Madri, Espanha, em 2005
Diego Bueno encarava a fotografia de
uma mulher atentamente. Não qualquer mulher. Aquela lhe era especial, mesmo nunca
tenho lhe conhecido nem trocado nenhuma palavra. Era bela, sem dúvida. Isso, no
entanto, não iria afetar em nada seus planos. A família de Afonso Amaral havia
tido paz por anos demais, enquanto os Bueno se despedaçavam. Não havia justiça
em permitir que tudo seguisse assim. E não seriam aqueles olhos doces que o
convenceriam do contrário. Silvana, sua mãe, de quem pouco se lembrava, morreu
ao deixar o lar para viver com o amante.
Ramón, seu pai, entregou-se ao
álcool e jogou fora todo o dinheiro e o prestigio que a família possuía antes
de morrer. Restara a ele reerguer tudo ao completar 18 anos e receber a herança
deixada por sua mãe. Esse, o único dinheiro que possuía, já que o pai não pode
gastá-lo em investimentos errados e jogos de azar. Diego investiu esse dinheiro
na compra de um hotel. E daí o fez se multiplicar. Hoje tem 23 anos e é um dos
grandes empresários do setor hoteleiro da Europa, com empreendimentos em
diversos países. Construiu tudo com o próprio trabalho. Seu pai não lhe deixou
nenhuma herança monetária. Apenas um título que pouco lhe serviu na vida:
Conde. Como se ser um Conde tivesse impedido seu pai de morrer pobre e infeliz.
E Ramón também lhe deixou o ódio. Esse sim passado de pai para filho com muito
esforço ano após ano. Tanto que, após considerar-se realizado como empresário,
Diego concluiu que faltava cumprir seu compromisso com o pai e assim firmar-se
como homem. Agora Afonso iria experimentar a agonia que ele viveu e assistiu
seu pai viver.
- Ela é linda. Isso eu não posso
negar. – Reconheceu desejando ler as informações do arquivo, mas sem conseguir
tirar os olhos de Ariella Amaral.
Aquela beleza toda, no entanto, só conseguia
levá-lo de volta ao passado. Um tempo de muito sofrimento. Depois que sua mãe
foi expulsa de casa por ter sido seduzida por Afonso, sua família foi reduzida
a brigas. Seu pai não demonstrava amor ou compaixão por ninguém, nem mesmo por
ele, seu filho, com apenas quatro anos. Ramón jamais tornou a se casar e não
por continuar a amar a esposa. Tratava-se apenas de orgulho. Diego ainda se
perguntava se Silvana teria entrado na justiça para conseguir a guarda de seu
menino. O acidente tornou impossível ele ter essa resposta. Ramón repetiu por
anos que ela teria ido morar com o amante se Deus não tivesse lhe castigado
tomando-lhe a vida. Diego jamais teve certeza se Afonso Amaral teria assumido o
relacionamento ou se, depois de expulsa pelo marido e sem os privilégios de uma
Bueno o amante também a abandonou. Fato é que ela se acidentou sozinha no carro.
E tudo levava a crer que ele ganhou muito dinheiro de Silvana, já que ela
retirou grandes quantias da conta conjunta no banco semanas antes de ter o caso
descoberto. Sem mãe e sem pai, as boas lembranças da infância de Diego eram com
Anita, sua avó paterna. Ela, que agora era sua única família, fora seu respiro
de felicidade durante muitos anos.
Enquanto isto, Afonso, após destruir um lar,
causou-se novamente na Argentina. Com uma mulher rica, é claro. E teve sua
linda filha. A garota havia sido criada em colégios internos e nunca dera
problemas ao pai. Afonso continuava vivendo no país da América Latina e, agora
viúvo, era conhecido como um homem honrado e trabalhador. O que os argentinos
não sabiam é que Afonso recomeçara sua vida na Argentina com o dinheiro que
tomou de Silvana. Afonso hoje podia fingir-se de empresário bem sucedido, mas,
na realidade, não passava de um ladrão qualquer.
A alegria de Diego ao investigá-lo foi perceber que
mesmo de formas ilícitas, Afonso não possuía nem perto do valor de sua fortuna.
Por um tempo manteve uma empresa bem estruturada e a fez aumentar os lucros.
Mas depois sua incompetência falou mais alto. E ele permitiu que tudo começa-se
a se enfraquecer. Quando se casou com Martina Aguirre, já tinha sérios
problemas financeiros e usou do dinheiro dela para salvar o próprio patrimônio.
A mulher engravidou logo após o casamento e logo percebeu não passar de um
joguete nas mãos do marido. De saúde frágil, Martina preferiu deixar a filha em
um colégio interno e ir viajar pelo mundo para aproveitar o tempo que ainda lhe
restava. Morreu quando Ariella tinha sete anos. Ariella Aguirre Amaral fora
criada como uma princesinha. As melhores escolas conseguiram apenas
transformá-la em uma jovem fútil e desmiolada, mesmo que realmente linda. Diego
devorou aquele relatório como um faminto que encontra um banquete. Ariella
parecia a preza perfeita e logo estaria em suas mãos.
-O que pensa em fazer? – Ítalo lhe questionou após
observá-lo por longo tempo. Apesar de não ter idade para isso, Ítalo era como
seu segundo pai. Trabalhava há anos na segurança da família e hoje era também seu
amigo.
-Você sabe muito bem. – Isso era verdade, porém, Ítalo
jamais concordou com suas ideias.
-Olhe bem para essa jovem, Diego. Ela não tem nada a
ver com o que o pai fez.
Ainda assim, Diego continuou olhando para a pasta
de arquivo que continha informações de Ariella. Se ela sequer desconfiasse de
intimidade daquelas informações teria um ataque nervoso. Possivelmente seria
capaz de vesti-la sem precisar lhe tocar o corpo para saber as medidas. Tinha
todas as informações possíveis ao seu respeito. Ariella era uma garota de 18
anos, com uma beleza clássica. Ruiva, de olhos claros, cor de mel, e estatura
mediana. Deveria causar inveja em algumas mulheres e desejo em muitos homens.
Era descrita pelos que havia mandado para investigá-la como uma mulher sem
grandes responsabilidades. Cursa o primeiro semestre de Artes Plásticas e mora
sozinha, em um apartamento comprado pelo pai. Apesar de fazer alguns trabalhos
de desenho e pintura, é ele quem a sustenta. Ariella é, por tanto, dependente
financeiramente de Afonso Amaral. Isso servia para irritar e alegrar Diego.
Irritava-o saber que a jovem não precisava se preocupar em ganhar a vida porque
o pai a sustentava com dinheiro sujo. E alegrava-o por oferecer mais uma razão
para vingar-se. Ela passou a vida lucrando com as sujeiras de Afonso. A
dependência de Ariella era ótima para seus planos. Demonstrava fraqueza. Depois
que descobrisse como seria seu futuro, ela não teria como viver sem seu
auxílio.
- Você ainda é um menino, Diego. Não faça nada do
que irá se arrepender futuramente. – Ítalo tentou mais uma vez mudar o rumo daqueles
planos.
- E você, não fale como se fosse um idoso. – Diego
desconversou. Mas resolveu responder ao amigo. - Nunca fui dado a ataques de
sentimentalismo, Ítalo. Se fosse, não teria criado minha empresa e ampliado
minha própria fortuna.
-Que é um grande empresário não tenho dúvidas, mas
é quanto sua forma de cuidar da vida pessoal que me refiro. Você passou de uma
aventura a outra sem preocupar-se em se estabelecer.
-É isso que vou fazer agora!
-Falo sério. É óbvio que, nos termos que tem em
mente, um relacionamento não terá futuro. – Ítalo viu Diego planejar cada passo
do que faria. E isso o assustava.
-Terá o futuro que eu decidir. Essa família tem uma
conta para acertar comigo. Financeira e emocionalmente, vou cobrar o que Afonso
Amaral me tomou. – Ele pensou por alguns instantes. – Chega de fazer planos.
Vou à Argentina conhecer minha futura esposa e mãe de meu filho.
-O que o faz pensar que este homem irá lhe entregar
todas as empresas em troca da filha? Ele pouco vê a garota. Podem muito bem dar
às costas à filha.
-Ele dará às costas, mas eu tenho muitas outras
armas. Eu vou tirar tudo dele! Já tenho a documentação da casa, as ações da
empresa e a posse de todos os grandes investimentos dele. A filha é apenas a
gota d’água. Vou envergonhá-lo perante todos os que o julgam como um homem
honesto. Ele vai vender a filha, e farei com que todos saibam.
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