Diego surpreendeu Ariella ainda naquela tarde
quando ao retornar para seu apartamento, encontrou na portaria um imenso boque
de flores. Elas por si só já teriam grandes chances de agradar a jovem Amaral,
mas, para garantir o sucesso daquele segundo passo da conquista, ele ainda
adicionou uma doce declaração. Nela, Diego afirmava ter lutado para lhe dar
espaço e tempo para pensar antes de dar uma chance aquele desconhecido. Mas a
lembrança de seus cabelos e de seu perfume não permitiram. Por fim, dizia-lhe
que passaria ali às 21hs para levá-la para jantar e que se não estivesse
interessada, ele compreenderia e voltaria para Madri sem jamais incomodá-la
novamente.
- Com isso você a impede de fazer o charme típico
das mulheres que desprezam a primeira tentativa de encontro. – Ítalo lhe disse
quando viu Diego preparar o cartão.
- Infalível, não?
- Certamente. A questão é: conquistar a garota e
destruir Afonso, trará sua mãe de volta e apagará todo o ódio que você tem?
- Não. Mas quitará uma dívida antiga. E pare de
falar como se ela fosse um anjo caminhando na terra e eu um demônio que a
levarei ao mau caminho. Ariella não é nenhuma santa. Ela teve a vida de uma
rainha por cada um de seus 18 anos, sem fazer por merecer nenhum de seus mimos.
Um choque de realidade lhe fará bem.
O resultado foi eficiente. E poucas horas depois
Ariella encarava-se no espelho, tentando estar pronta para encanar Diego com
sua beleza. As flores no fim da tarde, quando ela já estava triste por ele não
ter feito nenhum contato durante todo o dia lhe fizeram sorrir, mas o convite
para jantar a deixou ansiosa. Talvez naquela noite ele desejasse tê-la para si
por toda a madrugada e só essa possibilidade a fazia tremer. Então abriu seu
guarda roupa e tentou escolher algo que fosse elegante e sexy ao mesmo tempo.
Preferiu ser ousada e escolheu um modelo vermelho, com uma fenda que valorizava
suas pernas. A mensagem era clara: estava interessada nele.
Já na roupa íntima, que realmente esperava que ele
visse, não encontrou nada sexy o bastante entre suas opções e que combinasse
com o vestido. Então optou por um lingerie de estilo jovem, mas, ainda assim,
capaz de colocar fogo em um homem. Desejava Diego. E se ele realmente tinha de
voltar logo para Madri, queria tê-lo para si antes disso.
- É impressionante como você consegue ficar ainda
mais bela. Não parece real, Ariella. – Diego disse cumprimentando-a logo após
chegar para pegá-la.
Se fosse sincero, diria que não gostou do vestido
nem da postura dela com ele. Ariella estava se oferecendo e, talvez em qualquer
outra situação ele gostasse a te se sentisse lisonjeado. Ali, pensava que ela
mostrava sua índole e vulgaridade. Não tinha nenhum recato nem se valorizava. E
Diego, que não pretendia levá-la para a cama ainda, começou a repensar a
decisão. Ela podia até estar vulgar, mas despertava sua libido. Antes, porém,
seguiria com sua sedução e armadilhas. Só uma noite com ela em nada o ajudaria
a destruir Afonso Amaral, por mais que fosse convidativa. Precisava que Ariella
estivesse a ponto de largar tudo e vir com ele quando lhe propusesse casamento.
Desconfiava que uma informação ajudaria muito. E não tardou a lhe oferecer.
- Sério?!?!? Mas então você é um legítimo conde
espanhol? – Ariella surpreendeu-s quando ele, casualmente, lhe confidenciou
isso. Ela quase se engasgou com o prato, uma insossa salada ao molho de ervas.
- Sim, sou. Herdei de papai o título. Mas não é
nada demais. Não serve para nada. – Diego lhe respondeu. Era verdade, uma das
poucas frases verdades que disse à garota até agora. E só lhe disse porque
sabia não ser capaz de desfazer o fascínio que via em seus olhos. Ela estava
encantada por ter um conde lhe cortejando. Típico de uma menina sem princípio,
que valorizava apenas a aparência. – Tem certeza que vai comer só isso?
- Sim. Não como carboidrato a noite.
- Entendo. – No fundo, colocava aquela afirmação na
lista de frescuras dela. – Mas preciso que tenha energia hoje a noite.
- Terei, não se preocupe.
Ainda no restaurante, Diogo beijou-a e acariciou-a
como se já estivessem em lugar privado. Passava a sensação de ansiar por ela.
Era assim que se sentia, mesmo que por vezes
dissesse a si mesmo que era tudo uma farsa, tudo parte de um objetivo.
Poderia até fazer parte do plano tantas vezes imaginado para vingar-se e acabar
com Afonso Amaral, mas teria um grande prazer naquela etapa.
- Quero você, Ariella. Não deveria lhe pedir isso
já, assim, sem cortejá-la adequadamente. Mas preciso. Não aguento. Venha para o
meu quarto de hotel. – Disse mordiscando-lhe a orelha, garantindo que ela não
tivesse forças para negar.
- Não prefere meu apartamento? – Ela ofereceu.
- Não. – Disse bruscamente e depois teve de
explicar. – O hotel é mais perto e cada minuto é tempo demais. - A verdade é
que preferia não usar uma cama que foi paga por Afonso. E também não duvidava
que ele tivesse acesso a câmeras de segurança do prédio. Então devia ter
cuidado.
Com os dois desejando exatamente a mesma coisa, não
demoraram a estar na suíte de hotel. Com diferentes objetivos, nenhum deles
mostrou como realmente era. Diego escondia sua fúria por trás de um sorriso
doce e voz suave. Ariella mostrava-se serena e natural enquanto lutava para ele
não perceber sua ansiedade e timidez.
- Você é um conde, um empresário, um homem
maravilhoso. O quer comigo? Uma estudante de arte, no primeiro semestre? –
Ariella teve coragem o bastante para externar sua preocupação.
- Quero muito mais do que você pode imaginar. – E
pela primeira vez ele lhe disse uma frase totalmente verdadeira.
- Nossa! Isso foi meio assustador. – A forma como
ele disse a frase tão pouco tempo depois de conhecê-la deixou-a preocupada.
- Não! Por quê? – Diego percebeu que precisava
disfarçar melhor o seu comportamento. Tinha pressa em enredá-la, mas ela
parecia não estar pronta ao um relacionamento tão rápido. – Eu fui afobado.
Desculpe-me.
- Tudo bem.
- Mas, Ariella, não fique preocupada por eu ter
alguns anos mais, um título de nobreza que não serve para nada ou uma empresa
que me trás preocupações. Nada disso importa. Eu só tenho 23 anos. Você faça
como se fosse um velho solitário que nada no dinheiro.
- Não...é só que é estranho um rapaz de 23 anos ser
dono de uma rede de hotéis. E você disse que não a herdou do seu pai então...
- Eu a fundei com um dinheiro que recebi de minha
mãe. Uma herança. Dei sorte em alguns investimentos e fiz apostas corretas. E
trabalho bastante. Só isso. Agora prefiro falar de você.
- Não tem muito o que falar. Vivo em um apartamento
bancado por papai e faço faculdade de artes plásticas. Eu amo pintar e
desenhar. O plano é um dia viver disso. Sem precisar de mesada.
- É um bom plano. Você e seus pais são próximos?
- Minha mãe morreu há vários anos. Mas sim, ela era
maravilhosa. Apoiava-me em
tudo. E era uma artista também. Papai é mais distante.
Eu...estudei em colégios internos depois que mamãe morreu. Mas ele é bom pra
mim. Nunca nega nada que peço...mesmo que eu tenha de pedir por e-mail ou ligar
para sua secretária porque ele raramente tem tempo de me ver.
Perfeito, pensou Diego. Ela não correria para
contar ao papai que vinha sendo cortejada por um espanhol que apareceu do nada.
Ariella parecia uma vítima tão fácil, tão exposta, que, às vezes, ele sentia
vergonha pelo que fazia. Isso passava sempre que ela fazia um comentário sobre
alguma extravagância financeira de seu passado. Tudo pago com um dinheiro que
Afonso Amaral jamais deveria ter conseguido. E, pelo que havia descoberto, o
mesmo golpe ele repetiu com a mãe de Ariella. Talvez, quando tudo acabasse, ela
até lhe agradeceria por acabar com seu pai. Ou não. Talvez seu caráter fosse
idêntico ao do genitor. Era bem possível, já que ela não via problema em
usufruir do dinheiro, mesmo reclamando da falta de tempo do genitor.
Algumas doses de bebida depois, os assuntos
familiares ficaram no passado e tudo o que Ariella lhe contou de mais íntimo
foi um dos relacionamentos amorosos passados. Ela até tentou saber mais da vida
dele, mas Diego lhe disse preferir o futuro. E começou a despi-la. Teve a grata
surpresa de ver que a menina tinha curvas de uma mulher.
- Linda. Perfeita. A ideia de outro apenas olhá-la
começa a me incomodar. – Diego disse analisando as curvas cobertas por uma pele
muito banca e macia.
Ariella poderia ser chamada de ‘falsa magra’. Ou
assim ele acreditava. Porque após vê-la em inúmeras fotos do dossiê de
investigação, não percebeu que era tão linda. Sempre observou os cabelos ruivos
e chamativos, a pele delicada complementada por minúsculas sardas e o sorriso
doce. Era como se ela gritasse uma falsa inocência. Agora, porém, via que ela
estava mais para uma ninfeta sensual e perigosa. Precisava ficar atento a ela.
Ou cairia em seus encantos.
- Você merece um amante paciente e delicado. Não
sei se consigo. Não te olhando assim, tão sexy.
- Eu não sei se quero paciência ou delicadeza. –
Ariella respondeu, fascinada por aquele homem.
Nos braços dele, Ariella viu a madrugada passar
entre ápices de prazer, intercalados de sussurros safados. Ao contrário do que
deu a entender, Diego não foi bruto nem apressado. Amou-a com firmeza, mas em
nenhum momento mostrou-se menos afetuoso. Ariella estendeu-se sobre seu peito
quando o cansaço tornou-se maior que o desejo e sorriu aconchegada contra o
pescoço dele. Aquele riso tranquilo fez Diego sentir-se bem, era sinal que
estava satisfeita e seguia enredada em suas mentiras.
- É hora de eu ir para o meu apartamento. Tenho
aula...e antes preciso ligar para papai. – Ariella disse vestindo a calcinha.
Aquilo desagradou Diego. E se ela falasse algo e
Afonso resolvesse investigar o homem que saía com sua filha? Qualquer
desconfiança podia protegê-lo de cair no golpe final, mesmo que ele já estivesse
atado a diversas armadilhas.
- Hermosa niña. Mi sol! – Diego disse enquanto os
primeiros raios de sol atingiam os cabelos avermelhados. - Posso te pedir uma
coisa, minha linda?
- Você me chamou de meu sol?
- Sim. Com esses cabelos avermelhados, você pode
ser comparada ao sol. Então? Posso fazer um pedido?
- É claro.
- Não conte a ‘su padre’ sobre nós.
- Por quê?
- É tão lindo o que temos...prefiro manter em
segredo por enquanto. Promete?
- Está bem. Eu não falaria mesmo. Tenho poucos
minutos com papai. Preciso aproveitá-los com o essencial. Agora preciso ir. Verei
você novamente, não é?
- Por muito tempo. Não duvide disso, mi sol.
Feliz, Ariella deixou o hotel e, satisfeito, Diego
começou a trabalhar em seu computador antes de planejar seu próximo passo.
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