Miguel bem que
tentou manter sigilo sobre seu retorno e de Elizabeth ao Brasil. Instalou-se
com a esposa no apartamento e descansaram durante todo aquele dia, mas logo
pela manhã do dia seguinte, tiveram de se separar e seguir para o trabalho.
Elizabeth estava, oficialmente, retornando de férias e reassumindo sua
investigação. E ele retomando as atividades na BTez, num momento de turbulência
econômica em que a venda de carros estava em baixa, a produção reduzida e a
empresa demitindo funcionários.
- Não há alternativa. Mas é
doloroso. – Comentou com um dos diretores.
Bastaram algumas horas no
escritório, assinaturas em contratos e duas reuniões para que a notícia de sua
chegada tenha chegado até Rúbia. E quando ele voltou do almoço lá estava a mãe,
esperando por ele no escritório com cara de poucos amigos.
- Madre! Não esperava por sua visita
hoje. Estou bem atarefado...
- Não pense que irá se livrar de
mim. Caso realmente estivesse realmente preocupado com essa empresa, não teria
sumido pela Europa pelo capricho daquela mulher! O Brasil em crise, a economia
pegando fogo e você brincando de policial por aí!
Miguel observou a mãe primeiro sem
nada responder. Depois, pensou se ela tinha alguma razão em lhe cobrar algo.
Decidiu que não. Primeiro porque de forma remota esteve conectado com a empresa
em cada um daqueles dias, também porque aquele posto jamais foi um desejo seu e
só em ser presidente da BTez já dava sua contribuição à família e, por último,
pela certeza de que aquilo tudo era muito mais uma retaliação ao seu
relacionamento com Elizabeth que qualquer preocupação com a empresa. Fosse uma
lua de Mel com Alejandra, Rúbia estaria satisfeita.
- Madre, vou falar uma única vez.
Estive em férias na Rússia com minha esposa. Ela está grávida e necessitava
dessa viagem. As razões não são da sua conta! – Disse calmamente. – Se eu
precisar me afastar novamente, o farei.
- Além de sua mãe, sou viúva do
fundador dessa empresa e tenho ações da BTez. Você me deve explicações sim!
- Bom, nesse caso, você pode sugerir
aos demais acionistas de que retirem do posto de presidente. Faça como
preferir, Madre. Eu não me sentiria ofendido, garanto! Dava adeus a esse lugar,
reabriria meu consultório e cuidaria de minha esposa e filho. Não preciso da
BTez!
- Desnaturado! É nisso que aquela
mulher o transformou. Está abandonando o patrimônio que seu pai lutou para
erguer pela vida toda.
- Não, Madre. Não o abandono em
respeito a memória de papai. Mas não estou disposto a encarar esse tipo de cobrança.
Agora, se está tão preocupada com a BTez, me deixe trabalhar.
- E seu filho? Por acaso lembrou-se
de ligar para Alejandra e ter notícias de seu filho. Fique sabendo que ela não
passou bem enquanto esteve abandonada aqui. Isso porque você estava viajando
com a outra.
- Com minha esposa, mãe. Eu estava
com minha esposa e Alejandra passa por essa situação porque quer. – Mesmo
assim, estava em falta com o filho. E nisso sua consciência pesava. – Vou
entrar em contato. Quero ver os exames e
saber exatamente como ela está. E a senhora? Não quer notícias de seu outro
neto? O bebê que Elizabeth espera também tem seu sangue.
- Se for seu! Eu não tenho essa
certeza!
- Vá embora! – Miguel explodiu. Vá e
só volte a falar comigo quando aprender a tratar minha mulher com respeito!
Nos
EUA, também em seu ambiente de trabalho, Sebastian recebeu uma visita
inesperada. Alguém a quem jamais tinha visto e sequer conhecia o nome, mas lhe
surpreendeu pela beleza. Não só pelos belos cabelos louros ou lábios
avermelhados, nem mesmo pelas curvas fartas e mostradas amplamente na roupa
ousada. Chegava ao olhar cheio de segundas intenções que ela lhe dirigia.
-
Boa tarde, Srº Gonzáles. Agradeço o senhor ter me recebido. Sei como é ocupado
e, mesmo assim, encontrou um espaço em sua agenda para ouvir-me. Estou grata. –
Ela falou num inglês calmo e pausado, mas que não conseguia disfarçar ser
estrangeiro.
-
Um homem como eu, senhorita...
-
Alencastro. Gabriela Alencastro.
-
Um homem como eu, Gabriela, não nega jamais encontrar-se com uma mulher bonita.
Mas antes de me explicar como posso ajudá-la, me diga da onde você é,
certamente não é americana.
-
Vejo que é difícil enganá-lo. – Ela riu, charmosa. – Sou brasileira, mas moro
aqui há muitos anos. Sou funcionária pública, trabalho no tribunal de justiça.
A
mente de Sebastian voou instantaneamente até outra brasileira. Curiosamente, aquele
país tropical parecia persegui-lo. Uma perseguição linda e cheia de charme. As
duas muito diferentes. Beatriz era uma fera enjaulada e guardada com discrição.
Gabriela aparentava ser uma gata selvagem, daquelas que atraem muito, a com é
preciso ter atenção. Aquelas belas unhas vermelhas poderiam servir de garras.
Ele lhe deu atenção, mas resolveu ficar atento.
-
O Brasil é um lugar fantástico...e com mulheres fantásticas. – Disse-lhe. –
Pode falar em português. Conheço o idioma muito bem. O idioma...e as
brasileiras.
-
Fico feliz em lhe despertar boas lembranças. – Aquele sorriso soou arriscado a
Sebastian. Gabriela Alencastro, belíssima, sem dúvida, é perigosa. Bastava
olhar para ela para ver isso. – Mas vim aqui a negócios. Quero lhe fazer uma
proposta.
-
Faça. Adoro propostas vindas de mulheres, especialmente as brasileiras bonitas.
-
Quero abrir um hotel no Brasil, entrar para esse ramo. Tenho o dinheiro para
investir, mas não a experiência no ramo. Por isso...procuro um especialista no
assunto. Quero ser sua sócia, Sebastian.
-
E posso lhe perguntar como uma funcionária pública tem os recursos necessários
para abrir um hotel no Brasil? – Aquilo estava muito estranho.
-
É claro. Sou herdeira das ações de meu pai em uma multinacional do ramo
automobilístico. Ele faleceu há cerca de um ano e eu tenho de começar a
investir os recursos que se acumulam em minha conta bancária.
-
Qual multinacional?
-
BTez Motors. Javier Alencastro Benitez, meu pai, foi um dos diretores da
empresa por décadas. Morreu recentemente.
-
Já ouvi falar da BTez. É uma empresa sólida. Dinheiro acumulado é um ótimo
problema para qualquer um, senhorita Alencastro. Façamos o seguinte...envie
para minha secretária um projeto do que deseja, como local, tipo de
empreendimento e valores disponíveis. E então nós voltaremos a conversar. Está
bem assim?
-
Sim, Sebastian. Será um prazer encontrá-lo novamente.
Assim
que ficou sozinho em sua sala Sebastian telefonou para a secretária. Para fazer
sua fortuna, além de esforço e muito trabalho, sempre contou com uma ajuda
subliminar, uma espécie de sexto sentido muito vivo. Alguns chamariam de
premonição. Qual fosse o nome, estava agindo naquele momento.
-
Essa moça que acaba de sair do escritório irá encaminhar uma documentação.
Quero ter os papéis em mãos assim que chegarem e também precisarei de uma ampla
investigação. Chame o escritório de investigação mais renomado do país. Quero
um relatório completo a respeito da senhorita Alencastro o quanto antes.
Enquanto
investigava Gabriela, Sebastian era investigado por Elizabeth. Nesse primeiro
dia no Brasil, no entanto, nada descobriu sobre o homem grisalho e charmoso que
apesar de não ser russo, visitava com frequencia a boate. Três mulheres que lá
estavam quando da invasão policial já tinham retornado ao Brasil e retornado às
famílias. Outras ainda chegariam. Quem ainda retornaria era o homem
hospitalizado e sob vigilância policial. Aquele era um depoimento pelo qual ela
ansiava.
-
Aquilo é o demônio! Pra ele não é apenas dinheiro. Ele tinha prazer em nos
machucar, nos estuprar. Quanto mais ferisse melhor. – Lhe confidenciou uma
jovem que tinha calafrios apenas em pensar no líder que mantinha as garotas
obedientes na Noxotb.
Ficar
frente a frente com aquele carcereiro demoníaco era um dos grandes objetivos de
Elizabeth. Não era apenas pelo que as mulheres lhe disseram. Era, em especial,
pelo olhar dele lá na boate. ‘chegou tarde, dois dias atrasada’. Dois dias
antes Beatriz fora vendida. Gregory a reconheceu. Ele fora o carcereiro de
Beatriz. E, muito provavelmente, sua irmã também havia sofrido nas mãos daquele
carrasco.
-
Mas ele não agia sozinho. – A mesma jovem ainda lhe disse. – Samantha, a
vagabunda que ele tratava como esposa, era sua cúmplice em tudo.
Elizabeth
não faz ideia de quem é Samantha ou onde estaria. Mas já tinha descoberto como
escapou da Noxotb. E tinha descoberto um pouco de sua história. A prostituta
que ascendeu a criminosa. Casou-se com o carcereiro e mudou de status, sabia
como fugir, mas preferia lá ficar. E, segundo lhe disseram, desgostava
especialmente de Beatriz. Ela certamente teria o que lhe dizer.
-
Vou encontrá-la, Samantha. Pode apostar que eu vou. – Jurou, sem medo algum de
estar mentindo.
Em
meio a toda aquela angústia, ao menos uma notícia positiva lhe chegou. Matheus,
magoado por não ter recebido uma visita assim que ela chegou ao Brasil, lhe
telefonou com uma bela novidade.
-
Saiu uma liminar a seu favor. A partir de agora, pode visitar Eva. - A pequena
filha de Beatriz, cujo par que nunca havia demonstrado interesse por ela, mas a
levou embora assim que a mãe foi sequestrada, agora finalmente poderia voltar a
conviver com a família materna. – A cada 15 dias você terá um final de semana
com Eva.
-
Obrigada, meu amigo. É um alento poder contar com você.
-
Eu quero saber detalhes de tudo o que descobriu. Porque você e Miguel não vem
jantar aqui em casa? Paty vai adorar preparar uma janta leve e nós conversamos.
-
Não posso. Cheguei ontem, ainda estou cansada e...pra ser sincera...quero ficar
quietinha em casa com Miguel. Mas vamos marcar logo um jantar quero sua ajuda
para esclarecer algumas coisas. E de Paty também!
-
Está bem. Bom descanso então.
Elizabeth
bem que pensou em analisar mais alguns projetos antes de ir para casa. Só não
vez isso porque quando lia a folha de rosto de um deles seu celular voltou a
tocar. Dessa vez não era Matt, nem uma ligação comum. Era apenas uma mensagem
vinda por WhatsApp. Mas vinda de Miguel, bastava para fazer seu coração
saltitar no peito.
[Preparei a janta. Está uma delícia e só falta
você chegar]
Não
havia como dispensar aquele convite. Não quando aquele homem fazia de tudo por
ela e, ainda por cima, tinha a capacidade de preparar o jantar.
[Já vou pra casa. Estou com fome, de comida e
de você]
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