Ao
acordar na manhã seguinte Ana percebeu que estava sozinha. Não sentia mais
tantas dores e, após tomar banho e passar pomada, desceu para o café. Jéssica
estava sempre a sua volta. Esse ‘cão de guarda’ a estava deixando louca.
-
Vá procurar um serviço! Suma da minha frente.
-
Meu serviço está todo em dia, senhora.
-
Petulante! – Mas não queria se estressar. – Então vá mandar selar meu cavalo.
Foi
até a cidade para tentar, enfim, contatar sua família. As emoções distintas que
sentia ali, a paixão que sentia por Christian, mas também a sensação de
abandono que ele lhe deixava eram terríveis. Precisava do apoio de Ray. Assim
que chegou lá e cumprimentou o padre, pediu para usar o telefone.
-
Filha! – Como era bom poder ouvir sua voz. – Como está? Nós aqui ficamos com o
coração na mão, sem saber como te contatar. Seu celular não atende e o Grey não
me disse direito como chegar aí!
-
Tio...eu sinto tanto a sua falta.
-
Eu também, minha querida. – Ele estava arrependido de tratá-la com frieza nos
últimos tempos. Mesmo que ela tivesse agido errado, isso não apagava o amor de
pai que sentia por ela. – Filha, você está feliz?
Para
essa pergunta ela não tinha resposta. O casamento não estava sendo o que ela esperava,
mas amava Grey. E sabia que de alguma forma ele também a amava. Não queria
desistir.
-
Responda, Ana. Você não me parece feliz, Anastásia e não há nada no mundo mais
importante que isso. Me responda, filha.
-
Eu...eu não sei. Eu sinto a falta de vocês e...- Ela sentiu o telefone ser
tirado das mãos do tio.
-
Ana..Ana... é o José. Que bom falar com você. – Disse o primo sem esconder a
falta que sentia de Ana.
-
Oi José, também senti sua falta. – Ela sentia as lágrimas rolarem pelo rosto.
-
Ana? Você está chorando? Você não está bem! – Ela sussurrou algo para o tio que
pegou o aparelho novamente.
-
Anastásia, me dê as indicações para chegar nessa tal fazenda agora! Nós vamos
te visitar! Eu não ficarei mais longe de minha filha. – Ray exigiu.
-
Tá tio. – Depois que disse o endereço ela se despediu deles. – Eu amo muito
vocês. Muito. Logo nós estaremos juntos novamente.
Quando
saía da igreja, na sacristia, viu Gail. A esposa do médico, parceiro de Grey,
parecia ser uma mulher muito simpática e temerosa. Fora ela a preparar a casa
para recebê-la, mas poucas vezes a viu. Ela parecia uma mulher sofrida. Talvez
esse povoado fosse um lugar de casamentos ruins e mulheres infelizes.
-
Gail! Há tempos queria conversar com você. Desde que cheguei, na verdade. Sei
que foi você a arrumar minha casa. Lhe devo um agradecimento.
-
O que isso, senhora Anastásia. Não me deve nada. Foi um prazer poder me ocupar
de algo.
-
Não sou sua patroa, chame-me de Ana. Se tem tanto tempo livre, poderia ir tomar
um chá comigo a qualquer hora, o dia que quiser.
-
Sim...eu irei se James, meu marido, permitir.
-
A claro, se ele permitir. Eu esqueço como são os costumes por aqui. – Gail a
olhou feio. – Desculpe, não quis ofender. É que em São Paulo as esposas não
pedem permissão aos maridos.
-
Cada lugar tem sua cultura. – Só nesse momento Ana viu a lateral do rosto,
disfarçada com o cabelo, arroxeada. – Mas nem tudo pode ser desculpado com a ‘cultura
local’.
-
O seu marido não se importa de receber visitas. Não quero criar problemas entre
vocês...se é que já não os têm.
-
Sim, temos. E eu sei que não são um segredo para ninguém. – Mas se envergonhava
disso. – E eu gostaria de conversar com você sobre isso. Gail...você vive aqui
há muito tempo. Conheceu o irmão de meu marido? Conheceu Emmett?
Gail
empalideceu.
- Segundo seu marido a senhora
também o conheceu e muito. O senhor Grey acha que foi a senhora que o levou a
morte! – Ela já desconfiava, mas ouvir assim não foi fácil.
- Então é isso. Ele fala tanto nessa
morte e eu nem sabia que tinha acontecido. Eu conheci Emmett sim, mas nem
chegamos a ser amigos!
- Então não foi a senhora que o
seduziu e levou a cometer o suicídio?
- O quê!?!?! – Seduzir? – Como assim?
Eu teria seduzido o irmão de meu marido?
- Olha...eu bem que imaginava que
podia ser mentira. O senhor Grey sabe que uma mulher que ele conheceu na sua
casa tornou-se amante de Emmett e no final do relacionamento ele tirou a
própria vida. E o nome da mulher começa com A. Mas não sabemos se era uma
moradora da casa ou apenas visitante, afinal aconteceu em uma festa!
- Ele acha que sou eu! E casou
comigo mesmo assim. – Se agora alguém perguntasse se estava feliz, como o tio
fez pouco tempo atrás. – Trouxe-me para cá para me castigar.
- Não fique assim, Ana. Lute por seu
casamento. – Disse Gail.
Ana foi embora, direto para casa.
Esperaria Grey voltar ao anoitecer e finalmente colocariam tudo às claras.
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Enquanto isso, na casa de Ana, em
São Paulo, a organização da visita a fazenda não agradava a todos. Alice odiava
a ideia de ter Christian por perto, fuxicando no passado. Desgostava mais ainda
de Ana e José se encontrarem.
- Aquele imbecil ainda se derrete
pela doce Ana.
Sem
poder evitar a tal viagem, a alternativa era recorrer a tia para que intervisse
e não os deixasse se aproximar. Já estavam namorando, mas tinha que conseguir
que marcassem o casamento o mais breve possível.
-
Titia, preciso da sua ajuda. Se o José for lá sozinho, Ana o seduzirá
novamente. Eu sei. José aceitou namorar comigo, mas ainda pensa nela. Se ele
for lá agora, sem termos um relacionamento mais sério, Ana trairá o marido com
José!
-
Não, querida. Sua prima não tem a cabeça no lugar, mas ama aquele homem.
-
Ama nada, titia. Já encheu a cabeça do tio Ray de preocupação. Ela está louca
para voltar e me tirar o José! Ela quer todos os homens pra ela.
-
Ok, Alice. Falarei com seu tio. Confie em mim! Você e José irão se casar!
Talvez o melhor seja apressar o noivado de vocês.
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Ele tinha chegado tarde e tirava a
camisa para tomar banho quando ela invadiu seu quarto. Notou que ele estava
nervoso, estressado, mas nada se comparava a raiva que ela sentia.
- Então é isso! Agora eu descobri
qual o seu problema! – Disse logo após entrar e bater a porta.
- Não te convidei para entrar. O que
quer? Fiquei sabendo que mais uma vez saiu de casa sem me avisar.
- Fui na igreja ligar para minha
família. Você pode não lembrar, mas há pessoas que gostam de mim, que zelam por
mim. Eu tenho a quem recorrer!
- Sim, é claro. O seu cão fiel,
José! Não importa o que ocorra você sempre o tem aos seus pés. – Ele se
aproximou dela. – Mas escute bem! Você é minha. Nem pense em me deixar!
- Eu não liguei para meus tios
pensando em te deixar, mas estou mudando de ideia.
Ele a encarou
duramente.
- Está querendo ir embora?!
- Eu já sei Christian! Já descobri
que nosso casamento não passa de uma grande mentira! Você entrou na minha casa,
falou com minha família e tudo não passou de uma pilha de mentiras para uma
vingança maldita! – Ela se descontrolou e começou a empurrá-lo. – Descobri tudo!
Seu mentiroso!
- Quem te contou isso?
- Não importa! Foi bom para eu saber
o cretino que você é.
- Sim, é verdade. Fiz tudo isso para
você ver o que Emmett construiu e não recebeu seu amor em troca. – Ele tocou-lhe
o rosto com grosseria. – Que bom que esclarecemos tudo. Vou gostar de viver com
você sabendo que seu destino é pagar pelo que fez a meu irmão.
- Me solta! – Ele pegou-a pelos
ombros.
- E saiba que eu não terei piedade!
Você vai sofrer tudo o que ele sofreu, em cada dia que passar aqui. Você, para
mim, não vale mais do que qualquer uma que vende na esquina!
Ela o esbofeteou com toda a força e sem pensar que ele poderia
revidar.
- Nunca mais erga a mão para mim,
Anastásia. Nunca! Ou vai se arrepender! Eu poderia te bater até cansar.
- É, essa parece uma prática bem
comum por aqui, mas já te disse e repito. – Estava descontrolada e emperrava-o
a cada palavra. – Eu não ficaria de boca calada. Não sou masoquista e te
denunciaria. As mulheres parecem esquecer que existem leis que nos protegem. E
se eu deixei você extravasar seus desejos sádicos, era apenas por acreditar que
havia um casamento para salvar, era para te dar prazer e era porque estava com
vontade de experimentar. Mas acabou. Eu vou embora.
- Você não vai a lugar nenhum. – Ele
a segurava pelo queixo.
- Você é muito pouco homem, Grey.
Quer dizer que Emmett conheceu a tal mulher na minha casa e seu nome começa com A. Grande coisa! Tudo
por suas mentiras! Suas paranoias! Tudo por um imbecil que já morreu!
A cada ofensa de Ana ele tornava-se
mais violento. E ela não parava de empurrá-lo e de tentar lhe dar tapas.
- Não fale assim dele! Você é responsável
pela morte dele!
- E você me humilhou, me rejeitou.
Você é responsável pela minha infelicidade! Tudo em você é uma mentira,
inclusive o seu amor por mim.
- É verdade. Eu não
te amo, eu te odeio, Anastásia. Eu nunca pensei que tivesse tanto ódio em mim,
mas eu odeio.
Com isso não tinha
mais nada a ser feito.
- Adeus Christian. Eu vou embora. –
Ela ia sair mas ele a impediu, jogando-a sobre um sofá e prendendo-a com o peso
do próprio corpo. Solte-me!
- Não vai ser feliz com o José. É
minha!
Travaram uma luta em que ela, menor,
porém mais ágil conseguiu vencer. Desvencilhou-se dele e saiu correndo em
direção as baias onde montou rapidamente em seu cavalo que, por sorte, ainda
estava com a cela e saiu em disparada. Torcia para que Grey não viesse a atrás
dela.
Ele até tentou, mas não conseguiu
alcançá-la. Só pode pedir que Taylor preparasse a sua montaria para tentar
procurar por ela. Jéssica e Kate apareceram enquanto ele esperava na frente da
casa.
- Não vá atrás dela não, patrão. Se
quer mulher, aqui tem. – Disse Jéssica.
- Já chega! Já disse a você que
Anastásia é a patroa nessa casa. É melhor respeitá-la! – Respondeu mesmo
sabendo o quão contraditório estava sendo.
Logo montou no cavalo e saiu em
disparada.
- Não devia sonhar tão alto,
Jéssica. Até parece que ele vai olhar para você. – Disse Kate.
A noite se transformou em madrugada
e logo Christian estava desesperado por Ana não retornar. Ninguém a encontrou.
Nada. No fundo o que o incomodava era o medo de um acidente. Taylor era próximo
o suficiente para questionar o que o patrão estava fazendo.
- O que está fazendo com ela? Parece
ainda mais grosseiro do que o Dr. James com a esposa. – Comentou.
- É muito diferente. – Ele sabia que
James, apesar de bom médico, era bruto e violento com a mulher, piorava quando
bebia. Não compare. Eu não bebo e James não tem as minhas razões. – Achou que
tinha algo errado. – E eu não sabia que você não gostava de James.
- Não tenho nada contra ele. É só
que não acho que uma mulher deva ser tratada com murros ou tapas. A senhora
Gail é frágil e delicada, não merece isso.
Um aviso preocupante chegou. O
cavalo de Ana fora encontrado sozinho, sem sinais de ferimentos. Tinha voltado
para as terras de Jacob. Inicialmente achou que ela poderia ter fugido com ele,
mas depois percebeu que não. Sua esposa tinha sofrido um acidente e estava,
machucada, em algum lugar.
Rapidamente foram mobilizados homens
da cidade para procurarem nas terras onde ela passaria se cavalgasse da fazenda
até a cidade. As horas não passavam e quando finalmente veio uma notícia, ela
não era boa. Ana fora encontrada no campo, machucada e inconsciente.
- Ana...meu amor. O que eu fiz? – Os
lamentos tomavam conta de Christian.
Para quem quiser ‘ver’
a briga deles. Minuto 17:20 até 21:06
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