Jonas Vicentin
Diretor
O prazer sentido por Jonas ao olhar a placa na porta de
sua sala foi surpreendente, até para ele mesmo. Aquele afastamento o fez ver
como a JRJ lhe era importante. A sensação ali era de controle absoluto. Na
vinícola dependiam do clima e de muitos fatores aos quais não podiam controlar.
Por isso o vinho envolve tanto amor. Seu sabor é sempre uma surpresa. E isso
sempre apaixonou Jonas, assim como Lorenzo e seus antepassados. Mas as certezas
da construção civil também muito lhe faziam bem. Desenhar um prédio e vê-lo ser
erguido, nas exatas medidas e detalhes estipuladas por ele, pelas mãos firmes
dos operários, lhe dava orgulho.
Jonas olhou em volta do seu escritório e viu a limpeza e
organização de sempre. Sobre a mesa um porta retrato com Emily e Vida na foto.
E outro vazio. Cortesia de Valquíria para ele se lembrar do novo integrante da
família. No banheiro ainda havia o cheiro de sua loção pós barba e, penduradas
em um cabide, camisa e gravata reservas. Quando voltou à sua mesa, ligou o
computador e começou a verificar a sua agenda. Estava tudo tranquilo por
enquanto. Valquíria entrou na sala e sentou-se à sua frente. Essa também era
uma imagem tranquilizadora.
- É tão bom tê-lo de volta. Já achava que eu seria
remanejada para algum setor. – Reclamou a senhora enquanto verificava alguns
documentos.
- E isso seria ruim? Ser secretária de outro executivo,
alguém que lhe peça menos vezes para remarcar compromissos e que tivesse menos
coisas a fazer fora desse escritório e fora de São Paulo.
- Seria péssimo! Meus dias como sua secretária não são
monótonos. Sem falar nas garrafas de vinho maravilhosas que você me trás.
- Que bom, Valquíria. O que tenho para hoje?
- Sua primeira reunião é com Rafael, em quinze minutos
para se atualizar. Depois uma reunião almoço com ele e um investidor. E seu
único compromisso na parte da tarde é uma vistoria na obra do Pinheiros às
17hs.
- Nada entre o almoço e a vistoria? – Isso lhe dava três
horas de folga. Coisa rara.
- Nada...como é um horário tranquilo para quem atua no
setor alimentício...sugiro que marque algo com a Senhora Emily. Mas é apenas
uma sugestão, é claro.
- É claro! – Jonas riu dispensando a secretaria.
Valquíria é realmente perfeita.
Jonas fez mais do que passar a tarde com Emily. Marcou
com ela em um parque da cidade e lá chegou com Bernardo e Vida. Com três meses
e um ano de idade, eram dois bebês inquietos e encantadores. Brincavam juntos
amigavelmente e, às vezes, se desentendiam. Nada com o que ele e Emily não
conseguissem lidar no futuro. À sombra de árvores e tendo um belo lago
artificial como vista, ele e Emily observaram Bernardo beber sua mamadeira com
bastante vontade em sua cestinha enquanto Vida lambuzava-se em sua papinha de
banana. Ela comeu, é verdade, mas a maior parte da fruta ficou espalhada no
babador. E seus pais acharam lindo.
- Agora chega! – Emily disse guardando o pote com a
fruta. – A senhorita já se lambuzou demais. Vem com a mamãe. Vem!
Nos braços de Emily, Vida não se importou de ter o
babador retirado e mãos e rostos limpos com lenço umedecido. Ficou novamente
limpa e com aquele cheirinho típico de bebê. Emily então brincou com ela por
alguns minutos. Essas horas passavam muito rápido e logo eles voltariam a ficar
sem os pais na creche enquanto ele e Emily voltavam aos compromissos na
construtora e no restaurante. Mas mesmo que curta, aquela tarde prometia ser
inesquecível.
- Quem é a gatinha da mamãe? Quem? – Emily gritava entre
sorrisos enquanto fazia cosquinhas na barriguinha de Vida.
A bebê gargalhava e balbuciava alguns sons. Vida ainda
não falava palavras completas. Ainda. Emily e Jonas estavam decididos a ensinar
a filha a falar mamãe e papai. Dessa vez o vínculo entre mãe e filha pareceu
prevalecer. Jonas teve o prazer de ser o único a observar Vida olhar nos olhos
da mãe com veneração, colocar as mãozinhas e seu rosto e dizer a mais esperada
palavra.
- M – A – M – A! – Disse ela com alguma dificuldade.
Nem mesmo as vezes em que imaginou aquele momento
prepararam Emily para a emoção que tomou conta de seu coração. Seus batimentos
cardíacos aceleraram e algumas lágrimas tentaram escapar por seus olhos. Nunca
previu que quatro letras pudessem emocionar tanto. Aquela menininha que viu
horas depois de nascer, jogada nos entulhos de uma construção feito algo
desprezível agora lhe abraçava e chamava de mamãe. O mundo fora injusto com as
duas quando não deu à Vida uma genitora digna da filha e quando fez Emily
sofrer tanto pela maternidade. Porém, o destino foi certeiro ao colocar uma no
caminho da outra.
Assim como Jonas se emocionava vendo Vida crescer,
Lorenzo observava Clara desabrochar. Quando se conheceram, Clara foi
responsável por ele se preocupar ainda mais com Jéssica. Clara sempre foi uma criança encantadora,
esperta e carinhosa. Mas também era sensível e carente. Clara tentava agradar
em tudo, com medo de perdê-lo. Agora parecia mais livre. E também mais feliz à
espera dos irmãos. Os nomes já estavam decididos. Seria Cecília e Vicente.
Jéssica estava muito tranquila à espera dos herdeiros.
Não era mais uma mãe solteira e adolescente. Dessa vez sabia o que esperar do
parto, tinha apoio e não temia nada. Ela entrou no último trimestre da gravidez
muito calma, trabalhando diariamente e sem se esforçar demais. Lorenzo estava
mais preocupado e ansioso. Quando a médica falou no parto, ele se surpreendeu.
Esperava que uma cesariana fosse marcada com antecedência o bastante para ele
estar preparado. Quando os bebês chegassem, tudo estaria pronto para
recebê-los. Mas não. Leonor explicou que o excesso de cesarianas no Brasil
levou o governo a estipular regras. A cirurgia só era possível quando a mãe realmente
não podia ter o filho da forma natural.
- Mas são gêmeos. – Ele disso, quase como se a médica já
não soubesse ou tivesse esquecido.
- Eu sei. Mas isso não significa que Jéssica terá alguma
complicação. Ao contrário, seu histórico nos indica que ela tem condições de
dar à luz os bebês. Não se preocupe. O parto normal é melhor. Se Jéssica fizer
a cesariana, ficará com dores por dias, sem poder cuidar dos filhos. Com o
parto normal, saíra andando do hospital no dia seguinte e pode ter vida normal.
Lorenzo não questionou a médica, mas estava longe de
concordar com aquela decisão. Se Jéssica precisasse de alguns dias de resguardo
na cama, qual o problema? Ele estaria ali para cuidar dos filhos. E se não
conseguisse dar conta dos bebês, contrataria uma babá. Isso ainda lhe parecia
melhor do que deixá-la sofrer num parto que poderia levar horas. Jéssica,
porém, parecia muito calma e preparada para o desafio de colocar dois bebês no
mundo. E olhá-la agir assim, numa serenidade sem limites, fazia com que Lorenzo
se orgulhasse ainda mais da mulher que escolheu para mãe de seus filhos.
Quando Jéssica entrou no nono mês de gestação Lorenzo lhe
pediu que já iniciasse sua licença maternidade. Seu trabalho atualmente, como
recepcionista do restaurante, podia ser mais leve que o serviço na cozinha, mas
também cansava e exigia muitas horas de pé em salto alto. Quando Jéssica foi
conversar com Emily, a chefe concordou sem problemas. Disse inclusive gostar da
ideia dela sair agora porque ao retornar teria um novo desafio a assumir.
- Como você sabe, eu e Nathan vamos abrir um restaurante
especializado na mistura de sabores do Brasil e da Itália. Vai se chamar
Calderone. Márcio será o maître do novo restaurante. E eu acredito que você tem
plenas condições de assumir a recepção daqui. Quero saber se você aceita o
cargo, com suas exigências e vantagens.
- Mas Emily...eu não sei...Márcio é sim um mestre,
conhece os vinhos, os pratos e os clientes como ninguém.
- É verdade! – Emily concordou. – E por isso eu o incumbi
de ensinar a você o trabalho nesse período em que o auxiliou. Você estudou
inglês no colégio e sabe se virar caso recebamos algum estrangeiro. Os pratos
você conheceu de perto lá na cozinha. E dos vinhos, duvido que você não tenha
conhecimento sendo casada com um especialista.
- Eu agradeço pensar em mim...mas realmente não sei
Emily.
- Pense bem, converse com Lorenzo e decida. Se quiser o
cargo, terá que fazer um horário semelhante ao que eu e Márcio fazemos. Vir no
horário de almoço e de jantar, com intervalo a tarde.
- Sim, eu te respondo em breve.
Na visão de Emily não tinha o que pensar ou decidir. Era
uma grande oportunidade, sair definitivamente da cozinha para o salão. Era uma
chance que ela não pensaria em
agarrar. Mas entendia que para Jéssica era diferente. Ela via
a vida de outra forma. Mesmo assim, torcia para a resposta ser positiva.
- Ótimo. Porque se não quiser, terei de procurar outra
funcionária. Mas lembre-se que isso não é uma caridade nem ajuda para minha
cunhada. É uma proposta profissional. Se aceitar terá um aumento substancial de
salário. E também de responsabilidades. Terá de estar sempre bem vestida, com o
cabelo arrumado, unhas bem cuidadas e maquiada. Eu não brinco nem faço apostas
com o meu restaurante, Jéssica. Se faço o convite é porque sei que você tem
condições de não me decepcionar.
Naquela noite Jéssica dividiu aquele convite com Lorenzo.
E viu na expressão dele mais orgulho do que surpresa. Era bonito perceber o
quanto Lorenzo tinha de confiança nela. Ainda assim, disse para ele que tinha
receio de faltar como esposa e como mãe por se dedicar à profissão.
- Amor, você não precisa trabalhar. Se decidir dedicar-se
em tempo integral às crianças e a nossa casa, eu ficarei bem feliz. Mas eu acho
que esse desafio lhe fará bem como mulher. Chega a ser um pecado alguém tão
bela ficar escondida na cozinha. Eu sentirei ciúmes dos olhares de cobiça que
lhe darão, mas também irei me orgulhar. Direi a todos que aquela princesa a
atendê-los é minha.
Jéssica ainda demorou a se decidir. Pensou com carinho,
com atenção. Era uma decisão capaz de mudar sua vida. Mas eles tinham muito
mais em que pensar. Incluindo os detalhes do quarto dos gêmeos. Lorenzo não
abria mão de um quarto bonito e amplo, totalmente decorado. Por isso, eles haviam
trocado de apartamento. O novo ficava no mesmo prédio, porém, contava com mais
um quarto.
Quando tudo ficou pronto, Cecília e Vicente já tinham
seus berços macios e perfumados em seu aguardo, Lorenzo enfim sossegou. Ele já
havia combinado com Jonas de reduzir suas atividades na vinícola até que os
gêmeos estivessem em casa e o irmão concordou. O trabalho da consultoria ele
fazia a maior parte em home office. Assim podia ver Jéssica mais tempo e estar
por perto caso ela necessitasse.
Mesmo na madrugada, ele parecia perceber quando ela
deixava o quarto. Naquela noite, quando já estavam sobre aviso ao aparto,
afinal, numa gestação múltipla, era comum o nascimento ser antecipado, Jéssica
foi para a cozinha procurar o que comer. A dieta indicada por Leonor, rica em
legumes e carnes magras, não lhe satisfez. O desejo era intenso, e estranho.
Pizza com sorvete. Ela salivava enquanto mexia no refrigerador à procura do
alimento.
- Jéssica...o que você está fazendo? – Lorenzo veio
buscá-la.
- Procurando comida...uma comida muito específica e
desejada nesse momento.
Lorenzo achou graça daquele comportamento. Ela nunca teve
desejos assim, com aquela ânsia. Era bonito de ver o que seus filhos conseguiam
fazer, mesmo quando tão jovens.
- E porque não me chamou?
- Para deixá-lo dormir.
- Eu só não brigo com você, porque estarei ocupado
buscando o que quer. O que é, afinal? – Ela continua mexendo na geladeira.
- Pizza com sorvete. Acho que Vicente quer pizza e
Cecília sorvete. Mas só tem o doce no freezer.
- Bom...ainda bem que meus filhos entraram em acordo
quanto ao cardápio da noite. Eu busco a pizza. Fique aqui tranquila, volto
logo. No posto de combustível deve ter pizza congelada.
De desejo em desejo, Jéssica completou todo aquele último
mês de gestação. Para surpresa de Leonor, nem sinal de parto prematuro. E a
cada dia que passava, mais nervoso Lorenzo ficava. Jéssica estava muito bem
fisicamente e com muita confiança. Como Leonor tinha lhe dito, tratava-se do
sonho de qualquer obstetra.
Ostentando sua barriga de nove meses de gravidez, Jéssica
compareceu num almoço em família no restaurante no qual trabalhou nos últimos
meses. Foi bem acomodada junto de Lorenzo, Emily, Jonas e as crianças que
Jéssica informou sua decisão. Em alguns meses estaria com, além de dois bebês,
a responsabilidade de ser maître do restaurante.
- Fico feliz pela sua decisão. Muito! Estarei tranquila
mesmo quando não estiver aqui, porque confio em você. – Emily lhe disse.
A declaração da cunhada emocionou Jéssica. Muito. Mas não
o bastante para lhe fazer entrar em trabalho de parto. Isso veio naturalmente.
Ela levou a mão à barriga quando sentiu a bolsa se romper. E no mesmo instante
sentiu Lorenzo passar o braço em sua cintura. Em algum momento do
relacionamento ele desenvolveu o talento de sentir o que ela sentia.
- Amor! É o que eu estou pensando? – Lorenzo perguntou.
- Mamãe! Você fez xixi na calça! – Clara assustou-se
quando a bolsa arrebentou.
- É...é isso sim. Liga para Leonor, Lorenzo. E vamos para
o hospital. Os bebês estão nascendo.
- Eu quero ir com vocês! – Clara disse já entendendo o
que acontecia.
- Não, Clara. – Jéssica manteve a calma. – Você ficará
com a tia Emily. Quando a mamãe voltar para casa, estará com Vicente e Cecília
para você conhecer.
Com Lorenzo muito nervoso, Jonas se ofereceu para dirigir
até o hospital. Ele não confiava no irmão como motorista naquele momento. O
mais provável é que ele causasse um acidente. Emily enviaria a mala com tudo o
que eles precisavam. Coube a Lorenzo apenas segurar a mão de Jéssica e ligar
para Leonor.
- Fique tranquilo, amor. Nós três estamos bem. – Jéssica
sabia que ele era o mais nervoso.
- Eu sei amor, eu sei. – Só que saber não fazia seu
coração bater mais lentamente.
Estava ansioso, temeroso. E a respiração rápida que em
Jéssica tinha o objetivo de reduzir a dor entre as contrações, em Lorenzo só
servia para evidenciar seu desespero. Quando enfim Jéssica foi instalada em um
quarto do hospital e Leonor chegou, Lorenzo conversou com ela antes da médica
examinar a gestante. E, naquele momento, Leonor se preocupou mais com o pai da
criança.
- Acalme-se Lorenzo. Sua mulher tem tudo para dar à luz
tranquilamente. Agora deixe-me a sós com ela para examiná-la.
Lorenzo saiu do quarto e seguiu caminhando de um lado ao
outro no corredor hospitalar. O tempo parecia não andar, os ponteiros do
relógio não se movimentavam e mesmo sabendo que agia de forma irracional, não
se importava. Esse devia ser o direito de qualquer homem em sua situação. Seu
estado de nervos não melhorou quando após muitos minutos Leonor colocou a
cabeça para fora do quarto e gritou para o enfermeiro.
- Rápido! Preparem a sala de parto! É urgente! Preparem a
paciente.
Para os enfermeiros aqueles gritos pareceram não
significar muito. Um profissional vestido de branco entrou no quarto e outro
foi ao telefone, provavelmente confirmar se a sala de parto estava pronta. Mas
a Lorenzo aquilo tudo soava como a informação de que algo estava errado. E por
isso ele correu para junto de Jéssica. E para seu desespero Leonor barrou-o na
porta. Lorenzo sentiu-se ainda pior ao ver a luva na mão da médica suja de
sangue.
- O que há de errado? Diga-me. Por favor. Você vai fazer
a cesariana, é isso?
- Não mesmo. Seus filhos nascerão pelo canal normal.
- Mas são dois! – Ele gritou.
- Eu sei, Lorenzo! E eles estão bem ansiosos por vir ao
mundo. Jéssica tem nove centímetros de dilatação. Será normal e será muito
rápido. Por isso pedi a equipe que se apresse. Se você não correr agora até o
posto de enfermagem e colocar a roupa apropriada, é bem provável que não veja
seus filhos nascerem.
Nervosismo algum seria capaz de incapacitá-lo de ver
Vicente e Cecília vierem ao mundo. Se Jéssica era capaz de dar a luz, ele tinha
de conseguir assistir, mesmo apavorado. Minutos depois eles estavam colocados
na sala esterilizada e com o cheiro dos medicamentos. Entre uma contração e
outra Jéssica segurava a mão de marido. Na hora que a dor vinha ela abraçava o
ventre e tentava erguer o tronco, ajudada pelos braços dele, que lhe davam
apoio.
Leonor colocou-se entre as pernas afastadas da paciente e
lhe incentivava a fazer força quando a contração vinha. Cada uma era
acompanhada por um grito seco de Jéssica que fazia Lorenzo ter vontade de dizer
a Leonor que não aceitava todo aquele sofrimento. Mas antes dele ter a chance
de fazer qualquer coisa, a médica orientou Jéssica a emburrar porque o primeiro
bebê estava saindo. E no instante seguinte, após um aperto na mão e um forte
grito de dor e emoção, Lorenzo e Jéssica enfim puderam ouvir o choro de um dos
filhos. Enquanto Lorenzo já se dividia entre apoiar Jéssica e ver o filho
receber os primeiros atendimentos, Jéssica colocava o segundo bebê no mundo.
Mas esse veio ainda mais rápido.
Quando ainda se recuperava do choque de um, Lorenzo ouviu
o outro gritar sua chegada no mundo. Era pai. Era pai de dois filhos. Era pai
de dois filhos fortes e saudáveis, a julgar pelo choro. Estava tão emocionado
que tremia ao cortar o cordão umbilical e ver Cecília, nascida primeiro, ser colocada
no peito da mãe. Logo Vicente lhe fez companhia. Ele era um pouco maior e tinha
os cabelos mais claros. Ela parecia ter mais fios e com uma tonalidade mais
escura. Eram tão detalhadamente perfeitos que Lorenzo se viu sem palavras para
descrevê-los.
- Obrigada, meu amor. Obrigada. – Ele disse à esposa com
as lágrimas escorrendo pelo rosto.
Via sua vida ser brindada com um imenso milagre. Um
milagre duplo, lindo e cheio de amor. Vicente e Cecília pararam de chorar assim
que foram postos sobre o colo da mãe. Encolheram-se junto dela, deixando claro
que ali era um local gostoso, quentinho e macio de se estar. Aos poucos as
boquinhas minúsculas pareceram procurar o seio da mãe e ali mesmo os dois
mamaram pela primeira vez. Foram algumas poucas gotinhas, eles ainda estavam
aprendendo a sugar e aquela posição não era a melhor. Mas eles mostraram que
estava muito satisfeitos em ficar junto da mamãe.
- Nós amamos muito você, papai. – Jéssica respondeu antes
de ser beijada.
Lorenzo deixou Jéssica ser cuidada pela equipe médica e
acompanhou os filhos passando pelos primeiros testes e cuidados. Já vestidos e
arrumados, eles foram para o berçário e puderam receber o carinho de visitas.
Por telefone, avós e bisavós maternos e paternos ficaram sabendo da chegada dos
bebês
- Sim! Nasceram!Lindos! Perfeitos! Saudáveis! – Lorenzo
repetia a cada ligação. – Eu mando fotos pelo celular. São muito parecidos com
Jéssica. Ela está bem sim, foi tudo muito rápido.
Giovanna e Leonel queriam vir, assim como Laura e
Henrique, mas Lorenzo os aconselhou a esperar alguns dias, quando já estivessem
em casa. Logo Jonas
e Emily tiveram o prazer de segurar os gêmeos, tão pequenos. Clara também
conheceu os irmãos, ainda dois pacotinhos cor de rosa e azul, sonolentos e
muito quietos. Ela não se animou muito. E Lorenzo pode respirar aliviado,
seguro que os filhos e a esposa estavam em segurança. Aquela
madrugada ele passou entre períodos de sono entrecortados e minutos em que
embalava um ou outro bebê enquanto Jéssica dormia.
- Calminha Cecília. Mamãe já lhe deu mamá. Agora temos de
deixá-la dormir.
Assim Lorenzo passou as horas. Os primeiros momentos de
um dia que, sonhava, era o início de um tempo de muita felicidade.
Alguns meses depois...
Chegara a hora de inaugurar o Calderone. E num grande
espaço aberto, Emily e Nathan reuniram familiares e amigos. Emily estava
profundamente emocionada com aquela realização. E ainda em choque pelo que
descobriu menos de uma hora antes, ao se arrumar. Quando procurava um par de
brincos que não usava há muito tempo, encontrou em uma gaveta um envelope
médico. Tratava-se de um laudo de procedimento ambulatorial feito por Jonas. E
o que ali estava afirmado foi uma surpresa para Emily. Ela chamou por Jonas e
exigiu uma resposta. Ele lhe deu da forma mais singela possível.
- O que isso significa, Jonas? Por quê?
- Significa que eu fiz uma vasectomia. – Jonas respondeu
enquanto fechava as abotoaduras. – Porque não serei mais pai e não fazia
diferença.
- Você não precisava fazer isso...podia ser pai ainda.
- Minha família está completa, Emily. Eu aproveitei o seu
período de resguardo para fazer a operação. É algo muito simples. A decisão
estava tomada há bastante tempo e eu a coloquei em prática. Se a mãe dos
meus filhos já não pode gerá-los, não faz sentido continuar fértil. Agora
termine de se arrumar feito uma rainha porque você tem um restaurante para
inaugurar.
Com uma postura digna da realeza, Emily se colocou diante
dos entes queridos e, ao lado de Nathan, informou a todos que aquele lugar
estava oficialmente aberto e que ali ela espera ser tão feliz quanto em seu
outro restaurante. Discreto como sempre, Nathan deixou com Emily a missão de
dizer algumas palavras.
- Quando abri minha primeira cozinha, disse a todos que a
inauguração era como o nascimento de um filho. Que o restaurante era como um
filho. Naquela época eu não era mãe e meu trabalho era realmente o mais
importante. Hoje não direi o mesmo. Porque sei que nada se compara com a
família. Ainda assim, é muito bom estar aqui. Porque sei que faço algo pelo
qual meus filhos, quando crescidos, se orgulharão da mãe. Sejam bem vindos ao
Calderone.
Os que não conheciam Nathan foram apresentados por Emily.
Eram poucos, alguns familiares apenas. E a mais entusiasmada era vovô Ângela,
que só largou os bisnetos para perguntar a Emily qual o estado civil do sócio.
- Casado, vovó. Infelizmente, diriam muitas. – Emily riu
ao lado de Jonas, Melissa e Giovanna. – Ainda bem que vovô Francesco não ouviu.
- Nada, querida. Ele sabe que não tenho mais idade.
Pensava em Milena. Ele
parece um partidão! E agora que já resolvi a situação dos meninos, preciso
concentrar minhas orações em
Milena. Essa menina tem que desencalhar!
Risos tomaram conta de todos. Mas para Emily e Melissa,
tiveram um significado diferente. As duas, que conheciam o italiano há bastante
tempo, sabiam que a vovó não era a única a colocá-lo em planos matrimoniais.
Porém, apesar de envolver-se com muitas mulheres, Nathan é casado. Valentina,
sua esposa, com quem não era visto em público há quase uma década, foi uma bela
mulher. Da qual ele não se divorciava, mas fazia questão de não citar o nome.
Apesar de decidida a se manter discreta, Melissa viu que
o sonho de vovó Ângela não estava tão distante quando observou Nathan e Milena
voltarem juntos ao espaço destinado a festa. Ela com a face acalorada de quem
tinha a respiração acelerada. Ele com a mesma expressão de sempre. Eles estavam
juntos. E Melissa não sabia o quanto aquilo era bom ou ruim. Então foi falar
com Nathan.
- Ela sabe de Valentina? – Perguntou diretamente ao amigo
de longa data.
- Não sei do que está falando, Mel.
- Sabe. Mas também sabe mentir como ninguém. Resta
perguntar se Milena também aceitará. Como está sua esposa?
- Da mesma forma que há 10 anos. Não pode me culpar,
Melissa. Sabe que não. – Nathan defendeu-se sem que Melissa tivesse que
acusá-lo claramente.
- Por trair Valentina? Realmente não. Já por enganar
Milena, não tenho certeza. Mas não vou me intrometer nisso. Só peço que tenha
cuidado. Ela não merece ser magoada. – E com isso Mel voltou para a companhia
de seu marido.
Pouco antes da hora do brinde, Lorenzo procurava por
Jéssica. Encontrou-a ao celular, conversando com uma babá e recebendo notícia
dos filhos. Cecília e Vicente estavam com quatro meses e muito bem. A mãe é
que, mesmo já tendo voltado ao trabalho, ainda sentia dificuldade em tê-los
distante. Bela num vestido negro e discreto, Jéssica não aparentava ter dado à
luz há tão poucos meses. Estava elegante e simples, exatamente como ele se
lembrava dela desde o primeiro dia.
- Tudo certo?
- Sim...sim. Os gêmeos e Clara estão ótimos. Eu é que
preciso sossegar o coração. – A mãe respondeu.
- Ótimo. Assim tenho tempo de lhe beijar mais uma vez
antes do brinde.
Quando enfim as taças se chocaram no ar, havia um ar de
confraternização e de expectativa em todos. Ciclos se fechavam para dar espaço a
outros, com novos desafios e emoções. Eram novos tempos para cada um deles.
Poucos perceberam que no auge da felicidade vários casais se formaram. Oficiais
ou não, estavam unidos por muitos sentimentos. Emily e Jonas, Jéssica e Lorenzo
eram dois deles. E estavam satisfeitos em aproveitar aquele instante de plena
alegria e satisfação.
FIM
AVISO: Ainda haverá um epílogo.
Segurem as lágrimas. Bjs
Enquanto isso, fiquem com o vídeo final de Alguém Para Amar e conheçam todos os que deram rosto a essa história.