Por: Bella
No avião com destino a Nova York
colocava os pensamentos e os sentimentos em ordem. Os últimos tempos foram como
um turbilhão de emoções. O que sentia agora? Mágoa? Certamente. Culpa? Também,
afinal sempre tive a opção de contar a verdade e preferi a omissão. Ódio? Amor?
Paixão? Tudo parecia embaralhado em meu coração. Agora a única alternativa era
aguardar e deixar as feridas cicatrizarem como a sábia Esme havia lhe dito.
Por um momento, um lindo momento,
pensei que poderia ser feliz ao lado de Edward. Insana ilusão essa. Como um
relacionamento poderia suportar tantas mentiras? Então tudo desmoronou quando
Jacob apareceu milagrosamente. Um milagre bem ruim, é claro. Como ele pôde me
beijar? E, principalmente, como eu pude retribuir o beijo?
No fundo eu sabia que meus momentos
de felicidade se findaram naquele instante. Por isso fugi para o mundo dos
sonhos tomando remédios para dormir. Na manhã seguinte o demônio que vivia
dentro de meu marido estava novamente desperto. Eu sabia que cometi erros,
talvez erros imperdoáveis, mas jamais aceitaria ser mantida prisioneira, sentia
que por mais que o amasse, Edward estava descontrolado. Eu precisava escapar.
Quando a oportunidade surgiu, aproveitei. Fui até a
pasta de Edward enquanto ele tomava banho sabendo que as chances de encontrar a
chave, sair da casa e do condomínio sem ele ver e ligar para Alice eram mínimas,
mas tinha de tentar. Não havia chave alguma dentro da pasta e, quando já tinha
desistido de tudo e a fechava, ele deixou o banheiro. Ficou descontrolado,
bravo e eu...bom...eu não tinha mais nada a temer. Joguei a pasta sobre ele,
arruinei papéis que deveriam ser importantes, destruí tudo o que vi. Até que
ele ergueu a mão. Achei que Edward pela primeira vez iria me bater, mas ele
apenas me agarrou pelo braço e jogou sobre a cama.
Eu não fui dormir como ele mandou.
Gritei por horas ordenando que me deixasse ir embora. Jamais imaginei a atitude
impensada feita por Edward logo depois. Jamais o vi naquele estado. O cheiro de
álcool impregnado em seu corpo me causou enjoo. Quando percebi suas mãos erram
como garras me puxando escada abaixo e, inacreditavelmente, porta a fora.
- O que vai fazer Edward?
- Vou te dar o que tanto quer. Não
quer a liberdade? Não quero te ver nunca mais Isabella. Suma da minha casa
agora.
- Edward! Eu estou de camisola, está
chovendo, é madrugada. Não posso ficar na rua...por favor está frio.
- Era isso que você tanto queria...agora
suma daqui. Você tem 20 min para passar pela portaria. Ou virão buscá-la.
Sem alternativa eu saí caminhando
descalça pelo chão úmido. Cheguei na portaria e pedi abrigo.
- Só até amanhecer, por favor.
- Desculpe, eu não posso. – Disse envergonhado
o porteiro logo depois de me dar seu casaco.
Então eu andei...andei...andei até
não saber mais onde estava ou como voltar para casa de Edward. Só depois
percebi que poderia ter pedido ao porteiro para fazer uma ligação, para falar
com Esme ou com Alice. Qualquer um capaz de me ajudar. Agora não sabia como
voltar. Então caminhei. Quando a chuva tornou a ficar próximo me abriguei
embaixo de uma marquise. Percebi que já tinha caminhado muito afinal ali já
haviam comércios. A chuva tornou a acalmar e eu segui andando sem destino. Isso
ajudava ao frio ficar menos intenso. Parecia que meus pés iam congelar. Uma
tontura tomou conta de meu corpo e a sensação que eu tinha era de que não
sentia mais o frio, não sentia nada. Não lembro bem como foi, mas acordei em
uma água morninha, gostosa, com as mãos de um anjo fazendo carinho em meus
cabelos.
Cheguei a pensar estar morta. Abri
os olhos e vi Edward ao lado da banheira e Esme me acarinhando. Entrei em
pânico! Depois de tudo o que passei nessa noite não era justo voltar para lá,
voltar para minha jaula. Não! Eu merecia ir embora.
- Socorro
Esme....por fa...vor...me ajude! Não deixa ele chegar perto de mim. Ele me
prendeu aqui, não me deixava sair e depois...
- Calma querida. Eu já sei do que
aconteceu e garanto, não acontecerá novamente. Confie em mim.
- Bella...me escute...nós vamos
conversar e resolver tudo! – Ouvi Edward dizer, mas não desejava ouvir.
- Eu não quero conversar
Ele saiu por ordem de Esme e eu não
tornei a vê-lo. Ana trouxe um delicioso prato de sopa. Depois Esme voltou com
um médico que me examinou toda para chegar a conclusão que eu já sabia.
- Ela precisa de paz. Está muito
nervosa e o corpo tem de descansar.
Depois fiquei um pouco sozinha e
voltei a dormir pelo remédio que tomei. Quando acordei Esme e uma mala estavam
ao meu lado.
- Levante querida. Você precisa
comer e se arrumar, depois vai pegar um avião. Alice e Jasper vão estar no
aeroporto de Nova York esperando você.
Na saída ainda
perguntei por ele.
- Como Edward está?
- Dormindo depois de uma forte dose
de remédio. Quando acordar sofrerá sua ausência, mas será melhor assim. Você
precisa de paz e ele também, por mais que não reconheça.
- Esmee...como...
- Diga Bella, não tenha vergonha de
perguntar nada.
- Como você consegue gostar de mim,
depois de eu ter abandonado seu filho logo após o casamento.
- Se um dia você for mãe Bella,
entenderá que nós sentimos tudo que nossos filhos sentem. Meu filho a odiou e
eu também. Mas no fundo você foi responsável por fazê-lo feliz. Ele sofreu por
você, mas também foi feliz ao seu lado. E, se essa felicidade não foi
duradoura, não foi só por sua culpa. Ele sempre foi possessivo e deixou que o
sentimento de posse tomasse conta do relacionamento de vocês. E outras coisas
atrapalharam, coisas muito estranhas que foram planejadas.
- Por quem? – Eu não entendi.
- Não interessa agora. Vamos Bella
você precisa se arrumar para deixar essa casa antes que Edward acorde.
- Nunca mais vou vê-lo, não é?
- Eu não contaria com isso.
Ela saiu sem que eu pudesse pedir para explica
melhor. Agora estou aqui, no portão de desembarque do aeroporto de Nova York,
caminhando lentamente para Alice que aguardava com os braços abertos.
- Obrigada por me receber. – Disse chorando.
Voltei ao meu antigo quarto, em nosso antigo
apartamento, mas não era mais a mesma mulher. Eu não sabia que caminho seguir.
Passei todo aquele dia sozinha no quarto. Jasper devia estar impedindo Alice de
entrar com uma enxurrada de perguntas. Na manhã seguinte:
- Bom dia flor do dia! Vamos voltar ao trabalho?
Eu queria dizer não e passar o dia deitada naquela
cama chorando pelo que fiz à minha vida, mas resolvi levantar e me obrigar a
viver.
Um mês depois...
Uma nova vida? Não, mas uma vida melhor a cada dia.
Eu estava tentando seguir uma rotina e acertar meus problemas. Consegui, não
sem ajuda, é claro. De Esmee, de Jasper, de Alice e...e de Edward. Não, eu não
o tinha visto, mas tive notícias dele. Seu advogado entrou em contato comigo
para resolver tudo e desatar todos os nós que ainda nos uniam. Ele cancelou o
processo contra meu pai. Charlie havia deixado a clinica há duas semanas e
nunca veio me ver. Meu telefone, documentos, roupas e até as joias, tudo que
era meu havia sido entregue no apartamento. Ele também me mandou um e-mail:
Bella;
Espero ainda
poder ver você e ter certeza de que não lhe fiz nenhum dano irreparável.
Enquanto isso não acontece quero me certificar de que está bem. Espero que
tenha recebido todos os seus pertences em total ordem, como pedi à equipe de
entrega. Enviei também tudo que comprei para você. É seu e jamais será de
outra, assim como meu coração. Não vou lhe pedir desculpas, afinal não apagará
o que lhe fiz. Logo sairá a documentação do divórcio. Espero que seja feliz.
Do seu
Edward Cullen
- Burro!
- Quem é burro? – Disse Alice entrando no meu quarto
sem bater, como sempre fazia e eu nem me dava o trabalho de reclamar.
- Edward, mas talvez a palavra certa seja cego.
- Por quê?
- Ele mandou uma mensagem avisando das coisas foram
entregues e dizendo que o divórcio logo sairá. Disse que me quer feliz.
- E ele é cego por não perceber que essas duas
coisas juntas são impossíveis, é isso? Por que não responde lhe dizendo isso?
- Não Ali. Ele pode sim me amar, mas não confia em
uma palavra que eu digo. Nós temos que aceitar que não existe possibilidade de
dar certo. Nós perdemos o respeito um do outro.
- Então erga a cabeça e faça o que ele pediu. Seja
feliz!
- Vou tentar. – Disse e fui dormir.
Na manhã
seguinte...
Acordei me sentindo disposta e forte
como a muito não acontecia. Pena que ao pular da cama uma onda de enjoo me fez
correr em direção ao banheiro. Vomitei até não ter mais nada em meu estômago.
Ou assim eu pensei. Quando cheguei à cozinha, no entanto, encontrei Alice
fazendo café da manhã. Quando o cheiro do leite me atingiu voltei para o
banheiro para colocar o que sobrou de meu estômago para fora. Estava no quarto
quando Alice veio me trazer um chá.
- Obrigada!
- Se não passar, vai ao médico, ok?
– Disse ela parecendo uma mãe.
- Sim senhora.
Passei a tarde bem. Na manhã
seguinte tudo se repetiu.
- Bella, vá ao médico. – Disse
Alice.
- Se não passar eu vou Ali.
Depois de uma semana assim, não pude
mais fugir.
- Está bem Alice. Hoje à tarde vou
ao médico!
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