Aos 18 anos Ariella olhava para a sua vida e
pensava que algo lhe faltava. Apesar da falta que a mãe lhe fazia, não era
falta de amor maternal que lhe dava aquela sensação de vazio. Nem de pai.
Apesar de tudo Afonso sempre lhe deu o que necessitava. Mesmo que não fossem
muitos beijos e afagos, jamais se importou de ela ter escolhido viver sozinha
ou estudar Artes Plásticas. A mantinha e sustentava sem reclamar e raramente
lhe negava alto. Afonso é um bom pai. Ou o único tipo que ela conhecia.
Também
não eram ambições a lhe faltar. Sabia bem o que desejava da vida. E lutava por
isso. Seria uma artista e por isso optou por estudar arte. Apesar de já
desenhar e pintar com qualidade, estando no primeiro semestre da graduação, era
de se esperar que não conseguisse sustentar-se. Ainda mais no padrão de vida no
qual foi habituada. Por isso, fazia uso do dinheiro do pai sem
constrangimentos. Chegaria o dia em que ele não mais precisaria lhe dar
recursos. Até lá, aproveitaria tudo o que ele oferecia.
O
que lhe faltava era um amor. Não um romance qualquer, daqueles que podia
encontrar em cada corredor da faculdade. Não alguém só interessado em uma
noite. De homens interessados nesse tipo de relação Buenos Aires estava cheia e
nenhum deles agradou Ariella. Ainda assim, nada a impedia de se divertir
enquanto esse homem diferente estava por vir. Ela então se arrumou e aceitou o
convite das amigas para ir dançar.
Solta
na pista, atraiu olhares e desejos. Alguns lhe interessaram, outros nem tanto.
A verdade é que não estava com vontade de terminar a noite com nenhum deles.
Por isso retornou à mesa do bar quando, já tarde da madrugada, quando alguns
amigos já haviam ido para casa, e continuou a beber. De todo o grupo que veio à
boate naquela noite, apenas ela e Dulce continuavam por ali. Todos os outros
foram embora, sozinhos ou acompanhados. Naquele momento Dulce ainda dançava
animadamente enquanto Ariella bebia e observava o salão se esvaziar aos poucos.
-
Vem dançar! – Dulce a chamou.
-
Não, não. Prefiro ficar aqui. Essa noite já terminou pra mim.
-
Está bem...só mais uma música e vamos embora.
Ariella sabia bem que aquela não seria a última
música de Dulce. Nem o seu último copo de bebida. Mas seguiu ali, satisfeita em
beber enquanto a amiga se divertia. Em certo momento Ariella percebeu ser
observada. Estava estranhando o olhar que esteve à noite toda sobre ela. Não
que este fosse desagradável, pelo contrário! Percebeu há bastante tempo quem
lhe observava e o homem era fantástico. Agradou-a, como agradaria a qualquer
uma. Tinha altura e os ombros largos, seus cabelos eram negros e a pele
bronzeada. E não parava de lhe olhar! Sua natural desenvoltura com o sexo
oposto não funcionou e ela não teve coragem para ir conversar com ele. A única
forma era disfarçar fingindo que nem mesmo havia percebido e torcer para que
ele viesse até ela. Conseguiu.
- Não está cansada de ficar sentada aí, vendo suas
amigas dançarem? – Ele lhe disse numa voz que evidenciava um sotaque de fora da
Argentina, apesar do espanhol claro.
- E quem lhe disse que eu não dancei?
- Meus olhos! Não os tirei de você a
noite toda e vi você aqui quase o tempo todo. – Aquela falsa modéstia não
enganou Diego. Vestida para expor cada atributo do corpo, Ariella não poderia
estar se oferecendo mais. Aquele charme não o iria enganar. – Mas isto acabou
agora!
Dali em diante a noite se fez interessante para
Ariella. Diego mostrou-se um homem maravilhoso, atencioso, charmoso, bonito e
com muitas outras características interessantes. Deus havia sido generoso com
ele. Deu-lhe tudo. Ariella só pode reclamar de uma coisa: estava na hora de ir
embora.
A caso quisesse, Diego poderia ter terminado aquela
noite levando Ariella direto para o hotel no qual estava hospedado. Saber disso
o deixava satisfeito, convicto de que seu plano seria completado sem maiores
dificuldades. E teria sido exatamente aquele o fim da noite, caso seus planos
não fossem muito maiores. Por mais linda, simpática e desenvolta que a
princesinha fosse, não podia se deixar levar e arriscar tudo o que tinha
planejado.
A noite havia sido produtiva. Ariella era muito
desenvolta e desinibida e isso nenhum relatório dos investigadores dizia. Ele
ficou observando-a por longo tempo antes de se aproximar. Enquanto isso tentou
descobrir quem era de verdade aquela mulher. A maneira como requebrava os
quadris mexeu com sua libido e, tinha certeza, com a de muitos outros homens na
pista de dança. Não soube se gostava ou não disso. Apesar de ter apenas 18
anos, Ariella mostrava-se uma mulher sensual e dona dos seus desejos.
Definitivamente, teria de ter mais cuidado do que imaginou à princípio. Caso se
envolvesse com alguém naquele momento, Ariella não mais seria facilmente
seduzida. E ele não tinha tempo para cortejá-la por muito tempo. Teria de ser
objetivo.
O plano era mimá-la e fazê-la se apaixonar
perdidamente. E precisava ser rápido. O casamento viria naturalmente. Tudo
indicava que era Ariella é uma mulher impulsiva e sem responsabilidades na
vida. Após viver um conto de fadas a vida toda, ela não teria motivos para
desconfiar quando um príncipe encantado batesse em sua porta. A única coisa que
ainda o deixava com dúvidas era como fazer para que ela mantivesse segredo do
relacionamento. Ao que percebeu, Ariella não era muito apegada ao pai e
mantinha com ele uma relação muito distante. Ainda assim, não tinha certeza de
que ela não lhe confidenciaria estar apaixonada. E se oferecesse detalhes como
seu nome e país de origem, Afonso poderia vincular uma coisa à outra e
descobrir quem era em tempo de afastá-los. Iria encontrar uma forma de
enlouquecê-la rapidamente e mantê-la calada. O namoro prometia ser muito mais
produtivo e prazeroso do que pensava.
Naquela madrugada Ariella chegou ao seu apartamento
com o pensamento muito longe. Parecia impossível, mas nos minutos finais de uma
noite chatíssima de balada conhecer alguém como Diego. Sua amiga disse também
nunca tê-lo visto. Dulce, aliás, ficou tão empolgada quanto ela.
- Você dará uma chance a ele. Sim ou claro?
- Sim, claro e com certeza. – Com um olhar que
Dulce conhecia muito bem aquele olhar em Ariella. A amiga estava encantada.
- Ainda não estou convencida. Quero atitudes, minha
amiga. Liga pra ele. Agora! E marca um encontro com ele. Um gato daquele não
fica sozinho muito tempo. E está muito afim de você. Ele não tirou os olhos de
você a noite toda!
Aquela frase fez bem ao ego de Ariella. Como
qualquer mulher, ela gostava de se sentir desejada. E não tinha ninguém desde
que seu ex namorado decidiu trocá-la por uma colega de faculdade. Não que tenha
ligado muito. Ainda assim, saber que despertou a atenção e o desejo de alguém
como Diego lhe fez sorrir.
Quando enfim conseguiu dormir, teve um sono agitado
a ansioso. Não sonhou, mas também não descansou como seu corpo precisava. E
acordou já agitada, ansiando por saber se Diego Bueno havia lhe telefonado ou
mandado mensagem. Nada. Fez então uma breve busca nas redes sociais para
encontrar os seus perfis e confirmar se as poucas informações que ele lhe
passou eram verdadeiras. Pouco pode ver. Ele deixava suas postagens restritas a
visualizações de amigos. Mas soube que seu gato misterioso era sim espanhol e
vivia em Madri. Ele
havia lhe dado seu telefone. Mas ligar assim, no início da manhã, poderia soar
interesse demais e ela preferiu esperar que ele tomasse a iniciativa.
- Se realmente estiver interessado, ele correrá
atrás. – Decidiu-se.
Enquanto isso, tratou de tomar banho e fazer
algumas tarefas da faculdade. Naquela tarde teria de participar de uma aula
aberta de técnicas de pintura. Não tinha tempo para perder sonhando acordada
com espanhóis charmosas e de olhos de gato. Mas bem que adoraria perder algumas
horas de seu dia junto dele.
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