Propositalmente,
Ana demorou muito no banho. Lavou o cabelo duas vezes e ainda passou todos os
seus cremes. Algo lhe dava esperança, lhe dizia que Teddy sendo bem cuidado
pelo pai. Estava onde merecia e com quem sempre desejou estar. Desligou o
chuveiro, vestiu uma roupa leve e saiu do quarto. Teddy havia levado o pai para
seu quarto o mostrava a coleção de carrinhos organizados de forma quase militar
na batente da janela.
- Esse eu ganhei do tio Elliot,
esses da mamãe e o último do tio Raff. – Dizia o menino.
- Você gosta do tio Raff? Ele é
bacana com você?
- Sim, ele e o Gabby são legais. –
Ele ficou calado por alguns segundos. – Me pega no colo?
- Porque? Você tá com sono. –
Christian respondeu fazendo Ana rir imaginando Teddy com os braços estendidos
para um papai apavorado.
- Não, mas eu quero colo.
Quando entrou no quarto Ana ainda
pode admirar a cena.
- Menos Teddy. Não precisa se
dependurar no pescoço do papai. Vamos tomar café?
Tudo ia bem até que, enquanto
comiam, Ana ligou o televisor para assistirem ao noticiário. Uma trágica
notícia internacional fez seu coração de
mãe doer. Ela empalideceu e Christian aproximou-se.
- Ana? O que foi. – Ele estava distraído
com Teddy.
- Um incêndio no Brasil.
- Grave?
- Matou mais de 230 jovens. Eram
universitários que estavam em uma boate. – Christian a ajudou a sentar. Pensou que
Ana fosse desmaiar. – Deus....o desespero dessas mães. Perder os filhos assim.
Não pode haver dor pior.
Vendo a mãe chorar Teddy se
aproximou. Logo Ana abraçou-o apertado.
- Fica aqui filho, abraça a mamãe. –
Ela chorou calada por um minuto. – Se eu perdesse você, meu bebê, a mamãe
morria. Eu não vivo sem você.
A cena tocou Christian. Realmente,
não deveria haver dor pior que perder um filho. E, nesse momento, observando a
dor de outros pais, ver seu filho forte, saudável, vivo era um alento. Por mais
afastada que fosse sua relação com Theodore, a ideia de perdê-lo era dolorosa
demais. Isso era amor.
Para aliviar o ambiente foram
passear no parque. Enquanto Ana observava, Teddy deixava Christian exausto de
tanto jogar futebol. O menino estava encantado, suas risadas eram ouvidas de
longe. Christian podia dizer que estava feliz. Era estranho para ele, mas
parecia fácil estar com o garoto. Eles pareciam se entender facilmente.
- Quem sabe a gente vai almoçar,
garotão. Tomamos muito sorvete de sobremesa e depois a gente vê o que faz a
tarde.
- Eu não posso tomar sorvete. A
mamãe disse que eu passo mal se comer qualquer coisa que tiver leite. Mesmo que
seja só um pouquinho bemmmm pouquinho mesmo.
- Aaaa mas você escolhe outra coisa.
- Eu quero um picolé de framboesa. Você
me dá?
- Claro! – Será que ia conseguir
dizer não pra ele?
Ele acabou descobrindo que não. Ele
queria comer batata frita, acabaram num restaurante que devia bater o recorde
de gordura por metro quadrado. Era um ambiente diferente do que estava
habituado, mas era bom, era agradável.
- Onde a gente vai depois, papai?
- A mamãe não existe mais, não? –
Ana se fez de ofendida.
- Você vai também mamãe!
- Que bom saber que não fui
esquecida. – Disse ela sujando a ponta de seu nariz com maionese. – Termina de
comer pra podermos ir.
- Não antes da sobremesa! – Disse Christian
se levantando. – Espera aqui que eu já venho.
Ele demorou um pouco e voltou
trazendo três sobremesas. Dois eram picolés de framboesa. O de Ana era
diferente.
- O que é o seu, mamãe? – Teddy era
sempre curioso.
E Ana respondeu sabendo que aquela
era a forma de Grey dizer, sem falar nem mesmo uma palavra, que estava disposto
a compensá-la por tudo que negou.
-É sorvete de flocos com cobertura
de chocolate. A mamãe adora. – Ela olhou para Christian. – Obrigada.
- Estamos aqui para satisfazer.
Resolveram ir brincar no fliperama
do shopping. Eram poucos os brinquedos para a idade de Teddy, mas a diversão
foi boa. O problema foi quando, saindo do fliperama, passaram enfrente ao
petshop. Theodore não queria apenas um bichinho de estimação, mas dois. Um gato
e um cachorro. E lá estavam eles, olhando, pidões, pelos vidros. Ana viu que
estava perdida.
- Tá bom Teddy. Um. Escolhe um
gatinho e a mamãe deixa você ter no apartamento. Só um.
- Mas eu quero o cachorro também. –
Ele disse e Ana sentiu que vinha choro. Grey só observava. Não sabia o que
fazer.
- Cachorro precisa de espaço Teddy.
- Eu do o meu quarto pra ele! – A inocência
das crianças chegava a ser engraçada.
- Não Teddy. – E as lágrimas
começaram a escorrer. – Filho, não faz assim. A mamãe não pode levar dois
animais pro apartamento.
- Mas o cachorro pode ir pra casa do
papai.
- O que? – Primeiro veio o susto,
mas depois..., sim podia. Tinha bastante espaço. – É, eu acho que seria legal
ter um cachorro lá em casa. Claro. Por que não.
Ana não acreditou naquilo, mas, como
pai, Christian devia ter sua cota de sacrifícios então permitiu.
- Ok. Então Christian e Theodore
Grey, ouçam bem o que eu vou dizer. Vocês dois vão cuidar desse gato e desse
cachorro. E não vão devolver o pobre bichinho depois que ele tiver acostumar a
viver com a gente. – Por dentro Ana ria do quando os dois estavam parecidos
olhando-a e, ao mesmo tempo, ansiosos para ir pegar os animais. – Ok. Vão logo
escolher o tal gato e o tal cachorro antes que eu me arrependa.
Para desespero de Anastásia, o que
seriam dois viram três rapidamente. É que Christian se apaixonou por um filhote
de labrador marrom e Teddy não abriu mão de levar o branco, da mesma ninhada.
- Seria pecado separar os irmãozinhos,
mamãe.
- Vocês são um par de chantagistas
isso sim! – Mas no fundo ela estava adorando aquela tarde com eles.
- Tem espaço de sobra lá em casa
Ana. – Christian disse avisando ao vendedor que levaria os dois e ainda iriam
ver os gatos.
Escolheram uma gatinha muito
pequenininha. Branca e cinza, ela logo foi batizada. Charlote.
- E os cachorros? Já tem nome?
- Ainda não. – Teddy respondeu ao
pai.
Saíram da loja carregados com
casinhas, comidas e brinquedos para três animais de estimação. Grey foi levar
Ana, Teddy e Charlote ao apartamento. A gatinha logo já estava na cama de
Teddy, espalhada e sentindo-se em casa.
- Vai se dar bem com dois cachorros?
– Ana perguntou.
- Sim. Qualquer coisa eu grito. Pode
deixar.
- Seus empregados vão odiar isso.
- Que nada. O Taylor adora
cachorros.
- O Teddy vai querer ir lá brincar.
- Leva ele sempre que ele quiser. A
casa é de vocês. – Ele se aproximou e lhe deu um leve beijo nos lábios. –
Podiam ir os três morar lá.
- Calma Grey. Muita calma.
Apesar da negativa Christian foi
embora feliz. Os latidos vindo de seu carro o lembravam que ele não estava mais
sozinho.
O final de semana foi bom. Mas além
de deixar Ana com os sentimentos e pensamentos confusos, ele também passou
rápido demais. A noite de sábado para domingo passou gemendo na cama de Grey, a
de domingo para segunda na sua cama pensando nele e consolando uma gatinha
ainda bebê que parecia muito carente.
- Dorme Charlote, por favor. – Dizia
para a gatinha deitada em seu peito.
A segunda feira foi de muito
trabalho e coisas para resolver. Largou Teddy na escola logo cedo e já ouvindo
que ele queria ir na casa do pai ver os cachorros.
- E a Charlote? Pobrezinha.
- Eu vou brincar com ela também. Mas eu
quero ver os cachorros.
- Tá bom. Depois a mamãe vê isso. Agora
entra que a tia da creche tá te chamando.
Quando chegou no trabalho um buquê
de flores a aguardava. O Recado era claro e espirituoso.
“Existem dois
corações caninos aguardando ansiosos por Teddy. E um coração humano louco para
rever você e ele. Venham jantar aqui em casa.
CG”
Ela ia, claro que ia. Mas antes
precisava resolver as coisas com Raff. Tinha errado muito com ele. Não podia
ter se envolvido com ele ainda sentindo algo pelo marido ou, pior ainda, deixar
Christian se aproximar estando com Raff.
No horário de almoço foi até a casa de Raff. Ele trabalhava por lá e
logo atendeu a campainha.
- Oi Ana.
- Oi. Eu posso entrar.
- Pode, claro. – Ele estava
constrangido. – Ana, eu acho q a gente não tem muito o que falar. A cena que eu
vi na festa foi bem clara. Vocês estão juntos.
- Eu não sei o que vai acontecer com
a gente, mas eu...de qualquer forma, errei com você. Não podia ter deixado você
pensar que havia uma chance pra nós. Desculpe-me.
- Ana...ok. Eu não sou criança. Pode
não parecer, mas eu também já amei, já me apaixonei e sei como é. Ok, tudo
resolvido entre nós.
A magoa ia ficar, mas ao menos tinha
pedido desculpas.
A tarde de trabalho foi normal. A
não ser por uma ligação. Uma voz estranha ligou para o seu celular três vezes.
Só falou na última.
- Você pode ser a próxima. – E desligou.
Do que ele estava falando.
No meio do trabalho logo as ligações
ficaram esquecidas. Ana foi para casa de carro e resolveu buscar Teddy a pé.
Não era muito longe. Para ir foi tranquilo, menos de 15 minutos de caminhada.
Entrou na escola. Ouviu da professora que ele contou e recontou que tinha ganho
cachorros e uma gata do pai.
- Como foi seu dia? – Pela sujeira
da roupa parecia que tinha sido animado.
- Bom. A gente pintou com tinha.
- Legal.
Ao sair da escola, no entanto, Ana
viu fotógrafos. Parece que já tinham descoberto que ela e Christian tinham
passado o dia de ontem juntos. Inferno. Talvez fosse a notícia do assassinato
de Jéssica que os deixou desconfiados. Era público que Grey seria chamado para depor.
Ana tentou sair. Caminhou uma quadra com Teddy no colo tentando protegê-lo dos flashes.
Ouviu perguntas desagradáveis e, entrando num centro comercial ligou para Grey.
- O que aqueles moços querem mamãe?
- Nada filho. Só tirar fotos. A
mamãe vai ligar pro papai. – Chamou somente duas vezes. – Precisamos de você.
- O que houve? – Ele ficou alarmado.
- Tem fotógrafos aqui. Eu entrei
numa loja. Eles querem saber de nós, da tal Jéssica. Ficam tirando fotos.
- Fala o endereço eu estou indo. –
Foi a resposta.
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