Passar pela vida sem nenhuma cicatriz era improvável, impraticável
e, para a maior parte das pessoas, algo indesejado. Ninguém gostava de
se machucar, de sentir dor, de cair. Porém, todo mundo tinha o prazer de
levantar depois da queda. O orgulho em olhar para a cicatriz e saber
que o que ela representava, o trauma que ficou no passado. Era um
obstáculo vencido.
Mais de um ano depois do julgamento, Bella olhava para seu Arthur
brincando e sabia que sua cicatriz estava ali, nunca ia desaparecer
totalmente. Jamais esqueceria o que passou nas mãos de Phil, nunca,
assim como nunca seria capaz de esquecer o tempo que lhe tomaram da
infância de Arthur. A cicatriz ficaria. Mas já não doía como antes.
Agora, vendo-o brincar, feliz, sabia que era capaz de vencer.
- Bella? – Edward chamou. – Carmen está aí.
- Diz pra ela vir até aqui. Vamos ficar na rua mesmo. Está um dia
tão lindo. O Arthur está adorando o sol. – Ela chamou o filho. –
Arthur...filho? Vem aqui.
- Mamãe...eu quelo blincar. – Ele já falava bem para a idade, mas colocava ‘Ls’ em todas as palavras.
- Eu sei, meu amor...mas você tem uma visita. – Ela arrumou o cabelo
do menino e tentou ajeitar suas roupas. Sabia que logo ele estaria
desarrumado novamente.
Estava certa. Um minuto depois, Arthur saiu correndo e bagunçou a roupa novamente. Porém a corrida tinha uma razão.
- Mamãe Carmem! Você veio me ver! – Arthur correu para os braços de Carmem. Era sempre assim.
- Ou menino...como você cresceu. – Carmem disse abraçando-o.
Quando o tempo passou e a dor diminuiu, Carmem e Bella perceberam
que já tinham sofrido demais. Não havia porque sofrer ainda mais. E
fazer Arthur sofrer. Afastar Carmem do menino seria obrigá-lo a sofrer a
perda que alguém que ele amava. Para Arthur foi muito simples
aceitá-las. Cabeça de criança era mesmo diferente. A lógica de Arthur
era bem simples...se posso ter duas mães, porque ficar apenas com uma?
Ele aceitou Bella facilmente depois que voltou a conviver com Carmem. E
desde que ficou mais falante, foi só ‘mamãe Bella e mamãe Carmem’, todos
os dias.
Carmem também se recuperou do que aconteceu. E não foi só Arthur
quem colaborou. Eleazar tinha parte importante nisso. O investigador de
Polícia fez muito mais do que prender o ex marido de Carmem. Ele lhe deu
esperança, cuidou dela quando foi necessário. Tornaram-se, primeiro,
amigos. Depois a amizade foi crescendo, crescendo e Carmem percebeu o
quanto era bom ter Eleazar por perto.
- Ele me trouxe pra vida novamente. – Carmem confessou à Bella um dia. – A gente fala em casar e adotar um bebê...e viver.
Peter, Renée e Phil...esses sim não tinham o que esperar de bom na
vida. Não fizeram nada para merecer isso. Phil tinha a pior pena de
todas. Passaria duas décadas na cadeia. Isso porque ele foi condenado
por vender uma criança, sua filha, além dos crimes sexuais cometidos no
passado.
Renée foi condenada pela venda de Arthur e Peter pela participação
no golpe. Para Peter, no entanto, o pior castigo foi ver Carmem presente
no julgamento sem lhe dar apoio algum. Eles foram felizes por um
tempo...e a tinha perdido por ganância.
Com a vida ganhando certa normalidade, Edward e Bela puderam voltar a
fazer mais planos que combinassem com suas idades. Eram muito jovens e
não viam Arthur como um empecilho para nada. Iriam fazer faculdade como
qualquer outro casal de namorados. O pai de Bela já tinha providenciado
uma casa para ela morar com o filho enquanto estivesse estudando em
outro estado e eles planejavam visitas rotineiras para Carmen não ficar
muito tempo distante do filho.
Edward sabia que não era o pai de Arthur e não planejava assumir esse
posto. Era muito jovem para isso. Tinha um carinho imenso pela criança,
mas não era o pai. Ele era filho de Bela e ele estaria sempre ali para o
que os dois precisassem. Não iria forçar nada. Estava satisfeito em ser
o namorado dela.
- Da pra acreditar que depois de tudo o que aconteceu eu vou pra faculdade? – Bela lhe disse.
- Claro! Porque não? – Ele olhava-a e já a imagina uma médica brilhante.
- Eu sei que não tenho exatamente a mesma história de vida dos meus
colegas de classe, Edward. É bem estranho ter um filho na idade que eu
tive e da forma...e só agora o ter comigo.
- É, a sua história é única Bela. – Os dois trocaram um beijo. – E eu
estou feliz de poder ter participado dela. Vamos preparar tudo? Fazer
as malas? Seguir com a vida e deixar tudo que foi ruim no passado.
- Vamos.
Eles não tinham a eternidade...mas eram ainda tão jovens que parecia
isso. Tinham sonhos, planos e esperança por um futuro cheio de
felicidade.
Nota da autora: Minhas sinceras desculpas aos leitores pela demora. Mas é claro que eu não deixaria a fic sem uma conclusão. Bjs
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