Neal viu Rachel soltar a caixa fazendo com que bilhete, envelopes e
fotos se espalhassem pelo chão. Segurou-a antes que caísse e pode sentir sua
pele gelada.
- June, por favor, pega uma toalha e umedece no banheiro? – Disse
enquanto carregava a namorada até a cama. – Acorda, Amor. Vamos!
A cama ficou rodeada de pessoas preocupadas. Não havia nada de grave.
Foi apenas a pressão que subiu muito com o susto da ameaça. Resolveu lhe dar
alguns minutos para repousar e se recuperar do choque. Ele mesmo estava
assustado. O recado ameaçador já iria amedrontá-lo qualquer um: “Quem diria que
um dia nos reencontraríamos, Rachel. E que você teria uma família. Gente como
você não deveria se reproduzir”. Mas acompanhado da prova de que Joseph Harabo
não estava blefando e realmente havia atravessado o oceano em busca de um
acerto de contas o perturbou.
No momento em que viu as fotos vários pensamentos simultâneos lhe
ocorreram. Todos com um mesmo fim: proteger sua família de um inimigo que ele
ainda não reconhecia nem entendia. Um homem obsessivo, mas que, ao mesmo tempo
que alimentou o ódio que sente por Rachel por anos, também soube esperar
pacientemente para concretizar sua vingança. Pensou em fugir naquela noite
mesmo, pensou em abrir o jogo com Peter e pedir sua ajuda para protegê-la,
pensou em usar alguns dos inúmeros criminosos que conhecia para também caçar
Harabo e, por fim, concluiu que precisaria conversar com Rachel e fazê-la lhe
contar tudo, esclarecer as razões de Harabo e, juntos, decidirem o que fazer.
Quando ela começou a se mexer, seus
pensamentos foram interrompidos. Rachel abriu os olhos agitada, nervosa.
Apressadamente começou a mexer nas próprias roupas.
- Preciso soltar essa cinta. Está me
machucando. – Rachel falou. Ela viu que Peter estava ali e ouvia sua
reclamação. Mas não ligou. Estava apertada e aquilo deixava sua respiração
ainda mais ofegante. – Me deixem sozinha. Eu quero me trocar, por favor.
Irritado com toda aquela situação, Peter explodiu. Não podia deixá-los
continuar naquela mentira. Mesmo num momento difícil como aquele Rachel seguia
tentando enganá-lo.
- É! Você não precisa mesmo dessa cinta mais. Não tem mais nada para
esconder! – Gritou.
E todos no quarto o olharam. Sabiam o que ele tinha acabado de
descobrir, mas ninguém queria reconhecer. Neal o encarou. Depois olhou para
Rachel. Não tinham mais saída.
- Peter...nós...
- Vocês o que? Vão mentir na minha cara mais quanto tempo? – Estava
cansado de ser enganado.
- Peter, a Rachel está nervosa. – Ell tentou interferir. – Precisamos
deixá-los ter paz...pelo bebê. Vamos embora.
Peter encarou Elizabeth.
- Você sabia, Ell. Sabia e os ajudou a me enganar. – Pensando que em
casa poderiam resolver seus problemas particulares e respeitando que Sophia
estava na sala e não gostaria de vê-los brigar, Peter se encaminhou para deixar
o quarto. Mas encarou Neal e avisou que não iria embora. – Tire esse troço que
está apertando ela, ajude-a a se sentir melhor e depois a leve para sala. Temos
muito o que conversar!
Enquanto na sala Ell tentava acalmar Peter, June se retirou
discretamente avisando que estaria na cozinha de sua casa, disposta a ajudar,
caso precisassem. Mozzie também achou que devia lhes dar privacidade.
- Vou ficar com mo menino
George...se precisarem basta chamar. – Ele baixou o tom de voz. – E eu estou
com as malas prontas...caso...bom vocês sabem.
Quando ficaram sozinhos Neal
observou Rachel enquanto ela soltava a cinta que lhe apertava a barriga. O lado
bom era que agora sua filha poderia crescer sem ficar escondida e apertada a
todo o momento. O lado ruim é que Peter estava com raiva e ambos sabiam que o
futuro de Rachel estava nas mãos dele.
- Vamos embora. Dar adeus ao FBI e
deixar Harabo comendo poeira. – Neal
disse. Parecia o mais óbvio. – Não importa o que Peter dirá. Você não
voltará pra cadeia.
- Eu não estou em condições de
simplesmente pular a janela e sair correndo pela rua, Neal. Vou ter de
enfrentar Peter.
- Nós vamos enfrentar. – Ele estaria
ao seu lado. – Mas antes descansa um pouco.
Quando finalmente entraram na sala,
encontraram Ell sentada no sofá com Sophia e Peter caminhava para todos os
lados. Ele não estava apenas bravo, estava magoado. Fora feito de idiota por
meses. Neal, Rachel Mozzie e até mesmo Ell o tinham enganado, mentido repetidas
vezes.
- Quem mais sabe? – Perguntou assim
que os viu.
Rachel sentou-se ao lado de Ell
enquanto Neal foi para a cozinha, colocou água para ferver e abriu uma garrafa
de vinho. Já tinha bebido além da conta, mas se os problemas não tinham fim, as
taças também não teriam.
- Sophia, querida, vá ficar com o
tio Mozz e o George lá dentro. Sim? – Ell sugeriu.
- Vocês não vão brigar nem gritar?
- Não, não vamos. – Peter respondeu
e esperou a filha sair. – Eu estou esperando uma resposta.
- A gente não contou para ninguém,
Peter. Alguns descobriram sozinhos, outros desconfiam. – Rachel respondeu
enquanto Neal se sentava ao seu lado.
Neal e Ell bebericavam o vinham
enquanto Rachel segurava uma xícara de chá. Peter não quis nada.
- Não podiam ter me escondido isso!
Não podiam! – Seu olhar estava focado em Neal. Era dele que Peter esperava
alguma lealdade.
- O que queria que eu fizesse,
Peter? Dissesse que minha namorada está grávida e simplesmente esperasse a MI5
vir buscá-la? Entregá-la para sei lá onde ou por quem minha filha viria ao
mundo.
- Já sabem que é uma menina?
- Sim, se chama Lis, Peter. Eu
completo cinco meses na próxima semana. – Rachel esclareceu. – Nós sabemos há
uns 3 meses.
- Como puderam me enganar durante
tanto tempo?
- Nós não tivemos escolha, Peter. –
As mãos dela tremiam. – Eu temi que você me expulsasse da Colarinho Branco e eu
fosse deportada e entregue à MI5.
Peter os encarou.
- É isso que vocês pensam? Pois bem
então! – Peter pegou o celular e fez uma ligação. – Jones! Reúna uma equipe de
vigilância. Para a casa do Caffrey! 24 horas por dia. Preciso de você aqui em
minutos.
- Peter! – Neal reclamou.
- Amor... – Ell tentou interferir.
- Calados! – Ele os encarou ainda
raivoso. – Eu ainda não sei o que farei com essa confusão em que vocês se
meteram. Por enquanto, Rachel, considere-se em prisão domiciliar. Você só tem
autorização para ir daqui ao FBI. Nada mais.
- Peter... – Neal tentou interferir.
Rachel não dizia uma palavra.
-
Dê-se por satisfeito Neal. A equipe de Jones estará aqui para duas coisas. A
primeira é impedir uma fuga de vocês. Por mais que achem o contrário, eu não
sou um idiota. E é bom que o Mozz esteja ouvindo também, como eu sei que está.
-
Recado entendido, engravatado. – Ele gritou em resposta. Claro que prestava a
atenção em tudo.
- Ótimo. – Peter disse e voltou a pegar as fotos que chegaram. – A outra
razão é reforçar a segurança. Vou avisar a MI5 do presente de Harabo. Iniciar
uma caçada. Vamos pegá-lo!
- São do nosso almoço de ontem. – Neal disse. Harabo deu sinal de que
realmente não estava brincando. Não precisava assinatura para saberem quem era
ele. – Ele esteve muito perto de nós!
- Vamos pegá-lo! – Repetiu Peter. – Sophia! Vamos! Ell, pegue o seu
casaco. E amanhã nós conversamos, Rachel.
Peter deixou o apartamento sem nenhuma ideia do que fazer. Se por um
lado sentia raiva, por outro os compreendia. A situação de Rachel era realmente
complicada. Se ele a afastasse do FBI, o acordo estaria desfeito e a MI5
requisitaria sua deportação. Provavelmente ela seria enviada a alguma prisão na
Inglaterra ou na França e, após o parto a bebê seria entregue à Neal. E seu
amigo jamais o perdoaria por lhe tomar a família que sempre sonhou.
- Neal os protegeu da melhor maneira que pode, Peter. – Elizabeth disse
deitada em seu peito naquela noite.
- Mentindo para mim! Essa é a única maneira que o Neal conhece? E fez a
minha mulher mentir. Fez a minha equipe mentir! Ora! Tem que sempre mentir e
enganar?
- Neal faz coisas erradas...mas por motivos certos.
Na manhã seguinte Peter chegou cedo ao FBI. Queria pensar sozinho, em
paz. Tinha que tomar uma decisão profissional e sem a pressão dos próprios
sentimentos.
Aos poucos todos foram chegando para trabalhar. E não estranhou quando
viu Jones, Rachel e Neal entrarem juntos. Jones era um agente correto.
Certamente passou a madrugada acordado e atendo a casa e June.
Percebendo o quanto Peter estava nervoso, Neal, Rachel e toda a equipe o
deixaram sozinho. Os poucos que entraram em sua sala só o fizeram porque ele
chamou. Mal humorado, cobrou resultados e mais agilidade de todos. Não queria
receber mais ligações de Stone reclamando de nada. O relógio marcou 11h30min e
viu alguns começarem a sair para almoçar. Neal e Rachel estavam lá. Cada um em
sua mesa, fingindo que trabalhavam. Levantou-se, saiu de sua sala envidraçada e
com a mão direita fez sinal para Rachel subir. Não se surpreendeu quando Neal a
acompanhou. Mas freou sua entrada.
- Eu chamei Rachel. Não você! – No fundo toda a sua raiva era por Neal
não confiar nele depois de tudo.
- O assunto é de nós dois. Eu tenho o direito de participar. – Peter não
podia excluí-lo assim!
- Ela é a grávida. É com ela que eu pretendo conversar.
Isso deixou Neal ainda mais irritado.
- Está grávida de um filho meu. Então eu pretendo participar da
conversa. – Disse e entrou na sala.
-
Pois bem, participe então. E comece ouvindo o que tenho a dizer. – Rachel e
Neal se sentaram. Ele nervoso. Ela tentando aceitar a ideia de voltar para a
cadeia. Durante a madrugada haviam conversado com Mozz e armado uma fuga de
emergência. Seria arriscado, mas teriam escapatória. Tudo dependia do que Peter
iria falar. – Faz mais de cinco anos que você e eu trabalhamos juntos, Neal.
Faz cinco meses que Rachel se juntou a nós. Trabalhamos duro, nos arriscamos
juntos. E, ainda assim, vocês acharam que eu simplesmente iria me livrar de
Rachel porque ela está grávida?
-
Eu não podia arriscar, Peter. – Neal começava a ter alguma esperança. – E não é
isso que fará?
-
Pois fique sabendo que me magoa ver o mostro que sou aos olhos de vocês. Só
assim eu devolveria a Rachel e a entregaria nessas circunstâncias. – Peter
encarou-a .- Você é um membro importante da equipe! Você levou um tiro por mim.
Droga! Levou um tiro estando grávida! – Peter esmurrou a mesa. - Não a deixaria
correr um risco como aquele se soubesse.
- Está dizendo que vai me manter na equipe da Colarinho Branco? Mesmo
grávida? – Rachel realmente não esperava essa atitude de Peter.
Ele ficou calado por um momento.
Tinha a sensação de que poderia se arrepender daquela atitude no futuro, mas
não podia virar as costas à mulher que lhe salvou a vida, mesmo que ela fosse
uma assassina. E de alguma forma sabia que devolver Rachel para prisão
significaria jogar Neal de volta no crime. Porque ele não levaria mais do que
dias para armar uma fuga com ela.
-
É perigoso você estar no FBI e trabalhar nas ruas. Vou tentar mantê-la nos
casos, mas não em ações perigosas.
-
Obrigada, Peter. – Ela respondeu.
-
Eu vou te dever essa pra sempre. Muito obrigado! – Neal agradeceu.
-
Não fiquem felizes ainda. Isso é o início dos nossos problemas. – Agora vinha a
parte ruim. – Porque eu aceitar não significa o FBI e, muito menos, a MI5.
-
O que significa que teremos de manter a mentira. – Neal concluiu.
-
Exatamente! Stone não desconfia e enquanto não aparecer aqui, ficará assim. Se
vier, fingirei que não sabia, que fui enganado. Não será tão difícil. Mas
enganar a MI5 já é mais complicado. Não sei como irei afastá-la do caso do
tráfico de crianças sem Edbert Shepherd desconfiar.
-
Não há como. No que envolver a MI5 tenho que continuar. – Rachel afirmou.
-
Está interessada em levar outro tiro?
-
Foi só um arranhão! – Ela menosprezou. – Não há outro meio. Temos que manter as
aparências.
-
Ok...digamos que eu concorde com essa loucura. Qual o plano para depois. Vocês
farão o quê quando você estiver prestes a dar a luz? Vai parir pela manhã e
participar de uma emboscada a tarde? Como essa mentira toda termina?
Neal
e Rachel trocaram um olhar constrangedor. A verdade é que não sabiam bem o que
fazer.
-
Eu tive uma recuperação pós parto bem rápida quando George nasceu. – Ela
lembrou-o.
-
Aaaaa sim, eu lembro. Eu lembro, Rachel. – A expressão de raiva voltou ao rosto
de Peter no mesmo momento em que Neal voltava a sorrir. – Então você
apresentará a todos o segundo ‘bebê-Neal’ e todos acharão fofinho e simpático.
O Mozz cuidará dele também enquanto você e Neal estão no FBI mesmo tendo um
recém-nascido?! Vocês não enxergam a loucura que é tudo isso!?!??! Que irresponsabilidade.
-
Eu sinto muito colocá-lo em problemas, Peter. -
Rachel avisou. – Mas por mais louco que seja o plano, foi o melhor que
conseguimos para ter nossa filha. E vamos lutar para dar certo.
-
Está bem...você terá segurança contra o Harabo. Jones ficará na sua cola. E nem
pensem em tentar enganá-lo. – Ele olhou para o relógio. – Vão almoçar. Eu também tenho de me
encontrar com Ell e Sophia. A tarde teremos uma reunião geral. FBI e MI5. Já
temos as provas perfeitas contra a quadrilha. Esses nunca mais roubarão
crianças dos pais.
-
Éeee Peter quanto a minha prisão domiciliar...
-
Você está tão livre quanto na semana passada, Rachel. Desde que eu tenha acesso
aos dados da sua tornozeleira e Jones possa vigiá-la. Porque a pergunta?
-
Porque eu queria ir almoçar com minha mãe...e ela gosta de um restaurante fora
do meu raio...
-
Não abuse! Diga para Nicolle escolher um restaurante mais próximo. Você vai,
Neal?
-
Não. É um almoço de mãe e filha.
- Mais
um motivo para Jones ficar por perto. – Ele não deixou Rachel reclamar. – Até
Harabo estar preso, será assim.
Em
frente ao prédio do FBI todos se separaram. Jones saiu com Rachel, Neal foi
encontrar com Mozzie para cancelar, ou adiar, os planos de fuga e Peter fui
encontrar Elizabeth e Sophia. Percebeu o quantidade de grávidas que passou por
ele na rua. Achou estranho. Nunca tinha notado como haviam gestantes em New
York e nem no quanto elas sorriam e pareciam felizes. Por um instante, a ideia
de ver aquele tipo de sorriso estampado no rosto de Ell lhe pareceu bom, bonito
e natural.
Ele
guardou aquele pensamento dentro do peito. Um dia, talvez. Não agora. Sua vida
já estava complica demais com uma grávida problemática.
Rachel
encontrou-se com Nicolle e enquanto almoçavam lhe atualizou de tudo o que se
passou nos últimos tempos. Foram algumas coisas. Que iam desde Peter agora
saber da gravidez, a instável manutenção do acordo com as agencias, o
crescimento de Lis, a aproximação de Harabo e a iminência de uma fuga.
-
Quer dizer que eu terei de escolher entre perdê-la de vista novamente ou vê-la
correr risco aqui?
-
Não é sua a escolha, mãe. Nem nossa. É a vida que sempre nos coloca nessas
situações. – Ela estava triste de ter de deixar a mãe novamente. – Nós
queríamos ficar. Só iremos se for muito necessário. Eu gosto daqui. Neal ama
NY. George está adaptado. E até Mozz reconhece que aqui é o seu lar. Mas se
ficar muito arriscado...
-
Você irá. Eu entendo. – A jovem senhora pegou as mãos da filha. – Aquele rapaz
que chegou com você e nos observa de longe, quem é?
-
É o Jones. Cara legal...Peter o colocou na minha sombra. Para me proteger e,
também, me controlar.
-
Peter sabe que vocês fugirão?
-
Não. Mas ele é esperto e desconfia. Se nós fizermos terá de ser muito bem
executado. Ou eu e Neal acabamos presos. Eu podia me livrar do Jones, mas com
Harabo por aí, melhor não arriscar.
-
Você não tinha medo dele antes. – Nicolle estava estranhando o comportamento da
filha.
-
Não tenho medo. Mas tenho que pensar em Lis...e se ele teve todo o trabalho de
fugir da cadeia só para me caçar, e parece que é o caso, não vai parar até me
alcançar. Mas nós estaremos atentos. Não vou permitir que machuque meus filhos.
– Ela olhou para o relógio. – Tenho que ir , mãe. Temos um caso importante
chegando ao fim.
Nicolle sorriu olhando a filha. Ela tinha vocação
para lidar com a lei, fosse para cumpri-la ou burlá-la.
-
Seu pai estaria orgulho se a visse agora. Lidando com uma família e tocando
casos importantes de uma agência de governo. Que tipo de caso é?
-
Não é do FBI, na verdade. Shepherd quem trouxe. Quadrilha de
tráfico de crianças. Parece que ele os investigou com papai. E agora
reapareceram.
Rachel viu a mãe empalidecer.
-
Não se meta com isso! Ouviu bem, Rachel? Essa gente é perigosa!
-
Eu só lido com gente perigosa, mãe. Eu mesma sou perigosa. Não precisa se
preocupar. Já está tudo encaminhado pra gente pegar eles.
-
Eu lembro de quando seu pai investigou essa gente...traficantes de crianças.
Ele e Shepherd ficaram obcecados com isso.
-
E porque pararam? Porque não continuar até pegar eles? Papai passou anos sem
investigar nada nessa área.
Nicole levou algum tempo para responder.
-
Eu não sei direito. Ele perdeu o rastro...e achou que não valia a pena
continuar com essa busca.
Rachel achou difícil acreditar.
-
Bom, agora a MI5 e o FBI vão pegá-los. – Ela beijou a mãe. – Tchau. Eu te ligo.
Quando
retornou ao FBI Rachel não encontrou Neal nem Peter. Mas viu Henrique na
recepção. Diana estava com ele, mas visivelmente constrangida de ter que ‘fazer
sala’ quando tinha uma quantidade imensa de trabalho. Quando viu Rachel, pensou
que eles, sendo amigos, teriam algum assunto para falar. E ela tinha razão.
-
Fiquei sabendo que saiu com Sara. – Ela disse ao cumprimentá-lo.
-
Você...se importa?
-
Não. Nem um pouco. – Ela riu. – Não sei como a suporta, mas agradeço.
-
A sim, claro. Assim ela para de correr atrás do seu namorado.
-
Algo do tipo. – Rachel brincou. – Está gostando dela?
-
Não estou apaixonado, mas Sara é uma mulher bonita, inteligente e interessante.
É bom passar algum tempo com ela. – De repente ele ficou sério. – Agora vamos
ao que interessa. Harabo!
-
Já está sabendo. – As ameaças de Harabo eram o assunto favorito do FBI.
-
Sim. Estou. Ele não esqueceu a navalhada que você deu no pescoço dele.
-
Você era meu parceiro nessa época. – Ela sorriu. – Eu devia ter matado ele.
Hoje não estaria com esse problema. Fui boazinha, só fiz um corte superficial e
olha o resultado. Agora ele me manda recadinhos ameaçadores.
-
Isso não é brincadeira, Rachel! Ele não está fazendo ameaças vazias. – Henrique
temia por ela.
-
Eu sei. E vou me proteger. Jones está me vigiando 24hs e ele é bom. Quando Harabo
se aproximar será preso ou eu o matarei. Vou presa, mas me livro desse diabo de
uma vez por todas.
-
Por mim, o governo lhe daria uma medalha por nos livrar dele. Pena que não sou
eu quem decide. Você devia conversar com o Shepherd. Ele conhece o Harabo bem e
pode ajudar...se vocês pararem de brigar. No fundo ele tem você como uma filha,
Rachel.
Quando
o trabalho efetivamente começou naquela tarde e as equipes se reuniram para
organizar para a ação conta o tráfico de crianças, Rachel encontrou com Shepherd,
cumprimentou-o, mas não tentou se aproximar. A relação deles era mais
complicada do que apenas uma briga. Ele nutria por ela uma profunda decepção e
Rachel compreendia os motivos. O que ela se tornou estava longe de ser o que
qualquer um sonhou.
-
O falsificador dos passaportes cumpriu seu papel e já temos provas suficientes
para estourar o esconderijo. – O chefe da MI5 disse. – Temos informação de que
mais duas crianças devem ser entregues hoje. Então, vamos agir.
Quero Barrigan,
Jones, Bezhani e Turner na linha de frente. – Gritou ele referindo-se pelos
sobrenomes de todos.
-
Não! – Peter interferiu. – Com Harabo a solta prefiro manter a Rachel na van.
-
Isso é bobagem! Ela é uma das melhores. Precisamos dela!
-
Precisamos dela viva.
-
Eu não aceito isso! – Shepherd gritou. – Eu a conheço. Eu a treinei. Sei de sua
capacidade. Ela será útil no caso, Peter.
-
Eu disse não. Ela será útil no serviço de inteligência do caso, não na linha de
frente.
-
Não, Peter...eu faço. Não tem problema. – Rachel interferiu.
Neal
olhou-a de cara feia. Ela não deveria ter se intrometido na discussão deles.
Mas reclamar serviria apenas para atiçar a curiosidade de Shepherd. Então a reunião
seguiu e tudo ficou acordado para a ação da noite. Dois homens e uma mulher, líderes
da quadrilha, deveriam sair presos. A prioridade era, ainda, evitar que as
crianças presentes no local sofressem qualquer violência.
Quando
o sol caiu, Neal e outros agentes do FBI permaneceram no apoio à operação.
Diana, Rachel, Jones e Henrique iniciaram a estourar o esconderijo. Shepherd e
Peter iam acompanhados de mais homens da equipe pelas laterais. O lugar estava
cercado e não tinham escapatória.
Apreensivo,
Neal acompanhou a invasão a distância porque, como Shepherd adorava dizer. Ele
era um consultor para crimes de Colarinho Branco.Não podia nem deveria se
envolver em invasões daquele tipo porque não tinha esse treinamento. Peter
permitia, já tinham feito em outras oportunidades, mas a MI5 não lhe dava as
mesmas liberdades. Shepherd era um homem intransigente que não conseguia abrir exceções.
Diana
arrombou a porta. Todos entraram com armas em punho. Lá dentro encontraram três
homens e uma mulher também fortemente armados. Além deles, um casal, provavelmente
compradores, e uma jovem que dava mamadeira para um bebê enquanto um menininho
de cerca de dois anos brincava ao lado.
-
Larguem as armas e ergam as mãos. – Henrique ordenou.
Ninguém
obedeceu.
-
Estão cercados. Larguem as armas agora. – Shepherd disse chegando com Peter
pelo lado oposto.
Não
havia alternativa de fuga, mas os traficantes ainda apontavam as armas. Sabendo
que as crianças eram a única moeda de troca que eles poderiam arriscar, Rachel caminhou
até onde estavam. A mulher que cuidava deles começou a falar.
-
Eu não fiz nada. Não me machuque! Eu só fui paga para cuidar deles hoje. – Ela estava
nervosa e a história era obviamente verdadeira.
-
Ótimo. Vamos adorar ouvir isso em depoimento. – Ela estendeu à mulher um par de
algemas. – Largue o bebê no cesto. Vá para o outro lado da sala e algeme-se à
janela. Agora!
Quando
a garota obedeceu Rachel se postou ali, a frente das crianças e com a arma apontada
para os bandidos também prontos para atirar.
-
Vocês estão em menor número. É melhor largarem as armas e desistirem. – Peter insistiu
num acordo para evitar tiros. Não queria expor sua equipe.
Quando
o primeiro largou a arma no chão, os demais logo seguiram. Dessa vez a operação
terminou bem. Nenhum tiro foi disparado. Ninguém correu perigo. As crianças
foram resgatadas e os traficantes presos.
-
O que eu chamo de ação perfeita! – Peter disse ao fim. – Parabéns a todos os
envolvidos. Já é tarde. Cada um deve voltar para sua casa e sua família.
Surpreendendo a todos, foi Shepherd a levar Rachel e Neal para casa. Ele avisou que deixaria um de
seus homens fazendo a segurança deles já que Jones precisava descansar. Ele os
acompanharia até o FBI na manhã seguinte.
-
Tenham uma boa noite. E parabéns pelo belo trabalho. – Disse o senhor. – Você continua
sendo do primeiro time, Rachel. Seu pai estaria orgulhoso. Apesar de Nicolle
querer arrancar o meu fígado por envolvê-la nesse caso.
-
Ela procurou você?
-
Ligou hoje a tarde irritada. Não a quer envolvida com essa gente. – Neal ouvia
a tudo calado. Não queria interferir no assunto de família. – No fundo você
sabe o porque.
Rachel
olhou-o e apertou a mão de Neal com mais força. Sim, sabia. As coincidências eram
muitas para ela não perceber e o nervosismo de sua mãe lhe deu a resposta que
faltava. Mas ela não queria mexer nesse assunto. Ao menos não por hora.
-
Obrigada pela carona, Shepherd. – Ela disse e abriu a porta do carro.
-
Não precisa agradecer. – Mas resolveu lhe dizer mais uma coisa. – Ao mesmo tempo que tenho raiva de você, Turner, tenho orgulho. É boa, muito
boa em tudo que faz. Mas usou isso para coisas ruins, atitudes que abomino.
- Sinto muito. Só que eu
não posso apagar o meu passado, Shepherd.
-
Mas você se arrepende do que fez? Se arrepende das vidas que tirou?
Essa
era a pergunta que muitos queriam fazer. Até mesmo Neal. As vezes mesmo Rachel
se questionava sobre como se sentia sobre as pessoas que matou. Mas, sendo
sincera, não tinha uma resposta para dar. Não sabia. Preferia não pensar
naquelas pessoas. Então disse a resposta que sempre dava. Com uma pitada de
novidade.
- Não me arrependo porque
não fico pensando sobre isso. Você e John me ensinaram a deixar o serviço de
campo no campo e não carregar os fantasmas comigo. Ok! Talvez eu me arrependa
de algumas mortes. Mas não de todas! E, certamente, me arrependo de não ter
cravado aquela faca no peito de Harabo.
Era difícil para Shepherd ver a menina que cresceu sob seus olhos
falar assim. Um bom policial também precisava de bons sentimentos e Rachel
parecia tomada de raiva. Mas ele reconhecia suas razões.
-
Estamos tentando encontrar quem
entregou a caixa para descobrir onde Harabo se esconde. Se está em Manhattan ou
se tem comparsas na cidade. – Ele ligou o carro. – Durmam tranquilos. Nós não
vamos parar até encontrá-lo.
Rachel e Neal passaram
a noite apreensivos. Estavam divididos. No fundo, achavam que deveriam fugir
sem se importar com mais nada, mas o amor por aquela cidade e aquelas pessoas
os mantinham ali. E também o medo de trocar um acordo agradável por uma eterna
vida em fuga.
- Vai dar tudo certo.
Eu prometo. – Neal disse enquanto beija o pescoço da namorada e cheirava seus
cabelos.
Na manhã seguinte
trabalharam calmamente em casos burocráticos. Naquele estado de apreensão até
mesmo arquivos amarelados pareciam agradáveis. Era melhor do que sair pela cidade
arriscando levar um tiro.
Ninguém acreditava que
Joseph Harabo fosse capaz de arriscar uma nova aproximação nos próximos dias.
Achava que quando se aproximasse seria para executar o plano, seja qual fosse
ele.
Foi uma surpresa para
todos quando um garoto de 16 anos foi a sede do FBI para entregar um boque de
flores endereçado à Rachel. Ele foi levado para interrogatório e disse não
saber nada do homem. Apenas recebeu 20 dólares para levar as flores. Rachel não
estranhou encontrar uma faca suja de sangue embrulhada em um papel escondida em
meio aos galhos das plantas. No papel mais um recado:
“Nosso encontro está marcado”.
Rachel preferiu ignorar
o novo presentinho de Harabo. Não deixaria que ele estragasse seu dia. Estava
feliz. Ela e Neal iriam a próxima consulta juntos. Estava marcada para o início
da tarde. Era importante porque ele não tinha participado de nenhuma do
pré-natal de George e estava ansioso por participar da chegada de Lis.
- Não tem problema nós
chegar bem mais tarde do almoço, tem? – Neal perguntou à Peter.
- Não. Claro que não.
As coisas estão calmas hoje. – Peter observava a felicidade de Neal. – Como consegue
estar tão feliz quando o Harabo não para de mandar ameaças e continuam fazendo
segredo da gravidez?
- Nada tira minha
felicidade, Peter. Eu não vivi nada disso com George. Eu só ouvia. Agora posso
viver a chegada da minha filha. Nada pode ser mais importante.
- Você está sorrindo
feito um bobo! – Peter brincava.
- A gente pode brigar,
pode ter problemas, pode viver se escondendo...mas quando a Rachel me disse que
a Lis estava chegando eu esqueci de tudo. Ela vai completar a nossa família.
Ela é a minha oportunidade de dar pra Rachel o que eu tirei dela quando a
entreguei pra polícia e a fiz fugir de mim com George.
- É assim que você lembra
da história? – Dessa forma Neal deixava Rachel como vítima, o que não era
verdadeiro.
- É um ponto de vista
da história. Se eu não a tivesse denunciado talvez ela me procurasse quando
soube de George e a gente pudesse ter ficado juntos desde o início. Mas não importa.
Porque eu estou tendo uma nova chance. Lis é a minha nova chance.
E ele estava
aproveitando cada minuto. Esteve presente em toda a consulta. Utilizaram o
mesmo hospital do outro exame, mas, dessa vez, Richard foi quem a atendeu.
Sorridente, o médico constatou que ela estava em perfeita saúde e que Lis
estava bem.
- Agora é apenas
amadurecer os sistemas e ganhar peso. E isso se refletirá no seu peso, Rachel.
Que vai ter um aumento mais substancial neste período. Os cabelos dela estão
começando a nascer nessa fase e logo vão senti-la se mexer bastante.
- Eu mal posso esperar para sentir. –
Neal disse.
- E já podem conversar com ela. Com
cinco meses o ouvido interno já funciona e o bebê escuta o que acontece aqui
fora. – A cada minuto eles se emocionavam mais ouvindo o médico.
Mas nada os encantou mais do que
ouvir o coração de Lis batendo. Era forte, ritmado e lindo. O tum, tum, tum mais fantástico que poderiam ouvir.
- Papai e mamãe estão
aqui, filha. Só esperando você chegar. – Rachel disse com os olhos cheios de
lágrimas de emoção.
Não era só Neal quem sentia
o amor de pai explodindo no peito. Peter também. Parecia que Sophia havia
aberto as portas do seu coração para aquele sentimento. E ver a felicidade de
Neal e Rachel, mesmo com todos os problemas, esperarem a chegada do bebê estava
mexendo com ele.
Sem pensar se aquela
atitude era ou não lógica, Peter passou por uma loja e comprou um pequeno
sapatinho branco. Tinha medo de algo dar errado ao mesmo tempo que desejava
viver aquela sensação. Quando voltou ao FBI após o almoço guardou o sapatinho
na gaveta de sua mesa. Precisava pensar
no que fazer.
Quando
chegou em casa Peter encontrou Ell apreensiva. Ela ainda se preocupava por ele
estar magoado com ela por esconder a gravidez da Rachel. Durante o jantar Ell tentou
conversar com ele.
- Não é o momento, Ell. – Ele respondeu.
Peter
estava estranho e calado demais. Após o jantar e de brincar um pouco com Sophia,
Peter a colocou para dormir lhe contando uma historia. Vendo que a filha já
havia pego no sono, lhe deu um beijo na testa e saiu do quarto.
Quando
foi também se recolher encontrou Elizabeth já deitada e aproveitou para falarem
do que o vinha preocupado. Pegou a embalagem com o sapatinho do bebê e disse:
-Me
desculpa por tudo, por ser chato em alguns assuntos. Principalmente relacionado
a filhos. Eu não sei lidar com isso. – Disse lhe entregando o presente. – Mas eu
quero isso. Quero muito. Aceita ter um filho comigo?
A reação de Ell foi
apenas chorar e abraçar o marido. Não precisava responder o que já estava claro
há muito tempo.
Naquela noite, Mozz e
June ficaram com Rachel, Neal e George até por volta das 22hs. Eles ligaram e
chamaram Jones para vir tomar uma bebida, mas ele não quis. Disse que estava em
serviço.
Quando ficaram sozinhos e George adormeceu cansado
pelo dia de brincadeiras, os dois puderam namorar e curtir um ao outro.
Transaram calmamente. Nem todos os dias eram para o furor de sexo contra a
parede. Algumas noites pediam o carinho de beijos lentos e sentimentais,
carícias íntimas e delicadas, do tipo que só a convivência trazia.
Depois, com o corpo suado, Neal ficou deitado com o
rosto encostado na barriga dela. Sentiu Lis mexer-se delicadamente e começou a
conversar com ela.
- Oi, filha. Papai está aqui. Ansioso para ver
você.
- Ei! A mamãe também. – Rachel brincou.
- Nós estamos. – Neal consertou sorrindo. – Você será
linda feito a mamãe.
Alguns minutos depois, quando se aproximavam da 1h
da madrugada, Neal foi avisado de que não iriam dormir tão cedo. Rachel estava
com mais um de seus desejos malucos. Dessa vez ao menos não era algo tão
complicado de conseguir. Há cinco quadras dali havia um mercado 24hs que tinha.
- Manga? – Perguntou como se não acreditasse.
- Sim. Bem madura e amarelinha. – Rachel salivava
falando. – Eu quero. Por favor.
- Está bem. Eu busco. – Ele a beijou enquanto se
vestia. – Mas vou pedir para o Jones subir e ficar aqui enquanto isso.
- Se você acha que precisa, ok.
E foi exatamente o que Neal fez. Desceu sorridente
para buscar a fruta que sua noiva desejava na madrugada e avisou Jones para
ficar atento. Jones disse que subiria para ficar no apartamento até ele voltar
e com essa tranquilidade Neal virou a esquina caminhando o mais rápido que
pode.
O atendente do mercado o ajudou a encontrar a fruta
rapidamente. Estavam bonitas e graúdas. Lis ficaria satisfeita. Pegou também
uma barra de chocolate e um pote de sorvete. Sorvete nunca era demais. Passou
pelo caixa e tomou o rumo de casa. Não ficou fora do apartamento mais do que 40
minutos.
Mas nada o preparou para a cena que encontrou.
Jones estava caído no chão. Sagrando. Duas marcas de tiro no peito. O
apartamento revirado. Sangue por toda a parte. Sem sinal de Rachel. O celular
dela jogado no chão.
Por um instante Neal ficou ali, em choque, sem quer
acreditar no que aconteceu. Foi o choro do George que o tirou do estado
letárgico. Tinha uma família. Precisava fazer alguma coisa. Com as mãos
tremendo, pegou o celular e discou o número de Peter.
- Jones está morto e ele a levou...Harabo a levou!
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