Quando Ana acordou estava dentro de
uma ambulância. Exagero de Christian com sua segurança. Não havia nada de
errado com ela. O desmaio era fruto do choque de ser sua prima ser atingida por
um tiro bem à sua frente. Não era assim que espera terminar aquele dia.
- Me tirem daqui! – Gritou. – Onde está
meu marido?
Christian havia sido chamado pela
polícia. A administração do shopping havia tentado impedir, mas quando duas
integrantes de uma importante família estavam envolvidos numa tentativa de
assassinato, imprensa e polícia logo apareciam. Agora estavam servindo de
manchete em todos os canais de televisão e sendo chamados para depor.
- Seu marido já vem, Senhora Grey.
Ele pediu que não lhe deixasse sair sozinha.
- Onde ele foi? – Estava irritada
sem entender o que se passou. – Minha..prima...o que fizeram com Alice?
- A outra moça foi levada as pressas
ao hospital. Ao contrário da senhora, que já está liberada, o caso dela é muito
grave.
Christian chegou logo depois e quis
levar Ana para casa. Teimosamente ela não aceitou. Por pior que fosse a relação
de Alice com a família, certamente José e seus tios teriam de ser informados do
que se passou e seguiriam ao hospital. Ela tinham de estar com eles.
- São a minha família, Grey! Não
posso abandoná-los.
As
horas que se seguiram passaram lentamente. O hospital estava cercado de
repórteres e a polícia dizia ainda não ter conseguido pegar o atirador, mas que
estavam seguindo uma pista importante. Alice passava por uma complicada cirurgia
para retirada da bala, alojada próxima a terceira vértebra da coluna. As
perspectivas não eram boas.
O clima no hospital era terrível.
Nenhum amigo veio saber do estado de saúde de Alice e, para a família, estar
ali era pouco mais que uma obrigação. Depois de tudo, a sensação de todos era
que Alice havia procurado aquela bala.
Quando todos estavam reunidos,
Grey resolveu contar-lhes o que viu. Já
havia passado a informação para a polícia, mas Ana e a família ainda não
sabiam. Seria um choque. Mas ele teve de falar.
- Anastásia era o alvo. – Ele foi
direto. – Eu vi o atirador. A distância, mas vi. Ele atirou em Ana. Alice foi
atingida por engano.
Ele teve o cuidado de usar a palavra
engano também com o investigador. Isso, porque não queria que, de forma alguma,
Ana fosse envolvida no crime. Ela não imaginava que estava salvando a própria
vida ao sacudir Alice a sua frente.
- Como assim? Quem desejaria matar
Ana? – José se apavorou frente a ideia que fosse Ana sendo operada naquele
momento.
Ana e Christian trocaram um olhar.
- Só uma pessoa seria capaz, José. –
Seus tios empalideceram sabendo a grave acusação que seria feita. – Alice. Só
Alice.
- Mas foi ela quem levou o tiro! –
Ray gritou. – Ela não iria tão baixo!
- Eu não sei com, Tio. Mas...ela
tinha o motivo para isso.
Sem saída, Ana contou aos tios o que
vinha fazendo com Alice nas últimas semanas. Contou do amante que a prima
tinha, das provas que conseguiu e da chantagem. Ray e Melissa não gostaram se
saber que vinham sendo enganados, mas compreenderam a sobrinha.
- Você queria que ela desse o
divórcio a José? – Melissa concluiu.
- Sim. Queria. – Ana agora entendia
o risco que havia corrido. – Eu a ameacei. E disse que se não me obedecesse, eu
liberaria as fotos, a humilharia e faria com que terminasse divorciada e sem um
centavo do nosso dinheiro. Deixei-a acuada.
- E ela armou um plano para te
matar! – Grey tremia só de pensar.
Todos ali sabiam que não poderiam
esconder nada da polícia. O atirador ainda estava a solta e podia tentar algo.
Só não foram diretamente ao investigador porque a cirurgia de Alice teve fim.
As notícias que o médico trouxe não eram animadoras.
- Ela vai viver. Infelizmente, não
posso lhe dizer que não restarão sequelas.
- O que quer dizer com sequelas. –
José perguntou.
- Ainda não posso lhe confirmar nada.
Mas a coluna foi atingida. É melhor aguardar. Ela será levada ao quarto para se
recuperar. Aos poucos saberemos o quanto seus movimentos foram atingidos e
esperaremos para dar qualquer notícia a ela. Nesses casos a paciente precisa
ser tratada com muita delicadeza...não são coisas fáceis de se ouvir.
Semanas
depois...
A polícia havia chegado até Jasper.
Alguém denunciou a placa do carro e, junto com a história que Ana contou ao
investigados sobre o amante de Alice e as fotos, não foi difícil encontrá-lo. Ele
ainda estava com a arma e completamente apavorado com as notícias que via na
televisão.
Não demorou muito para confessar a
autoria do tiro que acertou sua amante. Agora, ele estava preso por tentativa
de assassinato. Jasper e Alice ainda teriam que se encontrar para uma acareação.
Só não o fizeram ainda porque ela tinha problemas maiores com o que lidar.
Alice continuava internada no
hospital. Não deu nem daria mais nenhum passo na vida. Os médicos haviam
diagnosticado seu quadro como paraplegia total e irreversível. Alice não sentia
nada abaixo da linha do pescoço. Não era capaz de se erguer da cama e dependia
das enfermeiras para tudo. As poucas visitas que recebeu ela expulsou aos
gritos.
Uma psicóloga tentou atendê-la, mas
ela deixou claro que não desejava falar com ninguém. A profissional orientou que
não a informassem que o caso era irreversível. Alice achava que seus movimentos
voltariam com o tempo. Ela não queria que ninguém a tocasse ou a visse naquela
situação. Impossível. Todas as manhãs uma enfermeira vinha cuidar dela. A única
que aturava seus gritos. Uma senhorinha que a olhava com pena. Não sabia tudo
que já havia feito.
- Sorria, você está viva. – Lhe disse
a doce enfermeira.
Alice ouviu a enfermeira e sorriu.
Seguros em seus pensamentos estavam seus planos. Quando voltasse a andar poderia
terminar o que planejou. Aquele tiro ainda encontraria Anastásia.
Alice sorria sem saber que jamais
poderia concluir seus planos porque jamais conseguiria andar novamente.
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