Fazia mais de sete
meses que não dormia enroscado em Bella e só agora percebia o quanto era bom
passar horas sentindo o perfume de morango em seus cabelos. Ela não teve um
sono tranquilo, falou bastante, como sempre fez. Primeiro eram coisas alegres,
sussurrou meu nome e chegou muito perto de uma declaração de amor, mas eu ainda
terei de aguardar mais para ouvir um eu te amo. Depois seus sonhos devem ter
ficado piores, em certo momento ela quase chorou. Dizia que não queria ficar
sozinha, que precisava de ajuda, que seu bebê precisava de alguém. Tentei de
todas as formas me convencer de que toda aquela tristeza era responsabilidade
de Charlie e não minha. Mas sabia de minha cota de culpa em tudo aquilo, então
passei a alisar seus cabelos e sussurrar palavras doces até o sono se
normalizar.
Na manhã seguinte Bella estava
preguiçosa demais e, por ela não poder ficar tantas horas sem se alimentar,
resolvi acordá-la. Tarefa difícil, ao que parecia estava com o corpo cansado e
dolorido.
- Não devia se aproveitar assim de
uma gestante. – Ela disse brincalhona. – Tudo dói agora. Não devia ter ficado
acordada até tão tarde. Droga!
- Calma Bella. Te acordei para você
comer, depois dorme novamente. OK?
- Agora eu não quero mais. Tem uma
certa pessoa que não para de pular aqui na minha barriga!
- Então quem sabe um banho de
banheira? Uma massagem...
- Não, massagem não. – Um olhar dos
mais desinibidos. – Fiquei traumatizada com a última.
- Não faz assim Bella.
- É sério Edward, nada de massagem.
Ontem eu abusei na dança e... na cama, preciso de descanso.
Depois de bem alimentada, Bella
tomou banho, infelizmente sozinha, e veio ficar comigo na sala. Ela não tocou
no assunto de como estávamos depois da transa de ontem, nem foi carinhosa ou
fogosa como eu esperava, mas acho que era melhor esperar. Então voltamos a fase
de amigos, bom, não exatamente já que ela lia um livro praticamente no meu
colo, mas não chegava nem perto de suprir meu desejo.
- Tem notícia de Esme? Jurei que ela
viria com Alice.
- Eu também. A baixinha disse que
ontem conversaram e, sabe onde ela ia? Jantar com Carlisle.
- Não lembro deles fazerem isso
antes. – Seus olhinhos castanhos brilhavam como menina levada. – Será que...
- Não sei. Sei achei que meu tio
arrastava um bonde pela mamãe, mas ela nunca quis se envolver com ninguém.
- Pelo seu pai?
- Talvez.
- Edward, eu sei que sua dificuldade
em aceitar nossa filha tem algo haver com seu pai. Seria tão mais fácil para eu
entender se...
- Não Bella. Vamos deixar isso no
passado.
- Mas por quê?
- Porque eu quero Bella. – Eu tinha
erguido um pouco a voz e resolvi esclarecer tudo melhor. – Não espere nenhuma
explicação mirabolante que faça você entender. Apenas aceite que eu sofri com o
abandono dele e, de uma forma totalmente torta, tentei privar você de um sonho.
- Ok. – Foi apenas o que ela disse.
Nossa tarde passou tranquila e
enquanto Bella assistia a um DVD, meu pensamento viajou para o comportamento de
Charlie. Ele tinha sido mais do que desrespeitoso, tinha sido cruel. Será que
via o quanto sua filha precisava de apoio? Bella estava frágil, se fazia de
forte, mas estava lutando para se manter tranquila e não prejudicar a bebê. Ela
não merecia ser destratada daquela forma e alguma coisa deveria ser feita.
Pensei em ir até Forks e tentar
fazer com que os pais de Bella compreendessem que agora ela precisava de afeto
e auxílio. Se eu, com meu coração duro, tive de me render, o que faria com que
eles, os avós, não aceitarem essa gravidez. Para eles, qual a diferença dela
estar casada ou não? Era incompreensível tamanha rudeza de palavras.
- Bella, você tem planos para
amanhã? – Algo teria de ser feito e eu não podia esperar.
- Não, por quê?
- Eu tenho alguns compromissos do
trabalho. Pensei em você passar o dia com Alice. O que acha.
- Eu não preciso de babá Edward. Vá
aos seus compromissos e eu vejo o que farei.
- Não, assim fico preocupado.
- Sem motivo algum! Olhe, eu
passarei o dia no salão.
- Está bem. – Mas não querer a
companhia de Alice era estranho.
Eu não fui convidado para dormir em
sua cama, mas tudo bem. Amanhã o dia seria difícil e estar cansado não era uma
boa pedida. Vou confrontar Charlie e se não conseguir nada, ao menos convencer
Renee a ir visitar a filha.
No
dia seguinte...
Logo que amanheceu liguei para Bella
e depois dela reafirmar que estava tudo bem segui a Forks. A viagem foi
tranquila e logo estava batendo a porta dos Swan. Fui atendido por Renee e, por
muito pouco, não fui expulso da casa. Insisti e deixei claro que a senhora
Renee deveria chamar o marido para conversarmos, caso contrário eu não iria
embora. Ela ligou, ele esbravejou dizendo que mandaria a polícia, mas por fim
informou estar vindo a sua cada. Enquanto isso, resolvi apelar para o coração
de mãe.
- A senhora não tem curiosidade para
saber de sua filha? De sua neta?
- Ela fez suas escolha. – Mas logo
depois amoleceu o coração. – Olhe Edward, eu seu tudo sobre ela e Charlie
também. Jacob conversa com Mike e nosso filho nos conta. Sei que você a fez
sofrer muito e sei que agora resolveu apoiá-la. Eu a amo!
- Não é o que parece!
- Quem você pensa que é para entrar
em minha casa e julgar minhas atitudes? Não fez nada melhor!
- Não pode pensar dessa forma. Eu
posso ter cometido os piores enganos, mas
vocês são os pais dela. Não podem abandoná-la agora.
- Eu não quero conversar com você
quanto a isso. Se insiste em ficar aqui, fique. Será apenas o tempo de Charlie
chegar e expulsá-lo.
- Eu não sei o que há no coração de
vocês. Sabe que sua filha tem sérios problemas de saúde? Sabe que ela enfrenta
uma gravidez de risco e que nunca abandonou a fé de poder cuidar da filha? Eu
me pergunto de quem ela herdou esse amor, já que a própria mãe a abandona em um
momento tão difícil.
Eu estava perto de desistir e ir
embora, afinal se a mãe era assim, o pai nem daria atenção. E Charlie chegou
nesse momento.
- Fora de minha casa. Não convidei
você a entrar seu inglês irresponsável. Já fez estrago demais em minha família.
Agora viva bem longe daqui, você e Bella podem criar a menina em outra cidade.
Pobre criança no meio dessa relação estranha de vocês, sem serem separados, nem
viverem como marido e mulher, mas convivendo na mesma casa.
- Nossa relação será resolvida. E
não é disso que vim falar.
- Claro que não. É mais fácil falar
dos defeitos dos outros. Vá resolver sua vida, bem longe daqui. – A campainha
tocou e ele gritou também com a esposa. – Vá abrir essa porta logo.
- Você é um imbecil Charlie. – Eu
avancei sobre ele e o esmurrei com toda a força. – Não vê que só a faz sofrer?
- E o que é melhor? Você também a
abandonou. Não suporta a ideia de ter um filho, mas voltou feito um cachorrinho
fingindo aceitar para tê-la novamente. Ela mentiu, o enganou, mas foi perdoada
apenas por você anular totalmente seus desejos. Pra que? Por não conseguir
ficar sem ela na sua cama? – Ele também avançou para revidar o soco, mas eu me
esquivei e o deixei cair no chão.
- O que eu fiz não é da sua conta e
muito menos minhas razões para voltar na minhas atitudes.
- Isso mesmo, não tenho nada a ver
com essa pouca vergonha. Eu SEI muito bem que você não está nem ligando para
essa criança. Pode negar isso? Diga, diga que voltou para cuidar de sua
filhinha e nem liga para a mãe, diga. É isso?
- É claro que voltei por Bella, sei
idiota. Mas o que quer? Que eu abandone minha mulher, minhas responsabilidades?
– Eu o soqueava enquanto falava. - Eu vou apoiar Bella no que ela precisar,
mesmo não sendo nos meus sonhos. É minha obrigação!
Quando parei de soquear meu sogro vi
ele olhando em direção à porta e só então lembrei que alguém havia tocado a
campainha. Só não esperava ver Bella, pálida e em choque observando a triste
cena.
-
Obrigações Edward? – Foram as últimas palavras antes de Bella perder os
sentidos.