Quando
a campainha tocou eu tomava café ao lado de meu pai e meus irmãos. Era hora de
ir para a escola ou para o trabalho. Ninguém ficaria em casa. Meus olhos
demonstravam a noite de cão que tive. Levei horas para adormecer e, quando
finalmente fechei os olhos, minha mente foi inundada por sonhos ruins. Agora as
marcas de lágrimas e falta de sono me denunciavam.
Obviamente, Edward não deixou isso
passar despercebido. Assim que abri a porta ele me observou de um jeito
estranho.
- O que há Bella? Não se sente bem?
- Não é nada disso. – Respondi
enquanto ouvia o telefone tocar e meu pai se levantar para atender. – Eu apenas
não dormi bem.
- Não parece bem. – Ele ficou meio
tímido. – Mas está linda como sempre.
- Você é muito galanteador Edward
Cullen. – Brinquei e percebi que, de uma forma quase imperceptível, Edward sem
conseguia me fazer voltar a sorrir.
- Então? Vamos?
- Deixa só eu pegar minha mochila.
- Ok, te aguardo no carro.
Eu subi as escadas e entrei em meu
quarto com o ânimo reforçado. Edward me fazia bem. Peguei a mochila e ia saindo
pelo corredor quando vi meu pai com expressão fechada, agarrado ao batente da
porta de seu quarto. Charlie tinha o telefone na mão e, ao que parecia,
notícias surpreendentes. Antes dele abrir a boca eu já sabia o assunto da
ligação.
- Parece que nossa pista estava certa.
O investigador está seriamente desconfiado de uma família que tem um bebê na
idade do seu Bella.
- Céus pai! Será...o meu bebê? Vamos
na casa deles agora!
- Não! Não é assim Bella. Não temos
provas e...bom...não temos sequer certeza disso ainda. Você vai para a escola e
eu vou me encontrar com o investigador chefe. Ele vai me contar tudo o que
descobriram e vamos planejar o que fazer.
- Mas...
- Confie em mim. – Ele disse me
abraçando.
- Ok...eu vou então. O Edward está me
esperando lá embaixo.
- Tá...e...Bella?
Eu me voltei novamente em sua direção.
- Sim?
- Acho que é hora de falar a sério com
esse garoto. Ele precisa saber onde está se metendo.
Meu pai estava certo e eu sabia disso.
Não podia passar de hoje. Desci, fechei a porta da casa e, em silêncio, entrei
no carro de Edward. Estávamos há tão pouco tempo juntos e um segredo já pairava
entre nós. Edward sabia que eu estava preocupada, mas não estava me
pressionando para falar, estava me dando tempo. Até quando?
- Bom...infelizmente nossas aulas hoje
não são as mesmas então terei de ver você apenas no almoço. Sentirei saudades.
– Ele disse me dando um beijo.
- São poucas horas Ed.
- Pra mim será muito.
- Edward...está todo mundo olhando. –
Eu sussurrei entre seus beijos.
- Olhando eu beijar minha namorada?
Deixe ora! Estão com inveja porque eu namoro a garota mais linda da escola.
- Rsrsrsrs isso é mentira..você sabe.
- O que? Você ser minha namorada?
Eu pensei por um momento. Edward
estava me colocando numa posição difícil. Era obvio que ficar com ele me fazia
feliz. Então porque eu não iria querer ser sua namorada? Teria que lhe dar uma
explicação para dispensá-lo...isso se eu tivesse forças para lhe dizer não.
Seja o que Deus quiser.
- Pois bem Ed...hoje, na hora do
almoço tenho uma coisa muito importante para te contar. Se depois disso você
ainda me querer, então serei a sua namorada.
Ele olhou em meus olhos e não disse
nada. Apenas me deu mais um beijo e saiu pra sua aula todo feliz. Sequer imaginava a indigestão que teria no almoço.
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O tempo não passava.
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Os ponteiros do relógio não andavam.
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Finalmente o TRIN-TRIN do toque para o
almoço soou. Eu não lembrava de nada que os professores falaram nas aulas. Era
hora de enfrentar Edward e a verdade.
- Pálida desse jeito, imagino que não
deseja comer.
- Não, Edward. Quero conversar. –
Respondi enquanto saíamos para ficarmos sozinhos lá fora. – Não sei por onde
começar.
- Fale desde o início Bella. Encare
isso como um desabafo.
- Ok. Edward...eu só conheço Charlie
há uns dois anos. Pouco mais do que isso na verdade. Antes eu morava com minha
mãe, meus irmãos e meu padrasto mais recente.
- Teve muitos padrastos?
- Sim...alguns.
- E onde eles estão agora?
- Eles fugiram. – Esperei um segundo.
– Não vai me perguntar o por quê?
- Por quê? – Ele disse.
Tomei fôlego e falei.
- Meu padrasto me violentou quando eu
12, quase 13 anos. Charlie entrou nas nossas vidas feito um anjo e nos ofereceu
ajuda. Quando ameaçou ir na polícia mamãe fugiu.
- Fugiu com ele?
- Sim. – Disse envergonhada.
Edward me abraçou.
- Eu, não fica assim. Não é você que
tem de se envergonhar. – Depois de uns minutos ele voltou a falar. – Bella, eu
e meus irmãos também não viemos de lares felizes. E, se quer saber, na nossa
família temos uma história bem parecida com a sua. Só não te conto porque acho
que não sou eu a ter esse direito. Mas um dia você ficará sabendo. Um dia eu te
conto a minha história...os meus fantasmas. Mas independente disso...você tem
de esquecer. É PASSADO.
- Não Edward, não é. E eu não posso
esquecer. – Ele me olhou estranho. – Eu sou mãe Edward. Eu tive um filho do meu
padrasto e ele me foi tomado ainda no hospital. Eu vim pra essa cidade pra
encontrar meu menino. O MEU filho. Por ele eu nunca vou poder deixar essa
história no passado.
- Mas você tem... – Agora Edward
estava em choque.
- Tenho 16 anos. Dei a luz aos 13 e
preciso encontrar um garotinho de 3 anos que está nos braços errados em algum
lugar dessa semana. Eu não sou uma menina normal Ed, sou um KIT. Se quiser ser
meu namorado, terá de aceitar o meu filho.
Edward não dizia mais nenhuma palavra
e de repente, para minha tristeza, saiu correndo sem se despedir. É...acho que
perdi meu namorado antes mesmo de ter um.
Dessa vez não chorei nenhuma lágrima.
Não preciso de homem, preciso de meu filho. E hoje é um dia especial. Tivemos
mais uma confirmação da pista, estamos cada vez mais perto. Quanto a Ed? Sempre
soube que seria impossível...não deveria ter criado esperanças.
- Cadê o Cullen? – Um menino perguntou
quando passei pelo refeitório.
- Sei lá! Parece que passou mal e foi
embora. Não vai ficar para as aulas da tarde. – Uma garota do primeiro ano
disse.
- Que estranho...deve ser um mal estar
qualquer. – Outra gesticulou enquanto arriscava o palpite.
Eu era o mal estar do Edward. Ele
estava fugindo de mim.
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