Peter
deixou a esposa e as filhas em casa para conversar com Neal. Obviamente, havia
um motivo. Nohan era o assunto. Quando procurou a embaixada inglesa para pedir
auxílio na caçada a um suposto terrorista, esperava poder contar com sua ajuda.
Nohan foi muito além. Ele não ajudava, comandava ao seu jeito. E parecia ter ao
seu lado pessoas importantes. Quando da definição da sentença, Peter ficou
temeroso de como colocar na prática o dito pela juíza. No parecer estava
escrito que Rachel deveria trabalhar no FBI a contar do dia seguinte, fazendo
uso de rastreador eletrônico e sob rigorosa vigia policial. Fácil de cumprir
não fosse ela precisar de tempo para se recuperar do parto e Helen necessitar
dos cuidados da mãe.
-
Bom...não é o ideal, mas diante dos nossos problemas acho que não ter uma
‘licença maternidade’ será irrelevante para Rachel. Ela está precisando do
convívio no trabalho. E vamos nos esforçar para dar conta de Helen nisso tudo.
– Neal respondeu oferecendo uma cerveja ao amigo.
-
Foi o que eu pensei. Mas Nohan resolveu interferir novamente. E isso já está me
irritando.
Enquanto
bebiam, Peter contou da estranha ligação de Stone minutos após ele chegar em
casa do hospital. O inglês argumentou que no despacho da juíza não constava
Rachel cumprir horário na sede do FBI. E que, por tanto, ela poderia trabalhar
em casa, considerando sua condição.
-
Amanhã cedo teremos uma reunião no FBI e depois Rachel terá o que Nohan chamou
de ‘jornada flexível’, pelos próximos quatro meses.
-
E você não gostou disso?
-
Neal, não me entenda mal. Também tenho um bebê em casa. Sei o tanto de
atenção eles exigem. É a interferência de Nohan que me incomoda.
-
A nós também.
-
E enquanto Nohan se exibe para Rachel, Thomas Carter está solto em algum lugar
dos EUA, armando seu próximo atentado. Ele não vai esperar Helen se tornar mais
independente para atacar.
-
Com isso não se preocupe, Peter. Aqui ou no FBI, Rachel irá se dedicar ao caso.
Thomas Carter que se cuide. Logo estaremos em seu encalço.
Alguns
goles de cerveja depois, a conversa tomou rumos mais amenos. Peter estava feliz
por eles. E ainda mais por George. Aquele garotinho vinha sentindo a falta da
mãe. Já Helen agora teria uma infância normal...ou quase. A atenção do chefe de
divisão no FBI foi atraída para a parede da sala. Lembrava-se daquele quadro e,
principalmente, da confusão causada por ele. Era uma replica impressionante.
-
Bela cópia do Les Noces de Pierrette.
Você tem talento, Neal. Aos meus olhos, parece idêntico ao de Picasso. – Disse
ao amigo sem imaginar que estava de frente para o verdadeiro quadro.
-
Obrigada, Peter.
Enquanto
isso, no quarto de George, Rachel matava a saudade de ter o filho em seus
braços. Há tempos ele já não era um bebê. Mas continuaria sempre sendo o seu
garotinho sapeca e esperto. Comprado por Mozzie, o quarto era pensado para
divertir e instigar uma criança. Muitas cores e itens que despertavam a
curiosidade. A cama ficava no alto, tendo escada e escorregador para subir e
descer. Qual criança não gostaria de viver num lugar assim? Ao lado, uma
pequena mesa, à altura do morador, com muitos livrinhos e DVDs infantis. E, por
fim, uma parede toda branca, revestida com material de fácil limpeza. Era um
imenso quadro branco esperando por todos os desenhos que a criatividade de George
pudesse criar.
-
A Helen pode escorregar comigo, mamãe?
-
Só quando ela crescer. Por enquanto Helen só come e dorme pra ficar forte.
-
Então vem desenhar comigo. – Ele pediu abrindo um imenso estojo de canetinhas
coloridas.
-
Vamos desenhar! – Rachel respondeu. – Qual desenho faremos primeiro?
-
A Helen! Depois o papai!
Com
as pernas cruzadas na frente da parede e fazendo desenhos Rachel e George
passaram algum tempo. Mãe e filho voltando a conviver. Podiam passar horas
juntos...não fosse a necessidade urgente de Helen mamar. Mozz a trouxe e ficou
com George enquanto isso.
Filhos
cuidados, Peter despachado de volta à sua casa, banho tomado. Era hora de
cuidar dos próprios assuntos.
-
Tive de estrear nosso banheiro sem você. Infelizmente.
-
Uma pena. – Neal respondeu brincando. – Mas levando em consideração o seu
resguardo, foi melhor. Amanhã cedo temos uma reunião no FBI. Acho que teremos
de levar Helen.
-
Ou eu tiro leite e deixo aqui. Não poderemos levá-la todos os dias, Neal. Helen
terá de se acostumar.
-
Não será preciso. O seu protetor inglês veio mais uma vez em sua defesa e
garantiu que não vá seguidamente ao FBI. Poderá ficar em casa e trabalhar daqui
por enquanto. Foi por isso que Peter veio.
-
Está com ciúmes, Neal?
-
Tem um homem cobiçando o que é meu. O que você acha?
-
Sabe que não tem porque sentir ciúme. Sou sua. Totalmente sua.
-
Eu sei sim. Mesmo assim...não gosto dele. Vou pedir para Mozz agilizar suas
‘pesquisas’. Esse Nohan não é o que aparenta.
-
Concordo. Mas não sofra por ciúme. Essa ruiva aqui é toda sua.
A
reunião no FBI começou divertida. A sala estava cheia e Rachel conhecia quase
todos. Poucas coisas haviam mudado por lá. Depois dos abraços de reencontro,
foi hora de fixar os pensamentos em desvendar a mente perturbada de Thomas
Carter. Na sala de conferências, Peter apresentou tudo o que tinham até o
momento. Ou seja, quase nada. Carter era inglês e já tinha operado ataques na
Itália, Alemanha e Áustria. Segundo a Interpol, havia conseguido entrar nos EUA
e a qualquer momento poderiam ser informados de que algum ponto turístico no
país foi atacado, matando pessoas ou, na melhor hipótese, destruindo patrimônio
artístico e cultural do país.
-
Pedi a cada um aqui presente que pesquisasse uma região para mapearmos quais os
pontos mais prováveis de vir a ser alvo. Gostaria de ouvir um relatório de cada
um. – Peter disse e viu olhares apavorados em resposta. – Ninguém concluiu concluir
a tarefa?
-
Desculpe, Peter...mas é praticamente impossível. – Henrique externou o que
todos pensavam.
Peter
queria reclamar, usar sua autoridade de chefe para exigir o cumprimento de suas
ordens. A lembrança de seus tempos como agente, antes de assumir a chefia, lhe
impediram. A tarefa era sim impossível de ser cumprida. Mesmo assim, não pode
falar nada porque alguém já conhecido e inconveniente chegou. Dessa vez,
acompanhado de uma bela mulher.
-
Bom dia a todos. – Nohan entrou assumindo uma cadeira à mesa. – É bom ver essa
equipe completa. Sentindo-se em casa, Rachel?
-
Sim, Nohan. É ótimo estar de volta ao FBI.
-
Claramente, foi ingenuidade minha pensar que você iria se manter no consulado,
Nohan. – Peter afirmou. – Veio nos visitar?
-
Vim auxiliar, conforme me comprometi. Vim apresentar a todos nossa assessora jurídica,
Srt. Melissa Marshall. Ela acompanhará todo o caso e podem
recorrer a ela caso necessitem de qualquer auxílio da embaixada inglesa.
Todos na mesa
observaram a bela loira vestida de forma elegante. Seria, ela olhava nos olhos
de Peter e lhe estendeu a mão de forma elegante.
- Será um prazer
ajudá-los, Sr. Burke.
-
Seja bem vinha, Melissa. – Peter respondeu antes de questionar Nohan. – Porque
só agora coloca sua equipe à nossa disposição.
-
Por que só agora a sua equipe está completa. – Ele voltou-se a Rachel. – Agora
que assumiu o comando desse caso, como pretende agir?
Peter
fuzilou ao embaixador. Ele não precisava agir como se Rachel tivesse carta
branca. Ela não tinha essa liberdade toda. Ao contrário, quem comandava aquela
operação era ele. Controlou a ansiedade e observou Stone também chegar e
acomodar-se discretamente.
-
Na verdade eu ainda não sei. Peter estava nos apresentando aos dados dos
possíveis alvos de Thomas Carter. Uma tentativa de anteciparmos seu próximo
ataque. – No fundo existia certo desacordo em sua voz.
-
E o que você acha dessa estratégia? – Nohan percebeu sua incredulidade.
-
Eu? Bom...eu acho que será inútil. – Rachel olhou para Peter. – Desculpe.
-
Prossiga. – Peter respondeu. Não era vaidoso a ponto de não poder ter um erro
apontado pela equipe. Se ela tinha uma ideia melhor, que a colocasse na mesa. –
Diga. É para isso que você está aqui.
-
Bom...é impossível tentar antecipar o local. Nossa única alternativa é encontrá-lo.
Talvez atraí-lo...fazer com que se interesse por um alvo em especial, já
monitorado por nós.
Todos
ali conheciam Rachel bem demais para se surpreender com seu raciocínio rápido e
facilidade para armar planos e resolver conflitos. Nohan pela intensa pesquisa
feita ao seu respeito, os demais por já tê-la visto em ação. Ninguém ali
duvidava dela já estar esquematizando uma ação.
-
Estou ansioso pelo restante, Rachel. – Stone afirmou. Prossiga.
Sob
o olhar atento de todos, ela exemplificou suas ideias e apresentou duas linhas
de raciocínio. Na primeira Carter era alguém com problemas mentais e praticava
os atentados buscando pela atenção, talvez até mesmo pelas tragédias. Nesse
caso, precisariam do apoio de um psicólogo forense. E manipulá-lo seria um
caminho. Mas, naquele momento, outra possibilidade lhe vinha em mente.
-
Carter será mesmo um perturbado? Ou alguém inteligente o bastante para nos
ludibriar e levar a pensar em nele como um doente? E se essa destruição toda
for apenas uma cortina de fumaça para esconder o verdadeiro golpe?
-
Pode fazer sentido. – Peter entendeu onde ela desejava chegar. – Vamos
investigar se houve denúncia de algum crime coincidindo com dia e local dos
atentados.
Rachel
tinha de ir embora para casa para amamentar Helen, porém, antes de sair,
resolveu atacar Nohan. Fugir da raia nunca foi a sua estratégia favorita.
-
Nohan...você e Melissa poderiam jantar na nossa casa essa noite. Um
agradecimento por tudo o que vem fazendo por mim.
Rachel
deixou o FBI sem Neal vir se despedir. Ele não gostou daquele convite. Natural,
estava com ciúme. Ela lembrava-se bem daquele gosto amargo. Mas ele teria de
superar, assim como ela teve de conviver com Sara e tantas outras cobiçando-o.
Chegou
em casa, deu o peito para Helen e almoçou junto com George. Só depois de
relaxar um pouco enquanto as crianças tiravam a soneca da tarde é que conseguiu
dar início aos seus planos. Buscou em seus antigos livros referências da pedra
preciosa que a trouxe a Nova York anos atrás. Agora na rua, esse era um de seus
objetivos. Encontrar o diamante. Ele estava ali, escondido por alguém, há
décadas, segundo seu pai. Mas onde? Enquanto ela ainda se debatia entre livros
e documentos antigos, Neal chegou.
-
Oi. Chegou cedo.
-
É. Peter me liberou. Percebeu que minha cabeça estava aqui. – Beijou-a de leve
nos lábios antes de voltar a falar. – Não gostei da forma como nos despedimos.
Agora que finalmente te tenho aqui comigo, não desejo ficar brigado.
-
Não estamos brigados...apenas deixei você ‘digerir’ a ideia de ter Nohan aqui
em casa.
-
Eu não gosto desse homem, Rachel. Não o quero perto dos meus filhos.
-
Eu sei. Ter os inimigos na linha dos olhos é uma estratégia de guerra, Neal.
Quero estar próximo para entender Nohan, antecipar a próxima jogada.
-
Imaginei algo assim...concordo. Só não gosto. Já falei com Mozz...ele ainda não
encontrou nada.
-
Coloque Melissa na lista. Quero a fixa dela. – Ela sorriu antes de beijá-lo com
paixão. – Seus filhos passaram a tarde tranqüilos e eu recomecei minhas
pesquisas. Nosso diamante dará trabalho.
-
Isso. É bom. Roubos fáceis demais sempre me deixaram insatisfeito. Alguma
ideia?
-
Quando vim procurá-lo há anos atrás tinha três alvos possíveis. Consegui
verificar apenas um antes de você e Peter me descobrirem. Agora terei de
investir nos outros dois. Há um antigo prédio no centro financeiro onde
trabalhava um homem que teve acesso a pedra na década de 30. O problema é que
durante todo esse tempo muitas reformas ocorreram e a pedra pode ter ficado por
lá ou ter sido retirada. O homem morreu num acidente de avião.
-
E a terceira possibilidade?
-
A estação de metro Lexington Avenue – 63rd
Street. Só que essa possibilidade não me convence.
-
Por quê?
-
Eu pesquisei essa estação. Ao contrário da maior parte das plataformas que
compõem a malha ferroviária de NY, ela não é centenária. Lexington Avenue – 63rd Street foi aberta em 1989.
E antes não havia nada lá. Segundo meu pai esse diamante está escondido desde a
década de trinta, quando foi roubado de seus bisavós. Não pode ser lá.
-
E não pode ser outra estação?
-
Se é, John levou o segredo com ele...e são 468 estações.
-
Calma. Nós vamos descobrir. – Neal preferia ser positivo. A tarefa era difícil,
porém não impossível.
Um
choro forte interrompeu o momento do casal. Helen só podia desejar atenção.
Estava alimentada e há pouco Rachel havia lhe trocado as fraldas.
-
Ela parece sentir sua presença. – Brincou com Neal. – Passou a tarde sem
chorar.
-
Vou pegá-la. Deve ter cansado do berço.
Eram
20hs quando a campanhinha da casa tocou. Rachel e Neal já estavam prontos,
assim como o jantar e as garrafas de vinho. Nohan e Melissa chegaram,
agradáveis e simpáticos, propuseram não falar de trabalho. Fácil com George e
Helen na sala. Melissa encantou-se com as crianças e logo tinha a bebê em seus
braços. Sempre disposta a receber afagos, Helen, ao contrário de George naquela
fase, não rechaçava braços desconhecidos.
O
menino não gostou muito de Nohan. Talvez por ser bem mais desconfiado, George
ficava observando-o à distância. Já Melissa ganhou sua simpatia.
-
Você é bonita. Quase tanto quanto a minha mãe. Mas a mamãe é mais bonita que
você!
-
George! Não fale assim. Vai deixar Melissa encabulada. – Neal corrigiu o filho.
-
Não tem problema. Seus filhos são maravilhosos.
Depois
das crianças adormecerem, a Inglaterra foi o tema escolhido.
-
Londres tem uma elegância que me agrada muito. – Rachel disse. – Já meu marido
tem maior fascinação por Paris.
-
Paris é linda, mas o excesso de turistas me incomoda. – Completou Melissa.
-
Eu gostaria de conhecê-los um pouco melhor. – Neal foi ao ataque. – Como se
tornou embaixador, Nohan?
-
Basicamente: muito estudo, vontade de conhecer outros lugares e alguns contatos
influentes. – Ele respondeu enigmático.
-
É, você parece mesmo ter pessoas influentes ao seu lado. E você, Melissa?
-
Eu...bom...sou apenas uma advogada que presta serviço à embaixada de meu país
aqui nos EUA. Nada mais.
-
Não se menospreze, Melissa. Quem olha para você percebe se tratar de alguém com
requinte. – Rachel enfatizou. Aquela garota não a enganava.
Certa
de que sua única chance de arrancar algo de Nohan seria a sós, Rachel
aproveitou-se do momento em
que Melissa foi ao banheiro para pedir a Neal mais vinho. No
olhar dele pode ver o desagrado. Neal era um homem inteligente e entenderia seu
plano. Quando sozinhos, foi ao ataque. Aproximou-se do inglês e encruzou as
pernas antes de falar.
-
Devo minha liberdade a você. Não entendo a razão e não gosto de ficar no
escuro, Nohan. – Estavam lado a lado e ela pegou-lhe a mão.
-
Seu marido não se sentirá a vontade se nos ver tão próximos. Ele já não me
aceita muito bem.
-
Deixe Neal fora disso, Nohan. Ele foi abrir um vinho. A não ser que tenha medo
de Melissa nos ver.
-
Não, Rachel. Melissa é apenas uma amiga e colega de trabalho.
-
Então me diga. Porque me ajudou tanto? O que eu tenho de especial?
-
Você me fascina. Por enquanto é isso o que posso te dizer.
A
noite acabou sem que conseguissem descobrir muita coisa. Cada vez mais
dependeriam das investigações de Mozzie. E assim também foi nas semanas
seguintes. Dividindo-se entre trabalhar em casa e na sede do FBI, Rachel e a
equipe apresentaram o caso para uma psicóloga, mas ela não apresentou um
diagnóstico final.
-
Obviamente esse homem tem um quadro de psicopatia. Mas com apenas esses dados
que vocês têm, é impossível dizer se ele tem controle de suas ações ou se a
loucura o comanda. – Disse a médica experiente.
-
Como assim? Se é um psicopata... – Peter odiava a enrolação médica para lidar
com termos técnicos.
-
Eu não disse se tratar de um psicopata, Sr. Burke. Ele tem um quadro de psicopatia,
mas não sei dizer até que ponto é doença. Na verdade, há casos em que nunca
saberemos. Onde termina a doença e começa o mau-caratismo? É uma linha muito
tênue, agente Burke. Há estudiosos da mente humana que afirmam haver em cada um
de nós um grau de loucura e que é ele a nos manter saudáveis e capazes de ver a
vida de forma única. A diferença está no fato de em alguns a loucura tomar
conta enquanto a maior parte da população consegue dominá-la.
-
Em resumo, não conseguimos nos aproximar dele porque não o entendemos
psicologicamente e não podemos traçar seu perfil sem nos aproximar. É o
cachorro correndo atrás do próprio rabo. – Disse Neal.
O
tempo passou e conseguiram descobrir algo interessante. Não ouve nenhum roubo
no mesmo dia das explosões nas proximidades dos atentados. Mas nos três
lugares, nos destroços, não foi possível recuperar vestígios de todas as obras.
-
Você acha que Thomas Carter rouba algo e explode o lugar, podendo gerar vítimas
fatais, apenas para encobrir o furto? – Diana não acreditava em tanta frieza. –
E se a obra reaparecer? Tudo não se perde?
-
Vende apenas no mercado negro. Quem compra não deseja se exibir. Quer esconder a
peça apenas aos seus olhos. – Neal estava convencido. – O problema agora será
identificar o tipo de roubo. Se conseguirmos, será fácil atraí-lo para um alvo.
Nas
semanas seguintes, Mozz ajudou Neal a entrar em contato com receptores de roubo
no mercado negro. Queriam saber de peças que apareceram recentemente, itens
oficialmente perdidos. Descobriu esculturas em bronze e ouro velho que estavam
expostas na Áustria e algumas peças da Alemanha nazista.
-
Nada de origem italiana? – Peter questionou.
-
Não, nada que tenha surgido após o atentado lá. Mas Carter pode estar com o
roubo ainda.
Sem
descuidar das próprias preocupações, eles tentavam viver a vida sem estressar
aos filhos com os problemas dos adultos. Os finais de semana eram sagrados.
Passeios e piqueniques para reunir adultos e crianças no parque. Naquela tarde
de sol estava deitados na grama, rindo e brincando. Diana trouxe Teddy, Ell e
Peter vieram para Sophia poder correr enquanto Valentina ressonava tranquila em
seu carrinho junto de Helen. Henry trouxe Daniel para brincar com George.
-
Podemos dizer que temos uma grande família. – Neal disse no ouvido da esposa
enquanto lhe dava um morango na boca.
-
Sim. E linda. – Ela sorriu e beijou-o. – George, mamãe está carente. Quer um
beijinho.
-
Mas o papai não para de te beijar! – Respondeu o menino.
-
Mas eu quero o beijo do meu filhão.
Estavam
todos tranquilos e confortáveis quando George se levantou da grama gritando e
apontando para uma moça que corria na pista que circundava o parque.
-
É a moça bonita! Mãe! É a moça bonita!
Realmente
era Melissa. E ela avistou o menino e veio lhes cumprimentar. Peter apresentou
a esposa e os filhos. Diana instigou Teddy a dizer oi para Melissa e Rachel a
apresentou para Henry e Daniel.
-
Vocês são amigos fora do escritório. Legal isso.
-
Somos um time, Melissa. Uma família. Diana explicou.
Depois
os pais foram incumbidos da tarefa de cuidar das crianças enquanto elas iriam
correr com Melissa. Eles não reclamaram. Henry em especial. Ele estava
acostumado a cuidar sozinho de Daniel desde seu divórcio com Molly. Não passou
despercebido de Rachel o desejo de ver seu amigo feliz novamente.
Helen
já completava três meses e a apreensão por um atentado aumentava. Peter
solicitou alerta máximo. Qualquer tentativa de roubo ou invasão a espaços que
abrigassem peças de arte deveriam ser informados ao FBI mesmo que frustrados.
Outro
caso também estava bem demorado e Rachel pressionou Mozz por respostas. Há
meses ele vinha investigando Nohan e nunca lhes disse o que descobriu.
-
Nada. – Sua expressão mostrava irritação. – Ou ele é um santo ou sabe esconder
muito bem suas falcatruas! Minha experiência faz crer na segunda hipótese!
-
Como assim nada? – Ela também não acreditava.
-
Nada diferente do que ele contou. Filho de família de renome, estudou nas
melhores escolas, conhece o mundo e tem ótimas recomendações. Assumiu primeiro
a embaixada inglesa na Croácia e há menos de um ano foi transferido para New
York. Teve algumas namoradas, uma noiva, mas nunca casou. Nada demais na fixa
dele e olha que eu puxei tudo o que pude! Nem multas de trânsito ele tem. Chega
a ser chato!
-
Inacreditável. – Rachel contava com a pesquisa de Mozz para desvendar aquele
nó.
-
Mas o mesmo não pode ser dito da Srt. Engravatada.
-
O que tem a Melissa?
-
Ela está longe de ser ‘apenas uma advogada’. Srt. Melissa Marshall é filha do Primeiro Ministro Inglês. Digamos que ela não
precisa trabalhar para viver.
- Não mesmo. – O que
para Rachel não impedia a advogada de trabalhar honestamente e desejar ter uma
vida distante da política. – Vou ficar de olho nela.
Na manhã seguinte, Neal
foi trabalhar logo cedo enquanto Rachel iria deixar George na escolinha junto
com Teddy e levar Helen para tomar um pouco de sol no parque. Somente um pouco
porque sua pele clara e cabelos ruivos se irritavam facilmente.
- Venha, bonequinha da
mamãe, vamos passear.
Depois de almoçar com Ell, ambas as mamães foram amamentar suas filhas.
Valentina também não gostava de ficar muito tempo sem mamar. As duas garotinhas
gostavam de ficar juntas. Balbuciavam e brincavam como se uma bebê entendesse
da outra. As mães também conviviam muito bem e entendiam as dúvidas da outra, em
especial no que dizia respeito aos problemas do pós parto.
- Graças a deus os três meses estão acabando, Ell. Ter Neal por perto,
lindo daquele jeito e não poder transar é um castigo.
- Eu entendo, Rachel. Quando acabou o meu resguardo eu praticamente
tranquei o Peter no quarto por uma semana! – Ell respondeu e as duas riram. –
Claro que eu ainda estava com um pouco de vergonha do corpo, mas ele não
reclamou de nada!
- É claro que não! Você está linda. E nos acabamos na academia nesses
meses. Se o Neal reclamar depois de tudo o que eu corri naquela esteira, juro
que afogo ele na banheira!
O clima ameno só foi embora quando os celulares das duas tocaram quase
que no mesmo momento. Sinal de turbulência no FBI. Estavam certas. Thomas Carter tinha escolhido seu
próximo alvo. E dessa vez não tinha sido nenhum museu, monumento ou parque de
visitação. A explosão foi na sede do FBI.
- Meu Deus! – Ell gritou em
choque. – Estão todos bem?
- Foi no térreo, na portaria.
Dois guardas e uma recepcionista perderam a vida.
Rachel correu para lá, deixando
Helen com Elizabeth. Apesar de Neal não ter lhe atendido no celular, algo raro,
Henrique lhe tranquilizou avisando de que o andar da Colarinho Branco não tinha
sido atingido.
Quando chegou, Rachel percebeu o
estrago feito por Carter. O primeiro andar do prédio foi destruído. E o IML já
retirava os corpos. Mostrando sua identificação, conseguiu entrar e chegar ao
trabalho. Todos estavam na sala de conferência em uma reunião de emergência.
Todos, menos Neal.
- Eu já mandei chamá-lo. Logo
deve estar aqui. – Peter afirmou.
Diana estava concentrada tentando
descobrir imagens da pessoa a deixar a bomba na recepção. O lugar esteve
movimentado durante todo o dia. Não seria fácil. Uma equipe fazia a varredura
do local e tentariam descobrir se Thomas Carter levou algo do FBI.
- Não temos nenhuma obra de arte
valiosa. E, se tivesse, seria arriscar demais. – Peter estava preocupado.
Carter tinha agido fora do esperado. – Ele não tem medo de matar.
- Podemos tentar levantar
qualquer item de valor...Neal saberia dizer de cor. – Diana comentou.
- Onde ele está? Chamem Neal!
Onde ele estava na hora da explosão?
- Aqui, Peter. Ele ia ao arquivo
pegar uns documentos. – Henrique falou.
- Então ele está no prédio! Por
que não atende ao celular? – Um temor tomou conta de Peter. – Diana, peça o
vídeo de segurança da sala do arquivo. Vamos ver se Neal esteve lá e a hora em
que deixou a sala.
Rachel manteve-se calada. No
fundo, já desconfiava do que veria. Quando a imagem em preto e branco apareceu
no monitor, não se surpreendeu. Carter esteve no FBI e levou Neal com ele. Com
uma arma de choque, o homem derrubou-o e saiu arrastando o corpo desacordado. Deve
ter deixado o local com a ajuda de algum comparsa enquanto todos voltavam às
atenções para a explosão na entrada principal.
- Ele nem mesmo escondeu o rosto.
– Diana afirmou.
- Sabe que já o conhecemos. -
Peter respondeu. - Ele nos enganou direitinho.
- Não veio buscar nenhuma obra de
arte. Veio sequestrar Neal e usou a explosão para nos fazer perder tempo
enquanto fugia. Já deve estar longe. – Rachel ergueu-se e caminhou até a janela
olhando NY. Só pensava em onde estavam e porque Thomas Carter levou Neal.
Depois voltou-se aos colegas. – Porque estão parados? Movam-se! Há um agente
dessa divisão desaparecido. E nós vamos encontrá-lo.
Peter observou orgulhoso. Aquela
frase podia ter saído da sua boca. Em alguns aspectos eles eram realmente
parecidos.
AVISO DAS AUTORAS: Quem quiser pode participar do Grupo no Facebook. Chama Delírios, Devaneios e Algo +.
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