Apesar
de reclamar muito, Nathan entendia porque as pessoas desconfiavam tanto ao
olhar para ele e ver um homem interessado em formar laços saudáveis e
fortalecidos junto de sua filha. Às vezes nem ele se reconhecia mais. Nunca em
toda a vida havia perdido o sono preocupado com alguém. Jamais tinha pego a si
mesmo com o pensamento distante enquanto cozinhava. Esse amor despertado por
Maria Fernanda parecia ter inflado seu peito e agora, mesmo quando ela estava
distante, em pensamento seguia ao seu lado.
Restava
agora ele descobrir quais sentimentos tinha pela mãe de sua filha. Tanto tempo
se passou e, ainda assim, lembranças de uma Milena mais jovem e menos amarga
não abandonavam seus pensamentos nem sonhos. Noites atrás havia acordado com o
corpo úmido após ela ter lhe visitava no sono, beijado e acariciado seu corpo
enquanto ele revivia a deliciosa sensação de tirar sua roupa. Acordou excitado
e sozinho na cama, dependendo do chuveiro gelado para poder esfriar o corpo.
Depois
de discutir com Emily enquanto tentava cozinhar uma receita a qual, apesar de
se lembrar, não conseguiu fazer ganhar liga nem acertou no tempero, ele
resolveu se retirar da cozinha. O Calderone não merecia um chefe de cozinha tão
relapso com seu trabalho. Ainda bem que aquele prato não seria consumido por
ninguém além dele mesmo. Resolveu, então, ficar com fome e ir para casa.
-
Vou embora, Emily. Até amanhã. – Disse e retirou-se.
-
Espere Nathan. Não fique assim...apesar dos seus erros, sempre haverá tempo
para remediar os enganos. - O que ele vai fazer?
-
Tratar de organizar minha vida aqui para recuperar o tempo perdido com a minha
filha e consertar meus erros. Tenho de comprar um apartamento. Viver em hotéis
está acabando comigo.
Enquanto
Nathan sofria de saudade da filha recém conhecida, Melissa arrastava sua
família até o abrigo para que todos pudessem enfim conhecer Isabely. Rafael
apertava a mão da esposa muito mais por receio do que apoio a sua decisão, e um
Táles fazendo birra e batendo os pés no chão enquanto caminhava.
-
Mãe, vou esperar na pracinha enquanto vocês pegam o bebê chorão tá bom?
-
Não, nem perto de bom, Táles. Você também a conhecerá. E pare de chamá-la de
bebê chorão. Não conhece Isabely ainda.
-
Nem quero conhecer!
Rafael
segurou Melissa e disse ao filho para ir à pracinha, mas esperar lá por eles e
nem pensar em sair do orfanato sem os pais. Para evitar a briga em local
público, Melissa permitiu, mas o comportamento de Táles a estava irritando
muito e por isso ela lembrou a si mesma de ter uma conversa séria com ele
quando chegassem em casa.
-
Queridos, que bom que vieram. – Foi Marta a recepcionar o casal. – Vamos
conversar antes de verem Isa.
-
Sim, claro. Nosso filho veio junto, mas resolveu ficar na pracinha. Há
problema?
-
Não, nenhum. Ele está em segurança. Venham ao meu escritório.
Enquanto
seus pais conversavam sobre uma possível adoção e tiravam dúvidas com Marta,
Táles sentou-se em um dos brinquedos da praça, sem nada fazer apensas deixando
o tempo passar. Estava um tanto mal humorado e nessas horas gostava de ficar
sozinho. Não era ciúme, ao contrário do que sua mãe deveria estar pensando. Sentia
apenas tristeza porque seria chato ter um bebê na casa naquele momento, com uma
babá andando pela casa, choro na madrugada e brinquedos pela sala. Houve um
tempo em que quis um irmão para jogar futebol ou lhe acompanhar na escola, mas
isso passou conforme fazia mais e mais aniversários. Agora preferia seguir
filho único a ter de bancar o primogênito protetor.
-
Você é novo aqui? – Uma garota aproximou-se e se sentou ao lado. Ele a olhou
feio, preferia ficar sozinho, mas ela não se intimidou. – O gato comeu sua
língua?
-
Não...só não tô a fim de conversa.
-
Você não é morador novo...dá pra ver pela sua roupa. O que veio fazer aqui?
Como
ela não calava a boca nem parecia disposta a deixá-lo sozinho, Táles resolver
conversar para fazer o tempo passar mais rápido.
-
Eu vim visitar a criança que meus pais querem adotar.
-
Você fala ‘criança’ como se você fosse muito velho. – Ela debochou.
-
Tenho 14, não sou mais criança! – Ele respondeu. – Tá na cara que você tem
menos. Como é o seu nome?
-
Não te interessa. – Agora ela havia se irritado com a ideia de ser mais criança
que ele. Então achou melhor trocar de assunto. – É bom viver aqui. Só é ruim
quando aparece alguma família metida que acha que somos brinquedinhos fofos e
podem nos levar para casa.
Nessa
hora Melissa e Rafael apareceram no pátio junto de uma mulher idosa a quem Táles
supôs ser Marta. Ele percebeu haver algo de muito estranho ao notar que
enquanto seu pai estava confuso e deslocado, a mãe parecia realizada e não
tirava os olhos da menina.
-
Vejo que já se conheceram. – A ex modelo internacional afirmou. – Espero que
tenham se tornado amigos.
A
expressão pasma que tomou o rosto de Rafael foi espelhada na face de Táles. Pai
e filho, tão parecidos, revelavam a mesma apreensão e surpresa com aquela
coincidência. Enquanto os três adultos conversavam a respeito de facilitar a
integração dos dois jovens, eles,ao seu modo, já tinham se aproximado. Otimista
como sempre, Mel não poderia estar mais feliz.
-
Você? É você A Isabely que meus pais vieram ver? – Ele disse apenas para
encontrar uma cara mais fechada do que nunca. – Você não é um bebê chorão! Você
até que é legal!
Uma
pena que a reação dela foi um pouco menos feliz. Até tinha simpatizado com a
bela moça que, apesar de ter levado um susto com o acidente, não tinha gritado
com ela nem jogado a culpa para qualquer um. Na verdade, Melissa tinha se
mostrado muito simpática e até amável. Mas daí até achar que aquela mulher
fosse realmente querer lhe adotar, quando tudo o que fazia no dia que em que se
conheceram era justamente fugir da adoção, era um caminho que ela não pretendia
seguir
-
Vou te mostrar quem é bebê chorão! – Ela gritou antes de dar um empurrão em Táles
e seguir caminhando. Queria ficar bem longe deles.
-
Não nos dê às costas, Isabely! Volte aqui e mostre educação, você não é assim.
– Marta conhecia a menina muito bem e sabia que lá no fundo ela não era mal
criada. Apenas um pouco xucra. Isabely não foi ensinada a amar e, quando
tentou, foi traída por aqueles que tinham obrigação de zelar por ela. A menina
a ouviu e virou-se de frente às visitas. – A dona Melissa você já conhece. Esse
é o marido dela, Rafael, e Táles, filho deles.
-
Essa senhora é a que meu atropelou, eu lembro. O que quer aqui? Veio reclamar
que o carro amassou? Não foi culpa minha!
-
Isabely! - Marta voltou a repreender a menina.
-
Não viemos aqui para reclamar de nada. – Melissa interrompeu a bronca. – Nós
viemos só conhecer você melhor e lhe trazer um presente. Espero que você goste.
-
Eu não posso aceitar presentes...os outros internos iam ficar tristes.
-
Não faça desfeita, Isabely. – Marta orientou. – Pegue o pacote e agradeça, sim?
Eles vieram apenas conhecê-la melhor.
Isa
até pegou o embrulho, mas não conseguiu manter a boca fechada. Marta estava lhe
mentindo.
-
Eu não sou idiota! Nem preciso da pena de ninguém. Vieram aqui porque acham que
a adolescente abandonada precisa de um lar. Mas eu não preciso. Podem ir
embora.
Dessa
vez, quando Marta viu a menina sair correndo preferiu não chamá-la. Ela tinha
sofrido demais já e tinha razões para ser como era. Se Rafael e Melissa
estivessem realmente prontos para tê-la como
filha teriam de aprender a vencer aqueles desafios. O único a ir atrás
de Isa foi Táles. Talvez porque só ele entendeu aqueles gritos como uma prova
de força e não de rebeldia. Cada vez mais ele gostava de Isabely.
-
Ei! Espera! Você pode não querer eles como seus pais, mas acho que podemos ser
amigos. – Disse quando enfim conseguiu alcançá-la.
-
Vai embora! Eu não preciso da sua amizade, nem de família nenhuma. – Ela voltou
a correr e dessa vez ninguém a seguiu.
Aquele
comportamento arisco e difícil não surpreendeu Melissa. Ela já tinha entendido
que Isabely não era uma criança normal, talvez jamais tivesse comportamentos
similares aos de Táles, porque ele foi amado desde antes de nascer e teve pais
que lhe proporcionaram segurança, enquanto ela obteve apenas traição dos que
deveriam se amar. Ela não sabia, ainda, todos os detalhes da história de Isa, o
pouco que conhecia já era doloroso demais. E nem tudo o que lhe falaram, ela
havia relatado ao marido.
-
Porque essa menina cresceu aqui? Ela não tem nenhuma família? – Ele tratou de
perguntar.
-
Vamos com calma, senhor Gomide. Nem sabemos se Isabely irá permitir que se
aproximem.
-
É claro que ela vai! – Mel pronunciou-se. – Nós não vamos desistir.
-
Eu fico feliz em ouvir isso, querida. Mas aconselho vocês a tentarem,
inicialmente, se tornarem padrinhos de Isa, para depois decidirem qualquer
outro passo. O que acham?
Rafael
não teve a chance de responder, já que Melissa falou antes. Mas, caso tivesse
se manifestado, também teria sido à favor. Não pelos mesmos motivos que a
esposa. Enquanto ela esperava que a posição de madrinha a levasse a de mãe em
pouco tempo, ele contava com esse período para fazê-la ver que nem tudo seriam
flores se realmente adotassem Isabely.
Mesmo
com tudo isso povoando seus pensamentos, deixou a família em casa e seguiu para
a JRJ. Pretendia realizar uma reunião com Márcia para definir dois contratos.
Estranhou, porém, quando foi alertado que ela não estava na empresa nem estaria
nos próximos dias.
-
A senhora Márcia avisou que ficará quatro dias fora, por razões pessoais e
pediu que toda sua agenda fosse cancelada. Ela está com o celular, mas pede que
ninguém ligue a menos que seja urgente. – A secretária dela avisou.
Naquele
dia que se mostrava cada vez pior, Rafael decidiu que não estava interessado em
mais uma discussão com Márcia. Que ela resolvesse os próprios problemas
enquanto ele cuidada da própria vida.
Márcia
havia resolvido viajar com o filho. Tudo para não ter de permitir uma visita de
Alex a Joaquin. Sentiu um pouco de dor na consciência, mas disse a si mesma que
Alex não merecia conviver com Joaquin e que o filho precisava de bons exemplos
masculinos, não a presença de alguém incapaz de ser leal à família. Para fazer
essa viagem, porém, além de cancelar compromissos na empresa, teve de adiar uma
reunião com seu advogado. E ele reclamou por isso atrasar ainda mais o processo
de guarda definitiva de Joaquim.
-
Você não pode sumir com o menino se havia um acordo do pai vir vê-lo. – O homem
lembrou-a.
-
Um acordo de boca não representa nada.
-
Representa para quem tem palavra! – Raul, o advogado já estava cansado das
atitudes frias da cliente. Assim ela apenas dificultava as coisas. – O homem
veio de Minas Gerais ver o menino e você simplesmente viaja! Agora o advogado
dele entrou com uma reclamação unto ao juiz. Isso votará contra você na decisão
final. Ele agora quer que Joaquin fique seis meses com cada um! Está preparada
para isso?
-
Não! – Márcia desesperou-se. – E o seu trabalho é evitar isso! Eu não abro mão
do meu filho morar comigo e se ele quiser ver o menino, será a cada 15 dias,
aqui em São Paulo, e nas feiras de julho ele irá para Belo Horizonte. Apenas
isso. E exijo um acordo financeiro excelente!
-
Vamos com calma Márcia, vou entrar em contado com a advogada do seu ex e mostrar
suas exigências e vamos ver. Se não tiver acordo, vamos ter que falar com o
juiz. Você tem de ficar calma e não fazer mais besteiras.
-
Não fiz besteira alguma! Você é pago para resolver isso! – A engenheira ainda
gritou antes de desligar.
Na
noite seguinte, de domingo, um jantar estava marcado no pequeno bistrô
localizado próximo do apartamento de Jéssica e Lorenzo. Além do casal, Melissa
e Rafael, Emily convidou três pessoas. Nathan e outras duas chefes de cozinha
com as quais eles estudaram mais de uma década antes. Elas eram sócias em um
restaurante em Paris e estavam na cidade. Para a surpresa dela, no entanto, o
amigo avisou logo cedo que não poderia porque teria outro compromisso.
-
Deve ter surgido algo muito importante. – Emily estranhou, mas ligou para
avisar ao marido da baixa nos convidados.
-
Não se preocupe, não deve ser nada. – Jonas respondeu. – Você e Jéssica terão
de nos encontrar lá. Eu e Lorenzo vamos direto do jogo de futebol, vamos
assistir Grêmio e São Paulo. Você se importa?
-
Claro que não. – Os dois amam seu clube, mas pouco vêem jogos por não viver
mais no Rio Grande do Sul. – Mas não se atrasarão, certo?
-
Não. Acho que chegaremos até cedo.
-
Ótimo então. Nos vemos lá.
Assim
como combinou com Emily, Jonas assistiu a partida de futebol com o irmão e
depois partiram para o bistrô. Já tinham bebido cerveja durante o jogo e
preferiram não misturar. O problema é que as esposas sim se atrasaram, provavelmente
para encherem as babás de orientações para com os bebês. E Helena e Paola, as
convidadas, chegaram muito cedo.
-
Chegamos cedo? – Uma das mulheres altas e curvilíneas perguntou.
-
Não. É claro que não. Emily e Jéssica é que se atrasaram um pouco. Fiquem à
vontade. Elas devem estar esperando as crianças dormirem.
-
Por isso acho que nunca terei filhos. – A outra, que se tratava de Helena, pelo
que Lorenzo se lembrava, afirmou. Ali ele já não simpatizou com ela.
Apesar
deles beberem cerveja, serviram vinho para as convidadas enquanto tentaram
manter alguma conversa. Mas não tinham nenhum assunto. Elas não entendiam nada
de vinicultura nem de engenharia. Eles não tinham muito interesse em nada que
elas falavam. Lorenzo foi ficando irritado e Jonas incomodado com a postura
daquelas mulheres que deveriam ser amigas de Emily. Jonas já tinha ligado e
Lorenzo enviado um WhatsApp. E nada das esposas chegarem. Até que tudo passou
do limite. Talvez incentivadas pelo álcool, as duas exageraram. Helena
ofereceu-se para Jonas enquanto Paola teve a ousadia de se jogar sobre Lorenzo,
passando a mão em seu peito de forma provocadora. Tudo isso aos olhos de quem
entrava no estabelecimento, que, naquele momento, eram Jéssica e Emily.
Muito
diferentes entre si, Emily e Jéssica ficaram revoltadas em enciumadas com o que
viam, mas cada uma reagiu de uma forma. Emily em segundos estava armada para a
guerra, pronta para defender seu homem. E marchou até a mesa em que estavam nem
mais nada ver até que postou-se na frente de Helena e arrancou-a aos gritos de
perto de Jonas.
-
Vá embora! Sumaaaa! Antes que eu a coloque num avião de volta para França sem
nenhum dente na boca. Sua ladra de maridos!
-
Emily...eu...não foi... – A ruiva até tentou explicar.
-
Calada! Mandei ir embora! Já me bastam as piriguetes brasileiras, não preciso
importar da França. Sumam! E você também, Paola, saia de perto do meu cunhado!
-
Emily...calma. Sem escândalos. – Jonas teve a péssima ideia de tentar
acalmá-la.
-
Eu estaria calma se você não estivesse bebendo e se esfregando nessa vagabunda
enquanto eu colocava seus filhos pra dormir.
Em
meio a toda essa discussão, as visitantes foram embora e Lorenzo se deu conta
que Jéssica tinha chegado com Emily, visto o mesmo que ela, mas ido embora. Talvez
por timidez ou por mágoa, ela resolveu não brigar ou fazem um estardalhaço.
Provavelmente, a encontraria triste no apartamento deles, do outro lado da rua.
Lorenzo então deixou Jonas resolvendo seu problema com Emily e foi para casa.
Encontrou-a já tirando a maquiagem recém feita após dispensa a babá.
-
Oi. – Ele abraçou-a por traz e eles se encararam pelo reflexo do espelho. –
Você me conhece. Sabe que aquela garota não é nada e você é tudo. Eu te amo
mais do que tudo na vida.
-
É o que você sempre diz. Mas ela estava tocando você, toda sensual e cheia de charme.
Duvido que você tenha achado ruim ela te acariciar.
-
Em primeiro lugar, ela apenas me tocou. Eu não lhe daria tempo para carícia
alguma, porque sou seu. Além disso, gosto é quando você me toda...o que estou
esperando que faça agora, para melhorar essa noite infernal.
Com
um beijo leve, Lorenzo testou se estava enfim tudo resolvido. Aos poucos, tinha
certeza, o relacionamento muito estável e já duradouro deles iria superar a
ousadia daquelas francesas.
-
E saiba que você pode brigar por mim. Prefiro que faça um escândalo do que fuja
como fez hoje. Sou seu. – Reafirmou.
-
Está bem. Na próxima vez, vou sair no tapa com ela.
-
Não terá próxima vez, meu amor. – Assim ele esperava.
Ocupados
com as próprias esposas, os irmãos Vicentin não sabiam que naquele momento
Nathan se encontrava no Rio Grande do Sul, conversando por mensagem de texto
com Milena. Ele exigia ver ela e a filha na manhã seguinte e não parecia nada
disposto a deixá-la escapar mais uma vez. Ele não desistiu enquanto ela não concordou
em vê-lo na manhã seguinte. O lugar foi muito bem escolhido: os parreirais.
Naqueles campos repletos de uva no pé, muito eles tinham namorado e havia uma
grande possibilidade de Maria Fernanda ter sido concebida lá.
À
sombra do parreiral com o sol já alto, ele esperava sorridente, sabendo que em
breve encontraria duas pessoas muito importantes em sua vida. A primeira chegou
sorridente e saltitante pelo campo e logo veio abraçá-lo e beijá-lo. A outra
seguiu até ele com passos lentos e expressão fechada. Mesmo um tanto triste por
Milena, não deixou de brincar e se divertir com a filha. Nathan já conseguia
sentir o amor da filha. Era algo natural. Amá-la não exigia nenhum esforço. Não
entendia muito bem o motivo, mas já sabia que com Maria Fernanda, mesmo que
cometesse erros, teria como remediar. Já com Milena não é assim. Depois de
correr com Maria pelos campos, deixou-a comendo um cacho de uvas e foi
conversar com Milena.
-
Por que justamente aqui? – Ela perguntou.
-
Porque aqui, talvez, você se lembre de como fomos bons juntos.
-
Era uma mentira, Nathan. Não vale a pena lembrar.
Aquilo
magoou um pouco Nathan. Sempre acreditou que, por mais que curtas, cada
história de vida tinha sua relevância e valia a pena ser vivida.
-
Eu acredito no que vivemos, Milena. Mesmo com as mentiras. Eu a amei...talvez
ainda tenha guardado comigo aquele sentimento.
-
O que disse? – Milena encarou-o sem crer no que ouvia.
-
Que talvez aquele mesmo amor que nos fez ter Maria Fernanda ainda esteja
comigo. E permaneça assim para sempre. Eu nunca...nunca tive um sentimento
assim duradouro. Mas hoje eu percebo que esse amor nunca me abandonou.
Milena
já estava surpresa com o que ouvia e, ao sentir-se ser puxada para seus braços,
foi tomada pela confusão. Mesmo sem muito entender, permitiu-se ser beijada.
Negava, mas tinha saudade daquele homem, naqueles lábios e daquela quentura que
tomava seu coração sempre que estavam juntos.
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