Eu sabia o dia de cão que me
aguardava. As fotos comprometedoras do baile foram publicadas por alguns
jornais de última classe, mas tive a felicidade de ver que as publicações mais
conceituadas as ignoraram. Essa era uma das vantagens de ter se firmado como um
dos grandes empresários americanos. Quando Bella me abandonou eu era o filhinho
de papai mimado que vivia do pai empresário, fui a isca perfeita para os
tabloides ganharem dinheiro do povo. Agora sou importante no meio empresarial
por meu próprio dinheiro, uma fortuna construída ao concentrar minha vida no
trabalho, já que a pessoal estava em pedaços.
Ironicamente agora tenho dinheiro de
sobra e Isabella segue me impedindo de ter paz. Queria deixá-la para trás, mas
não consigo. Talvez quando não estivermos mais próximos tudo se resolverá. Ai
sim cada um de nós estaria com o que considera
importante. Eu teria meu filho, Charlie estaria livre e com dinheiro no bolso e
Bella livre para sair pelo mundo e torrar dinheiro com o amante. Era a única
alternativa que tínhamos.
Deixei claro para minha secretária
que ela não estava autorizada a permitir a entrada de ninguém ou ligações de
casa ou que não fossem assuntos profissionais muito importantes. Queria me
afogar em trabalho ou não sobreviveria. Meu único arrependimento foi não
desligar o celular. Logo meu pai deixou um recado de voz:
- Já estou sabendo de tudo! Pode
fugir de seu pai, fugir da verdade. Só não fique quieto enquanto ela lhe enche
de chifres. Tenha uma atitude de homem e faça essa piranha respeitar você!
Inferno! É claro que ele já sabia.
Desliguei o aparelho para realmente ficar incomunicável e trabalhei até
esquecer o que se passava em minha vida pessoal. Por duas vezes minha
assistente tentou me interromper. Na primeira fui calmo.
- Senhor Cullen, ligação se sua
casa.
- Sarah, por favor, faça o que pedi
e não me interrompa.
Eu sabia o que deveria estar
acontecendo. Todas as portas internas de minha casa têm duas chaves. Uma fica
na porta e a cópia guardada na dispensa para o caso de alguma emergência. Eu
sabia muito bem que Ana não hesitaria em me desobedecer e ir lá abrir a porta e
Bella fugiria logo em seguida. Então eu trouxe está também comigo. É claro que minha mulher deveria estar fazendo um
escândalo gritando no quarto e Ana, de coração mole, estava preocupada.
A segunda me irritou um pouco mais. Eu
sabia que teria problemas. Era Jasper no telefone. Meu amigo certamente ainda
não sabia do que se passou em minha casa, mas Alice não demoraria a descobrir.
Só que não tinha volta! Ela não entraria em contato com Bella, mesmo que isso
criasse um mal estar entre eu e meu amigo por conta disso.
- Senhor Cullen...o senhor Jasper
insiste que eu passe a ligação.
- Será que eu não estou sendo claro
Sarah? Não atenderei ninguém!
- Ele disse que seu celular está
desligado também e...
- É obvio que está! Eu não quero
falar com ninguém! Qual é a dificuldade de você fazer o seu trabalho?
Nada dava certo neste dia e eu
estava quase desistindo de trabalhar e indo para casa, afinal era quase meio
dia e eu tinha de ver o que se passava por lá. Mas aí fiquei sabendo que outra
unidade da empresa, numa cidade vizinha estava com problemas e precisei ir lá.
Era um problema com os funcionários que se revoltaram com algumas decisões da
diretoria. Ouvi o que se passava, fiz uma reunião com as chefias deles e tentei
resolver tudo da melhor forma.
- Sempre fui justo com meus
funcionários e não mudarei isso. – Deixei claro para o gerente.
O problema foi que isso levou tempo.
Eram quase três da tarde quando sentei no banco de trás de meu carro e pedi que
o motorista da empresa que me acompanhava seguir de volta a ela, queria me
inteirar de tudo, saber se ia normalmente antes de poder descansar. Coloquei a
mão no paletó e lembrei do telefone. Liguei o aparelho e não demorou muito para
aparecerem mensagens de texto e voz, além de avisos de muitas ligações
perdidas. Muitas eram de minha casa. Ana deixou uma mensagem de voz onde falava
duramente.
- Edward, você nunca foi
irresponsável! Não pode sumir assim! Ligue
para casa!
Irresponsável?! Ela transformava
minha vida em um inferno e eu ainda tinha de ouvir que sou irresponsável? Como
ela conseguia enganar a todos com seu jeitinho de anjo e colocá-los contra mim?
Até Ana, mulher que ajudou a me criar, viu todo meu crescimento e sofrimento
quando fui abandonado tinha ficado ao seu lado. Liguei para saber o que minha
segunda mãe tanto desejava.
- Fale Ana, sou eu. Qual a razão de
tanto desespero?
- Você não sabe? Eu não criei um criminoso
e o que você está fazendo é crime.
- Ana, por mais que eu ame você, não
vamos conversar quanto a isso.
- Virou assassino agora?
- Pare de falar bobagem! – Ela
estava louca? – Eu não matei ninguém!
- Pois parece que quer matar Bella.
De fome! – Quando ela disse isso eu me toquei do que havia feito. - Já viu que
hora é? Você deixa a moça trancada e quer que ela se alimente como?
- Ana, eu não tive um dia fácil e,
se quer saber, também não almocei.
- Não quero saber. Você não comeu
porque não quis, ela não teve opção.
- Ok Ana, você venceu. Arrume uma
bandeja que eu já vou para casa. E arrume o meu almoço também. – Não resisti e
perguntei sobre ela. – Como Isabella está?
- Nada bem! – Antes que eu pudesse
questionar algum detalhe, um tu-tu-tu-tu tomou conta da linha telefônica.
Só pude solicitar ao motorista que mudasse a rota e
me levasse em direção a casa. Quando cheguei vi a mesa arrumada para dois e não
me surpreendi. É claro que Ana tentaria algo. Fui até a cozinha e ela viu
quando peguei uma bandeja e comecei a montar uma grande refeição.
- Se vão os dois almoçar a essa hora, porque não
comem juntos, sentados a mesa, como um verdadeiro casal?
- Por que não somos Ana.
Fui colocando os alimentos enquanto Ana me
observava. Uma garrafa d’água, um copo de suco, um prato com o macarrão, o
chocolate que ela gostava, uma fruta e, no cantinho, as vitaminas que a médica
lhe receitou. Ela vinha me seguindo, mas pedi que esperasse na sala.
- Eu já venho comer. Você poderia me fazer
companhia.
Não nego que tinha medo do que encontraria. Espera
um quarto destruído, coisas quebradas pelo chão, roupas espalhadas e ela me
atacando. Só que não foi assim! Destranquei a porta lentamente com cuidado para
conseguir equilibrar a comida. Quando entrei a vi deitada na cama, dormindo um
sono agitado. Ela estava vestindo uma camisola longa, tinha os cabelos presos e
nenhuma maquiagem no rosto marcado pelo choro.
O quarto parecia intocado e somente os lençóis da cama demonstravam o
nervosismo da moradora. Bella deveria ter se revirado na cama por toda manhã.
Larguei a comida sobre a mesa e vi que o sanduíche estava intocado. Preferia
deixá-la dormir para evitar um confronto, mas não podia. Ela tinha de comer
enquanto a comida estava quente.
- Bella, acorde. Trouxe seu almoço.
Quando ela abriu os olhos eu caminhei até a porta.
- Coma enquanto está quente.
- Edward, por favor, não me abandona sozinha aqui.
Pense em como fomos felizes na fazenda. – Eu estava saindo, mas parei para lhe
responder.
- Eu penso, mas isso só me lembra o quando fui
idiota Bella. Agora acabou a brincadeira. Você teve sua oportunidade e
desperdiçou. Agora de você, só quero meu filho. – E saí.
Quando retornei, Ana estava servindo meu prato.
- Me faz companhia? – A solidão começava a incomodar.
- Não é o papel de uma empregada Senhor. – E saiu da
sala.
Eu tentei comer sem demonstrar estar chateado com a
atitude de Ana, mas não consegui e depois de duas garfadas fui até a cozinha
levando meu prato e sentei a mesa.
- Lembra quando eu ia lanchar com você na cozinha lá
da mansão. Carlisle ficava indignado!
- Sim. Para ele, a cozinha não era lugar para o dono
da casa. – Ela se virou e me encarou. – Eu sempre o vi como alguém melhor
Edward. Pena que me enganei. – Depois tornou a se virar para fazer seus
serviços.
- Não fale assim Ana. Você me criou, tem que confiar
em mim.
- Achei que tinha criado bem, mas vejo que não. O
Edward que eu e a Dona Esme educamos jamais maltrataria uma mulher.
- E o que ela apronta em Ana? Isso ninguém vê!
- Se ela não é boa para você e, talvez não seja
mesmo, pode afastá-la, pode mandá-la embora de sua vida, mas jamais faça o que
está fazendo. Como você se sentiria enjaulado?
Eu sabia que estava errado, mas não voltaria atrás!
Isso não!
- Não será por muito tempo. – Eu tentei acalmá-la.
- Já é tempo demais Edward.
- Não vai me dizer como ela está? - Perguntei.
- Não sei. Logo que você saiu ela mexeu na porta,
bateu, gritou e me chamou. Depois só chorou. Você acha que é fácil ouvir essa
moça chorar por horas. E eu lhe telefonava e nada!
- Eu desliguei o telefone.
- Sim, é fácil se esconder. Já pensou o que
aconteceria se Bella tivesse feito uma loucura?
- Ana, pode não parecer, mas foi para evitar isso
que eu a prendi. Da outra vez ela atirou o carro contra o portão. Lá estará
segura. Não pode fazer nada.
- Nada? Ela não pode fazer nada Edward? Você já
parou para pensar no tempo que ela teve para pensar besteiras. E se ela se
matar? Aí sim você estaria bem encrencado...com a polícia e com a sua consciência!
- Ela não...
- Lá tem banheira, têm remédios no banheiro, têm
lâminas de barbear e lhe garanto que ela acharia inúmeras outras maneiras. E o
principal, ela está acuada e desesperada.
Eu não queria pensar em nada daquilo, em nenhuma
daquelas hipóteses. Então desisti de almoçar e voltei à empresa. Trabalhei
bastante em minha sala e fiquei até bem depois do expediente. Quando Ana me
ligou perguntando se eu iria jantar disse que não. Minha vontade era dormir
ali, mas fui para casa. Estava preocupado com o que Ana disse. Sabia muito bem
que Bella era louca, mas não ao ponto de se matar. Mesmo assim, era arriscado
mantê-la lá. Tinha vontade de acabar com tudo, abrir a porta e expulsá-la de
minha vida. Cobrar as dívidas que tinha comigo e colocar ela e Charlie na
cadeia, mas, na verdade, nunca pretendi fazer isso e nunca farei. Sinceramente,
nem tenho certeza se as evidências do roubo e dos desfalques da família seriam
o bastante para condená-la. O pai sim! Esse ia para trás das grades num estalar
de dedos. Ela não. Seria um trabalho difícil para Emment. Na época pedi ao meu
advogado e amigo para lhe dizer que tínhamos provas contundentes. Com seu
tamanho e cara de mau, Bella acreditou. A realidade, no entanto, é que com um
depoimento de Charlie assumindo a culpa, Bella saía limpa de tudo. Enfim, nunca
deixaria a mãe de meu filho ser presa, só que ela não precisa saber disso. E
era isso que Bella seria.
Cheguei era meia noite. Vi que a bandeja tinha sido
mexida e mesmo sem comer tudo, Bella tinha beliscado algumas coisas. Fiquei
feliz por ela não estar fazendo greve de fome. Era um problema a menos.
Pensando no que Ana disse fui até o banheiro e tirei tudo o que podia ser
perigoso. Era bom não arriscar. Tomei banho e quando retornei ao quarto a
encontrei acordada. Queria muito deitar ali e fingir que nada de errado
acontecia. Era impossível! Então peguei as roupas que usaria no dia seguinte e
saí do quarto. Não trocamos uma palavra.
Na manhã seguinte acordei mais animado. Era o dia em
que iria fazer a coleta do esperma. Era o dia em que meu filho começaria a ser
concebido. Já totalmente arrumado passei na cozinha para arrumar a bandeja com
o café de Bella. Deixei sobre a mesa do quarto e ainda a observei enquanto
dormia. Era uma manhã fria, a cobri melhor e deixei o cômodo. Ana não perdeu a
oportunidade de criticar minhas atitudes.
- Nem só de comida vive um ser humano Edward, as
pessoas também precisam de carinho e atenção. Levar comida para ela não anula o
mal que está lhe fazendo.
- Basta Ana. Não estrague meu dia, ele é muito
importante.
- Posso saber o motivo?
- Vou recolher o esperma que será implantado em
Bella. Assim poderei ser pai. – Provavelmente isso era meio confuso para Ana.
- E vai trazer uma criança para essa casa em pé de
guerra?
- Não seguiremos assim para sempre. Depois que Bella
tiver o bebê, vai seguir com sua vida e eu nunca mais vou interferir. Ela
poderá ir ser feliz com o amante, é o que ela sempre quis.
- Edward, você realmente não está bem. Deveria
procurar um médico.
- Eu não estou louco! – Era só o que me faltava!
Fui a clinica logo cedo e passei alegremente pelo
constrangedor procedimento. Ficar sozinho dentro de uma pequena sala quando
deveria estar com uma mulher desejosa, depositar dentro de um potinho o que foi
feito para ser colocado dentro dela, no lugar mais íntimo, num ato antigo e
sagrado, capaz de gerar o maior dos milagres. Mas estava feito. Conforme a
médica explicou, seriam separados os espermatozoides mais fortes para serem
depositados nos óvulos de Bella e, se Deus e a genética permitirem, gerar um
bebê. Ou mais de um já que concepções após tratamento hormonal geravam muitas
gravidezes múltiplas. Mas isso não é aconselhável no caso de Bella. O corpo
dela podia não suportar. Agora era só esperar pela hora de Bella ir a clinica.
Só espera que ela não tentasse nenhuma fuga.
Meus dias seguiram certa rotina. Eu saía pela manhã,
voltava ao meio dia, trabalhava pela tarde e retornava a noite. Sempre passava
pelo quarto onde Bella estava trancada. As vezes ela estava dormindo, aliás,
ela andava dormindo demais. Em outros momentos acordada, mas nem trocávamos uma
palavra. Por duas vezes discutimos. Numa por ela dizer que não faria
inseminação alguma. No fim eu a calei com uma simples ameaça.
- Então não faça! Mas só sai dessa casa, deixando
meu filho. Caso contrário, ficará me fazendo companhia. – Obviamente era uma
ameaça que jamais cumpriria. Nem eu nem Bella suportaríamos essa guerra por
mais muito tempo.
A outra briga foi quando ela tentou uma chantagem
emocional para me fazer ouvi-la.
- Eu quero te contar tudo. Toda a verdade! Me ouve,
é só isso que eu peço.
- Não quero mais mentiras! Cale a boca!
Assim, faziam quatro dias que Bella não saía daquele
quarto e eu passei a me sentir cada vez mais culpado. Na manhã do quinto dia
quando passei pela porta para trazer seu café a vi dormindo tão linda que meu
coração doeu. Sabia que ela não era um anjo, mas parecia um. Minha mão coçou
para destrancar a porta e deixá-la livre, mas talvez Ana esteja certa e meu
coração esteja endurecido. Saí de casa com a cabeça baixa, envergonhado pelo
que vinha fazendo. Por Deus, eu não era um psicopata, não era um criminoso!
No meio da manhã meu telefone tocou. Era Ana.
- Algum problema com Bella? – Eu tinha um
pressentimento ruim hoje desde cedo.
- Não, é com minha neta. Desculpe Edward, mas minha
filha ligou e parece que a neném não está bem. Preciso ir vê-la. Mãe de
primeira viagem não sabe bem o que fazer. – A filha de Ana tinha mais ou menos
a minha idade e estava com bebê novinho.
- Vá vê-la Ana.
- Mas é longe e a menina Bella ficará sozinha. E é
longe, voltarei só amanhã.
- Não tem faxineira que seja da sua confiança?
- Sim, tem Mary, mas...
- Peça a Mary que fique e assuma o almoço de hoje.
Eu mando um motorista aqui da empresa ir buscá-la e você poderá ver sua filha e
neta com calma. Amanhã, se tudo estiver bem, ele a trás. Pode ser?
- Obrigado, filho.
Mantive contato com Mary e tudo estava bem. Trabalhei
durante a tarde e recebi uma ligação de Jasper. Como eu imaginava, Alice estava
estranhando o sumiço da sócia.
- Até agora ela acredita que não é nada demais, mas
se Bella não aparecer Alice vai invadir sua casa.
- Mantenha sua mulher quieta Jasper. Minha vida não
é problema dela.
Cheguei em casa cansado, dispensei a empregada e
parei para tomar uma bebida. Não subi para ver Bella, deixaria para mais tarde.
Fui ao escritório, tirei o paletó, tomei outro drinque e liguei o computador.
Fiquei ali trabalhando e bebendo por mais de uma hora. Lembrei que tinha de ver
como minha mulher estava. Eram 10h45min. Peguei minha pasta como fazia no tempo
de solteiro e trabalhava no quarto e fui subindo a escada. Só me dei conta
quando estava em frente ao cômodo.
- Devo estar meio bêbado. Devia ter deixado no
escritório.
Mas não quis voltar. Peguei a chave, abri a porta e
vi Bella novamente adormecida. Joguei a pasta com papéis de trabalho sobre uma
cadeira e fui ao banheiro de nossa suíte. Tomei uma longa e reconfortante
chuveirada. Fiquei ali, sob a água corrente tentando que ela levasse embora
meus problemas e angústias. Saí do banheiro vestindo um roupão felpudo e vi uma
cena que me enfureceu.
Bella havia acordado e descaradamente mexia em minha
pasta.
- Se procura essa chave? – Mostrei. – Perdeu seu
tempo. Agora largue esses papéis, não são da sua conta.
Ela estava fazendo isso, mas de
repente surtou. Isabella agiu com nunca antes eu vi.
- E o que eu tenho a perder, Edward?
Vai fazer o que comigo se eu não obedecer? Me trancar num porão escuro? Em
Edward o que eu tenho a perder?
Ela estava descontrolada a atirar os
papéis para cima, rasgar, pisotear. Simplesmente estragou tudo. Eu fiquei
estático vendo ela destruir coisas importantes e percebendo o quanto ela estava
fora de si.
- Chega Isabella! Ouviu bem? Chega
de chilique de mulher mimada. Largue minha pasta agora!
Já não havia muita coisa para ela
rasgar então jogou minha pasta contra mim e passou a jogar no chão tudo que
tinha no quarto. De uma hora para outra ela avançou em mim, bateu, arranhou e
só parou quando eu a segurei fortemente, talvez forte demais, pelos braços e a
atirei na cama. Cheguei a erguer a mão para esbofeteá-la, mas não o fiz.
- Agora cale a boca e vá dormir.
Saí do quarto e voltei ao
escritório. Ela, não parou de gritar. E eu não sabia o que fazer. Estava fora
de si, estava violenta, estava desesperada. Lembrei de Ana falando que ela
estava acuada. Realmente, Bella lembrava uma leoa enjaulada. Eu criei um
monstro e agora não sabia o que faria com ele.
Ao som de seus gritos eu abri uma
garrafa de whisky e liguei o computador. Na tela comecei a ler as matérias
falando do baile e algumas que relembravam todo meu histórico de escândalos por
Bella. A esposa que não quis o marido, que não valorizou ou seu dinheiro, a
vida boa que ele podia proporcionar.
- Idiotas! Ela não quis foi o amor,
o dinheiro ela levou. Ela e o papai.
A cada matéria uma dose de bebida e
os gritos pareciam cada vez ecoar mais alto em minha mente. Em um momento olhei
para o relógio.
02:45
Era madrugada. Eu seguia bebendo e
ela fazendo escândalo no outro andar. Na rua eu ouvia a chuva bater contra o
telhado. Em um certo momento percebi que aquela situação era tão ridícula. Se
ela não me quer? Outras vão querer. Se tanto deseja a liberdade... que vá
embora. Decidido, subi as escadas e fui em direção ao quarto destruído pela mulher
que amo ou odeio, já não sei. A peguei pelo braço e arrastei para fora do
quarto. Cambaleantes descemos as escadas. Ela percebeu o que eu faria apenas
quando estávamos de frente para a porta da rua.
- O que vai fazer Edward?
- Vou te dar o que tanto quer. Não
quer a liberdade? Não quero te ver nunca mais Isabella. Suma da minha casa
agora. – Falei e a empurrei porta afora.
- Edward! Eu estou de camisola, está
chovendo, é madrugada. Não posso ficar na rua...por favor está frio.
- Era isso que você tanto
queria...agora suma daqui. – Eu sentia a cabeça pesada pelo álcool e segurei na
porta não cair no chão. De repente eu também chorava e pelos olhos nebulosos
pela bebedeira e pelas lágrimas a vi se molhando com a chuva. – Você tem 20 min
para passar pela portaria. Ou virão buscá-la.
Eu bati a porta e tropeçando nos móveis
segui novamente para o escritório. Não liguei para a portaria como prometi
fazer, nem lembrava como fazer isso. Só voltei a beber. Sabia que tinha feito
coisas erradas, mas no meio de tantas, essa de agora nem parecia tão grande.
Algumas horas
depois...
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Abri os olhos e nem me preocupei em
pegar o telefone que tocava alucinadamente ao meu lado. Aos poucos aquela noite
começava a se reconstruir em minha mente, mas tudo parecia não passar de um
pesadelo. Com muito trabalho levantei e segui para as escadas. Só acreditei
realmente que era realidade quando olhei para meu antigo quarto de solteiro,
agora dividido com minha esposa, destruído. E, principalmente, vazio! Por Deus!
Eu realmente fiz isso. Eu havia colocado Bella para fora de casa em plena
madrugada chuvosa.
Minha vontade era me atirar no chão
e chorar, mas não podia. Tinha de encontrar uma forma de resolver a enrascada
onde havia me metido e encontrar Bella sã e salva o mais rápido possível.
Joguei água no rosto para acordar, peguei um cobertor e corri para pegar meu
carro. Minha primeira parada foi na portaria do condomínio. Era cedo e cheguei
bem no momento onde estava trocando o porteiro. Pelo olhar de um deles, sabia
exatamente quem estava ali quando Bella passou. Chamei-o para conversar.
- Não finja que não sabe quem eu
sou.
- Eu sei sim, senhor Cullen. O
senhor é o marido da moça que saiu na chuva ontem a noite.
- Sim. – Eu abaixei a cabeça,
envergonhado. – Me diga para onde ela foi...por favor.
- Ela pediu para ficar aqui na
portaria, mas eu não deixei.
- Porque não? – Ora, minha mente
respondeu, por que não era problema dele proteger Bella. Era responsabilidade
sua.
- O senhor é o patrão e se não a
queria aqui...eu não podia me intrometer.
- E o que ela fez?
- Eu lhe dei meu casaco e ela saiu
andando naquela direção.
Eu saia correndo para entrar no
carro quando uma voz me impediu.
- Edward Cullen! O que acontece
aqui? Eu estava telefonando para você me buscar no aeroporto e você aqui
conversando na portaria? – Minha mãe não podia ter retornado em pior hora.
- Mãe, agora eu não posso perder
tempo. Tenho de encontrar Bella.
- O que houve com Bella? – Esme
perguntou.
- Saia desse táxi, entre no meu
carro e eu conto.
Ela o fez rapidamente, mas gritou
assim que chegou perto de mim.
- Que cheiro é esse? Você andou
bebendo?
Eu teria de
contar tudo, mas agora minha prioridade era encontrar Isabella.