A medicação muito fraca para o
estágio de sua doença não ajudou muito. Emily acordou contorcendo-se de dor na
manhã seguinte e jurando manter-se longe do vinho. Durante toda a madrugada em
claro tinha revivido a consulta com Leonor, sua ginecologista há mais de 15
anos. Procurou-a quando percebeu que suas cólicas menstruais eram mais severas
do que deveriam. O diagnóstico foi de endometriose. E manteve-se em tratamento,
controlando a doença, por toda a vida, como a endometriose exigia.
- Está pior. – Disse à médica –
Antes eu podia ter uma vida normal no restante do mês. Agora tenho crises em
qualquer época. E está doendo quando tenho relações sexuais, independente da
fase do ciclo menstrual.
- Já dividiu isso com seu parceiro?
- Não. Choramingar não faz meu
estilo, você sabe. Preciso melhorar, Leonor.
- Nós duas sabíamos que podia
alcançar esse estágio, Emily. – A médica de 55 anos entendia o desespero da
paciente. Endometriose podia tirar qualquer mulher do sério. – Podemos fazer
uma nova raspagem. Vai aliviar.
Há três anos ela fez esse
procedimento. Não pelas mesmas razões. Naquela época o desconforto era grande,
porém restrito a dois dias antes de descer a menstruação. No restante do mês
tinha uma vida normal. Mas estava no auge de seu relacionamento com Jonas e não
desejava perder mais dois dias além dos da menstruação. Decidiu fazer a
raspagem com a vaga esperança de livrar-se do problema. Então mentiu para todos
sobre uma viagem a Milão, fez o procedimento e ficou escondida em casa por uma
semana, recuperando-se. Ninguém soube. Tudo na esperança de ficar boa. Não
conseguiu. Logo o problema voltou e só fez se agravar. A alternativa à cirurgia
é o controle hormonal da evolução da doença. Precisava por um fim nisso tudo.
- Aliviar não basta. Tem de haver
uma forma. Até quando vou conviver com isso?
- Durante toda sua vida fértil, ou
seja, enquanto menstruar. – Quando a médica começou, Emily já desconfiava de
como terminaria. – Emily, você já parou para pensar que aos 37 anos te resta
pouco tempo para formar uma família, biologicamente falando, é claro? Ainda
mais com endometriose, penso que você deveria pensar numa gestação.
- Nem mesmo cogitar, Leonor. Tenho
meus amigos, meu restaurante, uma vida sexual fantástica com Jonas. Tem de
haver alternativa!
- Há, é claro. Nós estamos fazendo
uso delas há 15 anos. Mas, no seu caso, a gravidez poderia ser um ótimo
tratamento. Não há garantias de que não voltará a sofrer com os sintomas da doença,
mas você teria boas chances.
- E o que eu faço com o bebê quando
o ‘tratamento’ terminar?
- Talvez ele diminua um pouco a
solidão da sua vida. – Leonor arrependeu-se imediatamente. – Desculpe!
Intimidade demais com paciente é péssimo. Eu não quis dizer isso.
- Quis sim. Não tem problema,
Leonor. Eu entendo...todos pensam assim. Mas não importa. Eu não posso
engravidar e, se pudesse, não é esse o tipo de relacionamento que tenho com
Jonas. Ele não quer filhos também.
- Bancos de esperma existem pra
isso. E você pode escolher as características do pai.
Saiu da clínica com a ideia fixa em
esquecer a orientação da médica. Que absurdo! Filho não é tratamento médico. E
se não teve vontade de tê-los em 37 anos, não seria agora. Mas bem que seria
divertido escolher as características do doador.
- Alto, musculoso na medida certa,
de olhos claros e cabelos negros. – Aquelas características não eram
aleatórias. – Você seria um ótimo doador de esperma, Jonas. Ótimo!
Antes de ir ao restaurante Emily resolveu
visitar alguém muito especial. Nunca perdera o contato com Marta Fruett. Por
vezes com uma visita, ou apenas com o envio de uma doação substancial ao orfanato
dirigido pela senhora onde ela fora criada com toda a doçura e firmeza de uma
verdadeira mãe. Certo é que jamais deixaria Marta no passado. Como poderia se
aquela mulher lhe deu tudo, inclusive um sobrenome?
- Linda! Como sempre. A minha Emily.
- Oi Marta. É bom revê-la. Cheguei
ontem de Milão. Lhe trouxe esse presente. – Era um lindo casaco italiano.
- Não precisava. Sabe que prefiro
vestir peças simples e dar tudo as crianças.
- Eu sei. E por isso trouxe um
cheque para ajudar nas despesas. Sabe que sempre trago.
- Sim, eu sei. – Marta a conhecia
muito bem. – Como você está? Sinto um ar de preocupação. É sua saúde?
- Nada com que precise se preocupar.
Sabe qual a sugestão de tratamento que Leonor me indicou?
- Não. Espero que não seja nada
muito invasivo.
- Eu diria que é invasivo demais e com
consequências brutais.
- Está me assustando, Emily!
- Gravidez! Dá pra acreditar?!?! –
Surpreendentemente, Emily viu um sorriso surgir na face da idosa. – Não se
empolgue! É 0% de chance! Eu não sirvo para ser mãe!
- Discordo totalmente. Você é justa,
sabe dar limites, tem uma vida estável e, principalmente, tem muito amor acumulado
nesse coração. Seria uma boa mãe. Só precisa se abrir para isso.
- Talvez, Marta. Quem sabe um dia,
mais velhinha, eu adote um bebê. Mas hoje, nem pensar. E se não tive até agora,
engravidar seria loucura! E nem um pai tenho! Essa coisa de escolher esperma em
catálogo me parece absurda!
- Mas aquele rapaz...aquele que
nunca se dignou a me apresentar?
- Ele não é para isso!
- Não! Não! Não! – A idosa se
rebelou. – Eu tenho 80 anos Emily! Sou do tempo em que quando uma mulher passa
anos com um homem, ela confia nele para gerar seus filhos.
Era algo complicado de explicar para
Marta. Como dizer que Jonas era maravilhoso, mas servia apenas para ‘atividades
carnais’? Não, melhor nem tentar.
- Deixa pra lá Marta. É bobagem. Eu
vim apenas pra trazer seu presente e te ver. Tchau! Se precisar de algo, é só
ligar.
- Não, você não veio só para isso.
Veio ouvir minha opinião, se aconselhar com essa velha aqui. E eu te digo para
pensar com carinho na ideia de abrigar um bebê no ventre. Pode ser um
tratamento para alma, algo muito mais importante do que curar-se da
endometriose.
- Quer que eu dê uma chance ao
catálogo de esperma?
- Não! Claro que não! Eu sou velha,
mas ainda lembro como é satisfatório o jeito tradicional. Porque não o
bonitão?!?! Acidentes acontecem...todos os dias por aí.
___ § ___
No sábado pela manhã Jonas chegou a
Bento Gonçalves. Estava feliz e relaxado após passar a noite anterior com
Emily. Saiu da casa dela direto ao aeroporto. E essa noite o tranquilizou. Após
ela dispensá-lo logo depois de transarem na segunda-feira, Emily cancelou o
encontro de quarta e ele chegou a pensar em pressioná-la a falar se estava
envolvida com outro e por isso afastando-se. Mas sua consciência lembrou-o de
que o relacionamento deles não previa cenas de ciúme. Se ele desconfia-se de
algo deveria simplesmente dispensá-la.
- Eu não estou pronto pra dizer
adeus a você, Emily. Quando eu não a quiser mais a dispensarei. Mas ainda não.
Então ligou e pressionou Bruno.
Porém o investigador lembrou-o de que informações específicas, íntimas, como as
que ele solicitava, levavam tempo. Ele precisaria esperar no mínimo três
semanas, talvez um mês, para saber quem Emily visitava em uma clínica médica no
centro de São Paulo.
Na sexta-feira encontraram-se.
Emily, como de costume, não deu longas explicações para o cancelamento do
último jantar. Disse apenas não estar disposta na véspera. E que iria
recompensá-lo.
- Eu não quero pensar em mais nada,
Jonas. Você vai me tocar e beijar com tamanha intensidade que eu não vou ter
energia para mais nada. – Lhe disse.
A noite foi intensa. E ele
certificou-se de que ela tivesse orgasmos verdadeiros. Não foram gemidos falsos
que visavam enganá-lo. Ela visitou o paraíso em seus braços naquela noite,
primeiro no chuveiro, depois na cama. Alongou o sexo para garantir o prazer
dela. Enlouqueceu-a com beijos e carinhos íntimos, tinham intimidade o bastante
para nada ficar de fora. Timidez para que quando conhecia cada milímetro
daquele corpo?
Ouviu-a gritar seu nome em desespero
quando, após o banho, viu-se deitada na cama com as pernas afastadas e sendo
presenteada com o mais íntimo dos beijos. Ele devorou-a sem piedade e a impediu
de unir as coxas ou erguer o quadril. Ela teve de lidar com o próprio prazer
sem ter para onde fugir.
- G-O-S-T-O-S-A. – Jonas disse
sentindo-a explodir em sua boca.
Já relaxada e deliciosamente
satisfeita, Emily sentiu Jonas penetrá-la. Estava um pouco apreensiva. Esperou
a dor vir. A ardência intensa no colo do útero que a impedia de se deliciar por
completo naquele homem. Mas hoje não. Hoje sentiu-se plena ao ter o corpo
preenchido por ele.
Quando amanheceu e o alarme
acordou-os a tempo de Jonas não perder seu avião, fizeram amor mais uma vez e
Emily ofereceu-se para devolver o carinho da noite anterior. Gostava de fazê-lo
perder o controle em sua boca. Mas ele lhe negou.
- Meu prazer dessa vez foi assistir
você perder a linha.
Agora ele entrava na propriedade dos
Vicentin e via as parreiras carregadas de uva que daqui algum tempo entrariam
em época de colheita para transformasse em vinhos de qualidade.
Ali o ar era mais puro e as pessoas
bem mais verdadeiras. A vinícola não lhe dava pessoalmente tanto dinheiro
quanto a construtora, mas, mantinha sua família bem instalada. Uma grande
família. E tipicamente italiana. Jonas é filho de Leonel e Giovanna. Ambos
nascidos na Itália, mas criados no Brasil quando os pais vieram tentar nova
vida nas terras do Rio Grande do Sul.
Os avós maternos de Jonas já estavam
falecidos, mas os paternos eram um casal ainda ativo e maravilhoso. Francesco e
Ângela tratavam os netos como se não fossem crescidos e criados. Isso porque os
idosos não tinham a maior alegria de um italiano: muitas crianças ao seu redor.
Além de Jonas jamais ter se casado nem ter planos para tal, Lorenzo, filho mais
velho de Leonel e Giovanna, chegara aos 44 anos divorciado e sem filhos. Já Milena,
a irmã caçula de 31 anos, dizia ainda não ter encontrado o pai ideal para seus
filhos.
- Buongiorno, Padre. – Ele parou junto ao
campo ao avistar seu velho pai provando de algumas frutas.
- Buongiorno, mio figlio. – Eles não falavam
italiano em casa, mas o cumprimento era sempre feito no idioma natural dos mais
antigos na casa. – Foste bem de viagem?
- Muito. E por aqui? Está tudo bem?
- Sim. Sua mãe foi a cidade. Sua
irmã está verificando os novos tanques de fermentação e Lorenzo está no
alojamento, conferindo os lotes que estão envelhecendo nos barris de carvalho
- Ótimo. El abuelo y la abuela?
- Seus avós estão ótimos. Apesar de
se negarem a ir ao médico. Eles têm de fazer a revisão, mas você os conhece.
- Sim. Eu falarei com eles. –
Repetindo o hábito de infância, Jonas pegou um grão de uva. – Doce na medida
certa. Teremos uma grande safra.
- Sim. Será uma produção fantástica
nesse ano. Vá descansar, meu filho. No almoço, à mesa, como todo bom italiano,
falamos mais.
Mesmo sem passar muito tempo longe
daqui, Jonas sempre se sentia melhor ao rever o lar. Cresceu ali, correndo com Lorenzo
e Milena entre os parreirais. Naquela fazenda aprendeu a as três coisas que
mais valorizava na vida: honra a palavra dada, respeito à família e a
honestidade acima de tudo.
Com um leve aceno à Ana, empregada
já com a idade avançada que o viu bebê, seguiu para seu quarto. Descansaria
antes de ir rever seus avós. Certamente estavam em repouso antes do almoço. Ele
sorriu ao entrar em seu quarto. Aquela casa era tão diferente de seu
apartamento em São Paulo
e, estranhamente, ali não sentia falta do luxo nem da modernidade. Nem poderia
quando as primeiras coisas que tirou da mala foram seu smartphone, tablet e
notebook. Não vivia sem seus eletrônicos e a internet wifi funcionava
perfeitamente, permitindo-o manter-se conectado à construtora e, ainda assim, estar
ali, junto da família. Ainda assim, os móveis rústicos, na cor natural da
madeira, tinham algo mais quente do que o frio mármore e metal que imperavam na
decoração de seu outro lar.
Tinha ainda o barulho. Seu apartamento, de
solteiro, era silencioso. E isso é ótimo para ler um livro ou assistir filmes.
Mas às vezes ouvir a voz de sua irmã cantando pelos corredores ou o latido do
cachorro no quintal era agradável. Ou, ainda, os sons vindos da cozinha. Eles
antecediam uma maravilhosa refeição. Além disso, as roupas simples nos armários
lhe davam uma felicidade sem tamanho. Ali não havia razão para ternos ou
gravatas. Quando saiu do quarto para almoçar usava calça jeans e camiseta
branca. Estava em paz.
- Ana! Como sempre, estou com
saudade da sua comida.
- Menino, menino...então não vá mais
para aquela selva de pedra. Sempre que volta, está mais magrinho.
- Ao contrário, Ana. Sempre que fico
aqui engordo.
E há razão para isso. Uma casa
italiana jamais estava completa sem uma bela e farta mesa. Pães, massas,
molhos, queijos, salames e tudo regado a muito vinho. Eram comidas simples, mas
fartas em sabor, quantidade e amor no preparo. Emily ficaria encantada com
todos aqueles sabores.
- Jonas? Menino? Onde estão seus pensamentos?
– Ana chamou-o.
- Me distraí. – Perguntava-se como
Emily chegou àquela cena. Ela não pertencia àquela parte de sua vida. Quando
voltasse para São Paulo marcaria outro encontro com ela. Era isso. Apenas isso.
– Como sempre. Está uma linda mesa, Ana.
- Quando soube que viria defini o
cardápio: Espaguete à carbonara. Seu favorito.
- Maravilhoso! – Ele beijou a
senhora que o amava como a um filho.
- O que deseja para amanhã?
- Por Deus Ana! Assim vou ganhar
peso. – Ainda nem apreciara aquela refeição e a cozinheira já pensava na do dia
seguinte.
- Bobagem, Ana! Ele volta de São
Paulo sempre mais magro. – Sua mãe entrou na sala e veio beijar o filho em
ambas as faces, como era costume dos italianos. – Faça risoto de ervas finas. E
também filés à parmegiana.
- Sim, senhora. E de sobremesa?
Gellato ou tiramisù?
- Eu prefiro tiramisù. – Jonas
disse.
- Então está decidido. – Giovanna
disse sorrindo e batendo as palmas das mãos. – Se meu filho deseja tiramisù,
ele terá. Mas por enquanto, sente-se à mesa para provar o Espaguete à
carbonara. Vou chamar os outros.
Como era costume, Jonas só começou a
comer com a mesa completa. Todos à sua volta serviram os pratos e cálices. E
falavam enquanto comiam. Falavam e gesticulavam agilmente. Eram várias conversas
paralelas, mas, de alguma forma, todos compreendiam o assunto geral. E, de
alguma forma inacreditável, o assunto sempre acabava da mesma forma.
- Vovó, vovô...como estão? Papai me
disse que têm checape médico à fazer. – Jonas começou.
- Bobagem. – Francesco comentou. –
Tenho 90 anos e sei o que me mantém firme. É essa mesa. Não os remédios que
esses médicos insistem em me receitar.
- É necessário, pai. O senhor sabe. Não seja rabugento. – Leonel
insistiu. – Você e mamãe precisam ir ao médico.
- Não. Não precisamos. – Ângela
respondeu entre uma garfada e um gole de vinho tinto. – Não se preocupem com
esses velhos.
- Como não nos preocuparemos? –
Milena disse. – Vocês dois são muito importantes nessa família.
- Nós sabemos minha neta. Nós
sabemos. Mas deveriam preocupar-se com a próxima geração, não com a mais
antiga.
- Eu sabia que terminaria nisso. –
Lorenzo riu. – Nós três já sabemos que estamos em falta com vocês. Mas não há
bebês a caminho.
- Como se eu não soubesse! – Dona
Ângela estava irritada com isso. – Ouçam essa velha. Eu me nego a morrer sem
conhecer meus bisnetos. Então tratem de fazer bebês. Vocês três já passaram da
idade!
- A senhora viverá muitos anos
ainda, vovó. Então ainda temos tempo. – Jonas respondeu.
Durante a tarde Jonas foi visitar
seu local favorito em toda a propriedade. Ficava mais afastado e poucas pessoas
tinham acesso. Construído em pedra bruta e com um grande investimento no
sistema de refrigeração, ali ficavam alojados os imensos barris de carvalho
onde o vinho envelhece. Depois de tudo o processo de fermentação, estava
pronto. Agora bastava o tempo cumprir sua missão e aprimorar o sabor da bebida.
- A juventude tem um frescor
especial, mas o tempo traz maturidade e exalta os sabores mais íntimos e
intensos. – Disse sentindo o cheiro do vinho e da madeira tomar o ambiente.
Jonas gostava de ficar sozinho ali.
Sentia-se bem, sentia-se livre. Mas não estava só naquele momento. Lorenzo veio
relaxar na privacidade do mesmo lugar. E percebia em seu irmão algo diferente.
Jonas já não era mais o mesmo rapaz. Ele estava mais pensativo, mais consciente
de suas atitudes.
- Estava falando só do vinho ou de
alguma mulher?
- Não vi você aí. – Nem gostava de
ter de responder esse tipo de pergunta.
- O tempo amadurece muito mais do
que o vinho, não é mesmo? Também passa para as pessoas.
- É. Olhe para nós, Lorenzo. Estamos
envelhecendo.
- Sim. Mas com 40 e 44 anos, acho
que podemos nos considerar jovens ainda. Vovô está ótimo com 90! Relaxa Jonas!
- Sim. Estou relaxado. É só...um
pensamento. – Seu avô havia sido pai pela primeira vez aos 21 anos. Ele e
Lorenzo não quiseram isso tendo mais do dobro de vida. É, eram outros tempos. –
Você ainda quer ter filhos?
- Eu os quis, Jonas. Mas a vida me
tomou essa chance quando levou Alice tão cedo. Hoje não quero mais. E você?
- Não sei...não me imagino como pai.
- Não caia na pressão da vovó. Se
for para acontecer, ótimo. Se não, deixamos para Milena essa tarefa. Toda
mulher, um dia, sente esse desejo. Milena dará crianças para a família. Pode
apostar.
Quando a noite caiu Jonas viu-se sozinho na
sala junto de uma garrafa de vinho. A frase de seu irmão ainda estava viva em
sua mente. “Toda mulher, um dia, sente esse desejo”. Seria possível? Não.
Milena, talvez. As mulheres do interior, criadas em família, sim. Mas não
todas. As da cidade, com suas carreiras para cuidar, não ligavam para isso.
Emily não tinha interesse nenhum por bebês. Nunca a ouviu falar em crianças. Isso não
era para ela.
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