- Relaxa Bella. Porque você está
chorando meu bem? – Charlie falava enquanto fazia carinho nos cabelos de sua
filha adotiva mais problemática e traumatizada. Porque essa criança sofria
tanto, ele pensava. – Não foram legais com você na escola? Não a trataram bem?
- Não pai, não é isso. Alguns
garotos até falaram comigo...foram simpáticos.
- O Edward Cullen mais do que todos
Charlie. – Apesar de ser o mais novo, Mateus era o irmão de Bella com mais
dificuldade em aceitar Charlie como um pai adotivo. – Ele já está derretido
pela Bellinha.
- Quem é Edward Cullen, minha filha?
– Charlie questionou.
- Não é ninguém pai...só um garoto
da minha aula de biologia. Ele quis ser simpático...só isso.
Mas a mente de Bella vagou para o
momento em que teve os olhos daquele lindo e doce rapaz voltados apenas para
si.
- Você é a garota de Phoenix? – Disse meu novo colega
de classe, passando as mãos pelos fartos cabelos cor de bronze.
-
Sim, Isabella Swan, muito prazer. – Respondi.
-
Veio com seu pai e sua mãe?
-
Eeee, não exatamente. – Eu não sabia como responder. Então arrisquei. – Com meu
pai e meus irmãos.
-
Seu pai faz o que? – Nossa, como ele é curioso, pensei.
-
Ele é advogado. Charlie Swan.
-
Legal. O meu pai é médico. Aaaa...a gente pode sair uma hora.
-
Talvez. – Eu deveria ter dito não. Não vim aqui para namorar, mas para
encontrar meu filho.
Ele a tratou com carinho e respeito,
parecia um rapaz legal. Talvez pudessem ser amigos. Mas só isso. Ele devia ter
uns 16 ou 17 anos e tinha uma vida normal...ela não, ela tinha problemas
demais, traumas demais e, principalmente, um filho para encontrar e criar.
Edward merecia uma garota melhor.
- É verdade Bella, o garoto ficou
interessado em você.
Eu sorri tímida. Não sei, era isso o
que precisava responder. Nunca tive um namorado, não sei o que um garoto faz
quando acha uma garota bonita, quando a quer cortejar. Sei apenas o que um
monstro faz quando deseja uma garota, quase uma criança.
Tive alguns padrastos na vida,
alguns eram ruis, outros terríveis, mas nenhum foi tão cruel quanto Phil. Mamãe
é uma mulher instável, depressiva e dependente dos homens. Teve alguns maridos
durante a minha infância e de meus irmãos. Eu, Adam, Filipe e Mateus
dificilmente gostávamos dos homens que passavam pela casa. Só que normalmente
eles não ficavam por lá muito tempo. Logo se cansavam de Renée e de nós e iam
embora. Infelizmente Phil ficou.
Ele sempre foi bruto, nunca soube
nos dar um afago, um carinho. Por ser a única menina, meus irmãos acabavam
tentando me proteger dele. Levaram muito mais surras do que eu. Adam, o mais
velho, sempre me protegeu e por isso sentiu o peso dos punhos de Phil muitas
vezes. Nós quatro tentávamos nos dedicar aos estudos o máximo possível para
tentar ter uma vida melhor no futuro.
Foi por isso também que meus três
irmãos tentavam fazer bicos e trabalhar depois da escola. Eles já tinham idade
para isso...eu não. Então passei a ficar sozinha em casa. Sem meus irmãos, mas
com Phil e mamãe. Mas ela saia e tomava seus remédios para depressão e ele
começou a se aproveitar disso.
Numa tarde em que mamãe estava
adormecida ele veio até meu quarto.
- Que vai fazer para o jantar?
- Não sei ainda...o que quer comer?
Seu olhar era estranho...acho que
pensou algo que não quis me dizer. Estava penteando e arrumando meus cabelos,
quando terminei e fui sair ele me pegou pelo braço.
- O que eu quero, não precisa de
nenhum preparo especial. Está desfilando à minha frente faz algum tempo.
- O que quer dizer? – Eu sabia, mas
queria encontrar uma forma de sair de perto enrolá-lo até os garotos chegarem.
– Eu... eu tenho de ir para a cozinha Phil...agora.
- Shiiiii...calada...você não vai
pra cozinha nem vai dizer um ai. Estamos entendidos. – Ele falou enquanto
colocava as mãos dentro de minha calça. – Você não é mais criança, já tem corpo
de mulher. Já deve estar deixando muito garoto duro por ai.
- Não Phil, não é assim. – Eu
tentava me soltar, mas não conseguia.
Senti
uma bofetada estalar em meu rosto.
- Eu disse calada! É bom que não
tenha nenhum garoto...você é só minha Isabella.
Ainda era muito sofrido lembrar
disso. Lembrar das mãos me tocando, do cheiro de álcool no hálito, da
humilhação, da dor da penetração, do som da risada dele ao se aliviar, do
cheiro do cigarro aceso logo depois. Eu queria esquecer, mas não conseguia.
Quando meus irmãos chegaram em casa naquela noite ele já não estava. Havia
saído com mamãe. Eu não fazia ideia se ela sabia ou não.
Não consegui esconder de Adam o que
ele havia feito comigo...queria morrer ali.
Filipe também soube, mas Mateus só veio a descobrir depois...era muito jovem.
- Temos de levar você até um médico.
– Lembro exatamente das palavras de Adam.
- Não...ela tem de ir é na polícia.
– Felipe disse.
Mas eu não queria...meu objetivo era
apenas esquecer toda aquela humilhação. Mas meus jovens heróis não permitiram.
Saí de casa amparada pelos dois...íamos até o ponto de ônibus para pegar a
condução e ir no hospital quando, na janela de uma carro reluzente, apareceu
nosso anjo.
- Crianças...o que há? A menina não
parece bem...eu posso ajudar?
Adam olhou desconfiado, mas naquelas
circunstâncias, nada podia ser pior.
- Precisamos levar nossa irmã ao
hospital.
- Entrem no carro. Eu lhes dou uma
carona. – Depois que estávamos confortavelmente acomodados ele colocou o carro
em movimento e voltou a falar. – O que houve com a jovem?
Nós trocamos olhares...por mais
raiva que tivéssemos de Phil, sabíamos que nossa mãe poderia ser implicada.
Preferimos o silêncio.
- BELLA...BELLA...filha por Deus,
pare de chorar e fale comigo! – Charlie me trouxe de volta ao presente com
leves sacolejos. – Em que planeta você estava?
- Estava lembrando de quando você
nos adotou. Apesar de tudo, foi uma das poucas coisas boas que aconteceram na
minha vida.
- Não sofra meu anjo. Você tem
apenas 16 anos. Tem uma vida toda de coisas boas pela frente. Com muitos namorados,
inclusive. Conte para o seu velho pai aqui...você gostou do tal Edward?
- Aaaa pai...não foi nada. Ele me
convidou para sair, mas tenho certeza de que foi apenas por educação. Para me
dar boas vindas.
- Não seja boba, ele deve ter
gostado de você. Quem não gosta de uma menina linda, educada e inteligente?
Amanhã vou descobrir se ele é gente boa e depois te digo se ele pode sair com
você.
- Pai! – Eu respondi indignada.
- Não vou deixar ninguém mais de
magoar Bella.
Eu sorri com isso. Sempre fora
assim. Quando chegamos enfrente ao hospital eu comecei a tremer e disse que não
queria entrar, não queria mãos estranhas me tocando. Charlie entendeu o que se
passava e nos levou até sua casa. Uma linda, grande e solitária casa.
- Bella, sei que não me conhece e
não tem razões para confiar em mim, mas eu sou Charlie Swan, sou advogado e não
quero lhe fazer mal. Porque não me conta o que aconteceu.
E, por alguma razão desconhecida, eu
confiei. Mesmo entre lágrimas eu falei tudo e recebi um surpreendente abraço.
No final Charlie assumiu a situação.
- Vou buscar seu irmão mais novo
para ficar aqui conosco. Ele pode ser abusado também e nós não desejamos isso.
Vou pedir para uma médica da minha confiança vir aqui cuidar de você. Pode ser?
É necessário.
- P..po...de...pode. – Eu gaguejei.
- Fico feliz. Depois nós vamos
conversar sobre vocês...sobre o futuro de vocês. Quero que saiba que não estão
mais sozinhos no mundo.
Foi tudo mais rápido do que
esperávamos. Quando voltou de nossa antiga casa, Charlie contou que encontrou
com mamãe e Phil. Eles não queriam deixá-lo pegar Mateus, mas ele ameaçou
chamar a polícia. Disse que sabia dos maus tratos e que, naquele momento eu
fazia um exame para comprovar o abuso sexual. Era mentira, eu nunca dei queixa
do que se passou, mas serviu para assustá-los.
Phil saiu de nossas vidas e, para
nossa profunda decepção, Renée escolheu ir junto. Escolheu abandonar os filhos,
para não perder o amante. Dali para frente Charlie foi nossa família.
- OBRIGADA PAI. – Dessa vez fui eu
que o surpreendeu. Acho que sua mente estava tão distante quanto a minha. –
Obrigada pelo que fez por nós. Nunca poderia pagar...
- Não diga bobagens Bella. Vocês me
trouxeram muito mais. Eu era sozinho, agora tenho quatro filhos maravilhosos e,
se Deus permitir, vamos recuperar seu bebê e eu serei avô também.
Eu sorri com essa ideia.
- Finalmente temos uma pista
pai...quero tanto tê-lo em meus braços. É só nisso que penso.
- Eu sei filha. Você teve uma vida
difícil, uma gravidez dura pela forma como seu filho foi concebido. Está na
hora de poder finalmente ser mãe. Mas...
- Mas...diga pai.
- Mas você não dever ser APENAS mãe.
É uma jovem, tem de estudar, escolher uma faculdade, namorar...
- Não tem espaço para tudo isso na
minha vida pai. Como vou namorar um garoto da minha idade já tendo um filho?
Ninguém ia me querer.
- Um garoto talvez não Bella. Mas um
homem, quando ama, sabe lutar pelo o que quer e superar essas coisas.
Ficamos algum tempo abraçados...até
que ouvimos a campanhinha tocar e logo Mateus veio trazendo uma única rosa
vermelha e um envelope. Abri e vi o simples recado escrito em uma caligrafia
bonita, mas confusa:
Cinema
na Sexta?
E.C
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