Eu evitava falar com minha mãe. Sabia
que mais cedo ou mais tarde teria de contar os acontecimentos em minha casa que
culminaram comigo procurando minha esposa pelas ruas frias de Boston. Eu
agradecia não estar nevando, mas o frio era intenso e com a pouca roupa que
Bella usava, a noite deve ter sido horrível.
- Pode me dizer o que sua mulher faz
fora de casa a essa hora? Mal amanheceu.
- Nós estamos com problemas. Graves
problemas. E eu os resolverei com Bella.
- Deixando ela trancada como se
fosse um animal? Qual é o próximo passo Edward, colocar uma coleira nela?
- Ana não podia ficar quieta! –
Inferno!
- Não, ela não iria ficar quieta
enquanto você destrói sua vida, a de Bella e todas as das pessoas que amam
você. Como acha que eu me sinto ao saber que o filho que eu tanto amei e
eduquei se transformou em um monstro capaz de manter a mulher em cárcere
privado!
- Eu resolverei...
- Basta Edward! Eu fingia que não
via muitas coisas, mas isso acabou. Eu deixei você se tornar muito próximo de
Carlisle e seu pai o tornou igualmente amargo.
- Não misture as coisas mãe!
- Isso digo eu! Não haja como um
monstro! Não fique igual a ele! Amor nenhum suporta conviver com um monstro
Edward e, mesmo se Bella o amar, esse amor morrerá se você não aprender a ser
um homem de verdade. Acha que eu não amei Carlisle? Amei muito e tentei com
todas as minhas forças ficar com ele, mas chegou um momento em que a mente
venceu o coração e eu cheguei a conclusão que não era saudável aquela relação.
- Eu sei que ele não foi um bom
marido.
- E você está indo pelo mesmo
caminho. Só preste a atenção no que digo. Seu pai está envelhecendo sozinho e
amargurado, destilando o veneno dele em pessoas fracas como você. Pessoas que
ele consegue controlar.
Eu segurava as lágrimas que
insistiam em desejar correr por meu rosto. Esme sempre foi assim, dona de uma
sinceridade crua, doce e severa como toda boa mãe. Se outra pessoa dissesse que
sou fraco eu provavelmente ira explodir e negar até a morte. Mas como negar a
verdade dita por quem me deu a luz e, mais do que isso, quem tentou a todo
custo evitar que eu me tornasse o que sou. Um mostro. Ela percebeu o quanto
suas verdades doeram.
- Desculpe filho! – Ela passou a mão
em meus cabelos. – Mas alguém precisa lhe mostrar a realidade.
Decidi contar o
que se passou...apenas o essencial.
- Nós brigamos mãe. Bella estava
descontrolada, me atacou. Eu tinha bebido muito e, sem pensar, a coloquei para
fora de casa e disse que ela deveria deixar o condomínio. Eu voltei a beber e
só me dei conta do que fiz pela manhã.
- Meu Deus! – Foi só o que ela
disse.
- Eu preciso encontrá-la mãe!
Nós ficamos circulando pelas ruas do
bairro procurando por ela. Já não chovia em Boston, mas as ruas ainda estavam
bem molhadas. Depois de mais alguns minutos rodando sem um destino certo minha
mãe deu uma sugestão difícil de aceitar.
- Vamos ao hospital Edward. Se algo
aconteceu ela deve ter sido levada para lá.
- Isso é o que mais temo.
- Mas agora não serve de nada temer!
– Ela foi dura. – E se não estiver lá, a única alternativa é ir na delegacia.
Pegamos a avenida principal para
seguir em direção ao hospital. Quando passamos por um cruzamento, um tumulto
chamou a atenção de Esme. Eu estava concentrado demais para ver qualquer coisa.
- Filho, olhe. – Tinham algumas
pessoas aglomeradas em uma calçada com grama. – Deveríamos ver o que é. Pode
ser algo com Bella.
- Deixe que eu vou.
Estacionei o carro e segui andando
até o tumulto. Eu tremia, mas nada se comparava com o frio gélido que cruzou meu
corpo quando vi, em meio aos curiosos, o corpo de Bella o corpo de Bella
esticado no chão. As pernas estavam descobertas, com a saia da camisola indo
apenas até o meio das coxas, e a parte de cima do corpo estava abrigada por uma
jaqueta impermeável. Provavelmente a que o porteiro havia dado.
Passei pelas pessoas, conferi sua
pulsação e a peguei no colo. Alguns devem ter nos reconhecido mesmo estando
fora da vizinhança, mas ninguém comentou nada. Levei-a até o carro. Esme viu eu
retornar e já nos aguardava com o cobertor estendido. Bella tinha os lábios e a
ponta dos dedos começando a ter um tom azulado pelo frio. Liguei o carro com
Bella tremendo mesmo enrolada na coberta. Ia tocando o carro para o hospital,
mas Esme não quis.
- Para onde está indo?
- No hospital, onde mais? Ela não
está bem. – Eu jamais me perdoaria pelo que fiz.
- Ela precisa é de um banho quente.
Está gelada. Vamos para casa.
- Se você acha melhor! – Lembrei de
conferir se Ana já havia retornado. – Mãe, me empresta o seu celular? Eu não trouxe o meu.
Liguei para
casa.
- Oi Ana, sou eu. – Por sorte ela já
havia retornado.
- Edward eu cheguei faz pouco e vi
seu quarto. O que aconteceu? Por que está destruído?
- Depois eu explico Ana, agora
preciso de sua ajuda. Encha a banheira com água de morna para quente. Estou
chegando com Bella e ela está precisando disso.
Estacionei enfrente a porta da casa
e corri com ela nos braços, ladeado por minhas duas mães, até a banheira do
quarto de hóspedes A deitei na cama macia e enquanto tirava sua roupa ela ainda
estava sem sentidos e com a pele úmida e gelada. Ana foi testar para ter
certeza de que a água ainda estava na temperatura adequada, mas minha mãe
permaneceu ao meu lado e logo viu o que não esperava. Ao que parecia eu
realmente havia agarrado Bella pelos braços um pouco forte demais.
- Edward Cullen! Diga que não foi
você quem fez isso nos braços de Isabella.
- Eu estava bêbado mãe, nem lembro
direito do que fiz.
- Isso não perdoa tudo! – Ela não se
conformaria fácil assim. – Depois conversaremos. Agora vamos aquecê-la.
Depois que estava nua, colocamos
Bella na banheira e ficamos observando. Chamamos o médico da família para
examiná-la. Ele era discreto e jamais falaria nada das estranhas marcas nos
braços de Bella ou do que originou esse frio todo. Quando estávamos aguardando
o médico chegar o Bella já ganhava alguma cor no rosto minha mãe e eu ficamos
observando seu corpo na água morna.
- Ela parece tão frágil. – Eu disse.
- Sim, perdeu peso.
De repente Bella recobrou os
sentidos e, ao abrir os olhos me olhou com medo, agarrou as mãos de Esme e
gritou para eu sair.
- Socorro Esme....por fa...vor...me
ajude! Não deixa ele chegar perto de mim. Ele me prendeu aqui, não me deixava
sair e depois...
- Calma querida. Eu já sei do que
aconteceu e garanto, não acontecerá novamente. Confie em mim.
- Bella...me escute...nós vamos
conversar e resolver tudo!
- Eu não quero conversar! – Ela
tentou se erguer na banheira, mas não conseguiu, estava fraca.
- Isabella, fique tranquila. – Minha
mãe tentava acalmá-la. – Edward saia daqui. Ela precisa de repouso.
- Mas mãe nós precisamos conv...
- Agora não é hora. Vá a cozinha,
peça para Ana preparar um chá e depois uma comida leve para Bella. – Ela me olhou
séria. – Fique longe desse quarto. Aproveite para tomar um banho.
Fiz tudo que Esme mandou e fiquei
sentado na sala enquanto Bella era examinada pelo médico. A demora era muita e
fui entrando em desespero lembrando tudo que tinha feito nos últimos meses.
Tudo o que forcei Bella, tudo o que vivemos juntos. Eu que jamais havia chorado
na vida estava nesses dias emocionado demais. Nesse momento não eram lágrimas
contidas de dor ou sofrimento que me vinham aos olhos. Não, era desespero puro.
Desespero de quem sabe ter cometido erros irremediáveis. Eu nunca conseguiria
ter a confiança de Bella novamente e agora ela tinha ainda mais motivos para
considerar o tal Jacob um parceiro melhor do que eu. Meu corpo sacudia enquanto
todo esse sofrimento vinha à tona.
Quando olhei para o lado vi Ana,
Esme e o médio observando meu pranto em silêncio.
- Como ela está?
- Sua esposa irá se recuperar meu jovem. O maior problema
é psicológico. Precisa de paz. E de muitas horas de sono. – Ele me observou
atentamente. – Pelo visto não é só ela. Acho que você também precisa de um
calmante Edward.
Eu não queria, mas minha mãe
insistiu e acabei aceitando o remédio. Alguns minutos depois dormia
pesadamente.
Muitas horas
depois...
Acordei com a cabeça pesada sem
saber onde estava. Sim...eu foi dormir em outro quarto já que o meu estava
destruído e Bella havia dormido no de hóspedes. Levantei. Olhei as horas....
22:00
Dormi 12hs...estranho...nunca fiz
isso antes. Foi ao banheiro e joguei água gelada em meus olhos. Ao passar pelo
corredor pensei em ir no quarto onde Bella estava, mas achei melhor esperar e
ver o que se passava na casa. Desci até a cozinha, peguei um xícara de café e
procurei por Ana.
- Bom dia Ana. – Ela olhava para
baixo, fugindo dos meus olhos. Deveria ser por estar brava pelo que eu fiz. Não
tirava sua razão.
- Bom dia filho.
- Bella está acordada?
- Eu...- Ana gaguejou um pouco. –
Acho que sim.
- Como ela está? – Eu tinha medo de
encará-la novamente e ver o pânico em seus olhos.
Ana estranhamente olhou pela janela
da cozinha.
- Acho melhor perguntar para sua
mãe. Ela está chegando.
- Onde ela foi?
- Ela terá todas as respostas que
você quer Edward.
Quando minha mãe entrou na casa foi
muito direta e pediu que eu a acompanhasse até o escritório. Eu não sabia o que
se passava. Mas descobri ao entrar no cômodo em que trabalhava. A gaveta onde
estava o passaporte de Bella estava aberta. Saí correndo pela casa apenas para
confirmar. Cheguei ao quarto e o vi vazio e sem vida. Exatamente como eu
estava. Observei minha mãe vir me procurar.
- Como pôde fazer isso comigo?
Aproveitou que eu estava dopado!
- Um dia você irá me agradecer
Edward. Vocês precisam desse afastamento. Ela relação deixou de ser saudável.
- Ela não podia ir embora sem termos
conversado!
- Uma conversa não apaga magoas tão
profundas como as de Bella.
Eu só podia
perguntar uma coisa...
- E tem algo que apegue? – A
desolação tomava conta de meu corpo.
- Não, mas o tempo alivia, curra as
feridas. Deixe Bella currar suas próprias feridas, dê esse tempo a ela e,
enquanto isso, trate das suas. Cuide das suas magoas e avalie se vale a pena
tentar novamente. Assim, no calor dos acontecimentos, não se deve decidir nada.
Minha mãe saiu do quarto e eu fiquei
ali curtindo uma solidão dupla. Além de estar sem a mulher que amo e sem o
filho que tanto sonhei, estava sem sentimentos. Me sentia completamente vazio.
Era como se um trator tivesse desmembrado cada pedacinho de meu corpo e eu não
tivesse ânimo para tentar me reerguer.
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