Sem
muitas informações de como sua esposa estava, Neal aguardava junto de Mozz na
recepção da clínica. Dizia a si mesmo que era um plano, uma farsa tão bem
bolada que até mesmo a médica tinha acreditado nos gritos de Rachel. Mentia
para si mesmo desejando não crer na possibilidade de algum mal ocorrer com as
mulheres da sua vida.
- É
impressionante! Pequena Helen já coopera com nossos planos ativamente! Ela nem
nasceu e já sei que será brilhante no nosso mundo. É claro! Sendo filha e
Nea...
- Chega,
Mozz!Helen não está cooperando com nada! Helen não está bem!
- Ela
quis nos ajudar! – Mozz insistiu. Mas depois, entendendo o desespero do amigo,
tentou tranquilizá-lo. – Se a minha opinião servir para algo...tenha fé. Sua
filha está ótima...e já está inscrita na ‘academia do Tio Mozz para criminosos
principiantes’.
Peter e
Elizabeth deixaram Valentina e Sofia com os avós maternos e correram ao
hospital. Nervosa, Ell não conseguia sequer pensar na dor que uma complicação
como aquela poderia trazer ao casal de amigos. Se sua Valentina tivesse
qualquer problema, eles entrariam em desespero.
- Neal! –
Peter chamou logo após avistá-lo. – Podemos ajudar em alguma coisa?
- Oi. Na
verdade não. A equipe médica não autorizou a ninguém entrar. Então eu estou
aqui, sem poder fazer nada.
- Qual o
diagnóstico? – Ell perguntou.
-
Descolamento da placenta. Mas ainda averiguam a gravidade. – Ele passou as mãos
pelos cabelos já emaranhados. – Se não estabilizar, farão uma cesárea de
emergência.
Mozz,
Peter e Elizabeth sabiam o quanto aquela situação trazia a Neal lembranças
ruins. Ele já tinha passado por tudo isso e, no caso de Lis, a cesárea de
emergência não teve final feliz. Por traz daquela frágil tentativa de manter o
controle, Neal estava com medo de perder mais uma filha.
Porém,
todos estavam enganados. Não era uma tentativa de manter uma falsa frieza. A
dor por Lis o tornara mais frio. Nada poderia machucar mais. E algo lhe dava a
fé necessária para acreditar na sobrevivência de Helen. Àquela tragédia passada
também lhe tornara mais forte e decidido a tomar a frente das próprias
decisões. Dessa vez, não autorizaria a cesárea sem a certeza da sobrevivência
da filha. Dentro da mãe ela estava protegida. E Rachel estava bem, estava
consciente, segundo a médica.
- Drª
Laura! – Gritou ao ver a medicar surgir nas imensas portas da emergência obstétrica.
– Posso ver minha mulher?
- Daqui a
alguns minutos. Primeiro vamos conversar. Venha comigo.
Nervoso,
Neal não estava disposto a ouvir nada antes de deixar clara sua posição.
- Não
será feito parto sem a autorização de minha esposa. Não cometerei esse erro
novamente. Minha filha...
-
Acalme-se, Neal. Sua esposa está acordada e já ameaçou minha equipe de coisas
bem desagradáveis caso alguém aproxime um bisturi de seu ventre antes de Helen
nos dar sinais de que deseja vir ao mundo.
- Ótimo!
Como Rachel e Helen estão?
- Sua
filha está bem e Rachel aparenta perceber isso, então também mantém a calma.
Está acordada e estamos monitorando.
- Isso
significa que está tudo bem? Normal? Ele sai do hospital quando?
-
Nada disso, Neal. Entenda, normalmente, se a gestante estiver perto da data
prevista para o parto e é constatado deslocamento de placenta, é feita cesárea
mesmo que o descolamento pequeno para garantir a tranquilidade no momento do
nascimento. É essa a minha indicação
para vocês. Já disse para Rachel e ela negou. Com muita ênfase, devo dizer. Mas
você é o pai e o marido. Se você autorizar...
-
Não...eu não irei contrariá-la, Drª. É ela quem carrega Helen. E se Rachel
sente que ficar com ela mais algum tempo é o melhor, será assim. Posso vê-la
agora?
-
Você sabe que a visitação, mesmo em casos de internação hospitalar, é negada
para presos considerados perigosos...
-
Eu preciso vê-la...eu vou vê-la...
-
Acalme-se! – Drª Laura gritou. – Sua entrada foi negada pelo juiz, mas eu
intercedi, afirmando que sua presença poderia ser importante para manter a
paciente calma e assim garantir a vida da criança. Eu consegui uma visita de
alguns minutos. Não me peça mais.
Ele
não pediu. Apenas agradeceu Laura e acompanhou-a até o quarto. No caminho foi
gravando cada passo, cada curva do caminho. Iria entrar ali muitas vezes
durante a internação de Rachel. Ninguém o impediria disso. Enquanto caminhava,
seu coração estava com elas, apreensivo, precisando vê-las e ter a certeza de
que estava tudo bem. Mas sua cabeça já trabalha num plano que garantisse seu
contato nos próximos dias. Discretamente, pegou o celular e mandou uma mensagem
para Mozz. [Vá para casa e estude a planta desse prédio. Travessuras à vista.]
Foi
revistado ao passar pelos guardas e logo ao entrar viu nela um sorriso sereno.
Neal respirou aliviado. Era um sorriso calmo, seguro e sincero. Rachel estava
realmente bem. Estava consciente de que as coisas se complicaram, mas sentia
Helen se movimentar em seu ventre. Helen estava bem. E ficaria lá, protegida,
até a hora do parto. Até estar pronta para enfrentar a vida fora do útero.
-
Nós estamos bem. – Disse abrindo os braços para recebê-lo. – Helen vai nascer
na hora em que desejar. Não vamos apressar nada. Ela nos dirá a hora certa,
nenhum minuto antes.
-
Deixarei vocês a sós. – Laura afirmou da porta. – Você tem 10 minutos, Neal.
Tente não exaltá-la muito.
-
Eu me assustei tanto quando a doutora me disse que tudo era realidade...cheguei
a pensar se tratar de um castigo de Deus. Por nós brincarmos com um assunto tão
importante quanto a vida de vocês.
-
Calma, amor. Se Deus está bravo com a gente, não será em Helen que nos
castigará. Ela está bem. Eu sinto. – Rachel riu largamente. – Eu acho que a
nossa menina decidiu ser nova-iorquina!
Escolha
de Helen ou não, fato era a impossibilidade de uma fuga naquela situação.
Rachel amargaria algum tempo internada e Helen nasceria ali mesmo. Só o que
incomodava Rachel era a possibilidade de ficar incomunicável naquele período,
sem receber visitas.
- Não
quero te deixar aqui. – Ele disse. – Quero te levar pra casa e eu mesmo cuidar
de vocês.
- Eu
também queria ser cuidada por você. Mas não é possível, Neal. Então...então
vai, cuida do George e continua no FBI lutando para me aceitarem por lá
novamente.
- Da onde
vem toda essa serenidade? Você não é assim.
- Minha
filha nascerá com a mãe em liberdade. Ela está esperando o nosso acordo ser
autorizado. Chame de ‘sexto-sentido’.
Somente
uma premonição mesmo. Porque de concreto nada havia naquele sentido. Nenhuma
indicação de que o júri daria a Rachel a possibilidade de cumprir pena em
regime de trabalho no FBI.
- Meus
dois filhos estão bem e você está com a gente...então tudo irá se acertar. –
Ela ainda disse enquanto lhe acarinhava a mão. - Vai tranquilo e sonha conosco
essa noite. Eu e Helen vamos sonhar com nossos rapazes também. Dê um beijo em
George por mim.
Naquela
noite Neal e Mozzie planejaram as melhores formas de entrar no hospital sem
serem vistos. Analisaram as alternativas desde a tubulação até a possibilidade
dos guardas aceitarem suborno. Tudo foi observado.
-
Verifique os horários de troca de turno daqueles guardas. – Ele pediu a Mozz.
- São
dois em cada turno, Neal. Não vai conseguir distraí-los e entrar lá assim.
- Teremos
de achar um jeito. A Drª Laura estipulou como data limite para o parto três
semanas a frente. Se Rachel não entrar em trabalho de parto, farão a cesárea.
Não posso ficar esse tempo todo sem vê-la.
Mozz
passou o dia seguinte inteiro procurando alternativas enquanto Neal trabalhou
no FBI. Estavam todos um pouco nervosos por lá. Muitos casos se acumularam e
por Diana tratar-se da agente da maior confiança, Peter deixava a maior parte
dos sob sua responsabilidade quando ele não estava no FBI. Hoje ele estava lá,
porém, trancado em sua sala e incomunicável.
- Sabe o
que há?
- Não sei,
Neal. – Diana respondeu. – Mas deve ser grave. Não sai daquele telefone e pediu
para não ser incomodado
Peter passou o dia equilibrando-se,
principalmente, entre dois casos. Um era o de Lorenzo Beltracci. Nesse, pouco
podia fazer até o falsário lhes dar uma pisca de como e quando iria ‘limpar’
seu apartamento. Mas isso não impedia Stone de cobrar resultados. Ao que
parecia o chefe de Sara, proprietário da seguradora, tinha bons contatos no
governo e vinha pressionando para a resolução daquele caso. Quando fosse preso,
Lorenzo renderia bastante à empresa graças as peças roubadas que tinha
guardadas.
- É
simples de entender, Stone. Eu não tenho mandado para invadir o apartamento,
então Lorenzo precisa retirar as peças de lá. Para isso, nós o fizemos crer que
será roubado. Logo ele tentará algo. E vamos pegá-lo. – Ter de explicar isso
era chatíssimo e Peter estava sem paciência.
- Não
pode ter nenhum erro, Burke! Se Lorenzo Beltracci tirar essas peças sem que sua
equipe faça a intercepção, a responsabilidade será sua.
- Sim,
sim...só que é fácil falar! Eu faço o melhor possível! – Peter explodiu. – Se
devolvessem minha equipe completa, facilitaria!
- A
Rachel voltará quando o juiz permitir. E isso ocorrerá apenas quando tivermos
um caso onde ela seja imprescindível. Aliás, pelo que me disseram, ela está
hospitalizada e com uma barriga imensa. Não nos é útil no momento. Ela vai
parir e depois, se houver possibilidade, eu a reintegre a equipe. Enquanto
isso, seja eficiente, Burke!
- Eu e
minha equipe somos!
O outro assunto
pelo qual Stone ligou era mais estranho e, na opinião de Peter, pouco podiam
fazer para auxiliar a Interpol. Alguns atentados, até o momento sem razão
aparente, movimentaram a Europa. Na Itália uma bomba na estação de trem mais
movimentada matou 11 pessoas, além de destruir o monumento turístico lá
abrigado. Nenhum grupo extremista assumiu a autoria. Três semanas depois, outra
bomba caseira, similar, foi deixada em uma antiga catedral, histórica, em
Berlim, na Alemanha. Não houve vítimas fatais, mas a perda histórica foi
grande. Somente quando o terceiro atentado ocorreu, há dois dias, na Áustria, a
ligação entre os três atos criminosos foi feita. Esse último deixou dois mortos
e também destruiu um local tombado como patrimônio cultural.
- A
aposta da polícia internacional está num fanático conhecedor de arte. Os três
atentados ocorreram os locais bonitos, que abrigavam obras de arte assinadas
por mestres da pintura e escultura. – Explicou Stone.
- É um
caso desafiador. – Do tipo que Peter mais gostava. – Mas a Interpol tem
especialista em arte. Porque a minha equipe tem de se envolver? Estamos cheios
de trabalho.
- Ainda é
um absoluto segredo, Peter. Absoluto. Nós recebemos um aviso da Interpol de que
o próximo ataque seria nos EUA.
- Alguma
ideia de onde? O número de lugares com obras de arte é imenso.
- O seu
trabalho será descobrir. Sua melhor chance é descobrir como esse louco escolhe
seus alvos. Se descobrir porque ele escolheu aqueles lugares na Itália,
Alemanha e Áustria, poderemos antecipar qual será o alvo americano.
A questão
era séria e Peter não podia contar à sua equipe do que se tratava. Mas
precisava deles. Então chamou seus colegas de trabalho e lhes disse o que pode.
- Eu sei
que estão estranhando o meu comportamento e querem uma explicação. Não posso
dar, infelizmente. Ainda assim, vou pedir o empenho máximo de vocês. Nas
próximas semanas as coisas serão difíceis por aqui. Além dos casos aos quais
todos estamos nos dedicando, precisaremos colocar toda nossa atenção na prisão
de Lorenzo e numa operação sigilosa a
qual vou explicar apenas o mínimo que vocês precisam saber.
- Porque
o segredo? – Henrique questionou.
- Porque
é um assunto internacional.
- MI5? –
Qualquer envolvimento com a polícia internacional poderia facilitar ou
complicar a vida de Rachel. Neal imaginava se essa investigação sigilosa
poderia envolver algum crime do passado dela.
- Não,
Interpol. – Erguendo-se e andando pela sala de reuniões começou a falar. – Por
enquanto, preciso que vocês pesquisem e mapeiem os lugares que abrigam obras de
arte. Comecem pelos artistas de maior renome. E podem intensificar nas obras
com origem no século XVII.
-
Expostas em Nova Iorque? – Diana perguntou.
- Todo o
país.
- Mas são
milhares...milhões, talvez, de parques, museus e prédios com obras de arte. –
Henrique disse. Levará muito tempo.
- Comecem
o quanto antes então. – Encarando olhares preocupados Peter deu os últimos
avisos. – Até finalizarmos o caso de Lorenzo, Diana comanda essa operação.
Depois eu assumo. Porém, todos teremos de acumular os dois com 100% de
dedicação. Dessa vez, eu não posso relegar nada para agentes menos experientes.
Vocês são os melhores com quem posso contar. Posso contar com vocês?
- Claro
chefe! – Eles responderam em coro.
- Ótimo.
Então vão para casa, descansem e amanhã cedo venham animados e preparados para
trabalhar em dobro. Essa noite a vigilância do Lorenzo fica comigo, Henrique
assume amanhã às 7hs.
Sozinho
na sala de vigilância, Peter mantinha os olhos no computador, fazendo ele mesmo
uma parte da pesquisa pedida aos comandados. E tentando imaginar qual a ligação
naqueles atentados. Nada lhe vinha à mente. Enquanto isso, parte de seu cérebro
seguia atento às escutas para acompanhar caso o apartamento de Lorenzo tivesse
algum movimento no meio da madrugada. Escutas essas, ilegais. Caso realmente
prendessem Lorenzo, teriam de fazer parecer que estavam seguindo-o porque não
havia autorização para entrar no apartamento, deixar escutas ou grampear
telefones.
- Ser
100% certinho nem sempre é possível. – Isso era, certamente, a influência de
Neal em sua vida.
Mas nem
só do trabalho sua mente se ocupou durante aquela noite. Pensou em Ell, Sofia e
Valentina em casa e ele ali, trabalhando. Sem conseguir resistir, mandou uma
mensagem de texto para Ell e, ao saber que ela visualizou o texto, soube que
estava acordada e lhe telefonou.
-
Devo presumir que Valentina está agitada?
-
Não, querido. Dormiu até há pouco. Mas acordou aos berros de fome. Está grudada
no meu peito.
-
Que bom...eu queria estar aí, Ell.
-
Eu sei. Como está o trabalho?
-
Difícil...não param de surgir complicações. Mas tudo irá se resolver. Boa
noite, querida. Nos vemos amanhã cedo.
-
Até logo, meu amor.
Na
manhã seguinte, Neal, crente de que era a melhor saída, colocou o Dr. Caffrey
para trabalhar. De jaleco branco, crachá falso e óculos, Neal entrou no
hospital disfarçado de ginecologista e obstetra. Isso lhe dava acesso à ala de obstetrícia.
O mais difícil foi passar pelos guardas na porta. Mozz resolveu isso com um
truque bem antigo. Algumas gotinhas de remédio no suco gentilmente trazido da
copa e, de repente, ambos tiveram que correr até ao banheiro. Quando Rachel
acordou, ele estava lá, observando-a.
-
Neal! Você...e os guardas e...
-
Eu disse que viria. Posso beijar minha mulher?
-
Ela está ansiosa por isso.
Alguns
segundos era pouco e o beijo se estendeu por longos minutos. Rachel vestia a
camisola hospitalar e tinha os cachos avermelhados presos num coque. A vontade
dele era desfazer o penteado e bagunçar os fios até deixá-los revoltos como
mais gostava.
-
Me ajuda a chegar ao banheiro? A cama é alta. – Enquanto caminhava devagar com
o apoio do marido Rachel continuou sanando a curiosidade. – Como passou pelos
guardar?
-
Digamos que eles também foram ao banheiro.
-
E como vai sair daqui depois?
-
Direi que sou médico, mostrarei esse crachá e direi que vim examiná-la.
Eles
não tinham muito tempo. Se demorasse muito, a desculpa de ser o plantonista
seria descoberta e ficaria impossibilidade de repetir o golpe. Aproveitaram o
tempo namorando e curtindo os movimentos de Helen na barriga. Ela era bem ativa
logo pela manhã. Não havia passado nem quinze minutos quando Neal avisou-a de
que teria de ir embora.
-
Já...mas eu volto logo. Me dá mais um beijo antes de eu ir?
O
beijo era para ser rápido...mas não tanto. Afastaram-se assustados ao ouvirem a
maçaneta da porta ranger. Alguém estava entrando. Poderia ser o guarda que no
retornou resolveu checar a presa, a drª Laura ou...uma completa surpresa. E
foi.
O
guarda entrou sim...mas apenas para acompanhar o visitante: Peter Burke. O
chefe primeiro o observou com o rosto avermelhado. Neal sabia que estava
encrencado. A dúvida era se Peter iria manter aquele assunto em particular ou
delatá-lo para os policiais.
-
Ei, Ei! Nós não vimos você entrar aqui! – Um dos uniformizados disse.
-
Sou médico e estou fazendo o meu trabalho. Se vocês não estavam cumprindo sua
função, não é problema meu. Eu já...já vou indo. Tenho pacientes aguardando. Se
me dão licença....
-
Espere, Dr.! Eu o acompanho! Outro dia venho conversar com você, Rachel! –
Peter disse ainda bufando de ódio. – Vamos conversar a respeito do estado da
paciente!
-
É claro...eu estou à disposição. – Neal respondeu agradecendo Peter por manter
seu disfarce.
Quando
deixaram o hospital, Peter disse a Neal tudo o que se esperada de um policial
honesto e sem margem para armações como aquela. Peter jamais permitiria um esquema
como aquele. Motivo pelo qual Neal nunca o avisava desse tipo de ação, mesmo
quando elas ajudam o departamento a resolver os casos. Por quase 20 minutos
Neal ouviu calado Peter expor todos os seus argumentos sobre como era arriscado
invadir um hospital passando-se por médico. No fim, ele disse apenas uma frase
ao chefe.
-
Se fosse Elizabeth você iria deixá-la no hospital sem tentar vê-la?
Peter
foi para casa dormir sem falar mais nada para Neal. Ele não compreenderia suas
razões mesmo e estava cansado demais após a noite em claro. Só tinha passado no
hospital porque desejava ver Rachel e conversar um pouco com ela. Mesmo com
suas divergências, sempre reconheceu nela uma grande agente e, por sua
experiência internacional, podia ser muito útil na busca ao terrorista.
Neal
foi para o FBI e sob o comando de Diana começou sua pesquisa aos pontos que
abrigavam coleções de arte nos EUA. Sem detalhes do que buscar, ficava muito
difícil. Peter tinha esses detalhes e não dividiu com a equipe. Isso deixou a todos
chateados. Sentiam que estavam trabalhando em vão ou, ao menos, totalmente no
escuro.
-
Sejamos francos: é impossível! Mesmo que trabalhássemos exclusivamente nisso
durante o mês todo não teríamos o relatório de 100% das áreas com obras de arte
no país. – Henrique disse tirando os olhos de um calhamaço de papéis.
-
Precisamos de mais detalhes! Peter sempre confiou em sua equipe e nos confiou
os assuntos. – Neal concordou com o colega.
-
Não olhem pra mim, colegas. – Diana falou. - Eu também não faço ideia do porque
recebemos essa tarefa. Mas sei que é muito importante então: continuem a
pesquisa. Eu vou checar a localização de Lorenzo. Ele passou a manhã quieto
demais.
Assim
passaram-se três dias. Lorenzo perigosamente silencioso, Peter misterioso,
Diana estressada, o restante da equipe desconfiada e Neal muito irritado. Não
era só o caso ou a certeza de que, com as informações completas, poderia ser
mais útil. Seu problema pessoal incomodava bem mais. Desde que Peter o pegou no
hospital, ele não viu nem falou com Rachel. E isso o estava enervando. Era hora
de colocar outro plano em prática.
Para
isso, ele e Mozz ensaiaram bastante. Estava proibido de chegar perto do
hospital. E até a Dr. Laura lhe pediu para evitar lhe causar problemas ou
estressar Rachel com visitas furtivas. Mozz então lhe disse que se pessoalmente
era impossível, a tecnologia iria ajudá-los.
- O Sinal
de Wi-fi do hospital é ótimo! – Ainda lhe garantiu o amigo.
- Quer
que eu peça para Laura entregar um celular para Rachel? Ela vai se negar. Não
quer que eu invente mais nada de arriscado.
- Você
tem a esse amigo aqui para resolver isso, Neal.
O plano
de Mozz estava armado. Com uma rápida conversa com Laura, Neal descobriu que em
dois dias Rachel faria uma ultrassonografia. Nesse dia, Mozz cruzaria com ela
na área onde são feitos os exames de imagem.
- Vamos
dizer que eu sofri uma queda e preciso fazer uma tomografia computadorizada.
- Depois
que estiver lá dentro, me livro dos enfermeiros e entrego a encomenda.
Neal
realmente não poderia ter um amigo mais perfeito. Mozz adorava esses planos
malucos. George o Teddy foram juntos pela manhã bem cedo para a escolinha.
Diana, ao passar de carro, perguntou se Neal queria uma carona, mas ele negou
afirmando que Mozz sofreu uma queda e ia levar o amigo ao pronto socorro.
- Eu o
levo! – Ela prontificou-se.
- Não!
Quer dizer...não precisa! – Era só que faltava. – Ele nem quer ir...eu vou
tentar convencê-lo.
- Está
bem. Qualquer coisa me avise.
Neal
levou Mozz até o hospital e, aos gritos, o paciente anunciou que poderia estar
morrendo e precisava fazer uma tomografia na cabeça. Dizia ter caído da escada,
ser um milagre estar vivo e precisar de atendimento médico especializado.
-
Acalme-se, senhor. O médico irá avaliar se necessita da tomografia.
- Claro
que necessito! Minha vida depende disso! Vamos, mechasse! Se eu morrer a culpa
será sua!
Neal
chamou a recepcionista num canto e tentou convencê-la com seu charme.
- O meu
amigo é um tanto paranoico, provavelmente não tem nada grave. Mas só vai se
tranquilizar quando fizer a tomografia...então é bom levá-lo, com urgência, ao
setor de exames de imagem. Tudo bem?
- Esse é
um exame bem caro, senhor.
- Não se
preocupe, dinheiro não é problema...apesar da aparência simples, meu amigo é
milionário.
Agora
cheio de mimos e cuidados, Mozz foi levado exatamente onde desejava. No colo
carregava uma pequena nécessaire contendo celular e carregador. Quando avistou
Rachel, fingiu uma súbita dor e gritou o mais alto que pode. Atraiu a todos os
olhares, inclusive o que desejava: de Rachel.
- Sr.? O
que sente? É uma tontura? Dor?
- Não!
- Então
porque gritou?
- Sede!
Vá buscar água pra mim...quero com gás, uma rodela de limão e duas pedras e
meia de gelo. Preste a atenção, são duas pedra e meia, nem mais nem menos.
Ande! Vá buscar! Ou quer que eu grite mais?!
- Não,
não...eu já vou.
Sob o
olhar atento de Rachel, Mozz largou a encomenda sob um banco próximo dela. Depois
manobrou sua cadeira de rodas e passou ao seu lado.
- Guarde
em lugar seguro...depois pode me agradecer. – Sussurrou na passada.
A partir
daquele momento, Neal e Rachel trocaram mensagens constantes. Ela escondia o
aparelho sob a cama ao qualquer sinal de movimento do outro lado da porta e
pegava-o quando tinha certeza da segurança.
[ como estão meus garotos ?]
[ótimos.
George foi para escola sorridente.]
[ J fico feliz. Amo vocês]
[Helen não deu nenhum sinal ainda? Dr.
Laura disse que em 20 dias fará a cesárea. Pela segurança de vocês duas.]
[Ela me disse.
Mas nossa menina está bem,
está saudável. E ainda satisfeita
em ficar junto de mim.]
[Nisso eu invejo
Helen.]
[Bobo! )
- Neal!
Quando puder sair do celular e vir trabalhar, o FBI agradece. – Peter o chamou
para uma reunião
[tenho de sair. Volto
depois. Bjs e te amo]
Havia um
motivo concreto para Peter estar chamando Neal. Os agentes de campo a vigiar
Lorenzo haviam alertado para a chegada de dois caminhões estacionados na frente
do prédio há duas horas. Até o momento, porém, as escutas não acusaram
visitantes.
- Será
que ele desconfiou e por isso está bloqueando o som? Pode ter nos descoberto. –
Neal cogitava. Se fosse ele a ter aquele acervo escondido em casa, após receber
agentes do FBI, revisaria cada possível local para uma escuta.
- Parece
que não. Ele foi mais esperto do que pensamos! – Peter gritou.
- O que
foi?
- Eu
explico, Neal. – Sara disse. – Enquanto nós monitorávamos a saída do prédio e
os sons na casa, Lorenzo alugou outro apartamento no mesmo prédio, três andares
abaixo da sua cobertura. No nome de um laranja qualquer. E transferiu tudo,
provavelmente.
- Então,
se tiver uma batida lá, ele não é preso porque as peças não estão num imóvel
dele. – Esperto, Neal pensava.
- Exato!
Mas porque os caminhões? – Diana perguntou.
- Ele vai
tirar as peças de lá. Só pode ser isso. – Sara falou. – Temos de pegá-lo nesse
momento e recuperar tudo.
- Não
temos nada contra Lorenzo, Sara. Nada. – Peter lembrou.
- A menos
que...- Neal começou a entender o plano de Lorenzo. O homem era dos bons. – Os
caminhões não vieram levar nada. Trouxeram mais mercadoria. Lorenzo está usando
esse novo apartamento como estoque. Deve ter uma fortuna lá. Mande alguém
seguir o caminhão, Peter. Provavelmente nos levará ao ‘ateliê’ do artista que
faz as cópias deixadas por Lorenzo aos roubar os originais. Meu palpite é que Lorenzo
visita o lugar para conferir as falsificações. Na próxima vez em que for lá,
pegamos os dois.
Peter
concordou com Neal. Ele conhecia esse tipo de golpe, esse tipo de gente.
Poderia estar certo. Então seguiu a sugestão do amigo e fingiu não perceber que
logo ele voltou a dar mais atenção ao próprio celular.
Cerca de
50 minutos depois, recebeu o aviso de que o policial responsável havia seguido
o caminhão até um antigo depósito localizado num bairro ao noroeste da cidade.
- Fique
de olho aí. E tente descobrir quem são os frequentadores e o que é produzido
nesse endereço.
Passaram-se
sete dias e Lorenzo não deu as caras no depósito. Até mesmo Neal começou a
desconfiar da sua brilhante ideia. Ele era bom, mas até os bons se enganavam
algumas vezes. O nervosismo do consultor e dos agentes também só fez crescer.
De Neal, pela iminência do nascimento de Helen. Os outros pelo estranho comportamento
de Peter. A equipe continuava mapeando parques e museus com obras de arte e,
raivosamente, seguia sem saber o motivo. E todo aquele trabalho parecia sem
sentido. Isso deixava a todos desmotivados e os fazia render menos na tarefa.
Devido a
isso, numa atitude rara, Peter desrespeitou sua chefia e abriu o jogo aos
comandados. À portas fechadas, contou sobre os atentados e da ameaça de um
ataque em solo americano. Todos ficaram chocados com a gravidade daquilo e
passaram a se dedicar mais. Neal recebeu uma tarefa diferente dos demais.
Deveria estudar as obras de arte destruídas nos atentados anteriores e tentar
encontrar a fórmula usada pelo terrorista na escolha dos alvos.
- E não
vamos investigar suspeitos? – Diana estranhou.
- A
Interpol está cuidando disso.
Pelos
próximos dias a equipe dedicou-se ao máximo em suas tarefas e, salvo uma dupla
de agentes, o caso de Lorenzo ficou em segundo plano. O medo de um ataque
terrorista tocava mais alto. Neal encontrou uma curiosa ligação entre os casos.
- Os três
lugares eram privados. As obrar eram restritas a quem podia pagar para vê-las.
- Você
acha que pode não se tratar de algum terrorista, mas sim algum tipo de
manifestante, revoltado com o fato dos países lucrarem com a arte?
- É só
uma ideia...
-
Não...você pode estar certo. Vale a pena seguir essa pista. Diana! – Ele gritou
do segundo andar. – Direcione as pesquisas para os locais com entrada paga!
Dois dias
depois, Peter recebeu as informações tão esperadas. A Interpol tinha um
suspeito. Thomas Carter, inglês com forte atuação em movimentos sociais e
atuação política. Sempre teve atitudes extremistas e já havia ameaçado invadir
prédios públicos, além de condenar o lucro sobre a arte.
- É ele.
– Peter queria desacreditar.
- Isso é
bom, não, chefe? – Diana não entendeu.
- É...mas
o outro aviso da polícia internacional, não. A informação é de que Carter está
em território americano. E isso confirma a tese de que irá acontecer um atentado
aqui.
- Qual o
próximo passo? – Henrique perguntou.
- Contatar
a embaixada inglesa e pedir o apoio deles nas buscas a Thomas Carter.
Encontrá-lo antes de uma tragédia. Continuem tentando descobrir onde será o
alvo. Eu sigo com o restante.
Se a
Colarinho Branco já estava fervendo nas últimas semanas, nada os preparou para
os dias seguintes. Era como se dois terremotos estremecessem o FBI ao mesmo
tempo. Primeiro, Lorenzo recebeu uma misteriosa ligação chamando-o para
‘verificar’ a mercadoria nova. Todos comemoraram...até Stone ligar e avisar ter
ocorrido uma importante reviravolta sobre Carter. E tudo isso junto não pesava
nos ombros de Neal tanto quando a contagem regressiva para o parto. Em quatro
dias vencia o limite estipulado pela médica...e Rachel não aparentava pressa
alguma de dar a luz.
- Neal!
Concentre-se na ação. – Lembrou Peter ao vê-lo distraído. – Venha comigo. Stone
quer você na reunião sobre Carter. Diana e Henrique vão liderar a perseguição a
Lorenzo.
- Se
antes era segredo, porque me querem lá?
- Não
sei. Mas venha comigo. Temos uma reunião do outro lado da cidade.
Nada
preparou Neal para as revelações da reunião. Junto de Stone estava o embaixador
da Inglaterra nos EUA. Sr. Nohan aparentava ser um homem calmo, de meia idade e
elegante. Um homem responsável pelas relações internacionais entre os dois
países. E, aparentemente, ele estava disposto a ajudar nas buscas a Thomas e ao
encaminhá-lo de volta ao país de origem, oferecer-lhe direito a defesa e
tratamento psiquiátrico se assim fosse necessário. Tudo correu tranquilamente
na reunião. Até Nohan fazer uma exigência.
- Nós
iremos definir o agente responsável pelo caso. Sabemos da sua competência,
Agente Burke, e que tudo passará pelo seu crivo, porém desejamos indicar a
agente para estar na liderança com você.
Era
surpreendente, mas não um problema. Neal, Peter e Stone observavam enquanto
Nohan abria uma pasta que tinha em mãos. A surpresa tomou a todos quando viram
se tratar de um arquivo. E ele abrigava informações de Rachel.
- O que
isso significa? – Neal revoltou-se. – Minha esposa está presa há meses. Não
pode lhe ser atribuído nenhum desses atentados e...
- Eu não
estou acusando Rachel Turner de nada, Sr. Caffrey...a não ser, talvez, de ter
os mais belos olhos azuis já vistos por mim.
- Rachel
Caffrey, você quis dizer. – Neal não estava nada satisfeito. – Porque esse
arquivo?
- Porque
é ela a nossa indicação para agente à frente desse caso.
Peter foi
o mais surpreso. Não que fosse ruim. Poderia ser a deixa para Rachel retornar e
ficar na equipe. Mas o momento era impróprio. Seria possível. Ela estava
prestes a dar a luz.
- Rachel
está hospitalizada. Não é possível. Terá de fazer outra indicação.
- Acho
que eu me expressei mal, Sr. Burke. Não é uma indicação. É uma condição. Se
Turner não assumir, nós não ajudaremos. Entendeu?
- Pode
nos dar um motivo? – Stone indagou. - A equipe é de grandes profissionais.
Porque escolher uma condenada, nos EUA e na Europa? Diga-me, Sr. Nohan, o
objetivo é ajudar a prender ou manter solto esse maluco?
- Não me
ofenda! – Nohan foi duro na fala, mas não ergueu a voz. – Quero Turner porque
ela é a melhor, porque tem experiência em casos na Inglaterra e porque
confiamos no seu julgamento em momentos difíceis. E, se temos mais motivos, eu
não pretendo dividi-los com vocês agora.
Não tinha
como fechar aquele acordo assim, sem autorização judicial. Mas por dentro Neal
confundia os sentimentos. Estava confiante na saída dela. Talvez Helen
realmente nascesse com a mãe em liberdade. Mas não confiava em Nohan. Ele tinha
algo de estranho. E aquela obsessão por Rachel podia render um preço alto
demais pela liberdade dela.
Sem muito
o que poder fazer por esse caso, Neal apenas mandou uma mensagem para Rachel
dizendo que surgira uma possibilidade para ela. Pediu para manter a fé. Depois
seguiu com Peter para atualizar-se quando a prisão de Lorenzo.
- Estou
aqui, chefe. – Diana disse ao atender a ligação. – Lorenzo veio e está lá
dentro. Vamos invadir em instantes.
- Não!
Espere! Eu e Neal estamos indo. Não é longe. Se eles saírem você intercepta. Se
não, nos aguarde. Quero assistir.
Neal não
queria. Preferia ir para casa e ficar conversando com Rachel pelo telefone. Mas
não pode fazer nada. Instalou-se na van junto aos colegas e esperou Peter dar o
sinal. Quando chegou a hora, policiais fardados cercaram o local e anunciaram a
operação. Lá estavam Lorenzo, o falsificador das peças, outras duas pessoas e
muitas falsificações.
- Lorenzo
Beltracci, você está preso por interceptação de peças roubadas, falsificação e
arte e tráfico de armas. – Peter adorava essa parte. – E Diana?
- Sim,
chefe.
- Faça
uma busca no apartamento de Beltracci. E na sua mais recente aquisição
imobiliária também. Meu palpite é encontrar um verdadeiro tesouro.
Peter
dispensou toda sua equipe logo após um brinde de comemoração na sala de
reuniões da Colarinho Branco. Sara, explodindo de felicidade só de imaginar sua
comissão por resgatar todas aquelas obras de arte, levou Henrique para
comemorar a dois. Diana correu para casa a fim de encontrar o filho, os demais
também correram para suas famílias. Esse era o plano de Peter...depois de
conversar com Neal.
- Stone
me enviou uma mensagem há pouco. É do seu interesse.
- Fala de
uma vez então. Vai, Peter! Diz!
- Amanhã
pela manhã a juíza dará a sentença, em regime de urgência devido a iminente catástrofe
que se aproxima, caso não encontremos Thomas Carter. E Stone aposta numa
sentença favorável. É provável que amanhã mesmo Rachel receba uma nova
tornozeleira.
- E você
está preocupado porque não a quer de volta.
- Não!
Não me entenda mal, Neal. Eu estou sentindo a falta de Rachel
conosco...mas...ela está prestes a dar a luz. E Eu temo por trazê-la nesse
momento.
O
telefone de Neal estava tocando. Ele olhou o visor e desistiu de atender quando
viu se tratar de Rachel.
- Eu..eu
também me preocupo...mas a gente dá um jeito, mantém ela aqui no escritório.
O
telefone tocou uma segunda vez e, sob o olhar atento de Peter, Neal recusou a
chamada.
- Mesmo
assim! Não me agrada!
Quando a
conversa foi interrompida pela terceira vez em sequência, os dois homens
trocaram um olhar nervoso. Peter explodiu primeiro.
- Atenda
logo. E diga para a Rachel respeitar seu horário de trabalho! – Neal arregalou
os olhos. – Eu não sou idiota, Neal. Você não larga esse celular Neal.
Diante
disso, Neal, bem sorridente, ligou para Rachel. Era bom não ter de esconder. O
telefone tocou apenas uma vez e ela atendeu. Normalmente, falavam aos sussurros
por medo de alguma enfermeira ouvir. Dessa vez ela estava aos gritos.
- Neal
Caffrey! Porque não atendeu!?!?
- Calma!
Eu estava no FBI. Eu estou, na verdade. E Peter está te mandando um abraço.
- Que
ótimo! Mas agora corra pra cá porque sua filha está nascendo!
- O que?
Como assim? Porque não falou antes?
- Eu
tentei! Mas você não atendeu ao telefone! – Ela parou para suportar uma
contração. – Neal Caffrey! Você tem 20 minutos para estar aqui, segurando minha
mão! Ou eu juro que proíbo sua entrada na sala de parto!
- Não!
Espere! – Ele tinha de ver a filha nascer. – Helen!!!! Espere o papai, querida.
Neal
Caffrey corria rápido, muito rápido. E foi obrigado a colocar esse talento em
uso. Não que Rachel fosse realmente expulsá-lo da sala de parto. Ela não seria
capaz. Mas aquela ameaça vazia dizia bem o quanto ela o desejava por perto. E
Helen precisava dele para vir ao mundo em segurança. Chegou na recepção exatos
24 minutos depois de Rachel desligar e pulou a catraca gritando ao guarda que
era por um bom motivo.
- Minha
filha está nascendo! Minha filha! Minha Helen!
Quando
chegou na ala obstétrica já avistou Laura trajando uma roupa verde, usada nos
blocos cirúrgicos. Por um instante sentiu medo.
- Bem
vindo, Srº Caffrey. Já íamos começar sem sua presença. Finalmente, sua filha
convenceu Rachel de que desejar nascer. Vou começar a cesárea em alguns
minutos. Vá se vestir. Uma enfermeira vai acompanhá-lo para junto de sua
esposa. Ao chegar, procure tranquilizá-la. Ela está uma pilha.
Tudo
ocorreu muito rapidamente. Minutos depois, Rachel o viu entrar na sala
esterilizada e colocar-se ao seu lado. Somente nesse instante ela relaxou. Não
era medo por si mesma. Precisava de Neal ali para manter os olhos em Helen
quando aqueles remédios a derrubassem num sono profundo.
- Você chegou...que
bom.
- Eu não
abandonaria vocês, meu amor.
- Então? –
Laura chamou-lhes a atenção. – Vamos trazer essa garotinha ao mundo?
Neal
assistiu a tudo com a mão acariciando o rosto de Rachel. Logo após o busto
dela, haviam colocado uma pequena cortina que impedia a ambos de ver a cirurgia
em seu ventre. O anestesista a colocou de lado e deu uma injeção nas costas.
Logo a médica estava testando sua sensibilidade. Neal sabia ser aquilo o início
de tudo. Mais alguns minutos e Helen estaria em seus braços.
- Promete
que vai cuidar dela pra sempre? – Rachel sussurrou.
- Nós
vamos.
- Eu não
importo mais. Eles sim. Aconteça o que acontecer, George e Helen ficarão bem.
Me promete?
-
Prometo. Agora fique calma e concentre-se. Você tem uma tarefa importante hoje.
- Sim,
tenho...a mais importante de todas. – Rachel sorria e chorava ao mesmo tempo.
Alheia a toda
a emoção à sua volta, Drª Laura estava concentrada em fazer a incisão
necessária para o parto. Camada por camada da pele, trabalhou com o bisturi até
poder pegar a bebê pelas perninhas, dar-lhe algumas palmadinhas para ouvir o
choro e, delicadamente, chamar o pai para cortar o cordão.
Esse foi
o único momento em que Neal tirou os olhos do rosto de Rachel. Acompanhou a
tudo junto com ela, vendo apenas o que ela via. Mas ao ouvir o choro seus olhos
procuraram pela dona daquela voz forte e aguda, responsável por melodia tão
bela. Deu três curtos passos, com as pernas bambas. Um tanto sem saber o que
fazia, aceitou a pequena tesoura colocada em suas mãos por uma enfermeira e
cortou o cordão no ponto indicado pela médica. Logo viu sua filha, tão
pequenina, ser enrolada num pequeno lençol acinzentado e, ainda em prantos, ser
colocada em seus braços.
-
Calma...sou eu...o papai. A mamãe também está aqui. Ela quer muito te pegar. –
As lágrimas banhavam seu rosto. Como era possível ser tão bela? Ele que teve a
oportunidade de manusear as mais pelas obras de arte, agora percebia jamais ter
visto tamanha beleza. Nada podia ser belo que seus filhos. – Olha a mamãe,
filha.
Rachel
quase não a viu. Seus olhos estavam embaçados. Mas a sentiu ser colocada em seu
colo. Estava ainda suja de sangue e tinha os olhos não completamente abertos.
Helen parou de chorar instantaneamente. Ela reconheceu o cheiro da mãe e
aconchegou-se como pode.
- Minha
pequenina. Seja bem vinda. Mamãe te ama tanto.
A equipe
médica precisava seguir com os procedimentos de mãe e bebê. E alguns poucos
minutos depois aproximaram-se para retirar o bebê. Rachel estava cada vez mais
sonolenta pela anestesia e a própria reação do corpo ao parto. Apesar de estar
lutando contra o parto, Rachel precisava dormir.
- Vamos
levá-la para dar banho e fazer os primeiros testes enquanto a senhora passa por
mais alguns procedimentos. Precisamos pegá-la.
- Não!
Não a quero sem nós! – A perda de Lis deixou medos e ensinamentos. – Neal! Me
deixa agora! Vai com Helen. Não tire os olhos dela e a proteja. Quando eu
acordar, quero vê-la bem.
- Mas
amor...você...- Helen estava bem e Rachel ainda passaria pelos pontos. Ele
deseja ficar.
- Eu
ficarei bem. Vá com Helen. Me promete que quando eu acordar ela estará conosco.
- Claro
que prometo. Fique tranquila. Não deixarei nada de errado ocorrer com Helen.
Com essa
garantia, Rachel foi lentamente levada ao mundo dos sonhos. Sonhos doces e com
o perfume de uma recém nascida.
Esse Mozzi é forte kkkkk que bom que Helen nasceu e num sei nao esse cara ai é apaixonado pela Rachel
ResponderExcluir