Casar! Ariella mal podia acreditar que estava
fazendo aquela loucura. E sem falar para ninguém. Nem mesmo Dulce sabia que ela
trocava alianças com o amor de sua vida. Nem mesmo ela conseguia acreditar
naquela decisão tão impensada. Poderia dar errado, ela sabia. Aquele amor, como
qualquer outro, poderia não ser eterno. Ainda assim, não se arrependia de ter
dito sim. Diego é tão maravilhoso que não conseguia lhe negar nada.
Estavam juntos há apenas três meses e em nenhum
momento ele lhe havia decepcionado. Passeavam, iam ao cinema, dançar, beber e
aproveitavam maravilhosas noites a dois. A noite sempre lhe parecia curta
demais quando ele lhe dizia que estava na hora de levá-la para casa. Ela chegava
a torcer para que ele sempre dissesse que podia ficar, para dormir em seus
braços. E normalmente ele deixava. Não hoje. Porque seu Conte espanhol
aparentava ser um homem às antigas e mesmo já tendo levado-a para cama muitas
vezes, disse preferir que ficassem separados naquela noite que antecedia o
enlace. Diego disse não estar com pressa para levá-la para a cama porque
daquele dia em diante a teria para sempre. Ela ansiava por Diego. Ainda assim,
lá no fundo ficava uma réstia de desconfiança. Casar?
Diego passou a última noite de solteiro sozinho,
bebendo no quarto do hotel enquanto verificava alguns e-mails de trabalho.
Apesar de ter liberado Ícaro para sair em uma noite de folga, o amigo e motorista
estava ali, observando-o em silêncio. Parecia ter aceitado que não havia mais
escapatória. O mal estava feito ou, no mínimo, a um passo de ser concretizado.
- Porque me olha assim, Ítalo? Não percebe que tudo
conspira ao meu favor porque é justiça o que faço. O destino de Ariella é ser
minha.
- Não fale como um louco Diego. No fundo você sabe
que é errado o que ocorrerá amanhã. Por isso teme que outros saibam do
casamento.
Para isso Diego não tinha argumento. Tudo o que
podia era esperar que seu plano funcionasse. Ariella estava completamente
apaixonada e disposta a fazer tudo o que pedisse. Em três meses conseguiu com
que ela se sentisse dependesse dele. Não financeira porque ela tinha tudo o que
desejava de seu pai. Mas emocionalmente, algo que sempre surpreendia a Diego,
Ariella era facilmente enredada. Ela queria tanto ser amada que foi fácil
fazê-la crer que um homem a amava perdidamente. Então ludibriou-a na medida
certa e na hora exata, após uma noite de amor, disse-lhe que casariam ou se
separariam porque ele estava de viagem de volta marcada. Ela obviamente disse
sim, por medo de perdê-lo. E prometeu que fariam visitas constantes à
Argentina, além dele lhe auxiliar a encontrar uma faculdade de arte em Madri
assim que lá chegassem. E caso ela tivesse dito não, ele se afastaria para fazê-la
sofrer e ir atrás dele. Era importante que Ariella soubesse desde já que jamais
voltava atrás em suas decisões.
Isso porque, depois de estar na Espanha, Ariella
desejaria muitas coisas que lhe seriam negadas. E ela tinha de ter certeza
disso, sem esperança nem margem de negociação. Principalmente quanto a entrar
em contato com Afonso. Através da filha, ele teria preocupações pelo resto da
vida e depois iria lhe entregar todo o dinheiro que havia tirado desonestamente
de seu pai. Nem que para isto tivesse que perder a empresa, da qual já tinha a
maior parte das operações. E em meio a tudo isso, Ariella a cada dia se
tornaria mais sua dependente. Sem o pai para lhe fornecer ajuda financeira
Ariella ficaria sem recursos e ambos os Amaral assim estariam em suas mãos.
Seu único temor era se ela iria conseguir manter
segredo de seu nome e sua condição familiar e financeira até a assinatura da
certidão de casamento. Até aquele instante tivera sorte porque Afonso esteve
viajando por longo período e não era muito preocupado com a filha, mas em breve
sua condição seria descoberta, caso alongassem o namoro. Ela aceitar
prontamente foi providencial. Deu-lhe apenas alguns poucos dias para se
preparar e passou-os torcendo para ela cumprir a palavra e não falar para ninguém.
Ela cumpriu. E evitou todas as ligações de Dulce e
dos outros amigos. Os preparativos foram rápidos e simples já que Diego lhe
pediu para adiantar tudo o que pudesse. A cerimônia foi simples, apenas com
Ítalo e mais uma testemunha. Na véspera Ariella pediu que ela pudesse chamar
uma amiga. E argumentou que se Ítalo poderia ser testemunha, Dulce também.
Diego concordou, desde que Dulce soubesse apenas na hora do que acontecia ali.
Assim ela não teria como impedir. Seu outro pedido foi que eles logo após o sim
fossem a casa de Afonso para informar da união. Diego aceitou, ao menos era o
que ela pensava.
- O que você pensa que está fazendo? – Dulce
questionou, apavorada, minutos anos de concretizada a cerimônia civil.
- Garantindo a minha felicidade.
- Não...não! Isso é loucura!
- Pare Dulce, por favor. Eu estou feliz, fique
contente por mim e aceite que minha vida mudou. Eu vou me casar com Diego,
passar em casa para contar a papai e ir para Espanha com meu marido. Essa foi a
minha decisão e ninguém me fará desistir. – Ariella disse e calou a amiga.
Diego não se surpreendeu ao encontrar Ariella
belíssima em um vestido branco de noiva com direito a uma tiara de flores,
mesmo tendo um tempo tão curto para se preparar. Muito provavelmente, o tempo é
um problema muito fácil de resolver para quem tem dinheiro. Ariella foi a um
ateliê qualquer e exigir um belo traje perfeito feito sob suas medidas e, sem
se importar com o preço, estar sempre bela. Ainda assim, olhava para Ariella e
via um anjo flutuando até ele. Independente das razões que os levaram aquela
união, ele podia se considerar um homem de sorte ao se casar com uma mulher de
tamanha beleza.
- Eu te amo e aceito me tornar a sua esposa. –
Ariella disse à frente do juiz de paz que oficializou a união.
- Eu aceito ser o seu marido. – Afirmou Diego, sem
juras nem promessas.
Depois dos votos serem trocados e a certidão
assinada, os recém casados trocaram um apaixonado beijo, Diego colocou Ariella
dentro de um carro e quando ela menos esperava já estava em seu avião
particular. Até aquele instante ela sequer sabia que ele possuía algo tão
luxuoso até mesmo para ela, criada em meio ao luxo e envolta em todo o
conforto.
Ariella estava até mesmo gostando da surpresa feita
por seu marido, mesmo percebendo seu modo estranho de agir. Não passou por seu
pensamento que antes de qualquer viagem deveriam passar por sua casa e contar
ao pai que se casou. Ela imaginava que, como genro já oficialmente, Diego não
iria pedir sua mão, mas conversaria com Afonso e lhe garantiria ser um bom
marido, como era tradição nessas circunstâncias. Porém, nada disso aconteceu e
Ariella se viu em uma luxuosa cabine dentro do avião.
Lá uma bandeja com champanhe e chocolates estava
disposta sobre um móvel. E logo Diego lhe servia da deliciosa bebida. Uma taça,
depois outra e mais uma. Entre beijos e chocolates, ela não percebeu o quanto
bebeu. Sentiu sim os toques delicados com que lhe despiu e acariciou enquanto o
avião já decolava. Naquele momento Diego não se lembrava dos motivos que o
levaram a dizer sim enfrente a um juiz de paz de um a mulher que mais parecia
uma criança esperançosa. Agora, no entanto, estando a sua frente vestindo um
lingerie branco e rendado ela lembrava muito mais uma deusa do que uma criança.
Independente do que o dia de amanhã trouxe-se, agora era somente o prazer que o
interessava. Conhecer cada delicada curva do corpo feminino que se oferecia
para ele. Arrancar todos os suspiros que tivesse para ouvir e enlouquecer
Ariella com tudo que sabia fazer na cama.
- Eu te desejo menina. Mais do que deveria. – Ele
sussurrou enquanto deixava uma trilha de beijos que saída de entre os seios e
descia por seu corpo.
- Eu te amo. – Ariella respondeu.
O plano de enlouquecê-la nem precisava de álcool.
Ele estava ali por outros motivos. Deseja que ela apagasse logo após a transa e
não questionasse o motivo de estarem voando nem o destino. Foi exatamente isso
que aconteceu. Logo após gozar, Ariella apagou sobre o colchão. E nem mesmo
suspirou nas próximas horas.
Quando acordou Ariella sentia a cabeça pesada pela
bebida. Tinha a sensação de ter dormido por um longo tempo. Depois de alguns
minutos ainda zonza na cama resolveu levantar vestir-se e descobrir onde estava
seu marido. Ela mal acreditava na loucura que havia feito. Acordar sem seu
marido ao lado na cama e ainda descobrir que estavam voando não fez nada bem
para o seu humor. Para onde estavam indo? Estranhando a atitude misteriosa de Diego,
foi procurá-lo.
-Pensa que vai aonde vestida assim? – Ele já não
estava nada carinhoso e a olhava de maneira estranha, desrespeitosa, encarava
suas pernas cobertas apenas até o início das coxas como se fosse agarrá-la a
qualquer momento. Em outras circunstâncias teria achado sexy. Mas a combinação
com o olhar aterrorizador que via pela primeira vez em Diego a estava
assustando.
.
-Ia procurar você. – Ela preferiu não reclamar de
nada para evitar brigas já no começo do casamento. – Notei que ainda estamos
voando.
-É o que acontece quando se entra em um avião.
-Algum problema, Diego? Porque está irritado?
-Não! Agora volte para a cabine.
-Eu não sabia que iríamos viajar. Aliás, acreditava
que iríamos visitar meu pai e contar do casamento.
-Mudei os planos. Vamos para Madri. – Ele sabia que
uma tempestade iria começar agora naquele casamento. – Vamos morar lá, lembra?
-O que? Da onde você tirou isto? Eu aceitei ir com
você para Madri, mas não assim! Não com papai sequer sabendo que me casei. E eu
nem sabia que voaríamos hoje! – Agora ela começava a se preocupar. – Quero
voltar agora!
-Cresça garota. Não sou seu amado pai para ficar
lhe satisfazendo a todos os caprichos. Vai voltar para a cabine como mandei e
ficar bem comportada enquanto voamos. Depois saberá de tudo. – Diego sabia que
Ariella sequer cogitava obedecer então a puxou pelo braço até a cabine e a
trancou lá dentro. Mesmo ao som de seus gritos, foi falar com o piloto.
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