Algumas semanas se passaram e o
estranho comportamento de Diego começava a gerar desconfianças. Ele seguia
sendo o mais atencioso e perfeito dos namorados. Nada o irritava nem
incomodava. Jamais erguia a voz para Ariella. Porém, nunca mostrava muito de si
falava de sua família, nem cogitava aproximar-se dos amigos e familiares de
Ariella. Apaixonada e sem se preocupar com nada daquilo, Ariella seguia vivendo
seu conto de fadas e dizia amar a cada dia mais o seu conde espanhol. Aos
amigos, no entanto, aquele relacionamento soava um tanto estranho.
Dulce, apesar de tão jovem quanto
Ariella, não tinha todo esse romantismo e desconfiava mais de Diego a cada dia.
Estudante de direito, Dulce costumava dizer que a amiga artista vivia em outro
mundo, muito mais fácil a adocicado que a vida dos outros. Mesmo tão
diferentes, as duas mantinham uma amizade antiga e muito sincera. Não escondiam
nada uma da outra, nem mesmo os segredos que guardavam de todos os demais.
Muitas foram as oportunidades em que Ariella ouviu
detalhes dos namoros e dos problemas de Dulce. E em tantas outras Ariella abriu
o coração para Dulce. Sempre tiveram uma na outra o conselho certo e a
aceitação da outra quando cometiam uma bobagem típica da adolescência. Dessa vez, porém, não foi assim. Ariella
contou tudo e, ao final, viu em Dulce um surpreendente olhar de repreensão.
- Não me condene, Dulce. – Ariella
disse ao ver o olhar no mínimo incrédulo de sua amiga. – Diego não quer
envolver nossas famílias e nos amamos. Não vou estragar tudo por um capricho!
- E você não vê absolutamente nada
de errado nisso?
- Não. Porque haveria? Ele quer
manter só nós dois, em segredo. É errado?
Para Dulce sim, obviamente havia
algo de errado. E a confiança de Ariella em tudo o que Diego falava era apenas
uma prova de que ela estava envolvida demais com um homem que pouco ou quase
nada conhecia.
- Você acha normal um estrangeiro
aparecer aqui e ficar sem data para voltar? Diego diz ser um conde e ter uma
rede de hotéis. E se nada disso for verdade? A única certeza que temos é de que
grana não falta pra ele. Mas nada garante a fonte! Pode ser um criminoso!
- Agora você já está passando do
limite, Dulce. Viajando!
- Pode ser. Mas esse papinho de ‘não
conte ao papai porque quero manter o nosso amor em segredo’ comigo não colou.
- E o que você me sugere? Terminar e
mandar Diego de volta para Madri? Não quero! Gosto dele. E a explicação para
ficar n Argentina eu julguei muito realista. Ele quer abrir hotéis na América
Latina. Qual o problema de estar em Buenos Aires analisando o mercado?
- Nenhum. Você não abriria os olhos
mesmo. Mas eu, no seu lugar, ficaria de olhos abertos.
Mais três semanas se passaram e, apesar
de Dulce investir muito tempo a investigar Diego em sites da Espanha e também
na Redes Sociais, nada encontrou que comprovasse mentiras. Ele realmente
possuía o título de Conde, era proprietário de uma cadeia de hotéis e não
morava em família. Mas
quando ela começava a deixar a preocupação arrefecer, outra atitude estranha
tornou a deixá-la desconfiada. Diego avisou que não compareceria a uma reunião
de amigos organizada por Ariella na casa
de campo de Afonso.
- Ele não poderá. Nem me venha com
teorias mirabolantes! – Ariella tratou de dizer à amiga.
- Eu não disse nada. – Dulce
respondeu, afinal, nada a faria vê o obvio mesmo.
Ariella recebeu seus amigos,
conversou, dançou e bebeu por toda a noite. Tinha a casa de seu pai a sua
disposição e, como ele já havia lhe dito, desde que ela estivesse em segurança,
tinha toda a liberdade para fazer o que desejasse. Todos terminaram a noite um
pouco bêbados demais e nadando na piscina. Já zonzos, tornavam-se mais
sinceros. E sem freios, Ariella ligou para Diego e declarou-se.
- Te amo! Muito, muito e muito. – Disse
assim que ele atendeu ao celular.
- Está bêbada, Ariella?
- Estou. Mas só um pouquinho. Vem
pra cá. Quero você, agora.
O álcool livrou Ariella de sua
natural delicadeza. Ela estava mais direta, mais objetiva e muito mais
oferecida. Uma parte de Diego sentiu-se orgulhosa. Ela o queria, de qualquer
forma. E isso era a maior prova de que Ariella Amaral estava pronta para ele
lhe oferecer o próximo golpe. Mas não agora. Assim que ela estiver sóbria. Por
outro lado, sabia que a namorada estava cercada de homens, provavelmente também
bêbados. E a ideia dela passar a noite com algum deles o irritava.
- Não posso. Mas garanto te
recompensar quando nos encontrarmos.
- Eu vou cobrar hem. Vou querer você
todinho, todo meu, gostoso como só você.
- Terá. Mas veja se não faz nenhuma
bobagem Ariella...não divido minha mulher. – Diego teve o cuidado de usar a
palavra mulher. Apesar de ser uma menina, Ariella odiava quando a chamavam
assim.
- Sua mulher? Gostei disso. Sou só
sua, toda sua. Eles...eles são só amigos.
- Ótimo. Então aproveite sua noite
entre amigos. E comporte-se. Um beijo, mi sol!
- Diz que me ama! – Com a coragem do
álcool, Ariella gritou.
E Diego titubeou. Aquela era uma
frase muito forte. Não para ela. Afinal, Ariella já demonstrara que amar era
algo muito fácil em sua vida. Amava o antigo namorado, gritava amá-lo nesse
momento e, no futuro, se tivesse a chance, amaria a tantos outros. Não que ele
pretendesse que ela tivesse a oportunidade de ter os olhos atraídos a outro
homem nos próximos anos. Não foi algo natural, mas ele disse a mentira que
Ariella precisava ouvir.
- Eu te amo. Vá aproveitar sua noite
e depois volte para mim. – Afirmou antes de desligar o telefone.
Nas semanas que se seguiram tudo
voltou ao normal. Com a diferença que agora Diogo falava em deixar Buenos
Aires. Dizia que seus negócios na Argentina estavam chegando
ao fim e que, muito em breve, seria necessário voltar. A primeira reação de
Ariella foi a da tristeza. Seu conto de fadas parecia estar chegando ao fim.
- Não fique assim. Vamos encontrar
uma forma de continuar juntos. Eu garanto. – Diego disse, acalmando-a.
Depois desse primeiro aviso, Diego
evitou falar em despedidas nos dias seguintes. Para seu plano funcionar,
Ariella precisava sentir-se segura e jamais receber-se pressionada. Ele então
cuidou para que ela se sentisse mais amada a cada dia e transformou todas as
suas noites em encontros especiais. Quando encontravam-se, era sempre em locais
discretos, sem a presença de amigos ou de familiares. Por vezes, Ariella
entristecia-se com isso e questionava a necessidade de se esconderem daquela
forma. Mas então, quase que para lhe mostrar como o segredo podia transformar
tudo em algo mais gostoso.
Quando completavam três meses
juntos, levou-a para dançar num encontro a dois, romântico e discreto. A casa
noturna era pequena, contava com uma iluminação baixa, que passava uma
intimidade única. Eles tinham a sensação de que estavam sozinhos, mesmo que a
pista estivesse lotada de casais.
- Eu sei que você gostaria de estar
curtindo a noite com seus amigos. Mas eu prefiro ter você só para mim, Mi sol.
Prometo te recompensar por essa dificuldade.
- Você é a minha felicidade. Não tem
o que recompensar. – Apaixonada, Ariella respondeu.
Eles dançaram calmamente, abraçados,
no ritmo lento imposto pela música. Até que Diego resolveu levá-la para o
hotel. Não houve bebedeira, mas, ainda, assim, Ariella sentia-se livre para
demonstrar seu amor. E quando a noite terminou na cama que já tinha seu cheiro,
ela se disse inebriada de Diego Bueno. Nua, Ariella desfilou suas curvas
delicadas, de menina, cobertas por uma pele perfeita, sem nenhuma manhã além
das sardas que pareciam dar o toque final de sua beleza.
- Linda. Não me canso de você. –
Diego lhe disse e, intimamente, reconhecia que aquela afirmação era verdadeira.
Nesses poucos meses que se passaram,
Diego conseguiu conhecer Ariella na intimidade. Ele lhe dava exatamente o que
ela dizia precisar e, às vezes, o que a jovem nem mesmo sabia apreciar, mas que
fazia seus olhos vibrarem. É verdade que ele já havia chegado à Argentina tendo
em mãos detalhes da vida de Ariella, mas, sob os lençóis, conheceu uma mulher
bem diferente da narrada nas páginas do dossiê de investigação.
A menina sabia comportar-se feito
mulher e exigia um homem atencioso e dedicado na cama. Ariella gosta de
carinhos, de preliminares, de relações longas, não transas afobadas. E Diego
aprendeu rapidamente como usar aquela informação privilegiada contra ela.
Aquela noite era especial e ele soube necessitar dedicar-se ao máximo e adiar o
próprio prazer para levar Ariella à loucura e à armadilha final. Quando enfim
viu-o pegar um preservativo para vestir, Ariella suspirou. Também sentia urgência
em tê-lo.
- Desculpe. Já deveria estar tomando
pílula. Eu...esqueço de marcar o médico. – Ela disse com os cabelos vermelhos
reluzindo sobre o travesseiro.
- Não se preocupe. – Para os seus
planos, aquilo era ótimo. – Eu até gosto disso. Principalmente se você colocar
a camisinha em mim.
Com um sorriso safado nos lábios,
ela atendeu ao pedido do namorado e pôde senti-lo enrijecer em suas mãos e
boca. Diego, normalmente sério e controlado, naquele momento aparentava estar
fora de controle. E isso era a maior satisfação de Ariella. Junto dele,
deixou-se levar sem se preocupar com nada mais. E deleitou-se naquele corpo
maravilhosamente entalhado que, sem a seriedade habitual, exibia um sorriso
relaxado de menino após explodir em prazer dentro dela.
Na manhã seguinte, Ariella dormiu
até tarde. Acordou sentindo-se plena em felicidade. Percebia
o sol entrando forte pela janela, o cheiro de café e o barulho de pratos. Já
estava acordada, mas ficar com os olhos fechados e esperar pelo beijo de Diego
parecia convidativo demais.
- Bom dia, mi sol. É hora de deixar
essa cama e vir fazer o meu dia mais feliz. – Ele disse ao salpicar muito
beijos sobre seu rosto.
Com esse convite tão delicado e
cheio de amor, Ariella ergueu-se da cama, tomou banho e se juntou a Diego para
o café. Havia um clima especial naquela manhã e ela percebia sem entender o
motivo. O café estava saboroso, o suco adocicado, os alimentos perfeitos. Mas
não era nada disso. Diego estava diferente. E Ariella observava tudo tentando
adivinhar o que se passava. Quando enfim viu Diego erguer-se da mesa, puxá-la
para sala junto de si e ajoelhar-se à sua frente, enfim, percebeu quais eram os
planos do namorado.
- Ariella, você sabe que eu te amo.
Eu descobri que não posso, não consigo, viver sem você. Por isso, não quero
voltar para Madri sem você, mi sol. Case-se comigo e venha ser a minha mulher,
a minha condessa, na Espanha.
- Casar? Assim....tão cedo...
- Sim. Casar, Ariella. Agora. Só nós
dois e Deus abençoando nossa união. E ser a minha mulher para todo o sempre. –
Diego insistiu. Não podia deixá-la escapar.
- Não...não posso. Papai não me
perdoaria se eu cassasse sem sua presença.
- Tenho certeza de que seu pai quer
apenas a sua felicidade e prometo lhe fazer feliz. Casando comigo você deixará
de ser sustentada por ele, mas, garanto, eu lhe oferecerei tudo do bom e do
melhor.
- Mas porque assim, com pressa e sem
papai na cerimônia? – Ariella estava confusa. Tentada por ele, mas preocupada
com a reação de seu pai.
- Eu tenho pressa Ariella. Volto
ainda essa semana para Madri e não sei se poderei retornar nem quando. Mas,
caso você não esteja disposta a abandonar sua faculdade, amigos e família e vir
ser feliz ao meu lado, eu compreenderei. E essa noite maravilhosa que tivemos
será nossa despedida.
Foi uma estratégia arriscada, Diego
reconhecia. Talvez ela ainda não estivesse pronta ou fosse mais ligada ao pai
do que aparentava. Ainda assim, Diego resolveu arriscar e ficou encarando com
seus olhos azuis, ajoelhado a seus pés, esperando uma resposta de Ariella.
Perdida entre o certo e o errado,
entre o seu desejo e suas obrigações, Ariella pensou que aqueles três últimos
meses haviam sido seu período mais feliz em toda a vida. E por isso não havia o
que pensar. Desejava Diego e se tornaria a sua esposa.
- Sim. Eu aceito me casar com você,
meu amor.
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