- Elizabeth Burke! Pare agora mesmo!
– Vendo que a esposa não iria obedecer, Peter foi obrigado a segui-la. Rachel e
Neal fizeram o mesmo. Apenas Mozzie tentou respeitar a privacidade do casal que
discutia. – Ell! Não corra!
Já no térreo, ela parou e olhou para
ele, desafiando-o.
- Como assim ‘encontrarei alguém
mais interessado’? Eu sou seu marido!
- Vai ser o pai do meu filho? – Ela
esperou dois segundo para ver se obtinha uma resposta satisfatória. – Não?
Então terei de procurar alternativas!
Descer as escadas correndo fez
Rachel ficar tonta mais uma vez. Definitivamente, bastavam os seus próprios
problemas para deixá-la nervosa. Não podia ficar ali.
- Eu não estou bem, Neal. –
Sussurrou em seu ouvido. – Vou subir. Fiquei zonza.
- Espera. Não vai subir escadas
assim, sozinha. Eu vou me despedir deles. – Neal tentou, mas antes dele
conseguir chamar a atenção de Ell e Peter, Rachel desabou desmaiada. Conseguiu
apenas evitar que ela caísse no chão. – Rachel! EIEIEI Amor!
O grito de Neal fez o casal que
discutia perceber o que ocorria a sua volta. Ell correu para acudir a amiga.
Ela e Neal trocaram um olhar revelador. Teriam de enrolar Peter. E estavam
certos. Ele já estava desconfiado do estranho comportamento de Rachel nos
últimos dias. Neal a carregou de volta ao apartamento.
- Os desmaios da Rachel já estão se
tornando rotina...eu vou solicitar que ela faça exames médicos. O Estado tem a
tutela dela, enquanto detenta. Seria negligência minha se estiver doente e não
receber tratamento. – Peter sempre pensava de acordo com a lei.
Enquanto cuidava da namorada e
fingia ignorar Peter, Neal pensava em como ia resolver isso. Sempre seria
possível fazer com que Rachel fosse ao médico e fizesse exames, mas trocar os
laudos por outros falsificados. Mas seria trabalhoso e Peter poderia descobrir.
Melhor encontrar uma forma de tirar essa ideia da cabeça dele.
Quando Rachel começou a abrir os
olhos, estava tranquila. Não era mais uma ‘grávida de primeira viagem’ e
lembrava de ter tido várias tontura e desmaios nos primeiros meses da gestação
de George. Não havia nada de errado. O problema é que não podia dizer isso a
Peter.
- Relaxem! Não tenho nada. Só que
estou sem comer há muitas horas...apenas isso.
- É. Verdade, Rachel. Nós não
tivemos tempo de almoçar. – Elizabeth confirmou a mentira.
Não foi fácil enrolar Peter. Mas no
final ele aceitou que não era necessário preencher uma pilha de formulários e
enviar Rachel para fazer exames quando ela garantia que estava na mais perfeita
saúde.
A semana que se iniciaria prometia
muito trabalho. Casos não faltavam e, agora, teriam que dar andamento a
investigação de tráfico de pessoas. E uma notícia deixou Neal ainda mais chateado.
Ao contrário do que esperava Henrique e o antigo supervisor de Rachel não
tinham planos de coordenar a ação da Inglaterra. Eles ficariam ali.
- O mundo está de cabeça para baixo!
– Mozzie bradou naquela tarde. Marcaram de se encontrar em uma praça pra
esclarecer algumas coisas. – O Sr. Engravatado e Elizabeth em crise conjugal,
engravatados europeus andando pela sua casa e nós na mais completa honestidade
há mais de uma semana! É inaceitável!
- É Mozzie...a vida não está fácil.
E eu não faço ideia de como conto pra Peter que Rachel e eu seremos pais
novamente.
- Sua euforia pela gravidez começa a
diminuir? É isso? – Mozzie conhecia Neal há muito tempo. Sabia que ele só agora
percebia as complicações
- É claro que não! Isso é ótimo! Só
preciso encontrar apenas um meio do Peter também pensar assim.
- É simples, Neal! É só não contar.
Enrolem o Peter. Você e Rachel são mestres nisso!
- Eu não acho que ele deixará de
perceber a barriga da Rachel inchada, Mozz.
Mozzie pensou por algum tempo. Seria
complicado, mas podia dar certo.
- Existem meios para disfarçar a
barriga e, mesmo que ele descubra no final, se a Rachel estiver quase parindo
quando descobrir, estamos no lucro...Neal...uma hora ele saberá. Vocês não
precisam esconder eternamente, a Rachel não vai poder dar a luz e estar no FBI
no dia seguinte. Alguma licença ela terá de tirar...nem que seja no presídio.
- Ela surtará se voltar pra cadeia,
Mozz. Eu não vou deixar ela passar por isso mais uma vez. Não.
- Então vamos fugir. Quando não der
mais para esconder de Peter, nós teremos de dar adeus a NY.
Em meio a tantas dúvidas, a certeza
com que Mozz afirmava que conseguiriam fugir era tranquilizadora. E ele deixava
claro que iria junto. Mozz podia ficar em NY. Nada o impedia. E, mais uma vez,
guiava seus planos, pelos caminhos dos amigos. Era maravilhoso isso.
- Eu e você tudo bem. Já estamos
acostumados. Mas com um bebê e uma grávida, provavelmente no final da gravidez,
não será tão simples.
- Sossegue Neal! Deixe comigo. – Ele
sorria como quem tinha uma coleção de cartas na manga. – Curta a chegada do seu
segundo filho. Quando chegar a hora de partir, terei os meios prontos,
aguardando por nós. Por ar, por terra ou por mar, outra nação terá o prazer de
hospedar-nos.
Mais por necessidade do que por
confiança, Neal conversou com Rachel e passou para ela os planos de Mozzie.
Queria que ela se sentisse confiante, que aproveitasse aquela gestação. Queria
que eles curtissem a chegada do segundo filho. Ela não teve nada disso antes e,
se passasse os próximos meses nervosa com a perspectiva de voltar ao presídio,
novamente não viveria as coisas boas de se gerar um filho. Não ia permitir
isso.
Estavam deitados na cama
conversando.
- Eu não queria fugir, Neal. Apesar
de não gostar do FBI, eu me acostumei. Não queria ter de fugir, obrigar o
George a viver escondido. – Ela lhe disse abraçando-o.
- Vamos esperar pelo futuro. Talvez
não seja necessário. – No fundo ele sabia que era muito difícil. – Se Peter
descobrir quando você já estiver para dar a Luz, ele pode afastá-la apenas por
alguns dias, uma licença...uma prisão domiciliar. Ele se acostumou a ter George
por perto. Outro bebê não irá incomodá-lo.
Ela sorriu. Estava mais doce e
sonhadora.
- É. Quem sabe. – O desejo começava
a crescer nela. – Essa ‘Diaba Ruiva’ aqui está precisando de você.
Neal riu da expressão.
- O Mozzie te falou disso? – Ela
apenas confirmou com um aceno. – Não ficou chateada?
- Não...achei muito apropriado. –
Rachel beijou-o com paixão. Pareceu querer sugar toda sua energia. – Desde que
você continue aqui, comigo, a ‘Diaba’ estará mais que satisfeita.
Neal sorriu e observou-a. Era uma
mulher apaixonada por natureza. Estava, nesse momento, fervendo de desejo por
ele. E não ia se negar a satisfazê-la. Foi abrindo sua blusa lentamente
enquanto ela o agarrava com ânsia e agilidade. Até nisso ambos se completavam.
- Diaba ruiva e gostosa pra caramba!
– Sussurrou em seu ouvido. Definitivamente, o apelido criado por Mozzie tinha
pegado entre o casal.
Essa
noite pareceu ter um sabor diferente. Era um amor tranquilo, familiar e, ao
mesmo tempo, com uma paixão incendiária.
A investigação do caso de tráfico de
pessoas começou pela família da menina a que Edbert Shepherd se referia. Tratava-se de um jovem
casal de classe média alta. Sophia foi adotada ainda bebê e criada por eles
desde então. Acabara de completar cinco anos e era uma menina esperta e bem
educada. Nunca houve denúncias de maus tratos contra a menina que aparentava
ser uma criança feliz.
-
Eu não concordo com cogitarem tirar essa menina dos pais quando sempre foi bem
tratada. Sophia vai sofrer desnecessariamente. – Rachel se revoltou.
-
Se os pais forem criminosos, não devem ficar com ela. – Peter respondeu sem
pensar. – Desculpem...Rachel, Neal eu...não quis...ofender.
-
Deixa pra lá Peter. – Neal respondeu. Ambos sabiam que Peter esquecia da
relação estranha que eles mantinham. E uma coisa mantinha Neal tranquilo. Se
algum dia a polícia cogitasse afastar George deles, sumiriam pelo mundo no
instante seguinte. Não havia hipótese de ficarem longe do filho. – Mas acho que
temos de pensar em preservar Sophia. Ela não tem culpa de nada.
-
Eu concordo. – Peter não gostava de crianças, mas faria algo para se certificar
que não errariam naquela operação. – Nós iremos até lá, Neal. Vamos conversar
com os pais de Sophia.
-
Com que pretexto entraremos lá?
-
Com o real! Vamos deixá-los com medo. Diremos que estamos investigando a adoção
de Sophia e pediremos os documentos. Vamos conferir como é que a garota vive e
descobrir até que ponto os pais estão envolvidos no esquema.
Assim,
Neal e Peter foram até a casa de Patrick e Mariah Walker.
Casal bonito e simpático, os receberam bem e não manifestaram medo ao ver o
distintivo do FBI. Antes de falarem do que se tratava a visita, Sophia apareceu
e sentou-se ao lado de Peter. Era uma garotinha muito falante e curiosa.
- Olá! Sou a Sophia! Quem é você?
- Me chamo Peter. É muito bonita a sua casa. – Ele queria que a
menina falasse para ter certeza de que era uma criança saudável e bem criada.
Aparentemente os relatórios estavam certos.
- É bonita sim...mas a casa das
minhas bonecas é mais bonita. Você quer conhecer?
- Talvez mais tarde. – Já estava com
vontade fugir da menina. Crianças não deveriam ser tímidas com estranhos?
- Todos os dias às 5hs nós fazemos o
chá das bonecas. Você pode participar. – A menininha o convidou.
- Nos sentiremos honrados em
participar. – A resposta foi de Neal. Ele viu que Peter não sabia como dizer
não sem magoar a menina. – Mais tarde. Agora precisamos falar com seus pais.
- Filha, vá brincar no seu quarto.
Sim? – Mariah lhe disse e garotinha logo saiu. – Desculpem. Ela é sempre assim.
Quer que todos participem de suas brincadeiras.
- É...bom. – Peter resolveu ser
direto. Queria ver a reação deles. – É sobre Sophia que viemos falar. Sabemos
que ela foi adotada e recebemos denúncia de que ela fez parte de um esquema de
tráfico de menores.
A reação foi mais dura do que
esperavam.
- Saia da minha casa! Agora! –
Patrick gritou. – Nossa filha foi adotada na mais perfeita legalidade. Não admitirei
que venham cavar podridão na história dela. Rua! Agora!
- Acho melhor se acalmar, Sr.
Walker. É o melhor que faz. Se tudo foi realmente legal, poderá provar e...
- Tem um mandado judicial para estar
aqui? – Mariah questionou.
- Não, não tenho. Vim apenas
conversar.
- Então nossa conversa terminou.
Adeus, Senhores.
- Eu diria que é um até logo. – Foi
a resposta de Peter ao sair acompanhado de Neal.
A ação esteve longe de ser um
fracasso. Era verdade que não tinham um mandado de busca, mas tinham a autorização
de um juiz para grampear os telefones da família. Por isso, no instante que
deixaram a casa da família, o FBI passou a controlar o que Patrick e Mariah
fizeram. Queriam ter certeza do que eles fariam ao saber que a adoção da filha
estava sendo investigada.
O normal seria contatarem um
advogado e reunirem provas da adoção da menina. Mesmo que ela tivesse sido
roubada na Europa, hoje, dificilmente seria retirada deles se comprovassem que
não participaram do golpe. Isso seria o que qualquer advogado lhes diria. Mas
não foi para um homem da lei que eles telefonaram.
A gravação foi muito clara.
- Você nos garantiu que nunca
teríamos problemas! Nunca! Como agora o FBI está batendo na nossa porta. Sophia
é nossa. – Mariah bradou ao telefone menos de uma hora depois.
- Deixe de bobagem! Pode não ser
nada. Vocês sabiam dos riscos quando ficaram com ela. A garota era para seguir
o mesmo caminho das outras crianças, mas você e Patrick quiseram ficar com ela.
Deixaram um rastro. Não venham reclamar! – O homem do outro lado da linha não
tinha laço afetivo algum com Sophia.
- Ela é minha filha! – Mariah estava
desesperada. – Eu não vou perdê-la. Não vou! Eu entrego todos vocês. Ouviu bem!
Eu acabo com vocês!
- Não me ameace. Você não sabe do
que sou capaz, Mariah! Antes de você conseguir me ferrar eu complico a vida de
você e de Patrick tanto que nunca mais colocarão os olhos em Sophia. Pense
muito bem antes de entregar o esquema pro FBI. A sua pequena filha é que pode
sofrer. Quem sabe quando você estiver presa eu não a vendo para outros. Esse
era para ter sido o destino dela desde o início mesmo. – O homem era frio e
cruel.
- David...por favor...eu não quero
perdê-la. Claro que não quero estragar tudo, mas...- O homem desligou o
telefone e o FBI ficou apenas com o primeiro nome do integrante da quadrilha e
uma fraca indicação de que o casal participava. Era pouco.
Era fim de tarde e Peter analisava a
situação antes tomar uma decisão. Não tinha pressa de ir para casa mesmo
Ninguém além do cachorro o aguardava. A situação era muito complicada. O FBI
continuava monitorando, mas ele não sabia como agir. Poderia fazer uma denúncia
contra os Walker. Eles perderiam temporariamente a guarda da filha, mas logo estariam
na rua. As provas eram muito frágeis. Deixar correr era melhor. Só assim
poderiam chegar ao tal David e o restante da quadrilha.
- Peter! – Neal chamou da porta. –
Eu e Rachel já vamos. Você vai ficar?
- Sim. Vou. Acho que escreverei um
relatório a MI5 sobre a evolução do caso. – Era apenas uma desculpa.
- A Rachel resolveu fazer um risoto
de frutos do mar. Quer saber se você deseja jantar conosco.
- Não estou num bom dia, Neal.
Melhor não. Boa noite e bom jantar pra vocês.
Jantaram apenas os dois. Uma
refeição calma e deliciosa enquanto observavam George brincar sobre o tapete da
sala. A vida a três podia funcionar perfeitamente. Era raro uma noite assim,
mas existia.
- Feliz? – Neal perguntou lhe
acariciando os cabelos.
- Muito. – Ela olhou para a vista de
NY que tinham da janela. – Não sei por quanto tempo mais teremos isso. Então
resolvi aproveitar.
- Não, não, não. Sem tristeza por
hoje. Peter nem desconfia.
- Sim. Mas está só começando. Não
vou conseguir esconder quando a barriga começar a crescer. Eu fiquei
redondamente enorme enquanto esperava George. A partir do 5 meses cresce muito
Neal. Não é algo para se esconder. Sem falar que eu sentia muita fome. Como as
pessoas à minha volta não perceberiam? E como me esquivarei de missões que forem
arriscadas demais?
- O bebê vai crescer o que tiver que
crescer. Você, obviamente, vai ter de se alimentar. E claro que não vai se
arriscar. Isso não está em discussão. Quando não tiver como esconder, nós
fugiremos. Mas não quero que fique se preocupando. Deixe isso para eu e Mozz.
- Acho que fui independente demais a
vida inteira pra concordar com isso, Neal.
- Não está mais sozinha. – Ele a
beijou para intensificar o que iria falar. – Vamos resolver tudo. Confia em
mim. Você seguirá no FBI enquanto for possível. Estamos indo bem. Ninguém além
de Ell notou.
Em menos de meia hora, no entanto, o
argumento de Neal foi derrubado. Já passavam das 10hs da noite quando Nicolle
apareceu. Ela olhou-os calmamente. Parecia esperar que eles falassem. Neal e
Rachel apenas se olharam.
- Mamãe...tudo bem? – Rachel
questionou.
- Claro. Muito bem. – Ela lhe
estendeu uma sacola. – Vim lhe trazer um presente.
Desconfiado, Neal observou sua
namorada abrir o pacote e tirar de lá três babeiros infantis. Era lindo. Mas
Rachel não sorriu olhando o presente. Provavelmente porque George já estava bem
próximo de não usar mais babeiros. Não era o tipo de presente que faria Nicolle
aparecer ali naquele horário.
Rachel encarava a mãe calada.
Preferia não dizer nenhuma palavra antes de ter certeza. Já Nicolle esperava
que eles lhe dessem a notícia.
- Estou esperando. – Ela avisou. –
Falem logo! Digam que serei avó novamente!
- Foi tão óbvio assim? – Rachel
perguntou.
- Não. Mas eu sou sua mãe. – Nicolle
abraçou a filha e depois o ‘genro’. – Parabéns! Mas eu não gostei nada de saber
depois da Elizabeth Burke! Sou a avó!
- Ela descobriu, mãe. Eu não contei.
– Rachel tinha os olhos cheios de lágrimas. – Veja! Começou! Eu já estou
chorando por nada novamente!
- Por nada NÃO! Vai ser mãe
novamente! Isso não é nada! Mais um neto que felicidade! – Ela olhou seriamente
para Neal. – E você! Cuide bem dela! E de meus netos!
- Pode deixar. – Neal sorria
satisfeito. Era bom ver alguém tão eufórico quanto ele. – Eu não vou desgrudar dela
dessa vez.
Nicolle os observava e via o quanto
eram bonitos juntos. George já estava em seu berço dormindo, mas era o amor por
ele que os uniu. Agora um segundo filho faria bem para eles. Viveriam aquilo
juntos. Mas Nicolle não foi ali apenas para levar o presente. Tinha também de
cuidar de questões práticas. Ela pegou um cartão de dentro da bolsa e entregou
para Neal. Depois explicou.
- Se Rachel está escondendo a
gravidez, imagino que não vai a um hospital qualquer. Eu entendo. Mas liguem
para Richard e marquem uma consulta. – Ela encarou Neal. – Estou entregando
para você o número dele. Porque ela vai dizer que está bem e não precisa.
Richard cuidou de Rachel na gravidez de George e cuidará novamente se ela
pedir. E manterá segredo.
- Mãe! Ele mora longe! Não
precisamos incomodar o Dr. Richard.
- Ela está certa, Rachel. Nem
sabemos exatamente quantas semanas você tem. Alguém terá que te atender. Melhor
que seja alguém de confiança. Vou ligar para ele e nós vamos encontrar um lugar
discreto onde você faça o acompanhamento. E tem que ser próximo por causa do
sinal da tornozeleira.
Nicolle ficou satisfeita ao ouvir
Neal falar. Ele lhe pareceu um homem responsável. A vida familiar fez bem
àquele garoto. Quando ia saindo lembrou-se de perguntar uma coisa.
- Falou com Henry recentemente? Ele
me ligou esses dias pra perguntar de você.
- Não. Nós estamos brigados. –
Rachel surpreendeu a Neal também.
- Ligue pra ele filha. Aquele é o
amigo mais fiel que você poderá ter.
O orgulho era mais forte. Ela não ia
dar o braço a torce e correr atrás de Henry. Ele que errou. Ele que a
procurasse.
- Um dia mãe. Um dia. – Deu uma
resposta vaga.
Três dias se passaram e a Divisão de
Colarinho Branco foi sacudida por uma notícia. A casa dos Walker havia sido
invadida por três homens disfarçados de entregadores. O casal havia sido morto
com um tiro na cabeça cada um.
- E Sophia? – Esse foi o primeiro
pensamento de Peter. Aquela criança tão doce havia ficado órfã pela segunda vez
na vida.
- Estava na escola. Será levada para
um abrigo. – Jones disse.
Perder vidas em um caso sempre
aborrecia a equipe. Nesse caso ainda trouxe problemas com a MI5. Eles
consideraram com o FBI se precipitou ao ir a casa dos suspeitos e, ao
assustarem o casal, colaboraram para o desfecho trágico. Não foram feitas
críticas abertamente, mas as agências tiveram sua relação estremecida. E isso
era ruim para Peter, Rachel e o acordo que possuíam.
Como já era de costume quando as
coisas ficavam realmente complicadas, Stone lhe telefonou. Peter não gostou
nada do rumo do assunto.
- O quanto Rachel Turner é
importante na sua equipe, Burke?
- Muito. E você sabe! – Era difícil
para ele assumir isso. Reconhecia que ela dava 100% de sua capacidade em cada
caso. – Foi você, Stone, que a trouxe, lembra? No caso de Ruan Rodrigues! Eu
não queria que se tornasse um acordo definitivo e você insistiu nisso. Hoje
tenho de reconhecer que ela é parte fundamental na minha equipe!
- Eu acompanho seus números, Peter.
Sei que ela vem trabalhando bem e que ela segura o Caffrey conosco...mas...também
sei que esse acordo me custa muito com a MI5.
- Eu sei. O agente Edbert Shepherd esteve aqui e fez solicitações e
ameaças. Só que preciso lhe afirmar: são questões pessoais que o motivam. Ele
foi parceiro do pai dela!
-
Eu não ligo para as ‘questões pessoais’ do Edbert Shepherd. Ele é pouca coisa
perto das encrencas da Turner. Tem muita gente grande na MI5 disposta a dar um
braço pra ver ela presa por lá. Eu te liguei para falar que erros como o que
houve na ‘operação Walker’ não podem ocorrer mais. Você errou, Peter! E errou
justamente com a MI5! Coloque essa operação nos trilhos novamente ou Turner
será entregue a eles.
Peter
decidiu não dizer nada para ninguém sobre sua conversa com Stone. Não ia
adiantar. O melhor que tinha a fazer era trabalhar. Isso sim ia ajudar Rachel.
Passou aquela madrugada analisando o caso e as possíveis ações que poderia ter,
seus riscos e suas vantagens.
O
que Neal Caffrey tinha para fazer naquela manhã era uma das piores tarefas que já
teve nas mãos. Era arriscado e exigiria 100% de sua habilidade de convencimento
por oratória e charme. Também seria um gigantesco teste de confiança. Ele
estava prevendo um dia terrível. Definitivamente corria riscos fatais.
-
Bom dia, amor. Tudo bem? – Rachel passou por ele na cozinha para pegar café e
notou que ele não lhe tirou a xícara das mãos e lhe serviu chá como de costume.
– O que há, Caffrey?
-
Nada.
-
Você está me escondendo algo, Neal Caffrey! E é bom falar.
Neal
avaliou. Seria melhor cumprir sua missão agora e ter Rachel mal humorada o dia
todo ou enrolá-la e tê-la muito mal humorada a noite? Resolveu arriscar e
cumprir sua difícil missão desde já. Quem sabe ele não estava sendo exagerado e
sua namorada teria a grandeza de entender o que se passava e aceitar
tranquilamente?
-
Sara me ligou. – Disse num fôlego só.
-
É...interessante. – Os olhos demonstraram mais raiva e ciúme do que
tranquilidade.
-
Ela me convidou para jantar.
Rachel
largou a xícara sobre a pia e cruzou os braços a frente do namorado. Não disse
nenhuma palavra. Apenas o encarou.
-
Eeee tudo bem? Não vai falar nada?
-
Depende! Depende MUITO. Qual foi a sua resposta, Caffrey?!?!
-
Rachel! Que ciúme bobo! Ela é apenas uma amiga e...eu não podia dizer não. Você
consegue entender, por favor. Não precisamos brigar por isso!
- Você
não podia dizer não? Ou não quis dizer não? Sua amiguinha convida VOCÊ para
sair e eu devo entender? Você acha que sou idiota, Neal? Se está com vontade
reatar com aquele esqueleto ambulante, é só falar! Você não está amarrado a
mim! Fique com ela!
-
A não...Rachel pare! Ela é minha amiga. Que palhaçada esse ciúme! – Ele não
tinha argumentos para uma reclamação tão idiota. Não sentia nada pela Sara.
Mozzie
entrou e sentiu o clima ruim. Pegou discretamente uma garrafa de vinho e saiu
para a varanda. Seus amigos não tinham começado bem o dia. Ele ficou ouvindo
para entender a discussão. Eles falavam do jantar que Sara queria ter com
Neal...ele pagava o preço por anos agindo como pegador convicto.
O
celular de Rachel tocou fazendo com que parassem de discutir. Rachel falou
rapidamente com alguém. Parecia marcar um compromisso. Seu tom de voz melhorou
muito. Ficou até bem animadinha. Feliz. Quando ela se despediu até mesmo Mozzie
estava curioso para saber com quem ela falara.
-
Ótimo, Caffrey! Marque seu jantar para hoje a noite com Sara! Façam bom
proveito! – O tom era uma ameaça clara.
-
Porque mudou de ideia? – Neal não gostou nada disso.
-
Nada de especial...apenas percebi que um jantar entre amigos não representa
nada de mau. – Ela sorriu de um jeito que assustou Mozzie. Rachel estava
armando alguma. – A ligação também me fez ver como estava errando.
-
Com quem você falou? – Neal perguntou já desconfiado de que não gostaria da
resposta.
- Era
Henrique! Ele estará de folga hoje a noite da MI5. E me convidou para jantar.
Como pode ver, querido, nós dois teremos inocentes jantares com amigos. Lindo,
não acha?
Neal
apertou tanto seu maxilar que pensou que fosse quebrar seus dentes. Teria que
engolir aquilo calado se não quisesse passar por ridículo. Afinal, como negar a
Rachel o jantar com Henrique se ele estaria jantando com Sara? Mas não queria
aquele cara por perto. Não!
-
Isso é uma retaliação infantil, Rachel. – Não se importou em ser ridículo e reclamou
assim mesmo com ela.
-
Não, não é retaliação. É um jantar. Só isso! – O sorriso inocente contrastava
com o olhar raivoso.
Vendo
que aquilo não daria certo e pensando que George e o bebê que estava a caminho
mereciam pais inteiros e unidos, Mozzie interferiu.
-
Façam um jantar coletivo e em família: Vocês, Henrique e Sara. E chamem os
engravatados. Assim eles se acertam de uma vez! – Quem diria que Mozzie seria a
pessoa mais sensata do apartamento?
Eles
seguiram o conselho de Mozzie. E o apartamento de Neal foi palco de um jantar
entre casais e amigos. A verdade é que ninguém naquela mesa estava
completamente feliz. Quando Henrique ligou e convidou Rachel para sair,
imaginava apenas os dois em uma mesa de barzinho qualquer. Queria uma chance de
conquistá-la. Aquela mulher mexia com ele há muito tempo. E agora estava na
casa dela, mas Rachel, mesmo enquanto conversava com ele, não tirava os olhos
do namorado que falava com outra moça muito bonita.
Sara
também estava muito mais que descontente com o programa. O convite era para
Neal vir jantar em sua casa. Pensou que tinha sido clara o bastante! E ele
marca um jantar a seis! Para completar, Rachel fazia seu joguinho de ciúme e
Neal não tirava os olhos dela. Era capaz dele não se lembrar de uma palavra do
que havia lhe dito.
As
duas não faziam nenhum esforço para que a paz fosse selada. Quando comiam a
sobremesa, Sara tentou fazer um comentário agradável, mas não resistiu a uma
pitada de veneno e Rachel não deixou barato. Logo estavam trocando farpas.
-
Você cozinha muito bem, Rachel. Estava tudo delicioso. – Disse a visitante. –
Não me estranha que tenha engordado um pouquinho.
-
A vida é muito curta pra gente passá-la contando calorias, Sara. Eu prefiro
contar orgasmos. – Ela lambeu a colher cheia de chocolate e finalizou com mais
uma ferroada. – Dizem que ‘a gente é o que come’ e Neal costuma falar que eu
sou muito gostosa. Apropriado, não acha?
A
próxima garfada do doce desceu como uma pedra no estômago de Sara. Neal olhava
para a cena com um misto de orgulho e medo.
Estava adorando ver as duas trocarem provocações
por causa dele. Isso era prova de que Rachel não tinha interesse algum por
aquele agente europeu que agora a cercava.
O medo era que garrafas passassem a voar contra as paredes em alguns
minutos. Ell interferiu a seu favor:
- A Rachel cozinha muito bem. E eu tenho que te
pedir essa receita de molho madeira, mas esse doce quem a ensinou a fazer fui
eu. Se quiser a receita eu te passo, Sara. – Elizabeth disse.
- Claro, claro. – Esse realmente não era um
interesse da executiva de seguros.
Para Ell e Peter o jantar também não estava sendo
um sucesso. Elizabeth planejava encontrar uma forma de convencer o marido a
voltar na decisão e lhe dar um bebê. Nada! No meio de tantos convidados, não
conseguiu falar com ele. E sentia a falta do marido. Começava a pensar que ele
jamais mudaria de ideia e que, além de ficar sem o filho, perderia Peter
também.
Ele também estava infeliz e tudo o que desejava era
terminar aquela noite levando a esposa de volta pra casa. Quando a mesa já
estava sendo retirada, ele se aproximou de Ell e lhe disse que precisavam
conversar.
- Sinto sua falta. – Sussurrou em seu ouvido.
Rachel observou a cena e achou que podia dar uma
ajudinha para sua amiga. Colocou uma música lenta de fundo e foi até Neal.
Pensava que, além de ajudar Ell e Peter ainda conseguiria mostrar a Sara que
não devia convidar seu homem para jantares às sós.
- Peter, Ell...não sei vocês, mas eu pretendo
dançar essa noite. – Enlaçou Neal pelo pescoço e dançou lentamente.
Neal se deixou levar pela música nos braços da
namorada e adorou poder fechar os olhos e esquecer que não estavam sozinhos.
Alguns momentos depois, no entanto, lembrou-se que eles eram os anfitriões e
não podiam abandonar os convidados.
Uma olhada ao redor e percebeu que tudo correu bem
enquanto eles se desligaram do mundo. Peter e Elizabeth dançavam coladinhos e
pouco se mexiam. Estavam se acertando. Henrique tinha feito o que se esperava
dele e chamado Sara para dançar. Eles estavam um pouco mais afastados, mas
ficavam bem juntos. Talvez aquele jantar pudesse enfim terminar bem.
Quando a música acabou e o aparelho ia passar para
outra faixa, os casais de afastaram. Todos pareceram voltar ao lugar onde se
encontravam. Peter beijou Ell, Henrique se afastou de Sara e Neal foi buscar
uma garrafa de vinho.
Quando voltou a varanda, Neal encontrou Henrique
muito próximo de Rachel. O agente parecia mesmo disposto a achar confusão! Eles
só conversavam. Nada demais. Mas Neal percebeu quando ele ia convidar Rachel para
uma dança. De relance, viu Sara observar a cena também. Se sua namorada
começasse a dançar com o amigo, a título de provocação ele poderia muito bem
dançar com Sara. Era isso que sua amiga esperava que ele fizesse.
- Me concede a dança? – Henrique disse a Rachel.
- Se ela concede, eu não sei, mas EU não concedo a
namorada. – Neal interferiu em voz bem baixa. Só eles ouviam. Resolveu que já
estava velho e cansado demais para esse joguinho de ciúme. Não ia permitir que
Henrique se aproximasse de Rachel nem ficar usando Sara. – Se quer um conselho,
Henrique, há outra dama bela, interessante e inteligente nessa sala. E ela está
disponível. A minha namorada não!
O recado estava dado com todas as letras. Era bom o
rapaz entender. E Henrique colaborou o resto da noite.
Eles voltaram a sala para conversar e tomar alguns
drinques e o clima já era bem mais agradável. Rachel e Ell beberam sucos
enquanto os outros continuaram no vinho. Conseguiram os seis conversar sem
provocações e todos prestando a atenção na conversa, sem cuidar o que o
parceiro estava fazendo. Infelizmente, o assunto FBI acabava sobressaindo mesmo
em um momento de folga. E o atual caso envolvendo MI5, tráfico de crianças e a
doce Sophia virou assunto da conversa.
- Vejo que a menina preocupou a todos. – Henrique
comentou. – Gostam de crianças, parece.
Todos se olharam. Criança era um tema que
despertava simpatia em qualquer pessoa e, com George já dormindo calmamente em
seu berço e sempre alguém indo espiar para ver se ele não havia acordado, era
uma constatação fácil de ser feita. Sim, todos ali gostavam de crianças. Ou,
como Peter, mesmo que não soubessem lidar com elas, desejavam seu bem.
- Acho que sou o único que não tem muita facilidade
com elas. – Peter brincou.
- Único não, Peter. – Sara também disse. – Eu não
faço ideia de como se cuida de uma criança. São barulhentas demais, agitadas
demais e bagunceiras demais. Não saberia cuidar de uma criança.
- O dia que você as tiver, Sara, aprenderá. – Neal
respondeu. – George nos ensinou como cuidar dele. Não é, Rachel?
- Sim. Eu acho que cada criança é diferente. – Para
ela e Neal aquela conversa tinha um significado especial. – Cada bebê trás
novos problemas e novas alegrias.
- E a gente os ama cada dia mais. – Ele completou.
Os outros dois casais a mesa não entenderam o que
eles diziam, mas respeitaram o laço de amor que havia ali.
- Pena que em todo esse caso, quem sofrerá será
Sophia. Os pais biológicos estão mortos há meses e os adotivos agora também
foram assassinados. Ela ficará em um abrigo sei lá quanto tempo. – Henrique
falou tristemente. – Isso me deixou mal. Às vezes tenho vontade ir ao abrigo e
pegá-la. Mas levar par um hotel é ruim. E ela sofreria mais uma perda quando eu
voltar para Inglaterra.
- O que ela precisa? – Sara perguntou.
- Uma família. Mesmo que provisória. Só enquanto a
investigação não termina e ela entra definitivamente na lista de adoção.
- É...bom...isso é algo que eu não tenho a
oferecer. – Sara sempre foi sozinha. Não tinha família.
Mesmo sem querer, todos olharam para Ell e Peter.
Eles eram a família estável que Sophia precisava. E essa era a oportunidade que
Elizabeth precisava para voltar para casa e provar a Peter que os Burke podiam
criar uma criança.
- Eu fico com ela. – Decretou Elizabeth.
- Eu posso saber onde? Na casa da sua amiga? –
Peter provocou.
- É claro que não. – Ell sorriu. Agora vinha a
melhor parte. – Na nossa casa! Pelo que entendi Sophia precisa de uma família.
E isso inclui pai e mãe. Quando disse que eu ficarei com ela, você estava
incluído no plano, Peter Burke.
O que Peter podia dizer? Queria Ell em casa e, pelo
que se lembrava de Sophia ela era uma menina agradável e esperta. Não seria um
preço tão alto a pagar. Desde que ela entendesse que era temporário.
- Está bem. – Ele cedeu. – Eu vou requisitar a
guarda temporária da menina, Ell. Mas é provisório. Você entende isso? Ela não
é nossa filha! Ela é uma hóspede mirim na nossa casa.
- É claro que eu entendo, querido. – Ela respondeu.
Mas algo dizia a Peter que não era assim.
- Bom...quem sabe nós vamos embora agora. Passamos
na casa da sua amiga e você pega suas coisas então?
- Ok. Vamos! – Ela não podia terminar a noite mais
feliz. Ao sair Elizabeth ainda fez um convite pra Rachel. – Irei as compras
essa semana. Precisarei transformar o quarto de hóspedes em algo bacana para
uma menina de 5 anos. Estou cheia de ideias. Me acompanha?
- É claro! – Rachel respondeu.
Henrique e Sara também foram embora e ao fechar a
porta Neal e Rachel tinham duas certezas:
- Não será provisório. A Ell nunca vai conseguir
dizer adeus a menina! – Rachel disse.
- Peter Burke pai de uma garotinha de 5 anos! Será
legal de ver isso! – Neal sorria só de imaginar.