A primeira
semana de recuperação demorou a passar. Para Rachel, a rotina se restringia a
acordar, suportar os médicos lhe examinando e dizendo coisas que ela já sabia, responder
à enfermeira de sorriso meigo que trocava os curativos e repetia que logo iria
se sentir melhor e, o pior, receber pelo menos uma visita por dia, antes de
tomar seus remédios e dormir.
Ainda havia muitas
restrições médicas e isso fazia com que os visitantes ficassem pouco tempo no
quarto. Ell, Peter, Henrique, Shepherd,
Mozz, Henry e Diana tiveram rápidas passagens. Neal, Nicolle e June se
revezavam com ela por períodos mais longos. Rachel até tentava ser agradável
com as visitas, mas passava a maior parte do tempo calada. Dizia querer ver
George e ir para casa. Mas ambos os pedidos eram negados pela equipe médica por
ela estar ainda muito frágil.
Os
exames diários mostravam que ela estava melhor. As lesões evoluíam como
esperado e a cesariana também cicatrizava corretamente. Conforme a equipe
médica dizia, era uma questão de tempo para receber alta. O problema é que
conforme melhorava e passava mais tempo consciente, lembrava e pensava mais no
que aconteceu. O sofrimento e a ânsia por vingança dividiam espaço dentro dela.
Quando Diana veio lhe visitar, tentou descobrir como estava o andamento da
investigação. A agente não disse nada.
-
Confie que as agências farão tudo o que estiver ao seu alcance. Por você e por
Jones. Não pense em nada disso agora. – Foi só o que lhe falou.
Até
mesmo Henry, que raramente lhe dizia não, dessa vez cortava qualquer
comentário. Ele passava o tempo todo tentando fazê-la sorrir. Mas era
impossível. Não quando seu corpo ainda sentia de forma tão clara a presença de
Lis. Era como se ela ainda estivesse ali.
-
Eu acho que você deveria aceitar conversar com uma psicóloga. – Disse Henry
sabendo que somente ele poderia lhe dizer aquilo sem iniciar uma guerra.
-
Não. Ninguém vai ficar tentando entrar na minha cabeça. Não preciso. E não
resolve nada.
-
Faria você se sentir melhor. – Ele insistiu.
-
Ter minha filha me faria sentir melhor. Só isso.
-
Você vai ter de superar isso. Um psicólogo pode te ajudar a aceitar a perda.
-
Eu não a perdi! – Ela se exaltou. – Harabo me tomou. Eu vou superar quando ele
estiver morto. E não adianta vir me dizer que vingança não é o caminho, Henry! Ele
me tomou a minha filha e ele vai pagar por isso.
Neal
vivia as mesmas dificuldades com o agravante de se sentir excluído. Só sabia
que Rachel estava evoluindo bem porque Richard lhe mantinha informado. Ela
pedia que ele saísse do quarto sempre que seria examinada. E só aceitava a
companhia da mãe para qualquer atividade que os enfermeiros viessem cumprir. De
maneira alguma permitiu que ele estivesse presente durante um banho no leito,
necessário já que ela ainda não podia deixar a cama. Não entendia o porque,
apesar do médico lhe dizer que era uma reação comum.
-
Não é uma situação fácil. Ela não está confortável com o próprio corpo.
-
Com tudo isso que nós passamos eu não posso acreditar que ela está preocupada
com isso! É inacreditável, Richard!
-
Não é só isso, Neal. Tente entendê-la. Ela não aceita que você a veja frágil.
Você conhece a sua noiva, Neal. Ela age como se fosse de aço, sempre pensou em
seu corpo como uma máquina perfeita e que nunca falharia. Agora viu que não é
assim. Ela encara isso como um fracasso. E não aceita que você a veja
fracassar. Conforme ela se sentir mais forte, sair da cama e recuperar o corpo,
você verá que ela voltará ao normal. – O médico explicou.
-
Como ela está? – Neal estava exausto. Só queria que tudo terminasse e eles
pudessem recomeçar.
-
Melhor do que o esperado para quem passou por tamanha violência há 8 dias. As
costelas já estão em um estágio avançado de cicatrização. Rachel jura que não
sente dores, mas...
-
Mas ela não reconhece a dor nunca. – Neal cortou o médico.
-
É. Amanhã farei um exame ginecológico e um ultrassom para termos certeza de que
o útero se recuperou bem. Foi uma cesárea de emergência, um corte maior que o
feito normalmente. Eu tinha receito de termos complicações. Mas ela se saiu
bem. Essa semana Rachel ainda teve bastante sangramento, o que é normal. Está
regularizando. Mas vamos seguir acompanhando. De resto é ela voltar a se
alimentar bem e esperar a alta.
-
Ela não está comendo normalmente. – Observou Neal.
-
Era esperado. Mas não é nenhuma tragédia porque Rachel, ainda bem, sempre
cuidou de seu corpo. Ela tem uma ‘máquina’ que funciona bem. E, se conheço a
minha menina, assim que puder vai descontar toda a sua raiva nos exercícios
físicos e entrar em forma logo. – O médico observou Neal. – Você está
precisando ir para casa Neal e dormir uma noite completa na sua cama. Há quanto
tempo não faz isso?
-
Eu tentei. – Há dois dias foi para casa planejando dormir enquanto Nicolle
ficava com a filha, mas acordou poucas horas depois sentindo a cama fria.
Passou aquela madrugada acordado. – Pareceu errado.
-
Mas não é. Vá até o quarto de sua mulher, beije-a e despeça-se. Precisa estar
bem para quando ela ir para casa Neal. – Foi o conselho experiente do médico.
Foi
o que Neal fez. Quando entrou no quarto encontrou-a com os cabelos penteados
para trás e cheirosa. Usava uma camisola que não era hospitalar, era dela,
bonita e discreta. Nicolle insistia para ela passar um batom.
-
Não vou a uma festa, mãe.
-
Não precisa de uma festa para estar bonita, filha. – Nicolle só deseja ver a
filha mais animada.
-
Ela está linda mesmo sem o batom. – Neal disse. E estava mesmo. Era o primeiro
dia que reconhecia em Rachel um ânimo maior. E essa vivacidade lhe deixava
linda.
-
É bom ouvir você mentir. – Ela disse.
-
Não é mentira. Está melhor, mais forte, mais corada. Logo poderei te levar pra
casa. – Ele acariciou-a nas maçãs do rosto e ela sorriu. – Como se sente?
-
Bem. – Ela disse mecanicamente como sempre fazia. – Sabe quantas vezes me faz
essa pergunta por dia?
-
Muitas. Mas é porque você nunca é sincera. Sempre diz que está bem. E eu não
sei como está de verdade.
Rachel
o observou antes de responder.
- Tem
razão. Eu não estou bem. Mas eu vou ficar. – Era a resposta mais positiva que
ela podia lhe dar.
-
Vai sim. Claro que vai. – Ele beijou-a na boca. - Vou em casa ver o George. Mas
volto logo.
-
Não, não, Neal. Passe a noite com ele. Deve estar sentindo sua falta. Eu estou
louca para vê-lo. Louca. E você também deve
estar cansado, fica com ele e descansa. – Dessa vez ela beijou-o – Eu te amo.
- Também
te amo. Logo terá alta.
Rachel olhou-o tristemente.
- E
quero muito ir ao cemitério. Preciso...ver. Ainda é muito irreal que ela não
esteja viva.
-
Olha pra mim, Rachel. – Ele a fez fixar o olhar no dele. – Você vai se
alimentar bem, vai aceitar a medicação e vai receber sua alta. Os médicos não
querem que vá um cemitério ainda. Não tendo uma cirurgia tão recente. Mas assim
que eles autorizarem, eu levo você.
-
Está bem. – Ela sorriu e lhe deu um delicado beijo nos lábios. – Vá descansar e
diga a George que sinto a falta dele.
Quando
chegou em casa, Neal tinha a mente tumultuada. Mal cumprimentou Mozz e apenas
se serviu da primeira bebida alcoólica que encontrou e sentou-se tentando
colocar os pensamentos em ordem. Rachel realmente parecia melhorar aos poucos.
Estava mais forte. Menos depressiva. Estava se reerguendo. Percebia claramente
que ela não perguntava abertamente sobre Harabo, mas ficava sempre muito
atenta, tentando pescar informações. Neal a conhecia mais que o suficiente para
saber que não ia desistir de se vingar.
E ele? Conseguiria seguir com a vida sabendo que
sua filha foi morta? E que Harabo logo, se não já, saberia que Rachel havia
sobrevivido e poderia buscar por concluir seu trabalho? Jones morreu tentando
protegê-la. Outras pessoas inocentes poderiam perder a vida. Não. Ele usaria
seus contatos no FBI para procurá-lo. Se fosse preso, Harabo pegaria perpétua e
mesmo isso lhe soava como pouco. Não resolvia nada, mas liberava um pouco da
raiva que sentia.
-
Eu estou atento. – Disse Mozz que o observava da sala. – Assim que ele aparecer
te aviso.
-
Do que está falando? – Não estava com paciência para os enigmas de Mozz.
-
Do que está no seu pensamento nesse momento. Harabo. – Mozz aceitava que Neal
não estava com o melhor dos humores. Mas já havia passado uma semana. Era hora
dele sair da fossa e pensar em atitudes objetivas. – Mas quero saber seus
planos.
-
Não planejei nada ainda.
-
Precisa decidir o que fará, Neal. Vai caçar Harabo? Entregar ele pra polícia?
Matá-lo?
-
Eu o quero morto, Mozz! Quero Harabo destruído! Quero vê-lo aos pedaços! Eu não
esqueço...não esqueço daquela barra de ferro caída ao lado delas....o sangue no
chão. Eu não esqueço!
Logo atirou para o chão tudo o que estava na mesa.
-
E vai matar? – Mozz sabia que desejar matar e realmente puxar o gatilho eram coisas
muito distintas e, para Neal, ainda mais.
-
Eu vou atrás dele! Não vou passar a vida esperando Harabo vir nos perseguir
novamente.
-
E vai fazer o que quando encontrar ele? – Mozz pressionou.
-
Eu não sei! Droga! Eu não sou um assassino, mas eu quero ele morto! O que mais
quer que eu diga?!
-
Nada, Neal. Eu não preciso que você diga nada! Só que a Rachel logo sai do
hospital e ela, além de querer Harabo morto e ter ótimas razões para matá-lo,
ela sim, é uma assassina bem eficiente. O que acha que Rachel fará assim que
estiver fora do hospital?
-
Não! Não mesmo! Rachel não vai matar mais ninguém. Com o histórico dela, será
condenada a penas muito piores. Eu vou falar com ela. E o Peter não vai
deixá-la sair do hospital sem tornozeleira. A Rachel não vai atrás do Harabo
sozinha. Ela ainda está muito debilitada. Seria colocar-se em perigo. Eu é que
terei esse acerto de contas com Harabo. Eu. Vamos manter Rachel fora disso.
-
Não será fácil. – Mozz disse encerrando o assunto.
George
passou aquela noite dormindo sobre o peito do pai. Parecia até que ele entendia
que Neal precisava de descanso e dormiu a noite toda.
O
sol já estava alto quando ele acordou o pai colocando a pequena mão em seu
rosto e gritando uma sequência de Pa, Pa, Pa interminável.
-
Bom dia filho. – Fez carinho no bebê. Era muito bem ter George nos braços. –
Tem que ensaiar pra fazer bonito quando a mamãe voltar, filho. Diz: Mamãe, fala
George, mamãe.
-
MÃ! – Gritava o menino.
-
Mamãe. – Insistia Neal.
-
Mã! – Devolvia George.
-
É...uma sílaba já está bom.
Na
casa dos Burke, o clima também era apreensivo. Peter observava a situação de
longe. Naquela semana ele acompanhou Diana ter poucos avanços na procura por
Harabo e se ver ocupadíssima com outros assuntos já que Rachel estava
hospitalizada e Neal pouco podia auxiliar o FBI. Mas ele temia mesmo eram os
próximos dias. Quando Rachel saísse do hospital e tivesse certeza de que Harabo
ainda estava livre.
-
O que houve, querido? – Ell perguntou indo encontrar Peter na cozinha.
-
Preocupação. Neal, Rachel...Harabo desaparecido.
-
Estive com ela ontem. Está melhor. – Ell estava esperançosa com a recuperação
da amiga. – Hoje ficarei com George para Neal poder trabalhar no FBI e depois
ficar com ela.
-
Eu disse pra Neal ficar com ela o tempo que precisasse.
-
Parece que agora pela manhã ela vai fazer exames e Rachel o expulsa nessas
horas. – Ell abraçou-o. – Porque está nervoso assim? O pior já passou.
-
Eu acho que o pior virá quando Rachel sair do hospital. – Peter desabafou com a
esposa. – Ela vai tentar ir atrás do Harabo. E se ela conseguir, vai acabar com
tudo o que construiu com o Neal. Vai destruir o Neal. Porque se ele já está sem
rumo agora, imagine sem ela.
-
Seja otimista, Peter! Neal já quis vingança quando mataram Kate e você
conseguiu tirar isso da cabeça dele.
-
Mas Neal tem boa índole, bons sentimentos. Sempre teve. Rachel não. Neal
despertou coisas boas nela. Tenho que reconhecer. Mas ela é muito fria. E ela
voltaria a matar com a mesma frieza, Ell. Eu vejo isso nela.
-
Converse com ela. Lhe dê uma chance. Rachel está amarga e machucada...mas ela
sabe que se voltar a matar, dará adeus a Neal e a George para passar a vida na
cadeia. Ela valoriza o que tem, Peter. Fale com ela.
Ele
tinha planos de fazer isso. Mas ver Rachel restrita àquela cama hospitalar o
deixava incomodado. Estão resolveu esperar ela ir para casa.
Na semana seguinte Peter encontrou com Neal algumas
vezes, mas pouco conversaram. Ainda tinham que ter um bom e franco encontro
depois daquela cena trágica que presenciaram. Nenhum dos dois queria reviver
aquilo. Ainda era muito recente. E a conversa foi sendo adiada dia após dia.
A evolução de Rachel foi visível. Fisicamente
estava melhor e se esforçando para deixar o hospital o quanto antes. No nono
dia hospitalizada, Neal encontrou-a tentando caminhar sozinha pelo quarto.
Queria ir ao banheiro sem ajuda, mas percebeu que sem nenhum apoio não era
possível.
- Espera! Vai cair, Rachel. Volta pra cama. – Ele
se assustou com a possibilidade dela se machucar ainda mais.
- Não! Eu consigo. – Ela se firmou no braço dele. –
Só me dá apoio. Eu vou conseguir. Preciso sair dessa cama.
E ela realmente saiu. Ignorando a dor, andou pelo
quarto sozinha e avisou orgulhosa que dali em diante não queria mais enfermeira
para ajudá-la a usar o banheiro.
Pela
primeira vez durante todos esses dias Neal tinha Rachel em seus braços e
aproveitou para abraçá-la cuidadosamente e, com um beijo uma beijo calmo e
amoroso, guardar um recordação boa daquele momento.
Como prêmio teve autorização para receber a visita
de George. E chorou ao tê-lo nos braços. Abraçou forte o menino.
- Filho! Bebê da mamãe! Eu sinto tanto a sua falta.
Mamãe te ama tanto. – Ela apertava-o sob o olhar atento de Neal. – Você está
bem? Conta pra mamãe.
- Mã! Mãmã! – George repetia a cada beijo da mãe.
- Você quer falar mamãe? – Rachel sorria como há
quinze dias não conseguia.
- Mã!
- Nós estávamos ensaiando para chamar a mamãe. –
Neal falou. – E estamos tentando dar os primeiros passos. Mas para isso vamos
esperar a mamãe chegar em casa. Né, filho?
Nos dias que se seguiram, o FBI continuava sua
busca por Harabo. Peter estava irritado pela falta de avanços.
-
Diana! Venha na minha sala. – Quando estavam só os dois a portas fechadas ele
tornou a falar. – Alguma novidade? Já faz 14 dias e amanhã a Rachel sai do
hospital. E não sei o que lhe direi.
-
Eu fiz tudo o que pude, chefe. Revirei toda a região. Parece que ele evaporou.
Recorri até ao Mozz. Ele disse que não ficou sabendo de nada.
-
Não desista, Diana.
-
Eu não vou, chefe. Eu prometi aos pais do Jones que ia pegá-lo. E vou. – Ela se
levantou e foi em direção a porta. – Você irá buscar Rachel?
-
Vou sim. E tenho que colocar nela uma nova tornozeleira. Neal ficará aqui pela
manhã e nós vamos buscá-la juntos no início da tarde. – Peter se recostou na
cadeira e juntou as mãos. – Tomara que ela saia tranquila e esse pesadelo
termine.
Para
Neal, aquela manhã passou arrastada. Rachel lhe dizia que estava bem. Que sua
mãe viria lhe trazer as roupas que ela usaria para deixar o hospital. Ela iria
esperar por ele, Mozz, George e Peter pronta. Estava ansioso. Passou o tempo
todo trabalhando, mas olhando para o celular e, por duas vezes, conversou com a
noiva por telefone. Ela estava animada por vir para casa e só se chateou quando
ele avisou que primeiro iriam para o apartamento e ela descansaria. Ele se
comprometeu a, no dia seguinte, levá-la ao cemitério para se despedir de Lis.
O
relógio marcava 13hs quando ele e Peter iam em direção ao elevador para deixar
a cede da Colarinho Branco em direção ao elevador quando o celular de Neal tocou.
-
Oi Nicolle. Nós já estamos indo. – Atendeu já avisando à sogra.
-
Não Neal...é que...
-
O que houve? – Tinha algo errado.
-
Eu trouxe as roupas que ela me pediu. Tudo preto como ela queria...e saí para
ir assinar os papéis da alta. E ela sumiu. Rachel não está no hospital!
Se
Neal ficou nervoso e pensou em muitas coisas ao mesmo tempo, Peter ficou
enfurecido com a situação. Não era apenas o fato de Rachel estar sem o
rastreador e, por tanto, poder sumir no mundo. Era o perigo que Harabo
representava, era o fato dela não estar totalmente recuperada e o medo que
sentiam dela simplesmente sair em busca de vingança.
-
Eu vou dar o alerta, Neal! Não posso deixar isso passar. – Isso representava
FBI e MI5 procurando por ela. E Rachel iria do hospital direto para a cadeia. –
Desculpe, Neal. Mas não posso deixá-la solta por aí sem tornozeleira e sem
buscas.
-
Não! Não ainda. Por favor. – Ele tinha uma ideia. – Eu sei onde ela está. Não
foi atrás de Harabo. Sei que não.
-
Pra onde então? – Peter não fazia ideia.
-
Vem comigo. Só nós...ela não está fugindo. – Rachel nunca fugiria sem ele e
George.
De
carro, Peter e Neal levaram 30 minutos até o endereço onde Neal sabia que encontraria
a noiva. Não concordava com o que ela fez, mas entendia.
-
Tem certeza de que ela está aqui? Ela sabia o lugar? – Peter perguntou ao
amigo.
-
Sim. Tinha me perguntado. Eu devia ter imaginado.
Não ligava para o fato dela ter enganado o FBI mais
uma vez. Não seria a ultima vez que eles fariam isso. Só que ela havia
descumprido uma ordem médica e o deixado de fora do plano. Quando se
aproximavam, Peter parou e deixou-o seguir sozinho. Ele não quis se intrometer
em algo tão triste e pessoal.
Exatamente
como imaginou, Neal encontrou Rachel na frente do túmulo onde Lis tinha sido
enterrada. Toda de preto e bem mais magra que há duas semanas, sua fragilidade
era assustadora. Dos olhos avermelhados escorriam lágrimas.
Rachel
viu o noivo se aproximar e não estranhou. Claro que Neal logo perceberia onde
ela estava. Ele tinha motivos para estar chateado. Provavelmente ia reclamar
por ela ter fugido. Não importava. Fez o que seu coração mandou. Mais afastado
pode ver Peter. Caminhou lentamente até Neal e apenas recebeu seu abraço. Ele
não a repreendeu.
-
Vamos pra casa. – Ele disse baixinho enquanto lhe dava um beijo na testa.
Rachel
seguiu caminhando e se postou a frente de Peter. Estendeu os pulsos juntos.
Claro sinal de que sabia que podia ser presa pelo que fez. Ele não lhe fechou
as algemas. Mas aproveitou para colocar o rastreador em seu pulso.
-
Não vou te prender, Rachel. Mas não gostei de ter de te procurar novamente. –
Foi firme com ela.
-
Não podiam me impedir de me despedir da minha filha. Ela é minha! Minha filha!
E eu venho aqui quando eu quiser. – Com ou sem tornozeleira. – Agora, se não
vai me prender, vou pra casa.
Ela
saiu andando lentamente. Ainda sentindo as costelas e já pagando o preço pelo
abuso de caminhar tanto quanto fez para chegar ali.
-
Vai com ela Neal. Antes que faça mais bobagem. – Peter atirou a chave do carro
para Neal. – Eu pego um táxi.
Quando Peter deixou o cemitério tinha a certeza do
que ele antes apenas desconfiava. A aparente tranquilidade de Rachel era mesmo
só aparência. A perda da filha ainda a afetava muito. Por dentro ela estava
descontrolada e prestes a explodir.
Estar em casa significa uma maior independência
para Rachel e uma imensa apreensão para todos os que a cercavam. A primeira noite
não foi difícil porque naturalmente havia pessoas esperando para ajudar. Alguns
foram rápidos e apenas desejaram melhoras. Nicolle permaneceu mais no
apartamento e ao sair deixou a filha de banho tomado e deitada na cama, pronta
para dormir.
- Obrigada, Nicolle. – Neal se despediu dela.
- Não precisa agradecer. Ligue se precisar, quando
precisar.
Com George dormindo tranquilo entre eles, Neal e
Rachel sabiam que era hora de falarem do que aconteceu. Falarem de Harabo. Eles
não sabiam, mas ambos queriam a mesma coisa. Desejavam acabar com o foragido e
proteger um ao outro, além de manter George seguro.
- Diga o que você sabe. – Rachel provocou.
- Ninguém sabe onde ele está. Sumiu do mapa de uma
forma quem nem o FBI e a MI5 conseguiram entender.
- Eu perguntei o que você sabe, Neal. Não o que a
agências não sabem.
Ambos falavam em tom baixo e calmo para não acordar
George, mas as palavras eram duras. Havia mágoa entre eles. Talvez não de um
pelo outro, mas pela forma como tudo ocorreu. Neal tentava ignorar a
agressividade que percebia em Rachel. Também estava mal. Voltar para casa os
fazia perceber ainda mais a falta de Lis. Em especial porque, a pedido dele,
Ell havia guardado em uma caixa tudo que era da menina. Isso para Rachel não
ver assim que chegassem em casa.
- Tudo o que eu sei, Rachel, é que você não vai
sair em uma caçada contra Harabo. Não vai. – Disse friamente.
- Quero ver quem irá me impedir. – Era um aviso e
uma promessa a qual Neal preferiu não responder.
Nos dias seguintes ficou claro que passavam por uma
crise. Solitariamente, cada um tentava usar suas armas para encontrar Harabo.
Rachel confirmou com Henrique que o FBI realmente não tinha nenhuma pista
concreta. Então contatou antigos parceiros e pediu que ficassem atentos. Harabo
estava com os dias contados. Neal fez o mesmo com seus parceiros e estava
atento aos avanços que Diana fazia. E os resultados eram mínimos. A única
convicção que tinham era que Harabo não estava longe.
- Parecemos colegas de apartamento. – Neal se
queixou para Mozz em uma conversa típica de bar. – Ela só pensa em se vingar.
Nem pra George consegue dar atenção. Eu achei que ele ia fazê-la sair da
depressão quando voltasse pra casa. Mas não. Hoje é o terceiro dia em casa e
ela não evoluiu nada.
- Ela precisa voltar a rotina. Trabalhar, quem
sabe? Ficar só em casa não ajuda muito.
- Peter não a quer por perto ainda. Acha arriscado.
E eu também. Além disso não tem autorização médica.
- Mas ela está bem, não está? – Na opinião de Mozz,
os médicos fariam mais por Rachel se a autorizassem a fazer algum exercício
físico. Ela precisava descarregar o ódio e a energia em algo.
- Ela diz que sim. Não sei. Porque ela não me deixa
tocá-la, nem olhá-la. Quando eu chegar no apartamento, vai estar deitada e
pronta para dormir.
- Nesse ritmo, você vai chegar ao apartamento
bêbado, isso sim. Largue esse copo, Neal! – Essa era uma frase que Mozz não
imaginava falar. – Chegue mais cedo em casa então. Conversem, briguem. E se
acertem.
- Não é tão fácil.
O relacionamento estava passando por um teste. Não
apenas tinham um problema sério como não
podiam resolver da forma habitual. Sexo estava proibido por algumas semanas. E
ele fazia falta para os dois.
Neal chegou mais cedo do que de costume. O sol
estava ainda se pondo. Passou por June na sala e a viu mimando George. Brincou
com o filho enquanto pensava que devia muito aos seus amigos. June tratava o
menino como a um neto e foi ela quem o lembrou que o 1 ano de George se
aproximava. Em meio a tantos problemas, ele e Rachel estavam deixando esse
detalhe passar.
Quando subiu ao seu apartamento, Neal encontrou
Nicolle preparando algo na cozinha. O aroma era delicioso.
- Oi, Nicolle. Tudo bem?
- Bem, dentro do esperado. – Ela sorriu olhando-o.
– Ela cochilou e eu vim preparar uma sopa para vocês jantarem. Assim que ela
acordar eu vou ajudá-la no banho e os deixo a sós.
- Obrigada por tudo o que vem fazendo. Ela não me
deixa ajudá-la.
- Eu percebi isso. Tentei falar para ela não
afastá-lo assim, mas não quer que você veja a cicatriz. A incomoda que a veja
com o corpo deformado. – A sogra lhe sorriu como quem conhecia bem a cabeça da
filha. – Você já teve belas mulheres, Neal. Ela não gosta de se sentir
inferior.
- Isso é uma bobagem!
- É, para os homens. Para nós mulheres é
importante. Neal, querido, quando eu perdi um bebê, meu casamento também entrou
em crise. Acho que é normal. Eu pensava em porque deveria permanecer com John
se não teria meu bebê. – A jovem senhora parou por um instante lembrando do
passado. - Mas não desista. Existe um motivo para vocês estarem juntos até
hoje. Para vocês terem George e terem desejado tanto Lis: vocês se amam.
Foi bom ouvir o conselho de Nicolle. Neal então decidiu
que preferia Rachel esbravejando do que o
ignorando. Iriam extravazar a raiva nem que fosse brigando. Neal
convidou, educadamente, Nicolle a ir embora. Gostando ou não, Rachel teria que
aceitar a ajuda dele.
Quando acordou e encontrou-o observando-a na cama
Rachel sorriu.
- Bom...início de noite. – Disse lhe beijando os
lábios de leve. – Vamos tomar banho?
- Banho... – O sorriso dela foi embora. – Onde está
minha mãe? Ela vai me ajudar.
- Ela já foi. Eu disse que iria te ajudar.
- Não...
- Sim, Rachel. – Ele apontou para uma cadeira. – A
roupa para você colocar depois está pronta. Vamos para o chuveiro?
- Não, Neal...onde está George?
- Com June. – Ele afastou as cobertas e fez menção
à tirar a blusa dela. Não muda de assunto. Não tem porque a sua mãe te ajudar
todos os dias. Eu estou aqui.
- Eu disse não. – Ela afastou as mãos dele. – Eu posso
muito bem tomar banho sozinha. É bobagem do Richard isso.
- Não, não é bobagem. – Ele acariciou o rosto dela.
– Não vai poder esconder seu corpo pra sempre. E não tem do que se envergonhar.
Vamos?
Ela foi. Viu o noivo tirar rapidamente as próprias
roupas e ir com ela para baixo do chuveiro. Deixou que Neal tirasse a calça de
moletom que ela vestia. A calcinha também foi para o chão sem reclamações. Mas
na hora dela tirar a longa camiseta que usava, foi categórica:
- Fecha os olhos! – Mandou com voz firme.
- O quê? Não posso ver a minha mulher?
- Ainda não....vai Neal facilita. Não quero que me
veja assim.
O pedido foi feito com uma delicadeza nada típica
de Rachel. E convenceu Neal. Deu um passo atrás para lhe dar espaço e cerrou os
olhos. Esperou alguns segundos até que sentiu a água começar a cair. Quando
abriu os olhos não se surpreendeu ao ver que Rachel estava de costas. Abraçou-a
por trás.
- Adoro esse seu ângulo. – Lhe deu um beijo nas
costas. – Mas não gosto quando você esconde o que é meu.
Ela lhe estendeu o frasco de xampu.
- Aproveite
a visão desse ângulo...está mais ou menos igual. E lava o meu cabelo?
Assim terminaram o banho. Enquanto ela realmente se
banhava tentando esconder o corpo como podia, ele lavava seus cabelos e a
olhava. Sim, o ventre estava ainda bem inchado e a pele ao redor do corte
avermelhada, mas já sem os pontos e bem cicatrizada. Não havia razão para
aquele temor todo.
A conversa séria que planejava ter com ela ficou para depois do jantar.
Comeram a sopa deixada por Nicolle silenciosamente. Rachel estava encostada
nele, aceitando suas carícias e acarinhando-o também. Mas ambos sabiam que precisavam
dizer o que pensavam de tudo aquilo.
- Eu quero a minha mulher de volta, Rachel. Por
mais que doa ficar sem a Lis, eu quero saber quando você voltará a ser aquela
mulher por quem eu me apaixonei.
- Eu devo esquecer o que aconteceu? Sorrir e seguir
com a vida como se minha filha não tivesse sido assassinada? Não aceito essa
passividade!
- Nossa filha, Rachel. Ela não era só sua filha, é
nossa!. Eu também sofri a morte dela.
- Não é a mesma coisa! Não era dentro de você que
ela estava! Não era você a senti-la! A carregá-la! Não foi você a perdê-la.
- Está sendo egoísta! Está pensando só no seu
sofrimento! – Neal revidou. Só faltava ela acusá-lo de não ligar para a morte
de Lis. – Também quero acabar com Harabo! Eu estou monitorando tudo que o
FBI esta fazendo. Não estou deixando passar nada, com a ajuda do Mozzie. Eles estão procurando.
- Não! Não ligam para o que aconteceu! Eles devem
achar até bom...justo. Pensam que é o castigo merecido a uma assassina. E estão
certos. Eu matei...e agora eu a perdi. Mas eu não preciso do FBI pra acabar com
Harabo. A próxima facada não vai ser só superficial. Eu vou ter o prazer de ver
ele sangrando até morrer!
O olhar dela ao falar assustou Neal. As palavras
prazer e morte para ele nunca deveriam estar na mesma frase. Ele desejava tudo
de pior para Harabo. A morte mais trágica e mais dolorosa. Mas daí a sentir
prazer com isso, era um longo caminha que ele não pretendia cruzar.
- Será que não vê que tudo isso começou com uma
vingança? Você armou para pegar Harabo por ele ter matado seu pai. E ele se
vingou de você. Vingança, vingança, vingança! Lis morreu por causa de uma
guerra sua e de Harabo! – Aquela era uma
acusação muito séria e que ria magoar Rachel. Neal sabia e sequer podia alegar
ter falado sem pensar.
Então saiu do quarto, irritado, desejando não ter
iniciado aquela conversa. Agora não tinha volta. Ela ficou no quarto amargando
sua mágoa pelo que ele falou e Neal foi para a sacada do apartamento. Olhou
para o relógio e viu que marcava 22h45min. Jogou-se em uma das cadeiras
inclinadas e só não pegou uma garrafa de bebida porque lembrou que George podia
precisar do pai. Estava mal. Mas não pretendia ir se desculpar. Ela também
tinham passados dos limites.
Rachel voltou pra cama e deixou as lágrimas
escorrerem enquanto esperava Neal voltar. Achava que ele viria. Não ia deixá-la
sozinha. Mas deixou. Sinal que ele realmente pensava o que lhe disse. A culpava
pela morte da filha. Isso a fez se sentir pior. Sim, Lis morreu por conta de
sua guerra com Harabo. Mas teria dado a vida pela dela em troca da de Lis se
tivesse podido escolher. E se ele conseguia conviver com a ideia de Harabo sair
ileso após aquilo, ela não. E ele ia pagar. Por mais cruel e vingativo que
aquilo pudesse soar, ele ia morrer.
Só que a cama fria e a sensação de que estava
cometendo uma injustiça não a deixaram dormir. Por mais que chorasse, não
conseguia aliviar o coração. Era quase 1h da madrugada quando levantou da cama
e foi procurar Neal. Esperava encontrá-lo dormindo no sofá ao lado de uma
garrafa de vinho vazia. Enganou-se. Não havia garrafa e ele estava bem
acordado. Sentado no chão em frente a uma grande caixa de papelão de onde tirava
as coisas que haviam comprado para Lis nos últimos meses.
Rachel teve de reconhecer o próprio egoísmo. Ele
estava sofrendo e ela não havia percebido, cega pela própria dor. Caminhou até
ele e sentou-se ao seu lado passando os braços ao seu redor.
- Me perdoa? Eu sou egoísta mesmo. É um item da
minha longa lista de defeitos. – Disse com toda a humildade que conseguia. –
Mas eu te amo. Mesmo com todos eles eu te amo. Não desiste de mim. Por favor.
Por essa declaração Neal não esperava. Rachel raras
vezes fazia declarações de amor.
- Eu não vou desistir de nós. Isso nem me passou
pela cabeça. – Ele afastou as pernas e puxou-a para se sentar ali, apoiada em
seu peito. – Não foi sua culpa e você tem todos os motivos pra estar revoltada.
Eu não posso jogar essa culpa em você. Me perdoa?
O beijo começou com eles ali sentados no piso da
sacada, olhando o céu de NY. Ele se deitou e ela foi junto. Se pudessem as
estrelas ficariam magoadas, o céu estava lindo e nenhum deles sequer o
percebeu. Estavam mais interessados em apagar a tristeza que sentiam no corpo
um do outro. Só que teriam de se contentar com os beijos.
- Eu odeio brigar com você. – Neal disse afastando uma
mecha de cabelo. – Odeio fazer você chorar.
- Também não gosto de brigar. Prefiro transar. – Eram
dos momentos assim que ela mais gostava com ele. – Porque brigamos tanto então?
Ele ainda a beijou longamente nos lábios, no
pescoço e colo antes de responder.
- Acho que é porque a gente gosta da reconciliação.
– Depois Neal começou a salpicar beijinhos rápidos nos ombros dela cobertos por
pequenas sardas. – Um dia ainda vou contar e beijar cada uma dessas marquinhas.
- Vai ter muito trabalho. – Ela queria ficar ali,
deixar-se ser beijada e amada pelo resto da madrugada. Se ele quisesse despi-la
ali totalmente, ela sequer teria lembrado de algum pudor pela cicatriz. – Mas
eu aceito. Pode começar.
Ele riu.
- Só que se eu começar, não vou parar só nas costas
e você não pode fazer sexo. Richard foi muito, mas muito mesmo, claro nesse
quesito. Só faltou me fazer prometer.
- Não seria a primeira vez que desobedeço ordens
médicas. – Respondeu Rachel. – Quero você.
- Também te quero. – Muito, mais do que ela podia
imaginar. – Mas você não vai desobedecer dessa vez. Quando tiver alta, eu vou
te encostar contra essas paredes e te comer tanto que você vai gritar até ficar
rouca.
- Eu vou cobrar hemmm. – Mal podia esperar.
- Não vai precisar.
Passava das 2hs da manhã quando foram dormir. Isso
só não foi um problema porque o dia seguinte era um sábado e não tinham hora
para levantar. Acordaram apenas porque George chorou em seu berço. Mas logo que
veio ficar com os pais, ficou sorridente e feliz novamente.
- É inacreditável que ele já vai fazer um ano. Um
bebezão. – Neal disse.
- Nossa...é mesmo. – Ela ficou constrangida. – Eu
não tinha notado que é semana que vem.
- Eu também. Mas...amor...eu quero comemorar. Mesmo
com o que aconteceu. Acho justo com George que a gente comemore o 1 aninho
dele.
- Claro que vamos comemorar. Meu homenzinho já
completa 1 ano. – Ela pegou-o e mordeu os braços gordinhos.
- Mãmã...mã – Ele repetia entre gargalhadas.
Os dois seguiram na cama até bem tarde e depois
resolveram trocar de roupa para ficar na sacada brincando com George. Rachel
estava bem, disposta e sem dor alguma. A tarde planejavam ir ao parque um
pouco. O assunto Harabo deixado de lado por enquanto. Queriam curtir o filho.
Depois do almoço ligaram para Peter e Ell e os
convidaram para ir junto do Sophia no parque também. Eles viriam ali para
seguirem juntos. Rachel estava sentada observando George caminhar segurando a
mão do pai enquanto esperavam.
- Parabéns! – Ela batia palmas e o menino sorria de
felicidade ao caminhar. – Já está grande! Caminhando com o papai!
Não se surpreenderam ao ouvir a campainha tocar. Estranharam
sim quando viram quem eram os visitantes. Do sofá Rachel viu Neal abrir a porta
e franzir o cenho.
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