Uma semana se passou e quando o final de semana seguinte chegou, Jéssica
embarcou para a viagem no carro de Lorenzo. Antes deixaram Clara na casa de
Emily e Jonas. O coração da mãe já doía de saudade ao abraçar a pequena e
lembrar-lhe que era preciso se comportar.
- Tá bom mamãe. Me traz um presente tá? – Clara
aproveitou para pedir.
- Não é seu aniversário nem nada. – Jéssica brincou
apenas para ver Clara voltar o olhar para Lorenzo. Ela já tinha certeza que o
pai interferiria ao seu favor. – Mamãe está brincando. Você ganhará um presente
sim.
- Quando é o aniversário de Clara? – Lorenzo perguntou
quando deu a partida no carro.
- No dia 13 de maio. Está muito longe da minha menina
completar cinco anos. Portanto, contenha sua vontade de presenteá-la.
- Vamos ver, vamos ver. Coloque o cinto, Jéssica. A
viagem será longa.
Longa e surpreendente para Jéssica. Ela só soube do
destino durante o trajeto. Lorenzo havia programado tudo para ser uma surpresa,
combinada com a ajuda de Emily que liberou sua funcionária por três dias. Eles
chegaram à capital do Paraná às 18hs de sexta-feira. Cedo, porque desejavam descansar.
E Lorenzo tinha seu compromisso profissional, o único do final de semana, às
21hs, num restaurante da cidade.
Quando viu a cidade se aproximar Jéssica soube que teria
um final de semana agridoce. Lindas recordações e também algumas tristezas se
formavam na sua cabeça. Há quatro anos ela fez o caminho inverso ao embarcar
num ônibus para São Paulo e deixar seus pais no passado. O pouco dinheiro que
levava era roubado de Bruno, dinheiro sujo pelo crime. Agora voltava a ver
aquela bela cidade, chegava num carro confortável trazida pelo namorado. Sim,
sua vida estava muito diferente.
- Te trouxe porque imaginei que gostaria de rever
Curitiba. Hoje a noite você vai me acompanhar em um jantar de negócios. Amanhã
e domingo vamos fazer só o que desejarmos, visitar os lugares que você desejar.
- Eu te amo. Já disse isso hoje?
Jéssica ficou mais tranquila ao saber que Lorenzo
realmente tinha uma obrigação profissional e não a tinha trazido ali unicamente
para passear. Ele explicou que uma grande empresa familiar, sediada em Curitiba
e cujo o fundador já tinha idade avançada desejava sua contratação. Mas que o
objetivo ia um pouco além da administração a que se dispunha fazer. Eles não
desejavam um administrador, mas sim um consultor que fizesse uma análise do que
estava errado na companhia. O fundador já não era o presidente, mas participava
do conselho. E via que algo está errado.
- Ele quer que eu faça uma análise para estancar o
problema na administração da empresa. – Explicou Lorenzo quando já estavam no
caminho do restaurante.
- E porque você? Não deveria ser um contabilista a
analisar as contas e registros da empresa?
- Sim, e eu precisarei do trabalho de um. Mas conheço
Fabrício há muitos anos, ele também tem origem italiana. Parte de sua família
vive lá. Ele confia no meu julgamento do que está errado. Então me fez um
pedido pessoal. Além disso, serei muito bem remunerado. Se Fabrício estiver
certo, sua empresa está sendo fraudada, perdendo milhões todos os anos.
Estancar essa sangria financeira é o meu papel e ele será generoso no meu
pagamento.
Assuntos financeiros não agradavam Jéssica. Por isso ela
não se manifestou. Pensava que era bom ver Lorenzo animado profissionalmente,
mas saber que ele ganharia muito dinheiro era fazer crescer ainda mais a
barreira já existente entre eles. Quanto mais rico Lorenzo ficasse, mais a
acusariam de aproveitar-se de seu amor para ter uma vida confortável.
Ainda assim, Jéssica entrou no restaurante disfarçando
qualquer constrangimento. Estava usando um simples vestido estampado com
pequenas flores. Dê mãos dadas com Lorenzo ela atravessou o salão requintado
até chegar a uma mesa onde três pessoas os aguardavam. Lorenzo não teve
constrangimento algum em apresentá-la.
- Fabrício, essa é minha namorada, Jéssica. E, meu amor,
esses são Fabrício e Iolanda, amigos de longa data. E, se eu não estiver
enganado, esse é o seu filho mais novo, Victor. – Lorenzo disse cumprimentando
o rapaz que não tirava os olhos de Jéssica.
- Sim, Lorenzo. Meu mais jovem. Os mais velhos vivem na
Itália, preferiram ficar lá. Apenas Victor e Anabelle ficaram no Brasil.
Pretendo que eles assumam os negócios em poucos anos. A ideia da liderança de
um gestor de fora da família não se mostrou favorável.
- Eu compreendo, Fabrício. E resolvi aceitar sua
proposta. – Lorenzo respondeu.
Logo Lorenzo, Fabrício e Iolanda estavam falando da
empresa e do acordo ao qual precisavam firmar. Jéssica veio para aquele jantar
sabendo que se sentiria excluída. Não gostava do assunto e não desejava se
intrometer. Só não esperava que o filho do maior interessado fosse preferir lhe
dar atenção a cuidar dos negócios.
- Assunto muito chato o deles. Prefiro saber de você. –
Disse ele. – É namorada dele mesmo, Jéssica?
- Sou sim. – Jéssica estava constrangida com os avanços
do rapaz.
Aos 23 anos Victor estava encantado pelo sorriso doce de
Jéssica. E enquanto o futuro de sua empresa era debatido, ele estava mais
interessado em conhecer a jovem acompanhante do amigo de seu pai. Na opinião de
Victor, Jéssica tem beleza e juventude demais para Lorenzo. Por mais que ela se
esquivasse, ele tentava puxar assunto e ganhar sua atenção. Foi assim o jantar
todo. Jéssica não soube dizer se ele estava realmente interessado nela ou se apenas
achava divertido constrangê-la.
Na saída teve sua resposta. Ele não se intimidou ao lhe
entregar o número de telefone rabiscado num cartão. Jéssica surpreendeu-se com
a ousadia. Lorenzo estava ao lado deles, despedindo-se do casal. O que não o
impediu de observar o que ocorria. Ele viu tudo durante o jantar. Apenas evitou
um escândalo por confiar em Jéssica e respeitar a família do rapaz. Mas para
tudo havia um limite e Victor estava bem próximo de ultrapassá-lo.
- Quando o velhote não der conta de você, me liga. Você é
linda demais. – A frase foi dita em tom baixo, mas longe de ser um sussurro.
- Acho bom conter seus hormônios garoto! Ela é linda
mesmo, mas se contenha. Está acompanhada e não precisa do seu telefone. –
Lorenzo disse num tom normal, sem gritar, o que tornava o aviso mais
convincente.
- Calma aí tio...é que a gente até esquece que ela é sua
namorada. – A mão de Victor tocou o braço de Jéssica.
- Victor, por favor, meu filho! – Iolanda chamou a
atenção do filho.
- Mas é. – O olhar de Lorenzo foi certeiro até aonde a
mão do outro tocava Jéssica. – Tire as mãos dela ou eu esqueço de quem você é
filho.
- Está bem, está bem. Não quero briga tio.
Todos deixaram o restaurante e Fabrício ainda se
desculpou pelo comportamento do filho. Nada a que Lorenzo fosse permitir que
estragasse sua amizade com a família ou atrapalhasse o negócio firmado. Mas o
incomodou e fez com que voltasse ao hotel calado, sem o sorriso de horas antes.
Jéssica tentou lhe acarinhar, deu-lhe um beijo e recebeu como resposta um tocar
de lábios frio.
- Lorenzo...aquele rapaz não tem nada a ver com a gente.
- Eu não quero falar disso agora Jéssica.
Ao entrarem na privacidade da suíte do hotel, ela seguiu
direto para o quarto, ele ficou na sala. Jéssica percebeu que Lorenzo não abriu
um vinho, só ficou ali, calado. Isso era bom, afinal ele já havia bebido
durante o jantar, mas revelava o quanto Lorenzo estava abalado. Decidida a
deixá-lo se acalmar, Jéssica deixou-o sozinho. Esperou deitada na cama por 50 min.
E ele não voltou. Então ela lhe enviou uma mensagem no celular.
[Sua garota está com frio e abandonada nesse quarto].
Lorenzo sorriu lendo a mensagem provocadora de Jéssica.
Somente ela pra lhe arrancar um sorriso depois daquela noite desagradável. Havia
se arrependido de levar Jéssica aquele encontro. Ela deveria ter ficado no
hotel. Passou a noite toda tentando atender ao cliente e prestar a atenção no
homem que cobiçava sua mulher. Nunca havia se sentido assim, possessivo, ciumento
e preocupado em perder uma mulher. E a provocação de Victor, a mesma de Bruno e
que certamente poderia se repetir no futuro muitas vezes, tirou-o do sério. Ele
foi para o quarto ficar com Jéssica. Mas seu humor não melhorou ao encontrá-la
com uma lingerie delicada, coberta por uma de suas camisas.
- Preciso te comprar uma camisola. Usa sempre minhas
camisas. – Seu comentário um tanto mal humorado disfarçava o olhar de cobiça
para as pernas longas de Jéssica. – Vou tomar um banho.
- Lorenzo...o que Victor disse é uma bobagem. Uma
mentira. Eu nunca ligaria pra ele, você sabe disso.
- Eu sei. Não tenho dúvidas disso, Jéssica. Meu ciúme é
mais irracional, não importa se você tem ou não interesse em Victor. Ele pouco me
importa.
- Então porque está irritado assim?
- Porque eu não quero que ninguém te olhe, te deseje, te
cobice. Você é minha! Mesmo que ninguém consiga acreditar que seja possível uma
menina linda como você se interessar por um velho.
Lorenzo lhe deu as costas, tirou a roupa e seguiu para o
banheiro. Jéssica ficou olhando-o se despir e, calada, perguntava-se como
aquele homem poderia ser chamado de velho. Não entendia como ele podia estar
inseguro. Ela, ao contrário, jamais se sentiu tão decidida e convicta do que
desejava para seu futuro. Segura, assim que ouviu a água cair no box do
banheiro, Jéssica também ficou nua e foi fazer companhia para seu homem.
- Jéssica! Eu vim só tomar uma ducha rápida. – Ele se
surpreendeu com a ousadia da namorada.
- Eu também. Não vou te atrasar, prometo. – Disse ela
abraçando-se ao seu corpo e deixando a água correr, relaxando-os. – Estou
atrapalhando o seu banho?
- Sua danada! Linda desse jeito e ainda me provoca.
- Provoco? Não foi minha intenção. – Jéssica passou as
mãos ao longo de suas costas enquanto beijava-lhe o peito. – Eu te amo. E eu te
quero demais. Não fica distante de mim pelas bobagens que aquele rapaz falou.
Eu só vejo você. Só existe você pra mim. Faz amor comigo, por favor. Eu preciso
das suas mãos em mim.
- Você quer aqui? No chuveiro?
- Eu quero você em qualquer lugar.
O sexo começou no chuveiro mesmo e continuou pelo quarto
até que Lorenzo finalmente se perdeu nela sobre a cama macia. Normalmente
delicado em seus toques, dessa vez Jéssica acordaria com algumas marcas pelo
corpo deixadas por ele. Foi mais do que amor e paixão, alcançou um sentimento
de posse. Lorenzo exorcizou a lembrança de Victor ou temor por qualquer outro
homem.
- Você me faz tão feliz menina. Eu me sinto mais jovem a
cada dia. Estou me sentindo um guri, um piá. Apesar dos meus 45 anos recém
completados.
- Quando foi o seu aniversário?
- Dias antes de te conhecer. Você foi meu presente. O
mais lindo presente que eu poderia ter ganho. – Ele a beijou nos lábios
novamente e aconchegou-a contra o seu peito para dormir. – Vamos descansar.
Amanhã o dia será longo.
Um final de semana agitado era mesmo o que Lorenzo
planejou. Não só para eles como, também, para Jonas e Emily. Em São Paulo o casal
dividia-se entre cuidar de Clara e Vida, além do menino que crescia no ventre
de Emily. Não era uma tarefa fácil. Jonas e Emily passaram a manhã de sábado
num parque cheio de verde e ar puro. Enquanto Emily deixava sua barriga redonda
pegar um pouco de sol e observava vida em seu cestinho, Jonas empurrava Clara
no balanço da pracinha. E a menina ainda tinha uma lista de brinquedos para ir.
- Vem na gangorra comigo tio Jonas! – gritou ela correndo
em direção ao outro lado da praça.
- Meu Deus! Como Lorenzo dá conta? – Surpreendeu-se
Jonas.
À tarde foram lanchar no shopping. Jonas acreditava que
uma casquinha de sorvete faria Clara ficar sentada por algum tempo. Mas não. Os
corredores largos e as vitrines luminosas tinham muitos atrativos. Emily bem
que se ofereceu para ficar com a menina, mas Jonas garantiu que era desnecessário.
Preferia manter Emily descansando enquanto ele cuidava de Clara.
- Cansado? – Emily provocou-o quando finalmente foram
para casa e Clara dava sinais de sono.
- Exausto. Mas é um bom treino. Vamos suar para dar conta
dos nossos.
- Vamos mesmo. Olhe Vida enquanto dou banho em Clara e a
coloco na cama, sim?
- Deixa comigo. Eu e Vida vamos ver o jogo de futebol
juntos.
Quando finalmente tiveram o apartamento só para si, Jonas
cumpriu seu ritual de cada noite junte de Emily. Colocou uma música suave,
preparou algo para beliscarem, abriu um vinho para si e preparou o chá de
Emily. Quando ela chegou na sala estava de banho tomado, cheirosa e linda numa
camisola que marcava sua barriguinha já bem aparente.
- Será que agora eu tenho um pouquinho do meu homem?
- Tem. O pouco que sobrou dele. – O beijo que Jonas lhe
deu estava muitos graus abaixo do esperado por Emily. – Seu chá está pronto.
- Obrigada. – Ela foi caminhando e mostrando as curvas à
sua frente. – Vá tomar seu banho.
Emily tinha alguns planos para a noite. Jonas estava
receoso de fazer sexo desde o início da gestação. Primeiro era por medo de um
aborto nas primeiras semanas. Depois dizia que isso podia trazer de volta suas
cólicas. E agora ele dizia que ela andava cansada pelo peso da barriga e
precisava de repouso. Emily já havia perdido a paciência.
- Eu quero sexo Jonas. Falei com Leonor de todos os seus
temores. E ela me liberou. – Emily foi bem direta ao ver Jonas voltar para sala
e pegar sua taça. – Eu quero.
- Nós podemos esperar....
- Não, não podemos. Eu quero transar! Fui clara o
bastante Jonas Vicentin?
- Por favor, Emily. Eu estou cansado. Corri atrás de
Clara o dia todo.
Emily observou-o por alguns minutos. A mentira estava em
seus olhos. E ela não demorou a explodir. Estava grávida, tinha seus desejos e
seu marido tinha o dever de satisfazer. Isso ia muito além de guloseimas
estranhas. Mesmo assim, correu até o freezer e abriu um pote de sorvete de
chocolate.
- Acabou de beber chá e vai comer sorvete? – Jonas
recriminou-a.
- Vou. Sorvete é o melhor amigo das mulheres mal amadas!
Não sabia? E depois vou procurar um vibrador!
- Você tem um vibrador?
- Não, não tenho! Ainda! Mas agora que o meu homem não me
deseja mais eu terei de adquirir um!
- Não te desejo? – Jonas arregalou os olhos. Nada poderia
ser mais absurdo.
- Sim! Só porque estou gorda e com o peito inchado e te
encho de pedidos idiotas por desejos malucos e choro por qualquer coisa e....
- Emily para!
- Não paro! Se não me quer mais seja homem para dizer e
não fique mentindo que está cansado de mais pra me atirar na cama e me amar.
Antes você trabalhava o dia todo no sul, pegava um avião e vinha dormir comigo.
Agora faz doce! É porque eu estou feia sim! Mas se não me quer fale de uma vez.
E vá transar com aquela cobra da sua sócia! Aposto que ela está lá sem nenhuma
gordura fora do lugar!
- O que a Juliana tem com essa conversa? Você está louca?
- Claro! Agora além de gorda e feia, sou uma louca! Isso
Jonas, me acuse de mais alguma coisa!
- Eu não disse nada disso! Você está linda como sempre.
- Não estou. Sei que engordei muito. Leonor já me disse.
A minha barriga já está gigante!
- Sua barriga está linda.
- Então porque não me quer? Não venha dizer que é cansaço
porque não é! Quando eu era gostosa você não ficava cansadinho!
Ele queria, desejava muito. Seu cansaço não era
mentiroso, ao contrário. Nunca pensou que uma menininha de quatro anos corresse
tanto, mas vinha evitando Emily apenas para preservar a gestação. Assim, sempre
que ela o procurava na cama ele dava uma desculpa. Isso nada tinha a ver com
achar a esposa feia ou não. Ela havia sim engordado e ganho uma barriguinha bem
redonda rapidamente. Isso, porém, deixou-a muito linda. Parecia mais
convidativa agora, farta, feminina.
Para provocá-lo, Emily tirou a camisola na sala mesmo.
Desfilou de calcinha e sutiã na sua frente. Eram peças de gestante. O sutiã
reforçado para suportar o peso dos seios pesados de leite. A calcinha maior
abraçava seus quadris largos e mostrava a barriga avantajada. Emily estava
realmente bastante redonda para os quatro meses de gestação. Um deslumbre aos
seus olhos. Nunca esteve tão feminina e tão sexy.
- Vai me negar o amor de que eu preciso? – Ela o
provocou.
Jonas não conseguiu resistir. Colou seu corpo ao da
esposa e beijou-a antes de pegá-la no colo e levá-la ao quarto. Emily conseguia
enlouquecê-lo completamente vestida, assim, desfilando nua colocava-o louco
rapidamente. Ele estava duro, cheio de tesão e bem disposto em agradá-la. Mas
ainda apreensivo em não ferir Emily de nenhuma forma. Pretendia ir com muita
calma.
Emily tinha outras ideias. Assim que chegaram ao quarto
Emily abriu a calça usada pelo marido e tomou-o com as mãos. Maravilhou-se ao
constatar a prova do seu desejo. Jonas a queria, ainda sentia tesão por seu
corpo e ela garantiria que seria assim para sempre.
- Viu sua boba? Eu vou te amar pra sempre. Não tem como
ser de outra forma.
- Então não me afasta. Eu preciso do teu toque, das tuas
mãos. Eu estou ótima e liberada para sexo.
- Está bem. Daqui para frente não vou mais me afastar. E
você não irá comprar um vibrador.
- Quem precisa de vibrador quando tem isso? – Enquanto
falava Emily o acariciava e garantia que ele não desistisse.
Só após gozar Emily relaxou. Precisava disso. Precisava
de Jonas. E precisava garantir que ele perdesse definitivamente aquele medo de
tocá-la. O bebê estava bem, ela enfrentava suas dificuldades, mas sobreviveria,
sempre sobrevivia. Seu corpo dependia de Jonas Vicentin como se estivesse
viciado e precisasse de doses diárias para manter-se vivo.
- Melhor agora? – Jonas brincou acariciando-a.
- Muito melhor. Eu me sinto completa assim. Você me
completa. – Ela voltou a lhe beijar. Dessa vez com mais carinho do que paixão. –
Nós te amamos muito. Eu e o Júnior.
- Júnior?
- É...Jonas Vicentin Júnior...o que você acha?
- Prefiro algo diferente. Pra ele ter uma identidade só
dele. Vamos pensar em alguma coisa?
- Pode ser. Mas temos outra coisa mais urgente para
pensar.
- O que?
- O batizado de Vida. Ela ainda não foi batizada. É
urgente! Será aqui ou no sul?
- No sul, para os meus avos não precisarem voar
novamente. Só que eu tenho compromissos aqui nas próximas semanas. Só posso ir pro sul daqui quatro finais de
semana e aí não sei se você poderá viajar. Já terá completo cinco meses de
gestação. - Ele disse erguendo-se da cama.
- É claro que poderei. Vou organizar tudo com sua mãe
para o mês que vem então. Aonde você vai?
- Vou olhar se Vida e Clara estão dormindo bem. Durma, eu
já venho.
- Esta bem...mas...Jonas...já que você vai sair...pode passar
na cozinha e me trazer um sanduíche? – Ela viu Jonas rir. – Não ria. Eu e
Júnior estamos com fome. Gastamos muita energia.
- Está bem. Já trago seu lanche. Fique deitada.
Jonas aproveitou o intervalo no apetite sexual de Emily e
saiu sorrindo pela casa. Todo aquele sexo foi bom para deixá-lo relaxado. Há
dias aquele desejo acumulado vinha deixando-o Ao conferir o celular, percebeu
que precisava responder a mais uma mensagem de Lorenzo. O irmão parecia estar
muito feliz em seu final de semana romântico, mas ansioso por notícias da
filha.
[Ela dorme feito um anjo junto de Vida após me dar um
canseira de tanto correr no parque. Foi um ótimo treino. Não sei como irei me
virar com dois assim. Aproveite seu final de semana tranquilo].
A mensagem acalmou os corações ansiosos de Jéssica e
Lorenzo. Eles haviam passeado pelo dia todo. Foram em vários parques e no local
favorito de Jéssica na cidade, a Ópera do Arame. Caminhar de mãos dadas com
Lorenzo e esquecer que havia alguém olhando-os foi delicioso. Jéssica estava
aprendendo a não ligar para a opinião dos outros.
- Essa cidade é linda. Sempre tem algo de bonito para
ver. – Jéssica disse para Lorenzo enquanto eles entravam em um restaurante. –
Tanto que apesar de ter vivido aqui, não conhecia esse lugar.
- É porque você era muito jovem quando foi embora. Eu
conheci esse lugar quando vim com amigos, há alguns anos. Também por algum
fechamento de negócios. É um lugar muito bem frequentado.
Lorenzo tinha muitos conhecidos em Curitiba. Veio à
cidade pelo menos duas vezes por ano por um longo período enquanto Jonas ainda
cursava a faculdade de engenharia. Naqueles anos, ele acumulava muito trabalho
e gostava disso por ainda viver intensamente o luto por Alice. Depois, quanto
Jonas se formou, mudou-se para São Paulo e assumiu a responsabilidade das
vendas fora do RS, ele concentrou-se na administração local e nos
investimentos. Anos depois, quando passaram a exportar parte da produção, Jonas
assumiu o comércio externo, ele passou parte da administração local para Milena
e voltou a dedicar-se a alguns contratos nacionais.
Milena, formada em turismo, passou a investir em uma
renda alternativa para a família e convenceu-os a abrir a vinícola para o
chamado ‘turismo rural’. Se inicialmente ele foi contra, logo acabou
rendendo-se ao sucesso do negócio e, também, pela realização pessoal de sua
irmã que não desejava trabalhar com contratos nem na terra. Ela dizia gostar de
gente e por isso amar e investir no turismo. Ela provou ser possível e
conquistou sua independência financeira.
Todo esse apoio familiar permitiu que Lorenzo reduzisse
sua carga de trabalho nos últimos anos e agora ter tempo para abrir uma nova
empresa, vindo para São Paulo. Algo que às vezes até se arrependia. Não a
viagem, mas a nova ocupação. Pensava que se não fosse isso, poderia passar seus
dias com Jéssica. Mas aí lembrava-se que Jéssica também trabalhava, não tinha o
tempo livre e então voltada a investir na empresa. Eles teriam de aprender a
conviver com suas diferentes carreiras. Agora com ela e Clara morando em seu
apartamento já era bem mais fácil. Mas ainda havia mais, muito mais, para
aprofundar aquele relacionamento.
Quando os pratos chegaram Jéssica e Lorenzo estavam com
muita fome. Comeram quase em silêncio,
mas os olhares seguiam conversando e uma das mãos de Lorenzo por vezes
acariciava a de Jéssica ou alisava seu rosto. Quando o garçom se aproximou surpreendeu
Jéssica. Ela não viu quando Lorenzo o
chamou.
- Prontos para a sobremesa, Senhor?
- Eu não... - Jéssica tentou dizer que não queria doce.
Só tentou.
- Sim, prontos. Pode trazer.
O garçom se retirou, mas antes fez um sinal e quase que
como mágica a trilha sonora mudou. Ao fundo agora se ouvia uma música
romântica, muito suave. A mente de Jéssica foi ao mundo dos sonhos e voltou
para a realidade quando Lorenzo ergueu-se da cadeira e veio até a sua frente.
Foi como se todos no restaurante se virassem para ver o casal e vissem aquele
homem ajoelhar-se, confiante, para dizer as palavras mais lindas que ela
poderia ouvir na vida.
- Quando um homem conhece a mulher da sua vida ele não
deve perder tempo. Quando um homem da minha idade conhece a mulher da sua vida
ele não pode perder tempo. Você é aquela que me faz feliz, que me completa, a
dona do sorriso que faz disparar meu coração e do único olhar capaz de me
acalmar. Então eu não vou perder mais tempo. Jéssica, você aceita se casar
comigo?
Jéssica teve certeza que aquilo foi combinado quando o
garçom voltou trazendo a sobremesa. Os doces eram sugestivos ‘Bem Casados’. O
dela dentro de uma caixinha. E junto dele um anel de noivado.
- Eu ainda estou esperando a resposta, Jéssica. E meu
joelho já está doendo. Você aceita ser minha esposa?
Jéssica olhou-o como se não acreditasse. É claro que
aceitava. Teria dito sim se ele simplesmente perguntasse ao acordarem pela
manhã. Mas ele fez do momento algo mágico e agora ela chorava.
- Sim. Claro que sim. Eu te amo. – Ela respondeu e ele
pôde enfim colocar o anel no dedo da noiva.
Lorenzo selou o momento com um beijo e os demais clientes
do restaurante aplaudiram aquela cena de amor. Eles formaram um casal incomum e
belo. O amor estava ali para quem tivesse a grandeza de ver além de números e da
aparência.
- Eu te amo. – Lorenzo disse entre um beijo e outro.
- Também te amo, meu noivo. – Jéssica respondeu
rapidamente antes de voltar a beijá-lo.
Aquela noite mágica acabou em amor, não poderia ser
diferente. Ao contrário da véspera, foi muito mais uma troca de carinho do que
de paixão, um amor calmo e sereno que culminou com eles relaxados conversando
na cama.
- Na nossa próxima ida ao sul, vamos ver a arquiteta que
reformará nossa casa. Você dirá a ela tudo o que deseja mudar. Vamos preparar o
quarto de Clara e deixar o nosso mais arejado.
- Você fala pra ela o que deseja! Não eu.
- Você, Jéssica, será a dona da casa. Mesmo que nós não
moremos lá por muito tempo no ano, quando viajar, quero que se sinta em casa. No apartamento não
sei se farei reforma. Se você quiser, nós compramos uma casa maior com pátio
para Clara brincar.
- Podemos ir com calma, Lorenzo? Eu não sei se...se me
acostumarei logo com isso de arquiteta, casa, apartamento...é demais pra mim.
- Calma? Está bem. Eu falo com a arquiteta. Mas tem que
me prometer que se não gostar de algo vai falar. É a sua casa.
- Está bem.
- E o casamento? Como você quer? Eu já me casei na
igreja, mas podemos ter uma benção na vinícola, se você quiser. Ou pode ser em São Paulo. Pode
ter uma festa interminável ou ser algo mais simples. E a lua de mel pode ser só
nossa aqui perto ou poderíamos levar Clara junto e ter uma viagem mais longa.
E...
- Calma Lorenzo...vamos com calma. Deixa-me curtir a
ideia de ser sua noiva um pouquinho. Não precisamos correr tanto.
- Está bem. Estou ansioso pra gritar pro mundo que você é
minha mulher. Mas posso esperar mais alguns poucos meses. Não mais do que isso.
- Eu ainda nem acredito. – Ela deitou sobre o seu peito.
– O que a gente vai fazer amanhã?
- Temos de pegar a estrada de volta logo após o almoço. E
pela manhã você decidirá.
Jéssica pensou em uma coisa que precisava fazer. Estavam
na cidade de sua antiga casa, bem próxima daquele hotel. Ir procurar seu pai e
sua mãe deveria ser natural. Não era. Ficou um tempo pensando nessa
possibilidade.
- Eu gostaria de ir ver minha família. Pode ser?
- É claro. – Ele esperava isso dela. - E eu quero pedir a
sua mão oficialmente. – Isso soou muito tradicional e Lorenzo riu da expressão
dela. – Não ria. Essa é a tradição. E eu gostaria de mantê-la.
- Eu saí de casa grávida aos 18 anos, Lorenzo. Não tem
mão alguma para o meu pai te dar a essas alturas.
- Eu quero pedir. – Para ele era simples assim.
Jéssica demorou para dormir. Estava preocupada com a
forma como seus pais iriam recebê-la. Às 10h37min ela apertava a campainha da
casa onde cresceu. Lorenzo surpreendeu-se com a bela residência. No íntimo ele
rechaçava qualquer tentativa de gostar dos sogros. Enquanto eles viviam bem e
com todo aquele conforto, Jéssica passava fome com a filha. Isso não era
família. Mesmo assim, obrigou-se a ser simpático quando uma jovem senhora abriu
a porta.
- Você! – Havia tantos sentimentos diferentes na voz que
Jéssica não soube se surpresa ou raiva se destacavam. Havia amor naquele olhar,
mas ele não se refletia em atitudes.
- Eu, mãe. Jéssica, caso você tenha se esquecido do meu
nome.
- É claro que eu não esqueci. Uma mãe nunca esqueceria o
nome da filha. Mesmo uma filha...
- Mesmo uma filha como eu. Tudo bem, pode falar. Eu não
ligo. Não mais. Eu posso entrar um vai nos deixar na porta?
A senhora pela primeira vez olhou atentamente para o acompanhante
da filha. Não sabia quem era, mas a mão dele em suas costas lhe dizia que eram
muito íntimos, mesmo com a grande diferença de idade. Ela não soube o que
pensar. Ao menos não era aquele criminoso que a tinha feito sair de casa.
- Entrem. Mas terá de ser breve. Seu pai chega em menos
de uma hora para almoçar.
- E então eu devo estar longe para ele não ter o
desprazer de me ver? Não ter indigestão? É isso?
- Foi você quem quis sair das nossas vidas. Não culpe eu
ou seu pai. O culpado tem outro nome.
Lorenzo não esperava por uma relação tão destroçada. Havia
uma magoa tão profunda na mãe de Jéssica. Eram mãe e filha e não trocaram nenhum
abraço, nenhum beijo. Ele não se imagina chegando à casa de seus pais e não ser
recebido com afagos. Não importa o tempo ou a forma como se afastaram, elas
eram mãe e filha. Além disso, olhava pela sala e não via nenhuma foto de
Jéssica. Ela não existia naquele lar. Lorenzo interrompeu-as antes que
iniciassem uma briga.
- Jéssica, acho que você tem de me apresentar para sua
mãe.
- Está bem. Está é Laura, minha mãe. E mãe, esse é meu
namorado Lorenzo.
- É um prazer conhecê-la, senhora. Na verdade Jéssica se
equivocou. Sou o noivo dela. Vamos nos casar em breve.
Laura o observou em silêncio por algum tempo antes de responder.
Lorenzo se preparou para ouvir algum comentário desagradável questionando o
fato de terem idades muito diferentes. Mas o pensamento de Laura estava muito
distante disso.
- Casar? Bom, que sejam felizes. Você me parece um homem
direito, um homem de bem. Alegra-me ver que Jéssica enfim tomou juízo. – Ela
voltou a olhar para a filha. – Você saiu daqui dizendo que estava grávida. Era
mentira?
- Não. A mais pura verdade.
- E o que você fez da criança?
- O que fiz? – Doeu em Jéssica ouvir aquela pergunta. – O
que espera que eu diga, mãe? Que matei, que joguei na lata de lixo? Não. Para
sua surpresa, eu a crio. Você tem uma neta saudável de quatro anos. Chama-se
Clara.
- Clara? O nome da sua avó. – Laura enfim manifestou
algum sentimento.
- Pra você ver como eu não esqueci o sangue que tenho nas
veias. – Ela olhou em volta e percebeu o que Lorenzo viu assim que entrou. –
Havia fotos minhas ali naquela parede. Você tirou todas.
- Era doloroso para o seu pai olhar para elas. – Foi a
explicação de Laura.
- Se eu seguir por aquele corredor e chegar ao meu quarto
vou encontrar a mesma coisa? Vocês jogaram tudo fora?
- Não havia porque guardar depois que você resolveu ir
morar com aquele rapaz. – Laura olhou para o relógio. – Seu pai já vai chegar.
É hora de ir embora. Adeus Jéssica. Espero que seja feliz em seu casamento.
Agora vá, por favor.
Lorenzo viu Jéssica caminhar até a porta e pensou que ela
iria embora. Mas sorriu ao vê-la dar uma demonstração de força. Ela apenas
bateu a porta, ficando lá dentro, de cabeça erguida.
- Eu vou esperar o coronel Henrique. – Jéssica avisou. –
Meu noivo quer pedir a minha mão em casamento.
- Jéssica, por favor. Seu pai nunca te perdoou...
- Eu sei! Mas está na hora dele parar de agir como se eu
estivesse morta. Posso não ser a filha que ele queria. Mas sou a única que ele
tem. – Jéssica se sentou no sofá da sala. – Vou esperar por ele.
Quando Henrique entrou em casa, chegou a empalidecer. Há
mais de quatro anos não via a filha. Lá no fundo sentiu algo bom ao vê-la,
saber que estava bem, estava viva. Mas nada disso fez derreter em seu coração o
gelo formado pela sensação de traição que sentiu quando ela abandonou a família
para viver com um bandido.
- Saia dessa casa. Agora. Não quero vê-la. Não quero
ouvir uma palavra sua. – Ele gritou assim que saiu do choque.
- Não será dessa vez que irei obedecê-lo, Coronel. Devo
bater continência ou o senhor enfim entendeu que não sou um dos seus soldados?
- Diga o que quer. Está precisando de alguma coisa?
- Não pai. Não preciso de nada. E se precisasse, não
pediria para o senhor. – Não pediu mesmo quando não tinha nada.
- No dia em que você deixou essa casa para ir seguir um
vagabundo eu lhe avisei que estava abandonando a família e deixando de ter pai
e mãe. Você foi assim mesmo. Saiu por essa porta com um filho dele já na
barriga. Pois faça o mesmo agora. Saia.
Jéssica observou-o. Lembrava-se de cada briga.
Arrependia-se de não tê-lo ouvido em várias delas. Mesmo assim, não estava
disposta a obedecer dessa vez. O coronel teria de ouvir até o final porque não
sabia se um dia teria a chance de vê-lo novamente.
- Mãe, porque não oferece um café para o Lorenzo na
cozinha. Eu e o papai vamos conversar um pouco.
Lorenzo não gostou daquela sugestão. Foi para a cozinha
com Laura, preocupado com como aquela conversa iria se desenrolar. A mãe de
Jéssica serviu duas xícaras da bebida quente e o convidou a se sentar.
- Não se preocupe com ela. Nem nas piores brigas Henrique
lhe deu um tapa sequer. E não foram poucas. – Eles estavam frente a frente. E
Laura resolveu conversar. – Você deve nos achar péssimos pais. Pessoas capazes
de abandonar um filho. Mas não sabe o que é perder um filho para um criminoso.
- Tem razão. Não concordo com a forma como resolveram
isso. Ela precisava de apoio. – Lorenzo respondeu. – Não é abandonando um filho
que a família o ajuda.
- Você os tem, Lorenzo?
- Não.
- Então não julgue o que não sabe. – Laura afirmou.
- É. Eu não sei. – Ele estava irritado demais para ouvir
calado aquela mulher. – Mas eu sei que a sua neta passava fome e a sua filha
trabalhava de sol a sol para lhe dar o básico. Então, ao que me parece, a
senhora e o seu marido também estão julgando o que não sabem.
Enquanto isso, na sala, Jéssica lembrava ao pai que não
estava ali para lhe pedir nada. Queria vê-los, ouvi-los e, talvez, iniciar uma
relação. Mas ele parecia não querer nada daquilo. Agia como se ela realmente
estivesse morta.
- Eu trabalho, pago minhas contas e crio minha filha. Não
é o bastante? Será que não pode me perdoar pelo que fiz aos 18 anos? Tem que
passar a vida me castigando por isso?
- Não! Não é o bastante! Porque fazer um trabalho
medíocre para criar uma criança filha de um vagabundo, criminoso, não é o
bastante! Não quando eu passei uma década pagando os melhores colégios pra
você! Era para você estar cursando os últimos semestres de medicina.
- Eu não queria ser médica, pai.
- Não! Quis ser mulher de traficante! Eu apostava tudo em você. Era o meu orgulho.
E pra que? Se apaixonar pelo primeiro bandidinho que apareceu, fazer um filho
com ele e ir embora de casa!
- O que você esperava que eu fizesse? Teria deixado eu
criar meu filho aqui?
- É claro que não! Você faz um filho com vagabundo e eu
iria criar? Onde está o garoto? Certamente não é o homem que está na minha
cozinha.
- Não. Eu e Bruno brigamos dois meses depois que fui
embora de casa. Eu fui morar em São Paulo. Aquele é o Lorenzo. Ele é meu noivo.
Veio pedir a minha mão em casamento.
- E ele aceita o que você já fez na vida? – O desdém na voz
do pai a machucou profundamente. – Parabéns garota. Teve a sua segunda chance
na vida. Veja se não jogue essa fora.
- Pai...
- Não. – Henrique cortou-a. – Eu não vou esquecer o que
você fez. Não adianta. Eu nunca te coloquei pra fora dessa casa. Você saiu com
suas pernas.
- Eu não estou pedindo pra voltar! Só...só quero...que
pare de agir como se eu não existisse.
- Aquela menina que eu criei não existe mesmo.
- Jéssica! – A voz de Lorenzo interrompeu a discussão. Já
tinha desistido de conversar com aquele homem. – Chega. Vamos embora. Se o seu
pai prefere morrer sozinho nessa casa ao invés de ter uma família de verdade,
deixe-o aí. Não faltam avos para Clara.
Jéssica ouviu o noivo e saiu sem se despedir dos pais. O
encontro não poderia ter sido mais frustrado. Ela saiu chorando. E deixou a mãe
também em prantos.
Laura trancou-se em seu quarto e pegou do fundo do roupeiro
uma caixa. Ali dentro ela guardava as fotos da filha. Tirou das paredes, mas
não conseguiu jogá-las fora. Sentiu a falta da filha em cada um daqueles dias.
Agora a caixa tinha mais um item. Um cartão de visita com o nome de Lorenzo
Vicentin e um número de telefone. O noivo de sua filha saiu dali descontente,
condenando-os como pais. E lhe deu o telefone como última tentativa, caso eles
quisessem falar com a filha.
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