Mozz deixou a casa dos Burke
cabisbaixo, mas decidido. Amava Sophia desde que a conheceu. Era uma menininha
esperta, inteligente e carente de amor. Exatamente como ele fora naquela idade.
Jamais disse para Elizabeth, mas, caso ela não tivesse convencido Peter a
adotar Sophia, ele mesmo teria se oferecido. Não que o governo dos EUA fosse
dar a guarda de uma criança para alguém como ele. Teria de dar o seu jeito...e
conseguiria. Assim como, agora, Sophia não seria retirada de Elizabeth. Esse
era o terceiro lar daquela criança. Ela merecia pais bons e amorosos como Ell e
Peter. Toda a criança merece. Até mesmo ele. Só que no seu caso não foi assim.
Não
sabia exatamente onde nasceu ou quem eram seus pais. Sua história, segundo lhe
contaram, começou ao ser deixado na porta de um orfanato. Ficou ali até os sete
anos de idade. Bons tempos. Fazia o que desejava, tinha tudo o que precisava
garantido e não precisava de nada fora daqueles muros. Até um homem levá-lo. Já
tinha visto-o. Ele vinha, brincava com as crianças, lia histórias, trazia
presentes. Parecia um cara legal. E resolveu adotá-lo. Era alguém em quem os
juízes pareciam confiar. Um engano.
Seu
nome era Victor. Era o que os policiais chamavam de ‘pior tipo de criminoso’
porque não parecia enganar ninguém enquanto passava a perna em todos. Mas não era um
homem cruel. Apenas tinha prazer em trapacear e enganar. E não amava ou se
apegava a nada nem ninguém. Victor percebeu naquele menino de sete anos algo de
diferente. Já era muito mais esperto do que as outras crianças, até as mais velhas.
Victor viu inúmeras possibilidades com Mozz. Aquele menino poderia lhe render
dinheiro em muitos golpes.
-
Venha comigo, Mozz. Vou te ensinar uma coisa! – Ele dizia todas as manhãs. E
logo eles estavam ficando com o dinheiro de alguém.
Começou
com coisas pequenas. Pegou muitas carteiras de velhinhos nas praças. Afinal
eles nunca desconfiavam de um menino tão pequeno. Também limpava o caixa das
lojas enquanto Victor distraía o vendedor. E foi com Victor que aprendeu a
trapacear nos jogos. Era fácil para Victor ganhar nas cartas quando uma criança
espiava o jogo do concorrente e lhe dizia por sinais qual jogada fazer.
Aos
15 anos já estava envolvido em coisas maiores. Falsificações de dinheiro
passaram a lhe render muito. E eram também mais arriscadas. Ele aprendeu a
escapar da polícia e manter-se à sombra.
-
A melhor fama no nosso meio é não ter fama. – Era uma das lições preferidas de
Victor.
Depois
disso envolveu-se em grandes golpes. Falsificou dólares quase perfeitos. Esteve
em famosos assaltos a grandes redes de joias. E também roubos a bancos. Sempre
sendo a inteligência do grupo. Não costumava se arriscar no operacional, ficava
na espreita. Victor não. Ele era mais afoito e gostava da linha de frente.
Morreu num assalto quando Mozz tinha 19 anos. Foi estanho. Passaram mais de uma
década juntos. E não firmaram um laço de afeto, de família. Victor ensinou
muito a Mozz e lucrou com isso. Foram parceiros. Nada mais do que isso. Depois
Mozz passou 15 anos trabalhando sozinho ou com comparsas temporários. Até
encontrar Neal Caffrey. E ver naquele jovem inteligente, e um tanto confuso, um
pouco dele mesmo. Ensinou muito a Neal, mas, ao contrário da sua relação com
Victor, eles firmaram uma relação de afeto. Hoje sentia que tinha uma família.
Deixando
as recordações de lado, Mozz foi pesquisar sobre Patrícia e Talles Harris.
Poderia ter feito isso sozinho, mas optou por chamar uma antiga amiga. Anne,
uma hacker experiente, apesar da juventude, capaz de vasculhar arquivos
secretos do governo sem deixar rastro. Ela era no meio virtual o que ele
representava no real. Não haviam barreiras. Sem falar na longa amizade deles.
Anne não lhe negava ajuda.
-
Diga, Mozz. Qual travessura faremos hoje?
-
Para você, coisa fácil. Preciso de um dossiê de Patrícia e Talles Harris. O
mais completo que puder. Desde suas carteiras de vacinação, passaportes, sigilo
telefônico e bancário, além de seus registros de imposto de renda.
-
É simples. Para quando precisa?
Essa
era uma pequena dificuldade. Ele tinha pressa e Anne não gostava de trabalhar
sob pressão.
-
Ainda hoje. – O olhar de Anne o fez se explicar. – É para salvar uma menininha que
acaba de completar sete anos.
-
Está bem. Eu consigo. Mas você terá de me contar isso tudo, em detalhes. Agora
pegue o seu computador e venha me ajuda.
Peter
pretendia passar o dia todo com Elizabeth, acalmando-a. Era domingo e não
precisava ir até o FBI. A menos que algo de muito fantástico ocorresse. E foi
exatamente o que aconteceu. A mais famosa joalheria da cidade foi roubada da
forma mais espalhafatosa possível. O ladrão usou explosivos para destruir a
porta traseira, aproveitando-se de que o local estava fechado. Levou milhões em
joias e, em especial, um Diamante Vermelho, o mais caro no mundo. É uma peça
rara, de valor quase incalculável e que o dono da joalheria não estava disposto
a perder.
Peter
e a equipe foram chamados para ajudar na investigação. Num domingo a tarde,
ninguém ficou muito satisfeito. Ao menos parecia haver chance de recuperar a
pedra. O ladrão tinha deixado pistas. O estranho naquela história era o excesso
de indícios. O ladrão aparecia nas filmagens de segurança.
-
Isso está simples demais. – Peter tinha medo de estar deixando algo passar. –
Ele podia ter arrombado a porta silenciosamente. Mas não. Usou explosivos. Por
quê?
-
Para nos provocar. – Diana respondeu.
-
O ego dos criminosos anda exaltado. – Peter concordou. – Explosivos? É, bem
chamativo.
-
É o Carter! Eu o ouvi falar nesse diamante. – Neal recriminou-se por não pensar
nisso antes. – Diamante. Ele falou no diamante e num nome também. Mas qual?
-
Por favor, Neal. Lembre-se. – Rachel apertou sua mão.
-
Yuri. É, isso. Ele tentava convencer um tal de Yuri a roubar um diamante.
-
Henrique, busque nos arquivos alguém nesse perfil, por favor. E Diana, chame a
psicóloga novamente. Acho que agora ela tem mais elementos para nos dar um
perfil completo de Thomas Carter.
-
Está bem, chefe.
Anoitecia
e todos estavam reunidos na sala de conferência, junto a médica que tentava
lhes dar uma visão mais clara de quem é Thomas Carter. Agora ele mostrava ser
vaidoso e ter uma tendência a provocar, exibindo-se. Mas para isso ele estava
aproximando-se do fogo cada vez mais.
-
É um homem muito inteligente e frio. Eu diria que ele vê a vida como um jogo de
xadrez. Não importa quantas peças tenha de derrubar para alcançar o resultado
final, ele derruba uma a uma. – Disse a médica, especialista em psicologia
forense.
-
Dispensando a análise novelesca, Doutora, temos como antever suas ações? – Rachel
cortou-a.
-
Difícil. – Ela ouviu suspiros decepcionados de todos. – Ele está acuado. E me
parece claro que já não toma atitudes tão planejadas. Mas isso não o torna
menos perigoso. Agora posso afirmar com certeza de que se trata de um psicopata.
Pela forma como usa as pessoas a sua volta e evita sujar as próprias mãos. Mas
isso não significa que não pegue em armas, se necessário.
-
Isso eu já descobri sozinho, Doutora. – Neal disse. Ele tentou me acertar.
-
Não, meu jovem. Se homem gosta de perfeição. Eu aposto em alguém que atira com
precisão. Se quisesse lhe acertar uma bala, seria fatal.
Rachel
sentiu o coração disparar apenas em ouvir aquilo. Carter não teria nenhuma
chance de acertar Neal. Bem arrumada e delicadamente maquiada como estava,
ninguém desconfiaria dos seus pensamentos. Mas ela não tinha problemas em
externá-los.
-
Quando eu encontrar Carter ele saberá o que é um tiro em precisão. – Ela disse
em voz alta e todos se voltaram a ela, inclusive Neal.
Logo
depois, porém, seu celular tocou e ela deixou o assunto de lado. Era June
avisando que a pequena Helen estava choramingando e não queria dormir sem mamar
no peito da mãe. Um sorriso adocicado tomou o rosto de Rachel. Em segundos ela
era outra mulher. E mais uma vez Peter perguntou-se quem ela era na realidade.
Como era possível aparentar naturalidade ao ameaçar alguém de morte e logo
depois sorrir de forma angelical ao telefone.
Sem
nada poderem fazer naquele momento, Neal e Rachel foram para casa. Peter também
logo iria, deixando Diana e Henrique adiantando as coisas para, na manhã
seguinte, irem novamente caçar Thomas Carter. Agora com um novo parceiro. Antes
de sair, porém, Peter tinha algo a perguntar para a psicóloga.
-
Qual análise pode fazer dela? Frieza e Inteligência também me parecem
características da minha consultora. – Mas estranhamente ela não se parecia em
nada com Carter, Peter reconhecia.
-
Não. Sr. Burke. A sua consultora está longe da frieza, talvez seja o oposto. É
uma mulher extremamente emocional. Sua natureza é quente, apesar dela tentar
segurar essa característica e não demonstrar.
-
Mas isso pode ser ainda mais perigoso, não?
-
Sim, pode. Mas ela tem outra grande diferença de Carter. Ambos diferenciam o
certo do errado. Mas Rachel deseja ficar do seu lado, Agente Burke. Seja pela
família ou pelo seu instinto, ela encontrou a felicidade aqui e não fará nada
para desperdiçar isso.
Peter
foi para casa mais tranquilo. Ele reconhecia a necessidade de parar de esperar
sempre o pior de Rachel. Ela realmente tinha mudado. Além disso, ela e Neal
usavam tornozeleiras. Ele podia ficar tranquilo.
Na
manhã seguinte, Rachel e Neal chegaram juntos ao FBI. Felizes, de mãos dadas,
após uma noite calma junto dos filhos. Apesar do furacão Thomas Carter, estavam
felizes por tudo estar bem entre eles. Deixavam os problemas para fora de casa.
Logo cedo deixaram George na escolinha e pediram para June olhar Helen. Mozzie
estava sumido desde a reunião na casa de Peter.
-
Não se preocupe. Questões de adoção são especialmente doloridas para Mozz. Ele
está em algum lugar tentando ajudar Elizabeth.
Seguiram
pelo dia todo trabalhando no caso da joalheria. Já tinham os dados e perfil de
Yuri. Era um bandido qualquer, sem grandes pretensões. Do tipo que Carter
parecia gostar. O alerta para encontrar Yuri foi dado. Seu rosto foi facilmente
revelado pelo software de reconhecimento facial do FBI. Ele não tinha sequer
tomado cuidado com todas as câmeras. O problema seria ligar Thomas ao crime. Além disso, Yuri parecia ter desaparecido com
o Diamante Vermelho e muitas outras peças da joalheria. Estavam com grandes
problemas.
-
Peter, força total nisso. Esse homem já nos trouxe problemas demais. Quero
prendê-lo, entregá-lo as autoridades inglesas e me livrar daquele embaixador.
-
Nohan continua incomodando? – Esse homem era uma incógnita para Peter.
-
Às vezes liga e pergunta da Rachel. Quando Carter for preso, livro-me dele.
Era
fim da tarde e eles não conseguiam pistas de Yuri, muito menos de Carter. O desespero
começava a chegar à equipe. Então uma surpreendente visita a sede do FBI mudou
tudo. Yuri apresentou-se por livre vontade e colocou joias à frente de Peter,
sobre sua mesa de trabalho. Muito ouro, esmeraldas, até alguns diamantes. Mas
nenhuma pedra vermelha.
-
Eu não sei o que você quer, Yuri. Mas não vai conseguir nada, tentando me
enganar. Onde está o diamante vermelho?
-
Aqui está. – Ele tirou a pedra do bolso como se fosse uma caneta qualquer e não
algo raro. – É falsa. Eu me arrisquei por algo falso. Carter me enganou. Eu vim
contar tudo.
Yuri
falou por 20 minutos. Depois do quais Peter retirou-se com a equipe e deixou
Yuri na sala de interrogatório, sob o olhar atento de um guarda. Neal, Rachel,
Diana e Henrique estavam quase tão surpresos quanto o chefe.
-
Será mesmo possível? Ele acusa Carter de roubar a pedra antes dele. E mesmo
assim convencê-lo a invadir. Porque?
-
Vaidade. – Neal esclareceu. – Eu lembro dele tentando convencer Yuri a roubar.
A história é verdadeira. Nos resta entender o que deu errado. Porque certamente
Yuri vir aqui e entregar tudo não estava nos planos de Thomas Carter.
-
A menos que isso também faça parte do plano. Eles podem seguir juntos nisso. –
A cabeça de Peter dava voltas. Aquilo estava enrolado demais.
-
Eu acho que não. – Rachel tentava pensar como Thomas. E nisso ela e Neal eram
muito bons. Sabem como o crime pensa. – Ele orientou Yuri a roubar e esconder o
roubo por algum tempo. Quando ele resolvesse lucrar, Thomas já teria vendido o
diamante e passado tanto tempo nada poderia ser feito. Mas Yuri foi afoito,
tentou vender a pedra logo de cara e descobriu o golpe. Sentiu tanta raiva que
preferiu entregar-se para ver Thomas se ferrar.
-
Faz sentido. – Neal confirmou. – Carter sairia com a pedra, limpo, e ainda
conseguiria nos humilhar. Afinal, mais uma vez usou explosivos no nosso nariz.
Decidiram
acreditar em Yuri, apesar de tudo. Mas Peter não estava nem um pouco
interessado em facilitar as coisas para o ladrão. Enganado ou não, Yuri aceitou
participar de um grupo.
-
Minha proposta única para você: ajude-me a prender Thomas e eu negócio um
abatimento de pena.
-
Não sei onde ele está. Não tenho o endereço de seu esconderijo. – Ele não se
surpreendeu com a proposta.
-
Mas tem o telefone. Vai ligar para ele. Nós vamos combinar a história com a
qual você o enganará.
A
ideia de enganar Carter agradou a Yuri. Essa era a vingança perfeita. Então ele
ensaiou com gosto. Passou mais de uma hora treinando a voz, fingindo calma, sem
titubear. Somente quando Neal acreditou que ele estava pronto, ele discou o número.
Na sala trancada, como o viva voz ativado, Peter, Neal, Rachel e Diana o viram
seguir exatamente o combinado.
-
Nós combinamos de você esquecer esse número. Lembra? – Carter disse ao atender.
Sua irritação quase completamente escondida no tom ameno da voz.
-
Preciso da sua ajuda. – Yuri também disfarçou bem. Estava bem treinado. –
Preciso de grana.
-
Você pegou anéis e colares aos montes na joalheira. Vende!
-
Não é o bastante...eu tenho uma dívida. Preciso arranjar mais cem mil. Um cara tá
na minha cola.
-
Aí já é problema seu.
-
É...eu imaginei que não fosse me dar a grana...liguei pra avisar que amanhã vou
levar a pedra pra ser avaliada. Vai me render mais do que eu preciso. Bem mais!
-
NÃO! Ainda é cedo. A polícia vai te pegar. – Agora sim algum sinal de
nervosismos.
-
Eu não tenho escolha, Carter. Amanhã vou passar a pedra adiante.
-
Não! Eu já disse! – Ele se calou por um momento. – Encontre-se comigo ao meio
dia, na frente do American Hotel.
NOTA: N fiquem tristes pelos caps menores, divididos em 2 partes. É que mudei de trabalho e ainda estou me adaptando. Para não deixá-los mais tempo sem cap, decidimos postar em partes. Bjs
Cadê o Mozzi xentem?
ResponderExcluirOI! Amando seus comentários! Não me abandone! O mozzie tá escondidinho agindo para ajudar Ell. Quando ele reaparecer, saí de baixo. Bjss
ResponderExcluir