- Quem você pensa que é pra me
deixar na rua? Você é um animal, Grey! – Descabelada, descontrolada e ainda com
a roupa de ontem, Ana entrou na casa como um furação.
Foi desesperador acordar sozinha no
celeiro depois de, bêbada, transar com o marido. Sabia que tinha se rebaixado
demais, não pensava em nada...era uma despedida. Agora se sentia ainda mais
humilhada.
- Nem venha bancar a santa,
Anastásia. Eu peguei o que você estava oferecendo. Apenas isso. Vá tomar um
banho e se acalme. – Disse saindo sem nem mesmo lhe dar atenção. Parecia estar
com ainda mais raiva dela.
Na verdade Grey estava com ódio de
si mesmo. Não deveria ter tocado Ana. Jurou que não faria mais isso. Ficava
longe de casa cada vez mais tempo justamente por isso.
- Porque essa feiticeira tinha que
ser tão linda e gostosa?!
Ana o havia comovido com lágrimas e
declarações forçadas e ele, burro, caiu, deixou-se levar pelo seu encanto e
tornou e amá-la da forma mais baunilha de todas. Não deveria tocá-la sem que
fosse no quarto de jogos...deveria estar disciplinando-a duramente. Se tivesse
seguido o plano, Ana estaria rastejando. Ao invés disso, tinha passado a noite
beijando seu corpo.
- Quando está nos meus braços eu
esqueço de tudo.
Mas estava decidido a levar tudo as
últimas consequências. Ao acordar, viu que ela ainda dormia sobre o feno e sem
pensar muito deixou-a lá. Ela ia tentar chamar o tio e partir...poderia
ir...mas antes seria mais castigada.
Saiu à procura de Jéssica. Tinha lhe
pedido para descobrir um casebre qualquer, podia até ser uma cabana. Só tinha
se ser muito afastada, no meio do serrado. Um lugar de onde Ana não tivesse
sequer coragem de tentar escapar.
- Achou?
- Sim, patrão.
- Então me leve até lá. Agora.
Foi um longo caminho cavalgando. Era
realmente afastada e simples. Provavelmente Ana nunca viveu com tamanha humildade.
- Temos que trazer mantimentos.
Traga bastante água potável e comida.
Jéssica virou a cara.
- Já vai começar a mimar ela?
- Eu nunca farei ninguém passar
fome. Isso nunca. – Respondeu afastando as lembranças ruins. – Traga tudo ainda
pela manhã.
- Vai trazer ela hoje, patrão? Vai
prender a patroa aqui muito tempo?
- O tempo necessário. – Caminhou pelo
lugar analisando que teria que trazer algumas coisas do quarto de jogos. O
lembrete de Elena o alertando de que uma sessão sádica só poderia ocorrer com o
escravo desejando participar ainda o fazia esmorecer. – Só o necessário.
- Se o padre ou o Jacob
descobrirem...vão ligar pra família dela. Ou pra polícia!
- Que façam isso!
- Não quero que seja preso, Patrão.
Ela não merece isso. – Jéssica abriu a própria blusa. – Não precisa dela.
Eu...to aqui...eu te satisfaço. – Ela se aproximou e foi abrindo a fivela do
cinto dele.
- Chega, Jéssica! – Afastou-se. – Se
vista!
- Ela não é mulher para...
- Ela é a minha mulher! E chega de
papo! Vá buscar os suprimentos. Se for para eu ser preso, que seja!
Ana estava mais calma e procurando
uma alternativa para resolver seus problemas. Não queria ir embora deixando-o
pensar que era culpada, mas não parecia ter alternativa. Kate veio lhe trazer
um bilhete. Era de Jacob.
- Ele teve que viajar. – Falou para
a amiga.
- E te avisou disso?
- E disse que o barco ficou ancorado
aqui...para o caso de eu precisar ir embora. – Era uma possibilidade. – Eu contei
pra ele que não estava feliz.
- Ele gosta de você. – No fundo Kate
sentia um pouquinho de inveja da amiga. Era bom ter alguém que gostasse dela e
Ana tinha Jacob e José, além do marido.
- Eu já tenho problemas o
suficiente, Kate.
Sem saber muito o que fazer, Ana
resolveu ir visitar Gail. Ela ainda estava preocupada com a amiga que
aparentemente tinha problemas conjugais ainda mais graves. Sabia que ela havia
sido agredida. Talvez fosse com frequência. Sabendo que James não estava em
casa ela bateu na porta.
- Oi, Gail. Vim ver como você está. –
Sem nenhuma maquiagem e com os cabelos presos era possível ver o machucado no
rosto e Ana podia apostar que a roupa escondia muitos outros. – Ele te bateu
por minha culpa? Foi porque eu pressionei perguntando sobre o Elliot?
- Não, Ana. Não se preocupe. – Ela estava
envergonhada. Gail era uma mulher muito fechada. Vivia amarrada pelo medo que
sentia do marido. – Quando James bebe ele procura um motivo. Se não fossem as
suas perguntas, seria outra coisa.
- Por que você aguenta isso?
Primeiro Gail apenas
observou Ana. Depois perguntou.
- Porque você suporta tudo o que
Grey lhe faz?
- Somos umas tolas, Gail. Não
devíamos suportar isso. Temos que mudar isso.
- Você é mais jovem, Ana. Eu não
tenho mais o que esperar...da vida.
- Gail! Você tem o que...45 anos?
Não é tão velha?
- Tenho 39, Ana. – Ana se
envergonhou pelo erro, mas Gail aparentava ter mais idade. A vida difícil a
deixou assim. – Mas o que eu faria se pedisse o divórcio? Como eu me
sustentaria? Ninguém me daria emprego. Deixa isso pra lá. E você? Como vai?
- Eu vou ter que ir, Gail. Cada vez
me convenço mais. Parece que algo me prende aqui. E me pergunto o que eu ainda
faço aqui.
- Eu sentirei sua falta.
Depois de almoçar com Gail, calmamente
Ana voltou para a fazenda. Foi surpreendida por Jéssica no meio da estrada. Não
queria conversa. Muito menos com ela. Mas garota insistiu que precisava levá-la
para outro lugar. Achou estranho, mais foi com ela e cavalgaram até chegar.
Cavalgaram muito.
- Que lugar é esse? Porque me trouxe
aqui?
- Entra na casa. – Disse a jovem
empregada.
- Que casa? Isso é uma casa? – Mas entrou
e viu um lugar muito humilde. – O que você quer, Jéssica.
A garota demorou para responder.
- O patrão quer te prender aqui. Ele
vai te trazer hoje a noite! Eu só to te mostrando porque não quero que ele seja
preso. Ele é obcecado por se vingar de você e vai te trazer aqui e...fazer
coisas que eu nem sei o que é. Mas não é coisa boa.
Ana não queria acreditar, mas viu
sobre um móvel um pequeno chicote de montaria. Reconheceu-o. Era do quarto de
jogos. Era verdade.
- E você está me ajudando pra ele
não ser preso?
- Sim.
- Obrigada, Jéssica. Mesmo não sendo
em mim que você está pensando. Parece que meu casamento não tem mais jeito...e
você vai ficar com ele.
- Não patroa...ele não me quer. Ele
tá louco pela senhora. Louco como Emmett ficou pela outra. A que o patrão acha
que é você...mas eu sei que não é.
- Como sabe?
Jéssica abaixou a cabeça
timidamente.
- Fale garota!
- O patrão Emmett tinha outra foto
da mulher, uma que tava junto do corpo quando nós encontramos. Essa não tá
rasgada. E a cara da mulher não é igual a sua. Olha! – Jéssica estendeu a foto
amassada e Ana viu Alice e Emmett abraçados.
- É Alice, minha prima. Foi ela! Ela
se envolveu com Emmett...e terminou com ele quando José avisou que voltaria
para casa. – Tinha que alertar José que ela era um monstro. – Você sempre
soube! Sempre! E deixou eu viver um inferno aqui!
- Eu queria que o patrão a mandasse
embora e se ele soubesse da verdade não ia fazer isso! Ele ia amá-la cada vez
mais!
Jéssica ficou ali chorando e Ana
saiu em cavalgada. Iria esfregar na cara de Christian a verdade e depois iria
embora. Não ficaria com um homem capaz de organizar um calabouço daqueles só
para fazê-la sofrer. Iria embora ainda hoje.
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