A
madrugada seguiu agitada. Ana colocou Isabella deitada sobre uma das bolsas de
água quente e a outra na parte baixa das costas. Lhe deu um remédio e ficou
ali, alisando seus cabelos até ela adormecer, quando o sol já brilhava.
Isabella ficou calada todo o tempo, só recebendo os mimos de Ana. Essa sim
falou bastante, disse que ela tinha de se cuidar, ir ao médico, entre os
inúmeros conselhos que, em meio a dor, provavelmente Isabella sequer percebeu.
O
dia seguinte trouxe alguma calmaria. Eu fiquei em casa planejando conversar com
Isabella e quando ela acordou, por volta das 11hs, esperei que se alimentasse e
fui ao quarto. Seu rosto estava abatido, mas aparentemente, não estava com dor.
-
Podemos conversar?
-
Isso é novidade. Deve ser a primeira vez que você pede algo, não ordena.
-
O que há com você? – Ignorei com comentário ácido.
-
Já respondi isso ontem.
-
Não é preciso ser mulher para saber que o período menstrual não necessariamente
é desta forma. Isso não é normal.
-
Isso é problema meu Edward. Se atrapalhei seu sono, posso tranquilamente mudar
de quarto nessa semana. Até porque estou inutilizada para seus objetivos
principais nesses dias.
-
Está tentando me convencer de que sempre será assim e não há nada para fazer?
-
Ao que parece sim.
Isso
não poderia ser real, era impossível conviver com isso pela vida inteira. Tinha
de haver algo de errado com ela, muito errado. E eu teria continuado nossa
conversa se Ana não fosse chamar para avisar de uma visita.
-
Seu pai está ai? – Disse ela.
-
Era tudo que eu precisava.
-
Está aguardando na sala e também quer ver a menina.
-
Não disse que ela está indisposta?
-
Disse, mas ele não está de muito bom humor. Falou que...hamm... – Ela
gaguejava.
-
Fale Ana. – Interferiu Isabella. – Diga quais elogios recebi dele.
-
Fale de uma vez Ana.
-
Ele disse que só o que faltava ser fraca e doente. Que deve ser incapaz de
colocar no mundo um menino Cullen, forte e saudável como devem ser.
-
Você fica aqui Isabella. Ana desce comigo e leva aquele café que só você faz.
Vamos acalmar a fera antes que ela ataque alguém.
Minha
mulher respondeu e eu deixei nosso quarto
acompanhado por Ana.
-
Bom dia pai. A que devo a visita?
-
Vim ver o que há de errado aqui.
-
Não tem nada errado.
-
Mentira! – Ele gritou.
-
Sem gritos em minha casa. – Falei pausadamente. – Vamos ao escritório
conversar. – Quando ambos estávamos sentados, continuei falando. – Já pedi que
não se intrometesse em assuntos íntimos de minha vida.
-
Ela foi paga para lhe dar um filho! Está vivendo aqui feito uma rainha e não
engravidou ainda.
-
E o que quer que eu faça? Estamos tentando e tenho certeza de que ela não toma
anticoncepcional.
-
E se ela não puder ter filhos? Lembro que na época do contrato quis que passasse
por testes, mas você resolveu terminar com tudo logo e casar rapidamente. E se
ela for seca? Se dela nunca nascer um Cullen?
-
Aí teremos de lidar com isso. – Mas era impensável que uma mulher tão feminina,
não pudesse ser mãe. – E eu considero cedo para já pensarmos nisso.
-
Teria de descobri o quanto antes. Se ela for estéril, acabe com esse casamento
o mais rápido possível e procurar por outra jovem. Talvez desta vez Tânia
queira se tornar a senhora Cullen.
-
Não coloque Tânia nesse assunto. Não quero filhos com ela.
E
ele seguiu falando de outras mulheres, seus planos para o neto, a decepção por
Isabella ainda não ter lhe dado a criança e o fato de quase um quarto do tempo
de contrato já ter passado. Não que estivesse nos planos dele que eu cumprisse
todo esse tempo. Desde que idealizou todo o plano de ‘comprar’ uma esposa para
mim, seu objetivo era afastar Isabella do filho assim que desse a luz e, lhe
dando algum dinheiro, deixá-la liberada das exigências do contrato. Ficamos no
escritório por algum tempo, até que Ana veio chamar para o almoço. Para o meu
desespero, Isabella resolveu dizer não ao repouso e veio almoçar conosco.
-
Hora, bom saber que sua indisposição passou. – Carlisle disse assim que ela
chegou.
-
E por que eu me privaria da companhia tão simpática de meu sogro?
-
Fiquei sabendo que estava adoentada.
-
Adoentada? Nossa Carlisle, quantos séculos você tem?
-
Não chego a tanto. Mas me diga... pode garantir então que está saudável?
-
Não pretendo morrer amanhã. – Disse em tom de deboche.
-
Fale direito comigo! Não pense que irá me enganar Isabella. Você já aprontou
demais, não irei nunca mais permitir que suma sem cumprir com o contrato que
assinou. Não se esqueça enrascada em que você e seu pai está.
-
Não seja repetitivo Carlisle. De chantagista já basta seu filho. – Ela olhou em
meus olhos e eu soube que precisa interromper aquela discussão o quanto antes.
-
Não seja idiota Isabella. – Meu pai a agarrou por ambos os braços. – Sei que
está armando algo para não cumprir com o contrato. – Ele a sacudia. – O que é?
Fale!
-
Me largue!
-
Diga! – Ele a apartava cada vez mais e eu tive de intervir.
-
Basta! – Ambos olharam para mim. – Pai não fique tão nervoso, não é bom para o
seu coração. – Isabella me fuzilou com os olhos, mas o melhor era afastá-los. –
Isabella, por favor, vá para o quarto.
-
Você não vai permitir...
-
Isso foi uma ordem! Vá agora para o quarto.
-
Ainda tem a petulância de questionar o que você fala.
-
Velho desgraçado, você não tem nada haver com isso. Se vou ou não ter um filho,
não é da sua conta.
-
Aí se engana, a criança será muito mais minha do que sua.
-
Claro. – Ela olhou bem para nós dois. – Então aguardem esse bebê vir.
-
Você ouviu Edward? Ela confessa como essa cara deslavada que não pretende te
dar essa criança.
-
Além de velho é surdo? Não disse nada disso.
-
Pela última vez Isabella, SUBA!
O
restante do almoço foi terrível com meu pai destilando seu ódio por Isabella e
ainda vendo a expressão zangada de Ana que certamente estava furiosa por eu ter
mandado Isabella se retirar da mesa. Vi quando ela subiu as escadas com uma
bandeja e voltou com ela intacta.
-
A rainha das mentiras vai se fazer de ofendida para ganhar seu coração Ana?
-
A menina Isabella não é assim. – Antes de voltar a falar ela olhou em meus
olhos. – E não tem vida de rainha nessa casa.
-
Vejo que já iludiu você.
-
Acho que já basta de confusão por hoje pai.
Quando
Carlisle finalmente foi embora eu fui até a cozinha conversar com Ana. Como eu
previa, ela não foi nada amigável.
-
Ela comeu alguma coisa?
-
Não. Tomou remédios e adormeceu.
-
Isso é ruim.
-
Não entendo garoto. – Ela ainda me chamava assim. – Se queria que ela comesse,
não deveria tê-la mandado se retirar da mesa.
-
E deixava eles brigando por toda a refeição?
-
E ela é a culpada de tudo? Por que permite que seu pai fale assim com ela?
-
Sabe que meu casamento não é normal. E Isabella não colaborou. – Eu tive de rir
um pouco. – Chamou ele de velho surdo!
-
É pouco! Ela está cansada, com dor e ainda tem de ouvir essas ofensas dele.
-
Ok, Ana. – Eu suspirei. – Preciso esfriar minha cabeça. Vou sair, ligue se
precisar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário