- Papai! Papai! Vem brincar! – Luísa
gritou, sacudindo a Sebastian pela calça.
Não que ele estivesse insatisfeito
em brincar com a filha. Não. Luísa é um programa bem mais agradável e divertido
que suas inúmeras reuniões de trabalho. Naquela manhã havia encontrado-se com
futuro sócios de um novo empreendimento e depois almoçado com um grupo de
uruguaios que desejam seu investimento em um projeto. A tarde. Conforme havia
prometido, seria completamente dedicada à filha. Um passeio em uma livraria,
compras em loja de brinquedos e agora uma passada pelo parque. Esse sem dúvida
o momento mais cansativo do dia. Luísa parecia contar com uma energia
interminável.
- Papai está brincando com você há
horas. Já não está bom não?
- Não. – A filhas respondeu
prontamente. – Porque logo você viaja novamente para longe e eu não o tenho
mais para brincar.
Sebastian deixou suas preocupações
de lado e foi brincar com a filha por mais algumas horas. Devia ser por esse
tipo de comportamento de Luísa que sua mãe costumava lhe implorar para voltar
para casa, alegando que a menina ficava carente nos períodos em que se
ausentava. Ainda assim, ele nada ou muito pouco poderia fazer. Sua vida não
podia parar porque Luísa parecia ressentir-se das ausências maternas. Mesmo
que, ele concordasse, ela tinha todos os motivos em ser carente. Em especial
quando ele tinha escolhido tão mal a mulher que seria sua esposa e mãe de seus
filhos.
Já tinham mais de 40 anos quando
decidiu casar-se. Lílian parecia a mulher perfeita. Tinha uma postura à
sociedade capaz de fazer uma rainha se orgulhar. Bela e sempre muito elegante,
estaria à frente na organização de jantares e recepções que um homem de seu
nível precisava frenquentar. E, além disse, por algum tempo, Sebastian teve
sentimentos por ela e creditou serem correspondidos. Casaram em grande estivo e
saíram em lua de mel. Lílian voltou mais bela e mais bronzeada. Eram felizes. E
não demorou para ela anunciar estar grávida.
Sebastian olhava Luísa correr à sua
frente e perguntava-se se ainda viveria aquele tipo de felicidade. A resposta
negativa parecia ser atirada em sua face em resposta. E nem mesmo ele desejava
aquela sensação falsa de felicidade. Porque depois descobriu que tudo não
passava de mentira. Luísa nasceu antes deles completarem um ano de casados e
por mais que ele desejasse ficar com a família, tinha de trabalhar. Lílian
jamais reclamava de seus períodos distante. E ele tinha a sensação de que o
casamento era perfeito.
Mas então os meses passaram e ele
soube o porquê de Lílian não se importar e até gostar de suas viagens. Ela
mantinha um caso com outro homem, encontrava-se com ele livremente quando o
marido estava fora. Em hotéis, dentro do carro, na cama que divida com
Sebastian. E nenhum dos empregados teve coragem de desobedecer a patroa e
revelar seu segredo. Assim, numa volta para casa sem aviso prévio, ele a viu
nos braços de outro e o colocou para fora da casa aos socos. Lílian assistiu a
tudo calada e apenas enrolada em um lençol sobre a cama. Antes de falar com
ela, Sebastian ligou para sua mãe e pediu que viesse cuidar de Luísa. Apenas
quando Angelina chegou e dispensou todos os funcionários, trancando-se no
quarto com a neta é que ele e a esposa tiveram sua última conversa. E essa não
foi calma ou civilizada. Eles discutiram problemas que Sebastian sequer sabia
que tinham.
- Não venha bancar o santo e me
acusar de pecadora. Eu sei que você não é perfeito como aparenta, Sebastian.
- E você, por acaso é?
A discussão seguiu por horas e,
conforme os minutos passavam, mais irritado Sebastian ficava e mais debochada
Lílian se tornava. Palavras duras foram ditas, palavras que não poderiam ser
esquecidas. Ambos sabiam que não havia perdão disponível da parte dele nem
arrependimento da dela. Por um momento Sebastian achou que tudo o que lhe cabia
era informá-la que deveria ir embora para darem início ao processo de divórcio.
Mas lá no fundo ele não aceitava que depois de tudo ainda tivesse de lhe
oferecer pensão e visitas à filha. Ela piorou ainda mais a situação com suas
ofensas debochadas.
- Se quer saber, Carl é muito melhor
na cama que você. Muito mais homem que você. E será um pai muito mais presente.
– Ela lhe gritou.
Até aquela tarde, Sebastian jamais
havia erguido a mão para uma mulher. Sua mãe havia lhe ensinado a tratá-las
feito damas, flores delicadas que mereciam respeito e carinho, jamais
violência. E ele seguira o conselho até aquele instante. Deu-lhe um primeiro
golpe na face e jogou-a por sobre a cama. Assustada, Lílian levou alguns
instantes para tentar erguer-se. E quando conseguiu foi atingida novamente.
- Pode me bater. Mas terá que me
sustentar pelo resto da vida. E eu vou criar Luísa com o marido que escolher. –
Ela gritou mesmo tendo o rosto já marcado.
- Vagabunda! Safada! Vamos ver se
você gosta disso!
As cenas que seguiram até hoje
estavam na lembrança de Sebastian. Jamais se orgulhou. Porém, nunca se
arrependeu. Espancou Lílian até que vendo-a machucada conseguisse por fim
aquela sensação de impotência. Ela gritou, mas, com apenas sua mãe no outro
lado da grande casa, jamais seria ouvida por alguém. Ao final, viu medo nos
olhos dela e enfim disse-lhe como seriam as coisas a partir dali. E pela
primeira vez percebeu como amedrontas as mulheres obedeciam.
- Você vai pegar a chave desse carro
e vai embora daqui agora. Quando minha raiva passar eu pensarei no que te
oferecerei para calar a boca e ir embora com seus amantes e deixar minha filha
em segurança.
Assim foi feito e Lílian deixou a
casa muito machucada, caminhando em dificuldade e enxergando a estrada sob
olhos inchados. Sebastian ficou bebendo em casa e não se surpreendeu quando
recebeu uma ligação dos bombeiros afirmando que sua esposa sofrera um acidente
ao não fazer uma curva caiu num profundo precipício. Não sobrou muito dela nem
do carro. E após a explosão, os restos mortais foram tão inexpressivos que a
perícia jamais percebeu que alguns dos ferimentos não foram motivados pelo
acidente.
A única pessoa a saber da verdade
jamais falaria a verdade. Angelina nunca negou a decepção que lhe foi saber que
o filho agredira a esposa, mesmo tendo ouvido a discussão e entendido suas
razões. Não era por Lílian, mulher em quem a sogra nunca chegou a confiar. Mas
por Luísa, que crescia longe da mãe.
Em meio a tudo isso, Sebastian não
se perdoava pelo que fez. Nunca respondeu criminalmente pela morte da esposa,
arquivada pela justiça como acidental. Ele, porém, sabia ter responsabilidade
naquilo. Ela estava ferida, machucada pelos punhos do marido e pegou a direção
sem nem conseguir olhar a estrada corretamente. Quando mandou-a sair e avisou
que se não o fizesse acabaria por matá-la, já tinha decretado sua vida.
Depois da morte de Lílian, Sebastian
passou a trabalhar mais a cada dia e a multiplicar sua fortuna. Luísa não teria
a mãe, mas seria uma jovem multimilionária quando crescesse e recebesse o
patrimônio que sei pai produziu. Como ele jamais se casaria novamente ou teria
outros filhos, tudo era para ela. Algum dia, quando ele não mais estivesse ali
e ela estivesse sozinha no mundo. No pouco tempo livre que lhe restava,
divertia-se com mulheres que ao menos não fingiam ter classe. Eram putas sem
tentar disfarçar. Todas, porém, lembravam-lhe de Lílian. E ele terminava o
‘relacionamento’ exatamente da mesma forma. E logo depois sentia-se mal por
isso. A única que nem de longe lembrava-lhe a falecida esposa é Beatriz. A
forma como Bia o olha nos olhos faz ter a esperança de que não tente enganar a
todo o momento. Até quando ela o desafia, é melhor que fingir ser o que não é.
Por alguns minutos ele sorriu sozinho, lembrando-se de Beatriz.
Foi apenas o vibrar do celular em
seu bolso que trouxe Sebastian de volta ao presente.
- Sebastian falando? – Disse ele ao
atender a ligação internacional. O país de origem o fez ficar nervoso.
- Boa tarde senhor Gonzáles. Aqui é
Samantha. Da Noxotb...
- Sei quem você é e não me recordo de ter autorizado
Gregory a lhe passar meu número. Espero que seja importante.
- E é. – Samantha estava habituada com clientes
grosseiros e não mudou nenhum milímetro de seu objetivo pelo comportamento
dele. – E do seu interesse. É Beatriz.
- Diga logo. Meu tempo vale muito dinheiro.
- A boate irá...renovar seu catálogo para atender aos
desejos de cada clientes. Na semana que vem receberemos um lote novo. Todas
muito lidas e jovens. Várias loiras, negras, morenas, ruivas e orientais. Todas
a sua disposição, é claro.
- Eu já disse a Gregory que não tenho interesse em trocar
de garota, por enquanto. Quero Beatriz a minha espera quando eu voltar a
Moscou. É só isso que eu desejo de vocês. Será tão difícil assim?
- Infelizmente não será possível, Sr. Sebastian. –
Samantha disse e aguardou pela fúria do americano. – Digamos que eu preciso
abrir espaço às novas meninas e me livras das antigas. E Beatriz terá de deixar
a boate. Não só ela, é claro. Mas todas as que estão fora da idade predileta
dos rapazes.
- O que farão com ela? – Sebastian pressentia desgostar
da informação que se aproximava.
- Um leilão. Divertido não? Leiloaremos as garotas aos
clientes que desejam tê-las como exclusivas. E como você parece gostar de
Beatriz lhe telefonei para avisar. Se tiver interesse em comprá-la, esteja aqui
na sexta-feira, às 11hs, pronto a dar seu lance.
- E se eu não quiser?
- Bom...por ser um cliente que demonstrou interesse nela,
nós lhe ofereceremos prioridade, mas, se não a quiser, encontraremos quem a
queira, Sr. Gonzáles.
Ainda com a ligação ativa e ouvindo a respiração de
Samantha do outro lado da linha, Sebastian pensava em como agir. Ali estava
ele, nos EUA, sob os olhares do mundo e, ainda mais importante, de Luísa,
recebendo a oferta de “comprar” uma mulher. E, pior ainda, reconhecendo
silenciosamente que sentia-se tentado a pagar para ter Beatriz como sua e não
mais precisar aceitar que outros a tenham. Porém, o que ainda lhe restava de
escrúpulos, o impedia de fazer algo assim.
- Eu não tenho interesse, Samantha. Não me ligue mais,
por favor. – Disse pausadamente, sem muita certeza do que afirmava.
- Como quiser. Encontraremos outro cliente. Até a próxima
Sebastian. Garanto que quando vier novamente na Noxotb você encontrará uma nova
e fantástica menina para divertir-se.
No Brasil a noite já caíra há várias horas e Elizabeth
continuava trabalhando. Não na delegacia de polícia, mas em casa, com Miguel como
assistente. Na PF, estava tocando outros casos enquanto a data de início de
suas férias não chegava e seguia investigando as casas noturnas e checando as
informações de Pedro Ferraz. Ele foi mantido preso e Elizabeth não tinha
dúvidas que mais dia menos dia ele seria encontrado morto na cela. É assim que
o crime funciona.
Não que ela estivesse preocupada. Já havia desistido de
conseguir autorização para ir cuidar de tudo na Rússia pela Polícia Federal.
Iria como civil e lá veria como a Noxotb funcionava. Bem de perto e com a ajuda
de Miguel ela conseguiria descobrir se Beatriz estava ou não naquele lugar.
- Vamos dormir? Amanhã é outro dia.
– Miguel disse entregando-lhe uma caneca de iogurte com frutas a que ela olhou
de cara feia. – Não adianta reclamar. Você tem de comer de três em três horas.
Meu filho precisa.
- A cada dia você estufa mais a boca
para dizer essa frase.
- E vai continuar assim, até que
nosso filho tenha uns...sei lá... 50 anos talvez.
- Será você um pai tão super
protetor quanto minha amável sogra Rúbia Benitez?
- Vou tentar não ser tão sufocante.
Quase que sem querer Elizabeth ficou
pensando que ao contrário de Miguel, ela não tinha um parâmetro. Não tinha
ninguém em quem se espelhar, nem observar características a não seguir. Eram
raros os momentos em que pensava em sua mãe e pai, na falta deles. Mas agora,
com a gravidez e a ausência de Bia, esses pensamentos vinham lhe afligir de vez
enquanto. Não tinha esperança de ter tido bons pais, mas, ainda assim, gostaria
de ter alguma lembrança de quem a colocou no mundo, mesmo que apenas a servir
de exemplo do que não fazer.
- O que foi? Ficou triste de
repente?
- Não, nada. É só que...eu acho que
deveria ir ver sua mãe antes de viajarmos. Ela é sua mãe, apesar de tudo. E por
pior que ela seja...pra mim, ainda assim ela te ama e quando não mais estiver
aqui, você sentirá falta. – Ela disse e se levantou, antes que Miguel tivesse a
chance de ver o quão emocionada estava.
Liz foi ao banheiro lavar o rosto e
antes de retornar ao computador ainda pegou mais uma xícara de chá. Tinha muito
para fazer ainda e contar com a companhia e inteligência de Miguel era sempre
uma grande ajuda.
- Veja. Pesquisei não apenas a Noxotb, como várias casas de lucro sexual de Moscou. São coisas horríveis,
Miguel. Mesmo as que funcionam regularmente, vão muito além do que suas
licenças permitem.
Liz mostrou ao marido uma série de fotografias. Muitas
mostravam boates nas ruas de Moscou, outras eram do interior desses
estabelecimentos, quando já investigados por alguma polícia no mundo todo. Uma
prática por lá comum é expor as mulheres em vitrinas e mostrar-lhe os atributos
como se isso fosse algo bom para elas. As próprias achavam isso mais agradável
no que ficar na rua, no frio russo, com poucas roupas. Não pensavam em como
aquilo era humilhando a elas como pessoas.
- Veja, parecem à venda como um
pedaço de carne no açougue, já com etiqueta de preço. – Elizabeth ainda se
arrepiava ao ver as fotos.
- Elas deixam de ser seres humanos.
Viram uma propriedade qualquer, para quem tiver interesse em pagar por elas.
O que mais indignava Miguel naquilo
tudo era o fato de grupos como aqueles reproduzir-se pelo fundo facilmente.
Eles poderiam até diminuir sua atuação no Brasil porque perceberiam que a Polícia
Federal estava agindo fortemente, mas encontrariam outra Nação mais frágil para
disseminar. E lá seriam outras mães a chorar em desespero por nada saber do
paradeiro das filhas. E outras irmãs, feito Liz, a crer ainda ter alguma chance
de rever a sequestrada. O maior medo de Miguel é que aquela viagem fosse em vão
e descobrissem que Beatriz não estava mais ou jamais esteve na Noxotb.
- Liz, meu amor, você tem de estar preparada para nada
conseguir, caso cheguemos a boate e não avistarmos Bia. A fala de um criminoso
não é confiável.
- Eu sei! Rebecca me lembra isso todos os dias. Ainda
assim, é minha melhor dica. E mesmo que não consigamos encontrar Bia,
certamente encontraremos outras pessoas lá, cujo retorno às suas vidas depende
de nós.
- Claro. – E ele considera essa ânsia por justiça linda
nela.
- Eu fiquei sabendo de uma denúncia que veio do Acre.
- Sim, Acre. É distante, mas o alerta foi do meu
interesse. Parece que três famílias deram queixa que suas filhas, de 15 e 16
anos desapareceram. Na véspera elas teriam sido contatadas na rua por um homem
que disse ser de uma agência de modelos.
- Você acha que são eles. Levando mais garotas.
- Exatamente. Matam as que não servem mais, vendem ou
simplesmente jogam na rua e elas mesmas morrem de frio ou de fome sem saber
falar a língua daquela terra. E eles repõem com outras. É simples.
- Venha, vamos dormir. Você precisa de repouso. Em cinco
dias embarcaremos para Moscou e vamos encontrar Bia.
- Eu tenho de arrumar minha mala!
Na Rússia, já há alguns dias, as
garotas foram avisadas que algo grande aconteceria. Mas a palavra leilão jamais
foi pronunciada. Algumas, entre elas Natacha, Naomi e Beatriz passaram a
receber um treinamento especial. Seguiam trabalhando normalmente, mas sentiam o
olhar de Samantha sobre elas em alguns momentos. Isso lhes dava medo.
- Aquela daqui está aprontando
alguma. Ficar na mira dela nunca é boa coisa. – Natacha disse.
- Mas o que pode ser? Não tem nada
de pior que ela pode me fazer. – Bia já não a suportava. Medo era quase
impossível quando estava no fundo do poço.
Desde que pegara Gregory transando
com Beatriz, Samantha dificultou a vida da garota como pôde, mesmo sabendo que
não partira dela a iniciativa. Daquele momento em diante ela certificou-se que
Bia trabalhasse muito mais. E jamais lhe permitia estar no alojamento nos
períodos em que Gregory
estaria na boate. O fato de Sebastian ter ordenado que ela não mais trabalhasse
na boate não significaria que ela não teria funções a cumprir, como ela sempre
dizia. Beatriz não conseguia pensar em nada pior para ela lhe fazer.
- O que mais? Não seja tonta garota.
– Naomi afirmou. – Sempre há o que fazer de pior. Vão se livrar de nós. De uma
forma ou de outra, vão se livrar de nós.
Bia sentiu um arrepio na nuca quando,
apesar de tentar evitar e negar, passou a crer no que a oriental dizia. O
brilho nos olhos de Samantha ia além da raiva, ela estava se divertindo
enquanto antecipava o que aconteceria.
Quando enfim o dia marcado chegou,
Elizabeth despediu-se dos amigos e colegas de trabalho e embarcou de mãos dadas
com Miguel rumo a Rússia. Estava tensa, nervosa e em nada disso medo de voar
estava envolvido. Sua tensão era como um pressentimento. Algo acontecia com
Beatriz. Ela podia sentir. E a tentação de estar mais uma vez falhando na
missão de proteger Bia estava acabando com ela.
- Relaxe. Logo estaremos a Rússia. –
Era tudo o que Miguel conseguia dizer.
- O problema é que “logo” pode ser
tarde demais.
Liz tinha razão. Em especial porque
ela e as demais escolhidas por Samantha foram levadas até a sala de preparação.
Aquela em que a esposa de Gregory havia lhe dito servir de local para abortos
clandestinos e mais algumas coisas. Lá elas foram cuidadas como nunca antes.
Fizeram depilação, arrumaram a sobrancelha e as unhas. Seus cabelos foram
arrumados como que a uma festa. Tudo serviria para alegrar qualquer mulher.
Desde que chegou à Rússia Beatriz não se sentia tão feminina. Mas quando uma
empregada muito jovem lhe entregou um vestido de gala, ela não teve a reação
esperada.
- O que é isso? Para que tanto luxo?
Com que homem sairemos? – A única coisa que passara por sua cabeça era que esse
cliente solicitou várias mulheres para uma festinha privada. Ainda assim,
parecia luxo demais.
- Você não tem direito algum de
perguntar, Beatriz. – Samantha afirmou com um sorriso diabólico nos lábios. –
Ainda assim, vou responder. Vocês serão vendidas hoje. Leiloadas, na verdade.
Por isso sorriam e tentem encantar algum comprador.
- Leiloadas? – Natacha estremeceu.
- Exatamente. E rezem para alguém
estar disposto a comprá-las. Para nós, vocês já nada rendem então é isso
ou...vocês não gostariam da alternativa.
- Sebastian...ele vai voltar e me
quer aqui. – Era a carta na manga guardada por Beatriz.
- Não! Seu encanto por ele parece
ter passado. Eu mesma o convidei a vir participar do leilão e Sebastian disse
não estar interessado. Por tanto, abriu mão de você para outro homem. E é bom
que você atrai alguém. Não suporto mais olhá-la. Ou alguém a leva para longe, ou
você encontrará a primeira vala onde eu possa jogá-la. – Ameaçou.
Beatriz encarou a parede tentando
pensar em uma saída. Se fosse comprada por algum desconhecido, tinha certeza de
que Samantha conseguiria o pior carrasco de todos. Seria como a escravidão. O
pior é que ela não via saída alguma.
- Vistam-se. Nossos possíveis
compradores chegarão logo. Preparamos vocês dos pés a cabeça para atraí-los. Os
interessados poderão vistoriar a mercadoria antes de fechar o negócio, é claro.
Por isso, comportem-se bem e não respondam a eles jamais. Eles desejam mulheres
submissas, capazes de assumir o posto de amante. Entenderam?
Beatriz aprontou-se assim como as
demais mercadorias daquele leilão. Apesar do glamour e falsa beleza, tinham nos
rostos uma expressão de apreensão. Não sabiam o que ou quem encontrariam. E
quando enfim entraram no salão, encontraram rostos com expressões de cobiça e
muito prepotência. Quem ali estava considerava-se o rei do universo. Capaz de
comprar tudo, inclusive uma escrava. E tudo o que Beatriz desejava era ver o
rosto de Sebastian entre eles.
- Eu lhe falei, queridinha, ele não
veio. – Samantha fez questão de lhe sussurrar no ouvido. – Mas não se preocupe.
Entraremos alguém perfeito para você.
Nenhum comentário:
Postar um comentário