A
ideia de Elizabeth deixar o escritório sem gritos nem discussões só era menos
improvável de ele lhe revelar a verdade. Miguel podia até reconhecer
intimamente seu erro em mentir para Liz, mas contar a verdade agora não traria
benefício algum. Então foi ao bar e serviu uma generosa dose da bebida mais
forte que avistou. Elizabeth acompanhou cada um de seus passos com olhar
ansioso e irritado.
-
Eu não me intrometo nas suas investigações, Liz. Fique fora dos meus problemas
de trabalho.
-
Não! Ouviu bem? Não fico fora porra nenhuma! Ouvi claramente quando disse
‘exigindo mais dinheiro’. Isso é chantagem!
-
Vai recitar o código penal e o tempo de detenção, investigadora?
-
Pela última vez, Miguel: o que está acontecendo?
Miguel
só tinha uma alternativa para por fim naquela conversa. Magoar Liz e fazê-la,
com raiva, esquecer o assunto.
-
Não é da sua conta! Eu não me casei para ter a sombra de uma policial na minha
cola. Vai pro quarto, pra piscina, vai tomar um banho...qualquer coisa, mas sai
do meu escritório. Agora. E me deixa resolver os meus problemas. – Ele disse
aos gritos enquanto servia mais uma dose de whisky.
A
vontade de Elizabeth era arrancar aquele copo das mãos do marido e esfregar
aquela aliança em sua face até lembrá-lo de que eram marido e mulher. E esse
tipo de parceria incluía mais coisas do que apenas transar e velejar em águas
límpidas. Podia gritar no mesmo tom dele até fazê-lo por pra fora o que
escondia. A sogra impediu qualquer coisa.
-
Quero lembrá-los que isso é um lar. Vocês acabam de voltar da lua de mel, por
favor! Se não respeitam ao casamento, ao menos ofereçam paz para essa velha
repousar! Gritos nesse lar, não!
-Desculpe,
madre. Elizabeth vai descansar da viagem enquanto eu resolvo uns assuntos. – Os
dois travaram uma batalha quando seus olhares se cruzaram. – Vai Liz, por
favor. Eu não quero brigar.
Ela
também não. O que não a faria esquecer o assunto. Sem dizer nem uma palavra
para a sogra nem ao marido, Elizabeth deixou o escritório e retornou ao seu
quarto. Só quando trancou a porta às suas costas seu coração começou a diminuir
de ritmo. Era duro constatar a mentira de Miguel. Era algo grave e nada tinha a
ver com trabalho. Era pessoal. Se fosse na BTez ele já teria dividido com ela.
Deitar-se
ou aproveitar a piscina? Miguel deveria estar mesmo muito perturbado para
acreditar naquelas possibilidades. Já que a rotina tratou de por fim ao clima
de recém casados, iria mostrar ao marido o tipo de esposa independente que
seria. Trocou de roupa rapidamente e procurou pelas chaves do seu carro,
estacionado ali desde antes do casamento.
Quando
Miguel deixou o escritório o relógio marcava 19h55min. Sua mãe e Juliana já
deveriam estar colocando a mesa do jantar então resolveu procurar por Liz. Ela
deveria, e tinha motivo, para estar magoada com ele. Não era assim que
pretendia começar sua vida de casados.
-
Se vai atrás de sua esposa, nem perca seu tempo. Ela saiu. E sequer manifestou
interesse em se integrar à rotina da casa, saber qual seria o jantar, nada! –
Rúbia gritou quando o viu subindo a escadaria. – Devo colocar o prato dela na
mesa?
Miguel
sentiu a raiva lhe consumir os pensamentos. Raiva de Elizabeth, Rúbia e dele
mesmo. A mãe por fazer de tudo para piorar o que já estava ruim. Da teimosia de
sua esposa e de si mesmo por ter se enredado em tantas mentiras que agora não
conseguia sair sem magoar alguém. E, o pior de tudo, ela estava sozinha por aí,
arriscando-se a um perigo que desconhecia porque seu marido preferiu não
informá-la de que estava sendo chantageado.
- Infierno! No te metas, madre! – Gritou para Rúbia
antes de pegar o celular e ligar para Liz. Tranquilizou-se quando ela atendeu.
- Dónde está?
- Não é da sua conta! – Elizabeth
lhe repetiu a frase dita por ele horas antes. – Não se intrometa nos meus
assuntos. Comigo é assim, Miguel. Na mesma moeda, sempre. Acostume-se! E fale
português comigo! Não tem razão nenhuma para ficar estressadinho.
- Virá dormir em casa, não é? – Por
um instante, temeu que Elizabeth tivesse ido extravasar sua raiva procurando
algum outro homem, na rua, como tantas vezes fez.
- Até onde sei, é aí a minha cama!
Eu volto logo.
- Tenha cuidado...por favor. Eu
esperarei para jantar com você.
- Não precisa. Já comi. Até depois,
Miguel.
- Até...Liz...
- O que é? – Ela ainda estava com
raiva.
- Eu te amo. Muito. Cada dia mais.
- Eu também Miguel. – Era difícil
resistir ao charme dele. - Mesmo você sendo insuportável às vezes. Até logo.
Elizabeth estava sentada na sala de
estar de Rebecca, já tinham jantado, conversado e relaxado como só velhas colegas
de farda poderiam fazer. As duas tinham anos de parceria no Polícia Federal e
de amizade pessoal. Rebecca não sabia dos detalhes mais sórdidos da vida de
Elizabeth, mas a conhecia bem o bastante para sentir a disputa emocional vivida
pela amiga naquele momento.
- Amor e raiva estão brigando dentro
desse coração, Liza. Sossega! Esse homem te ama. O resto são problemas naturais
da vida em dupla. – Casada há 8 anos, Rebecca tinha experiência no assunto. –
Todo o casamento tem dificuldades.
-
Eu sei...imaginava na verdade. Só não esperava já brigar com Miguel no nosso
primeiro dia em casa. E
descobrir que ele está mentindo. – Liza já havia contado para a sua amiga o que
aconteceu. – Não aceito isso, Becca.
-
Ok então. O que você sabe? Miguel e esse advogado chamado Louis estavam tendo
uma conversa suspeita. Alguém está chantageando seu marido. E ele mandou esse
‘braço direito’ resolver o problema.
-
Eu não gosto desse homem! Louis e Miguel são amigos...ele cuida de assuntos
pessoais, familiares e sigilosos.
-
Isso significa que é de total confiança dos Benitez. – Para Rebecca, isso
deveria contar ao favor do advogado. Talvez Liz só não quisesse assumir o que
realmente a afligia. – Liza, se esse Louis faz algo de errado, o mais provável
é que seja com o conhecimento e aprovação de Miguel. Você tem medo dele estar
envolvido com algo ilegal, gente barra pesada ou...
-
Não! – Liz a cortou. – Eu tenho certeza da honestidade de meu marido. Se
tivesse alguma dúvida, mesmo que pequena, jamais teria me casado com Miguel.
-
Então qual o problema?
Depois
de tantas voltas, finalmente chegara a hora de Elizabeth dizer à Rebecca o que
a trouxe à casa da amiga numa tarde de domingo, véspera de se reencontrarem no
trabalho. Não veio ali à toa ou apenas para desabafar.
-
Eu sei o quanto tem sujeira no meio empresarial. É só olhar os jornais.
Empresas e governo envolvidos em esquemas de corrupção são tradição nesse país
há décadas. E eu não tenho a ingenuidade e pensar que a BTez está isenta disso.
Mas Miguel veem tentando conduzir sua empresa longe de falcatruas, tenho
certeza. – Ela parou por um momento para tomar ar antes de continuar. -
Conscientemente, Miguel é um homem íntegro e cumpridor de seus deveres. Porém,
ele também é dono de uma personalidade explosiva e perigosa. Miguel faz coisas
sem pensar, age por impulso e por isso estou preocupada. Ele pode estar se
enredando em problemas que eu sequer imagino e usando dos serviços de Louis,
bem intencionado ou não, para livrar-se de quem o está chantageando.
-
E como te ajudo a resolver isso? – Rebecca riu ao encarar o olhar da amiga. –
Nós duas sabemos que você não veio aqui só para alugar meus ouvidos. Diz logo
Liz.
-
Amanhã eu finalmente recebo meu distintivo de volta e reassumo meu posto e meus
casos. Mas o Tom está pressionado a manter olhos bem atentos no meu trabalho.
Eu não posso deixar nenhum erro para trás com meu histórico recente. Por isso
quero te pedir ajuda. Quero que investigue discretamente Louis, os processos em
que atua e as pessoas com quem anda metido. Quero uma pista do que meu marido
anda lhe pedindo para fazer.
-
Vai investigar seu próprio marido, Liz?
-
Ele não me deixou escolha.
-
Está bem, farei isso.
Já
de pijama e com o computador em seu colo, Beatriz aproveitava o momento livre
para estudar sua próxima pauta. Era uma grande oportunidade como jornalista.
Estava de folga naquele domingo, passou o dia com Will e a filha, mas por vezes
seu pensamento voltou-se ao trabalho. Culpa de seu editor que, na véspera, lhe propôs
uma matéria grande.
-
Quer a sua matéria de capa? – Perguntou ele, sorrindo enquanto mexia em seus
arquivos de computador. – Pois a sua chance é agora. Dessa vez não estou te
dando nenhum assalto de esquina nem crime passional pra cobrir. É uma grande
reportagem investigativa. Topa?
-
Claro! – Teria de ser louca para dizer não. – Mas o que é?
-
Era com essa animação que eu contava. Mas vá com calma, sim? É tema para ir
comendo pela beiradas, com cuidado. Prostituição infantil e tráfico sexual de
menores. É barra pesada, Bia.
-
Ual....mas espera...a minha irmã investigou isso faz um tempo. Você não acha
que eu...É só por causa disso que me passou a matéria?
-
Não. Também é porque você é boa jornalista, dedicada ao jornal e teimosa o
bastante para cavar nessa história até encontrar coisas bem legais. Mas o fato
de ter contatos na polícia federal ajudou bastante. Mas se quiser que eu passe
pra outro repórter...
-
Não! Nem pensar! Essa pauta é minha e ninguém tasca!
-
Ótimo. Então aproveite sua folga de amanhã e estude o tema.
Era
o que Beatriz fazia há horas. E cada vez mais se sentia enojada do que via na
tela de seu computador. Eram muitos casos e a maioria sequer chegava ao
conhecimento da polícia. Mulheres, homens e crianças levadas para a exploração
sexual. Sem querer, seus pensamentos se voltaram à Patrícia. Se era horripilante
apenas ler a respeito, sequer conseguia imaginar vivenciar aquele inferno de
abusos físicos e psicológicos.
-
Matheus tem razão em valorizar e cuidar dela. Paty é uma garota de fibra para
ter sobrevivido a tudo isso.
Aquele
seria um trabalho longo. Teria de encontrar famílias que tiveram seus filhos
levados, algum sobrevivente e precisaria tentar infiltrar-se numa das
quadrilhas. Só assim poderia ver de perto como eles escolhiam as vítimas e
planejavam os lugares para onde levá-las. Mas como chegar nessas quadrilhas?
Poderia descobrir outros meios, mas Elizabeth era o meio mais fácil e rápido.
-
Oi Liz, pode falar? – Ela não resistiu e ligou para irmã naquele momento mesmo.
-
Pode. Estou estacionando meu carro em casa.
-
Nossa! Você e Miguel mal chegaram e já estão na rua?
-
É...quase isso. – Não tinha razão para preocupar Bia com seus problemas
conjugais. - Mas fale porque ligou, Bia.
-
Queria alguns contatos seus de quadrilhas que traficam pessoas para exploração
sexual. Me passa?
Elizabeth
não esperava por mais isso.
-
Claro! Eu devo ter um ou outro membro da quadrilha nos meus contatos do
Facebook. – Não resistiu a ironia. – Por quê?
-
Pauta do jornal. Não complica, Liz. Eu sei que você tem como me dar uma pista.
Eu investigo o resto.
-
Eu não quero você metida nisso. É perigoso.
-
Ótimo! Sinta o que eu passo quando você está investigando isso. E me dê os
contatos.
-
Eu sou policial! – Elizabeth gritou.
-
E eu jornalista! E essa é a minha chance de uma reportagem de capa! Se você não
puder, vou conseguir por outros meios.
-
Está bem. Amanhã eu volto pra centra de polícia e vejo o que posso conseguir.
Infelizmente, seguidamente recebemos denúncia de ação desse tipo de quadrilha.
Eu vejo e te passo, mais nada. O andamento das investigações não posso.
-
Isso basta, Liza. Obrigada!
Beatriz
agora investigar criminosos era apenas mais uma preocupação na cabeça de
Elizabeth. Ao abrir a porta de casa rezando para não avistar Rúbia, Liz
concentrou seus pensamentos em seu casamento e deixou todo o mais para o dia
seguinte. Foi direto para o quarto. Estava precisando de um banho. Ela não se
surpreendeu em
encontrar Miguel sentado na poltrona no quarto, esperando-a.
-
Oi. – Ela disse simplesmente. – Eu vou tomar um banho e depois a gente
conversa.
-
Não. A gente conversa e depois toma o banho juntos Eu te peço desculpas. Não
queria ter gritado com você mais cedo, no escritório.
-
Já eu não me arrependo de ter gritado ao telefone. Você mereceu, Miguel.
-
É, mereci. Mas eu te amo mais do que qualquer outro homem um dia poderá amar
alguém.
-
Ótimo. Também te amo. Mas isso não resolve os nossos problemas.
-
Eu estou tentando Liz.
-
Vai me contar quem está te chantageando?
-
Você entendeu errado...não tem chantagista algum. Foi apen...
-
Não! Chega de mentir, Miguel. Eu aceito que não queira dividir isso comigo. –
Iria descobrir por seus meios. – Só não minta. Eu posso lidar com tudo, menos
com suas mentiras.
-
Está bem. Deixe isso pra lá.
Com
um beijo Miguel deixou a discussão no passado e superou o assunto. Sabia que
Elizabeth não deixaria aquilo terminar assim. Mas estava satisfeito em sentir o
seu sabor, sem gritos ou brigas. Ainda com os lábios colados, começou a
despi-la. Depois de tantos dias usando apenas biquíni, Liz lhe parecia vestida
demais.
-
Vamos pra banheira. Quero ensaboar você todinha.
Liz
sentiu-se feliz em poder deixar os problemas guardados no fundo de um baú até o
dia seguinte e deixou-se ser amada e cuidada por mais aquela noite. Seu marido
tinha segredos e isso era difícil de suportar, mas ele também era gostoso,
delicado, apaixonado e sabia tocá-la como ninguém mais.
Enquanto
a banheira enchia, Miguel tirou-lhe peça por peça das roupas. Com mãos
experientes abriu os botões da saia e soltou-lhe o fecho do sutiã. Analisou
aquele corpo como se procurasse alguma mudança desde a última vez em que a viu
nua, naquela manhã. Mas aquelas poucas 12horas foram longas demais. E eles
precisam do corpo um do outro para se refazer, superar os desafios e provar ao
parceiro que continuavam ali, disponíveis para amar apesar dos problemas.
E
como amam. Amavam além do que julgavam ser possível. Ainda mais sendo tão
diferentes. Com ela nos braços, Miguel desejava alongar os minutos e fazer
daquele momento infinito em prazer e felicidade. Colocou a esposa sentada sobre
o balcão da pia e, ajoelhado entre suas pernas, provou-a na intimidade,
fazendo-a contorcer-se de prazer enquanto ele acarinhava-a com os lábios e a
língua.
-
Migueeeelll....aaa.....aaa.....eu acho que vou desistir da banheira.
- No tan rápido, mi amor.
- Nessas horas eu gosto quando você
fala espanhol.
- Sí?
- Sim. É sexy.
Logo
estavam imersos na água perfumada e Liz sentia a espuma suave tocar-lhe a pele.
Não só a espuma. Tinha também as mãos de Miguel. E ela perguntava-se como algum
dia conseguiria resistir ao toque daquele homem. Seu homem. E de ninguém mais.
Até mesmo ela assustava-se com esse tipo de pensamento. Nunca fora uma mulher
possessiva, ciumenta. Agora era. Talvez fosse porque pela primeira vez tinha
alguém para chamar de seu. E não estava disposta a perder.
Ficou
feliz em tomar a iniciativa e deixá-lo de costas na banheira, abraçando-o com
as coxas e acariciando o peito esculpido pelos músculos bem torneados e a
barriga lindamente torneada. Sabia o quanto Miguel estaca excitado e sentia seu
pau duro submerso na água. Acariciava toda sua extensão numa doce tortura
enquanto beijava-o nos lábios. Até que encaixou-se nele e permitiu-se senti-lo
até o fim dentro dela. Era só assim que se sentia completa. Miguel ali, todo
dela, todo dentro dela. Com força, sem delicadeza ou sensibilidade, o fez
entrar avançar em seu corpo sem dó até que os dois libertaram-se de qualquer
sentimento que não fosse o êxtase sexual. Quando alcançaram o orgasmo estava
cansados, à um passo da exaustão. Miguel ainda teve de conseguir forças para
levar Elizabeth até a cama antes de abraçá-la sob o lençol e finalmente
encontrar o mundo dos sonhos.
Na
manhã seguinte a vida tomou seu rumo natural. Depois de um constrangedor café
da manhã em família e um beijo de bom dia na esposa, Miguel seguiu para a BTez.
Ficou constrangido ao receber cumprimentos por seu retorno. Alguns diretores
mais íntimos fizeram piadas comentando sua aparência feliz, outros disseram que
agora era a hora do casamento começar pra valer. Mesmo com o tom de
brincadeira, era também necessário retomar a rotina de obrigações, reuniões,
balanços financeiros, assinaturas e ordens desagradáveis.
Começou
o dia com uma vídeo conferência com diretores comerciais e administrativos
globais. Problemas com embargos na argentina, com sindicatos na Europa e de
vendas na Ásia o preocuparam.
-
Castro, se não for resolvido em 48hs, inicie o processo de redução da produção.
– Disse ele ao Diretor de Buenos Aires.
-
Isso implicaria demitir funcionários.
-
Eu sei. Mas não podemos produzir carros que não poderão ser vendidos. E a mão
de obra é nosso maior poder de barganha com os governantes. Se os fizermos crer
que vamos demitir, vão nos oferecer vantagens. É a nossa melhor chance. Apenas
48hs, nenhum minuto a mais. Me envie relatórios.
Passou
todo o dia resolvendo problemas que se acumularam na sua ausência. Porém,
olhava com um sorriso para os gráficos e percebia que o pior da crise havia
passado. Os lucros começaram a se estabilizar e isso acalmava os acionistas.
Eles percebiam que a BTez era uma empresa confiável.
-
Por mais forte que seja a tempestade, vem a bonança depois, meu amigo. – Louis
veio lhe ver durante a tarde. – Então, a bela policial não lhe assassinou
ontem? O olhar dela brava é poderoso, hem?
-
Não fique prestando a atenção ao olhar da minha mulher, Louis. Posso sentir
ciúme. Ela ouviu demais, temos de ter cuidado. Eu tenho de me lembrar que casei
com uma mulher inteligente e sagaz. Ouviu apenas uma frase e entendeu boa parte
do que se passa. E você? Alguma novidade?
-
Não a que você espera. Ainda não sei quem é o nosso homem. A operadora me
garantiu que aquele chip não existe mais. Ele pode ter se desfeito porque
desconfia da nossa investigação ou já estava no plano dele. A verdade é que a
nossa melhor chance é esperá-lo aparecer novamente.
-
Merda! E a segurança de Liz?
-
Tudo certo. Falei com eles há pouco. São uma equipe de primeira, disfarçados,
trocam de veículo para ela não perceber. Só não podem entrar no prédio da
polícia. Quando ela sair, serão sua sombra.
-
Ótimo. Tenho medo desse maníaco achar que agora, casados, aquelas fotos já não
servem para nos chantagear e tentar sequestrá-la para pedir resgate.
-
Não vai acontecer. Pode ficar tranquilo salvando os milhões dos seus acionistas.
A Senhora Benitez está segura e o nosso homem misterioso será pego quando
reaparecer.
O
dia de Liz foi um pouco mais complicado. A começar porque agora precisava
preocupar-se mais com o que vestir. Não era mais apenas a investigadora
Elizabeth Santos. Agora carregava o sobrenome Benitez e isso representava ser
fotografada por aí. E isso era extremamente desagradável porque fazia com que
alguns colegas de trabalho parassem de tratá-la como uma igual. Ela virou uma
estranha.
A
melhor parte era poder retomar suas investigações. Na primeira tarde já pode
participar de uma apreensão de drogas trazidas da fronteira com a Bolívia. Sim,
era dessa parte de seu trabalho que mais gostava. Ter resultados. Merecer o
salário que o governo lhe pagava. Tom chamou-a em sua sala re recitou todas as
recomendações possíveis. Ela deveria se manter na linha e não deixar rastros
para ninguém até sua sala reclamar.
-
Não quero ninguém pedindo a cabeça da minha mais competente investigadora.
Entendeu?
-
Sim, Senhor.
-
Então vá prender alguns bandidos por aí. É bom tê-la de volta Liza.
-
Obrigada. Vamos marcar uma noite dessas...Miguel quer que vá jantar conosco.
-
Eu não perderia por nada. – Ele lembrou-se de mais uma coisa. – Elizabeth,
aquele caso das prostitutas...você levou o inquérito para analisar. E aí?
Lembre-se que é arriscado porque envolve...
-
...a empresa de meu marido. Eu sei. Estou analisando vírgula por vírgula.
Quando conseguir amarrar as pontas que deixei passar antes, eu te aviso e nós
seguiremos juntos, Tom. Prometo. Mas já te adianto, é na Rússia que esse nó irá
fazer sentido.
-
Como assim?
-
Deixa eu conseguir provar isso, Tom. Mas confia no que estou te dizendo.
-
Eu confio. Muito. - Depois de anos de convivência era impossível não confiar. –
Perguntei por que na semana passada fui chamado num presídio no interior do
Estado. Um preso desejava fazer um acordo para redução de pena e disse ter para
barganhar informações sobre tráfico de pessoas.
-
E aí? Você foi?
-
Sim. E demorei a acreditar. Pedi que ele comprovasse ter ligação com a
quadrilha e ele provou. Deu-me o endereço de onde ocorrem ‘testes’ com garotas
para ir ao exterior. Eu estive lá e vi. Todos os elementos, para quem quisesse
conferir. Bairro nobre, homens escondendo armas pesadas e jovens, quase
crianças, de ambos os sexos, chegando vestindo roupas humildes. Se não for
tráfico para o exterior, certamente é prostituição com abuso de menores.
-
E você invadiu?
-
Não. Achei que seria melhor não nos precipitar. Esperei você voltar e quero que
analise qual a melhor possibilidade. Esse foi só o teste para o nosso amigo.
Vou fechar o acordo e talvez ele nos leve aos líderes da quadrilha.
-
Está bem...não vamos invadir o lugar então para não alertá-los. Mas vamos
deixar...assim sem fazer nada? E essas crianças? – Liz estava tendo uma ideia.
– Isso podia ser descoberto por algum repórter enxerido e...
-
Beatriz?
-
Porque não? Estouramos o lugar sem eles desconfiarem que temos um informante da
quadrilha. Uma bala, dois alvos.
-
Ótimo. Faça isso. Senti sua falta por aqui, Elizabeth.
NOTA: O grupo Delírios Devaneios e Algo + no Facebook reúne quem gosta dessa história e outras nossas. Tá a fim de participar? Manda o convite pra gente te add. Bjss