo o momento. Talvez por isso, tenha conseguido enganar Miguel e
passar-lhe uma falsa segurança. Ouvir tudo o que a médica tinha a dizer lhe foi
duro, afinal, mesmo sempre sabendo que não nascera para a maternidade, ter o
bebê junto de si por tantos meses lhe aflorou sentimentos. Amava aquele ser
mais do que tudo, mais do que a si mesma.
-
Elizabeth, infelizmente, todos os nossos esforços não foram suficientes para
que você alcançasse um estado clínico satisfatório.
-
Fale claramente, doutora. Esse linguajar pode servir para meu marido, mas não a
mim. Meu filho não está saudável?
Enquanto
Liz cobrava respostas da médica, Miguel analisava os exames clínicos da esposa
e já antecipava tudo o que ela diria. Enquanto isso, ele sentia a irritação se
elevar. Porque se Elizabeth tivesse feito tudo o que lhe orientaram, não
estaria daquela forma.
-
Não, Elizabeth. – Francisca recomeçou. – Seu menino está bem, porém, você está
abaixo do peso e olhando a curva dos seus exames, continua com aquele quadro de
anemia.
-
Eu olho para o meu corpo e não percebo essa falta de peso, Francisca.
-
Não confunda inchaço e retenção de líquidos com ganho de peso. Você está com a
pressão muito alta. Com toda a franqueza, Elizabeth, é um milagre que seu bebê
esteja bem quando o seu corpo está visivelmente sobrecarregado. E nesse ritmo
que vai, já podemos classificá-la como em risco de parto prematuro.
-
Ela está com pré-eclâmpsia? – Miguel, com o rosto fechado, perguntou.
-
Sim, em estágio inicial. – Francisca respondeu. – Lhe peço, Elizabeth, pelo bem
de seu filho, mantenha mais repouso e se alimente nas horas certas. Seu filho
vale isso.
Ao
deixarem o consultório e entrarem no carro, Liz via Miguel se segurar para não
iniciar uma briga. E como sempre preferiu o mais difícil ao falso, provocou-o a
falar tudo o que guardava dentro de si.
-
Melhor eu me calar. Você precisa manter a calma e se brigarmos, sua pressão
subirá.
-
Fale Miguel! Não gosto quando me olha assim.
-
Quer que eu olhe como? Estou preocupa e irritado, Liz. É vergonhoso! Sou médico
e não consigo que minha esposa tenha uma gestação saudável porque ela não
desliga um minuto sequer e é tão indispensável naquela delegacia que não pode
parar alguns minutos a cada três horas para fazer um lanche nem tirar três
turnos semanais para exercícios físicos.
-
A vida não é tão fácil para quem não tem uma multinacional, querido marido.
Tenho horário a cumprir e casos para resolver. Turnos de exercícios físicos não
se enquadram nisso. – Mas ela se sentia um pouco culpada. – Eu estou fazendo o
que posso, Miguel.
-
É...mas não está sendo suficiente. – Com um beijo magoado eles se separam.
Na
verdade, havia mais uma razão para Liz estar irritada e Rebeca não demorou a
descobrir. Por mais que jamais reclamasse para Miguel, saber que ele se
encontraria com a ex naquela tarde e que provavelmente os exames da ‘senhorita
perfeição’ estavam dentro dos padrões a enciumaram.
-
Elizabeth Santos Benitez! Você está com ciúme porque Miguel vai ver Alejandra.
– Com essa constatação, Rebeca arrancou algumas lágrimas da chefe. – Precisa
isso. Meu bem! São os hormônios isso! Calma, Liz! Miguel a ama mais do que
tudo. Sabe disso.
-
Eu sei...mas aquela espanhola deve estar com a saúde perfeita e será elogiada
como uma ótima mãe para o filho enquanto eu fico de má,de irresponsável, apesar
de me esforçar tanto.
-
Calma! Tudo vai terminar bem. Você vai tomar um chá morninho, com um sanduíche
de pão integral e depois vamos trabalhar.
-
É, vamos. Isso sempre me faz bem. – Elizabeth concordou.
Miguel realmente se
encontrou com Alejandra naquela tarde. E assim como Elizabeth imaginava, com
ela estava tudo perfeito segundo a obstetra. Aos sete meses de gestação,
Alejandra apresentava o peso correto e o bebe tinha uma boa formação, com peso
e tamanho excelentes. Somente em um quesito Miguel surpreendeu-se.
- Não sabe o sexo? Onde
estão os ultrassons? – Perguntou ao analisar uma pilha de exames.
- Eu me esqueci de
trazer. Mas não apareceu...a posição do bebê não permitiu a visão. – Mentiu.
Seria uma menina, mas não disse a ninguém porque Rúbia não escondia o desejo de
ter um neto homem.
- É...parece que meus
filhos são muito tímidos. Somente agora, com quase oito meses, foi possível
saber que Elizabeth espera um garoto. Você vai refazer o exame quando? – Ele
insistiu, satisfeito em ver que ao menos com aquele bebê estava tudo bem.
- Logo...Elizabeth terá
um menino então? – Desgraça, pensava. Isso daria pontos a ela junto da sogra
quando as crianças nascessem. Sem saída, ela se aproximou mais de Miguel e
pegou-lhe a mão no local público. – Meus parabéns. Apesar de sua mulher me
odiar, não torço pelo mal de seu outro filho. Eu só quero que possamos viver em
paz.
- Eu fico feliz pela
sua mudança de pensamento, Alejandra. – E se soltou da mão dela. – Vamos
continuar olhando os exames. Já decidiu o local de parto?
Duas
semanas se passaram e Elizabeth tentou retomar a paz em seu casamento sem
abandonar sua investigação. Na verdade, trabalhava até mais do que antes,
porque já pensava que necessitava encontrar Beatriz antes de ser forçada a
deixar a polícia, por licença maternidade. Mesmo assim, Miguel agora a
acompanhava de perto e algumas vezes apareceu de surpresa na PF para ter
certeza que ela fazia uma refeição completa. O fato que antes teria irritado
Liz, agora a enchia de amor porque junto da comida sempre vinha uma flor ou um
chocolate diet, ou seja, um mimo que lhe agradava o coração. Certa tarde,
largaram tudo para ir comprar o enxoval azul e branco do filho. Viviam um
recomeço cheio de sentimentos contraditórios, mas repleto de amor.
-
Precisamos decidir o nome. – Liz lembrou ao marido.
-
Pensei em algo como Vicenzo ou Benício. O que acha? – Miguel propôs.
-
Não sei...gosto de nomes simples como João Pedro. Ou Thomas.
-
É, gosto de Thomas. Ainda temos tempo ainda para pensar.
Apesar
de não gostar, Liz estava prestes a envolver Miguel novamente em sua
investigação. Ao almoçarem juntos dois dias depois, ela contou ao marido tudo o
que tinham descoberto e porque, surpreendentemente, a polícia ainda não tinha
batido à frente do escritório de Sebastian Gonzáles.
-
Ele está vindo ao Brasil. E quero que você marque um encontro com ele. – Liz
disse e viu o olhar de seu marido brilhar pela curiosidade. – Eu explico.
A
explicação começou pelas investigações secretas que havia feito nos últimos
dias. Liza não podia oficialmente investigar um homem nascido e residente em
outro país sem nenhum indício real de que ele havia cometido um crime contra uma
brasileira. E como a justiça americana estava relutante em entregar cópias das
câmeras de segurança do hotel em que Gonzáles encontrava-se com Bia, o jeito
seria aproximar-se dele antes. E ao descobrir através de um site que ele vinha
a negócios ao Brasil gerou comemorações na sala da investigadora.
-
Entendi. – Miguel disse bebericando uma dose de bebida alcoólica enquanto
pensava em como ajudar a esposa. Ele sabia que após isso se resolver, ela enfim
tiraria sua licença maternidade. – Mas eu não conheço Sebastian Gonzáles
pessoalmente, nem tenho negócios na área hoteleira. Se o procurar e realmente
for um criminoso, desconfiará, não acha?
-
Acho. Por isso já tenho um plano.
-
Não me surpreende.
-
A notícia que li diz que Sebastian vem ao Rio de Janeiro com um suposto
investidor interessado em abrir um hotel aqui em São Paulo. O nome desse
investidor não foi dito. – Liz explicou.
-
Se quer fazer negócios aqui em São Paulo, porque ficar no Rio de Janeiro?
-
Porque ele tem um hotel lá, de alto nível, pelo que pesquisei. E, posso chutar,
porque é boêmio, que pretende aproveitar a noite carioca e se aproveitar de
alguma brasileira. Não é o primeiro nem o último gringo a vir aqui para isso.
Aliás, tenho pensado muito a respeito desse homem, agora que descobri sua
identidade. É muito útil a um homem como ele, ter uma cadeia de hotéis. Ele
pode estar envolvido no esquema todo e em seus hotéis haver turismo sexual, com
mulheres escravizadas e abuso sexual infantil.
-
Calma com essas acusações Elizabeth! – Miguel via seus olhos brilharem. – Eu
sei bem como a sua cabeça costuma ir longe nesses devaneios. Só não esqueça
como tudo me incriminava também e eu era inocente.
-
Eu sei! Só que...vou investigá-lo bem de pertinho. – Ela então se concentrou no
objetivo da conversa. – Bom, nós vamos nos hospedar no hotel de Sebastian e
você vai encontrar uma forma de ficar frente a frente com ele, quem sabe sair
com ele...levá-lo a uma boate. Sabemos que ele gosta disso.
-
Você não espera que ele me conte que comprou uma mulher recentemente, não é?
-
Claro que não. Na verdade, não espero nada. Mas tenho de tentar alguma coisa
enquanto não consigo uma prova que o leve à polícia para depoimento. Mas, no
que depender de mim, Sebastian não retorna livre aos EUA.
Por
uma semana inteira Sebastian jantou e passou todas as noites ao lado de Beatriz.
Estava se habituando cada vez mais a ela. E agora já soava muito estranho
dormir sozinho em sua cama. Dizia a si mesmo que o sexo profissional imposto
por ela deixou-l viciado, mas no íntimo reconhecia ser mais. Muitas prostitutas
passaram por sua cama, mas poucas mulheres o preencheram daquela forma. Beatriz
mostrou-se inteligente, esperta e dona de uma sagacidade incrível. Era uma
delícia passar horas junto dela, conversando e conhecendo-a. Para então depois,
deixar-se se seduzido por aquelas curvas sensacionais.
Apreciava
a liberdade sexual imposta por Beatriz. Ela mostrava-se sempre disposta a tudo,
simpática à qualquer carícia e pronta para enlouquecê-lo com as mãos, a boca.
Beatriz o seduzia até com o timbre da voz, um tanto rouca quando estava em meio
a um orgasmo. Ela se deixava fluir em seus braços, levitar, sabendo que estava
segura nas mãos daquele homem.
-
Tenho de ir. Demorarei a voltar, mas Francisco cuidará bem de você e te ligarei
todas as noites. – Ele lhe disse pela manhã, quando ela acordou para
encontrá-lo já vestido e olhando-a. – Está precisando de alguma coisa?
-
Tenho tudo o que preciso. Obrigada. – Bia respondeu, habituada à sua rotina em
uma prisão de luxo.
-
Não precisa agradecer. É minha obrigação lhe oferecer tudo o que precisa para
ser feliz.
-
Para onde você vai? Não posso ir junto? Posso ficar quietinha no hotel. – Ela
ofereceu, surpreendendo-se com a própria submissão. Dizia a si mesma que se tratava
apenas de esperteza. Fora dali, poderia tentar uma fuga.
-
Vou ao Brasil. E você precisa ficar aqui, esperando por mim, estando segura e
bela quando eu voltar. – Saber que iria ao seu país fez surgir um brilho triste
nos olhos de Bia. Sebastian já imaginava. – Só irei porque não tenho
alternativa. Lhe trarei um presente de sua terra. Está bem assim?
-
É claro. – Ela mentiu, emocionada.
A
viagem de Sebastian era mesmo algo inadiável, mas não que ele tenha sido
obrigado. Ele escolheu ir ao Brasil na companhia de Gabriela Alencastro para se
encontrarem com um empresário local do setor hoteleiro interessado em vender um
de seus empreendimentos de São Paulo. O plano, conforme ele explicou a
Gabriela, seria comprar um hotel de médio padrão e transformá-lo no mais
luxuoso de São Paulo.
-
E por que vamos ao Rio? – Ela quis saber logo após embarcarem, numa cruzada de
pernas envolvente.
-
Por que ir ao Brasil e não no Rio é muito injusto e o nosso vendedor estava
disposto a ir no meu hotel nessa noite. Algum problema?
-
Nenhum, Sebastian. Tenho certeza de que viveremos momentos incríveis no Rio de
Janeiro. Tomara que o clima esteja bom, trouxe meu biquíni e ficaria muito
triste em não utilizá-lo.
-
Não tenho dúvidas de que você, o Rio e o seu biquíni são uma combinação. –
Sebastian comentou, aceitando a provocação da loura. – Chegaremos no início da
tarde ao Rio, participaremos de um baile de gala que ocorrerá no salão, é uma
ação beneficente. Amanhã você terá o dia todo para aproveitar o sol carioca e, à
noite, teremos nossa reunião de negócios.
-
Um baile? Que agradável. – Disse Gabriela.
O
plano de Gabriela ocorria a rigor. Fora ela a sugerir uma viagem ao Brasil e lá
pretendia fazer uso de qualquer golpe sedutor se isso lhe garantisse sucesso no
objetivo maior de matar Beatriz. Há semanas sabia onde ela estava vivendo, mas
o homem incumbido da tarefa não conseguia adentrar no prédio porque a segurança
era altíssima e Sebastian aparecia em qualquer momento do dia e lá costumava
passar muitas noites sem aviso.
Naquela
noite, após o jantar de negócios, planejava conseguir que ele desligasse o
telefone e então daria sinal verde para invadirem o esconderijo de Beatriz,
roubassem algo de valor para servir de cortina de fumaça e então a levassem.
Seu corpo apareceria boiando em algum rio.
Elizabeth
ficou muito satisfeita quando Miguel encontrou o meio perfeito de aproximar-se
de Sebastian. Eles compareceram ao baile beneficente oferecido no hotel dele,
certos de sua presença. Liz fez o esforço de encontrar um vestido que lhe
caísse bem na gravidez avançada e um coque nos cabelos. Assim, conseguia passar
discretamente no evento, enquanto procurava por Sebastian.
-
Segundo os comentários, ele já chegou, e está acompanhado de uma mulher. –
Miguel disse à esposa. – Você precisa se sentar. Passaremos horas aqui.
-
Eu preciso vê-lo. – Elizabeth respondeu. – Você tem de se aproximar dele.
-
Eu sei. Você fica aqui e eu vou circular por um minuto. Já retorno.
Miguel
estava nervoso, circulando pelo salão com uma taça na mão e disfarçando seu
real objetivo enquanto ia e voltava pelo salão tentando encontrar Sebastian
Gonzáles. Até que o viu, num canto discreto, sozinho e falando ao celular.
Sebastian parecia sorrir enquanto conversava com alguém. Era o tipo de sorriso
que ele carregava no rosto ao falar com Elizabeth. Esperou o empresário
desligar e caminhou naquela direção, fingindo não vê-lo. Quando se cruzaram,
estendeu-lhe a mão fingindo uma surpresa irreal.
Sebastian
encarou o jovem que o estendia a mão tentando reconhecê-lo. Nada. Aquilo era
algo comum, afinal ele tinha negócios em muitos países e por vezes esquecia a
face de alguém com quem fez negócios. Deveria ser esse o caso.
-
Muito prazer, Srº Gonzáles. Eu não imaginei que iria encontrá-lo aqui hoje...apesar
de, é claro, saber que esse belíssimo hotel lhe pertence. – Miguel disse, ainda
com a mão estendida.
-
E quem é você?
-
Miguel Benitez, estou hospedado com minha esposa. – Miguel viu Liz se aproximar
ao vê-los juntos. – Veja...aqui está ela, Elizabeth Benitez.
-
Muito prazer...vejo que serão pais...meus parabéns. – Sebastian estava
constrangido com a situação. Não se lembrava daquele homem nem de sua esposa
grávida. Mas o sobrenome lhe dizia algo. Tinha apenas de lembrar o que. – Mas,
Miguel Benitez, me recorde por favor da onde nos conhecemos? Você é do ramo
hoteleiro?
-
Não...sou presidente da BTez Motors. Na verdade nós não...
-
Mas que coincidência! Minha acompanhante é uma de suas acionistas, pelo que me
lembro. Deixe-me chamá-la. – Miguel viu, muito confuso, Sebastian acenar e uma
mulher loura vir caminhando timidamente até eles. Só quando ela se aproximou é
que Miguel entendeu tudo. – Veja, querida, acabo de encontrar seu primo.
Gabriela
não contava em dar de cara com Miguel e, principalmente, a investigadora que
era agora mais uma vez sua esposa. Tentou disfarçar da melhor forma que pôde,
porém, era complicado. Logo ela que sempre se vestiu de forma recatada na
frente dos familiares e nunca demonstrou interesse por negócios, agora era
vista num vestido muito decotado e assistia Sebastian falar do negócio que eles
planejavam.
-
Você se tornará empresária, prima? Nunca soube desse seu tino para os negócios.
– Miguel comentou, estranhando tudo aquilo.
-
Eu também desconhecia o seu, primo. Sempre o imaginei de jaleco branco e
clinicando e, ainda assim, está mostrando sua competência à frente da Benitez.
-
É verdade, Miguel. Não duvide dos talentos de Gabriela. – Elizabeth disse,
pondo fim ao assunto e logo tirando Miguel do salão e lhe pedindo para irem
embora.
Miguel
demorou a entender o que ocorria. Liz o fez vir para outra cidade, dormirem em
um hotel e participar de uma festa na qual não tinham nenhum interesse para se
aproximarem de Sebastian Gonzáles e quanto, enfim, ficaram cara a cara com ele
sua prima distante aparecia e Liz saía correndo. Já na suíte, Liz lhe explicou
o que ele viu, mas preferiu ignorar.
-
Eu tenho certeza que você já juntou as peças, Miguel. Só não quer acreditar. –
Pelo reflexo de um espelho os olhares dela e do marido se encontraram.
-
Cuidado com os julgamentos rápidos. – Ele lhe repetiu.
-
Eu tenho de pensar rápido! – Ela respondeu. – Vamos elencar os pontos.
Primeiro: Sebastian tem envolvimento com o tráfico de mulheres. Isso é fato.
Ele comprou Beatriz, tenho certeza, só falta provar. Ponto dois: é uma mulher a
cabeça a comandar esse sintoma macabro. Ponto três: eles chegam juntos no
Brasil para fazerem negócios pra lá de suspeitos. Agora diga, Miguel, se eu não
tenho razão para desconfiar!
Diante
daquela explanação clara, Miguel foi obrigado a concordar com Elizabeth. E
ainda lhe ofereceu um novo elemento.
-
Está esquecendo-se de uma coisa. – Quando ela o olhou com atenção, Miguel
explicou. – Gabriela não é apenas minha prima. Ela é filha de Javier. E se tudo
o que a sua investigação apontou até agora estiver certo, foi para proteger
alguém muito poderoso, que ele foi morto na cadeia.
-
A filha, possivelmente. – Com isso, Elizabeth fechava em sua cabeça o elo que
faltava. Gabriela Alencastro acabara de se tornar suspeita de uma série de
crimes.
Sem
saber do que se passava numa suíte próxima, mas sentindo-se mais próxima do
precipício a cada minuto, Gabriela resolveu que o ataque era sua única
alternativa. Talvez fosse realmente uma coincidência. Talvez não. Talvez Miguel
e Elizabeth estivessem ali por desconfiar dela. Ou Sebastian era o alvo. Qual
fosse a opção, por enquanto tratavam-se apenas de suspeitas. E a única prova
viva disso tudo estava próxima de ser morta.
Ao
final do baile, Sebastian a acompanhou até o seu quarto e ao se despedirem, ela
pediu para irem ao quarto dele. Disse suavemente em seu ouvido que desejava
dizer algo íntimo, na privacidade do quarto. Havia pensado em esperar até a
noite seguinte, quando não estariam cansados, mas acelerou o plano ao ver
Miguel e Elizabeth. Beatriz tinha de morrer naquela noite e levar com sigo
todos os seus segredos para o fundo de um rio.
-
O que deseja, Gabriela? – Sebastian perguntou, vendo-a morder os lábios e
chamar a atenção para o ousado decote do vestido. – Está me provocando.
-
Estou. Na verdade, estou me oferecendo...porque desejo você. É errado? – Ela
respondeu segura que ele cairia no golpe. – Mas primeiro me dê o seu celular.
-
O meu celular? Para quê?
-
Me dê, Sebastian. Garanto que não irá se arrepender. – Gabriela aproximou-se,
abraçando-o e pegou o smartphone do bolso dele. – É hora de desligar isso.
Exijo ter totalmente a sua atenção.
Ele
viu Gabriella desligar o aparelho e resolveu entrar na brincadeira para ver o
que ela desejava. Não entendia o que ela pensava ganhar com aquela sedução
toda. Curiosamente, aquela mulher vinda de família rica e com estudo lhe
parecia muito mais uma prostituta que a bela Beatriz, a quem ele comprou pra se
satisfazer.
-
Se pensa que isso a ajudará a fecharmos a parceria... – Ele arriscou e a viu
fingir uma expressão ofendida.
-
Assim me magoa, querido. Não sou uma aproveitadora. – Gabriela disse com
aqueles lábios provocantes.
-
Claro. Desculpe. – Sebastian não acreditava em nada que ela dizia, por alguma
razão. Mas era linda e ali estava, oferecendo seu corpo. – Tire esse vestido
então.
-
Assim, querido? Não vai fazer isso por mim?
-
Na minha cama, Gabriela, mando eu. – Com um tom duro, quase violento, mas
eficaz, ele afirmou. – Mandei tirar a roupa. Se quer brincar com fogo, brinque,
mas não se queixe se terminar a noite queimada. Acho que vamos começar
desligando o seu celular também.
-
É claro. – Não desejava se deitar com Sebastian. Não sabendo que ele tinha uma
relação com Beatriz. Isso parecia menosprezá-la. Estava lutando para seduzir
alguém a quem uma vagabunda tinha nas mãos. Odiava Beatriz e, por isso, sentia
repulsa de Sebastian. Mas faria sexo com ele para garantir a morte dela. – Vou
mandar uma rápida mensagem e desligarei meu celular. Aí os ligaremos apenas
amanhã pela manhã. Você concorda?
-
Concordo. – Ele disse sem saber que o que ela digitava no WhatsApp.
-
Só um instante, querido. – “Pode começar. Não me decepcione”, ela digitou antes
de desligar o aparelho e ficar nua à frente de Sebastian Gonzáles. – Estou
pronta pra você.
Com
os fartos atributos completamente à mostra, Gabriela exibiu-se, sabendo que era
capaz de seduzir qualquer homem. Irritou-se, porém, com a frieza de Sebastian.
Ele a tratava como uma vadia qualquer. Ela caminhou até ele e começou a abrir
sua camisa. O corpo dele responder, endurecendo. A mente, não. Os pensamentos
de Sebastian, de olhos fechados, pareciam estar muito distantes. E Gabriela
desconfiava de com quem estavam.
-
Me toque...quero suas mãos em mim. – Ela disse, guiando ambas as mãos dele até
seu quadril.
-
Você é linda. – Ele disse, numa voz capaz de congelar o oceano. Não queria
aquela mulher. Aquela premunição voltou e seu sentimento era que precisava
falar com Beatriz. Resolveu se afastar de Gabriela e a empurrou bruscamente
sobre o sofá. Um instante antes de puxar o seu celular e o ligar novamente.
-
Não! – Gabriela gritou. – Está comigo...vai ser gostoso...
-
Vista-se e saia daqui. Agora! – Ele sabia que, naquela voz que ninguém
desobedecia. – Se não se vestir agora, eu a jogarei o corredor nua mesmo,
Gabriela.
-
Não uma vagabunda para me tratar assim!
-
Se comportou como uma. Suma daqui!
Gabriela
já colocava a roupa e saía do quarto ligando o próprio telefone quando
Sebastian tentava contato com Francisco. Chamou até cair na caixa de mensagens,
o que o surpreendeu. Algo de errado devia estar acontecendo. Ligou uma segunda
vez. E uma terceira. Somente na quarta tentativa ouviu a voz do empregado, mas
dessa vez ela estava ofegante e entrecortada pelo gaguejar de alguém sob
pressão.
-
O que aconteceu, Francisco. – Ele sabia ser algo grave. – Homens invadiram o
apartamento, patrão. Beatriz era o alvo. Eles a...a...
Sebastian
jogou todas as garrafas de bebida do bar contra a parede tentando extravasar o
ódio A mesa teve o mesmo caminho. Alguém aproveitou-se de sua distância para
ferir Beatriz. E esse alguém irá pagar.
-
Fale Francisco! O que fizeram com Bia? Onde ela está?
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