Quando começou a despertar,
Rachel ainda sentia o corpo cansado e a mente confusa. Cadeia, fuga, hospital,
parto, Neal atrasado e...Helen, finalmente Helen em seus braços. A menina havia
nascido. Lembrava-se de vê-la. Linda, pequena e tão frágil. Podia ainda sentir
seu cheiro no ar. Mas onde ela estava? Piscando para clarear a visão, procurou
por sua filha e seu marido. Não estavam ali. Rachel tentou erguer-se na cama e
alcançar o botão para chamar a enfermeira.
- Ei, ei, ei! Calma. – Ouviu a
voz de Neal vir das suas costas, suave, quase num sussurro. – Mamãe acordou
ansiosa, filha. É para te conhecer.
Impossível não sentir as lágrimas
novamente verterem de seus olhos. Ela estava ali. Tranquila, ressonando no colo
do pai. Ele estava ali. Orgulhoso de carregar a filha nos braços. Tudo pareceu
tão lindo naquele momento.
- Eu quero pegá-la. Me dê. –
Disse estendendo os braços para receber o pacotinho de pele macia e bochechas
rosadas. – Como ela está?
- Perfeita. – Neal sorria ao
olhar para mãe e filha. – Tem 3 quilos 870 gramas e 48 centímetros . Uma
grande bebê.
- Sim, isso explica o tamanho da
minha barriga. – Rachel tocava a filha e conferia cada detalhe. Parecia perfeita
demais. – Ela é linda.
- É. Helen puxou a beleza da mãe.
Ela não se sentia nada bela
naquele momento, poucas horas depois de dar a luz, sentindo a barriga inchada e
os pontos da cesariana arder. Poucas vezes sentiu-se tão exausta. Nem mesmo
quando seu a luz George e logo depois encarou um fuga internacional. Helen
realmente lhe deu trabalho para vir ao mundo. Mas quem liga? Tudo era válido
para vê-la ali, bem, sadia, forte e com uma vida inteira para aproveitar. Mesmo
que...que ela fosse ver tudo de longe, de uma cela fria e sem vida.
Quase sem perceber, o choro de
alegria pela chegada de Helen tornou-se de tristeza, quase desespero. A
infância de George estava passando e Helen mal teria chance de se acostumar com
ela antes de ser retirada de seus braços. Quando uma de suas lágrimas caiu
sobre a bochecha da filha, Neal percebeu sua mudança de humor.
- Helen herdou o seu gênio
também. Se você não lhe der de mamar nos próximos minutos e parar de chorar,
logo estará soluçando também.
- Não. Mamãe não deixa ficar com
fome – Ela ofereceu o peito e Helen primeiro cheirou e tateou por alguns
minutos, reconhecendo a mãe. Quando finalmente abocanhou-o para receber o alimento,
sugou forte. – Vamos ter de nos
organizar para eu tirar o leite no presídio e levarem para ela. Quantos dias me
deixarão aqui com ela? Eu posso fingir algo. É, é isso! Falarei com Laura.
Vamos fingir uma infecção. Assim eu fico com ela aqui mais uns dias e....
- Calma Rachel. Nada disso é
necessário.
- Mas eu não quero ficar longe
dela ainda. É minha! E tão novinha!
- E não vai ficar. Se tudo der
certo, amanhã você ganha a sua alforria...mesmo mantendo uma tornozeleira.
Sob um olhar que misturava
descrença e esperança, Neal contou os últimos acontecimentos. E não eram
poucos. Nem simples. Passo a passo, o perfil de Thomas Carter e seus atentados,
a investigação promovida pela Interpol, o embaixador inglês e sua estranha
exigência foram apresentados para Rachel.
- Espera! – Rachel não estava
engolindo aquela história. – Esse Nohan simplesmente ‘me quer’? Assim? Sem
motivo?
- Obviamente ele tem algum motivo
escuso, mas falou apenas no seu currículo profissional. E tinha um arquivo da
sua vida, Rachel. Não sei se é completo, mas, mesmo assim, não é só pela sua
longa história com MI5 e FBI, com agente ou foragida, que eles desejam você.
Nohan esconde alguma coisa. Mas na verdade, essa é a nossa melhor, talvez a
única, chance de te colocar de volta na rua.
- É, Neal, tem mais nessa
história. – Mas o peso de Helen em seus braços lhe dava força para ir em
frente. – Nós nunca fomos do tipo de temer o desconhecido, Neal. Seja qual for
a desse Nohan, não vamos desperdiçar essa chance. Comigo na rua, fica mais
fácil fugirmos, se for preciso. Vamos esperar a sentença do juiz e depois vou
investigar esse Nohan. Ele tem um arquivo meu...vamos montar um sobre ele, em
detalhes.
Neal sorriu observando-a
planejar. A Diaba Ruiva estava de volta.
- Mas calma, não esqueça de que
você acaba de dar a luz. Tem de se cuidar e dar atenção à Helen e George.
- Prevejo dias agitados, Neal.
Muito agitados.
- Então durma, Rachel. É hora de
Helen voltar para o berçário. Eu vou em casa rapidinho trocar de roupa e pegar
George. Quando você acordar novamente, terá seus dois filhos aqui e um monte de
visitas.
Nada era tão simples assim na
vida deles. Neal foi para sua casa, mas com a cabeça nas inúmeras coisas que
tinha para resolver. Era impossível conseguir fazer tudo e estar na manhã
seguinte no hospital. Então Mozz entrou em ação. Logo depois
conseguirem acalmar a ansiedade de George em conhecer a irmã e fazê-lo dormir,
eles foram conversar. Começaram com uma velha tradição.
- Charutos? – Neal surpreendeu-se.
– Eu nem fumo, Mozz.
- É a tradição. O pai comemora a
chegada do herdeiro com legítimos charutos.
- Obrigada Mozz. Vamos ver se
eles nos inspiram então. Preciso da sua ajuda. Mais uma vez.
- Minha vida seria muito mais sem
graça sem os seus problemas, Neal. Pode falar. Do que você precisa?
- Para começar?Que você feche a
compra daquela casa. De preferência amanhã mesmo. Eu liquidei alguns...bens. Tem
grana suficiente naquela conta. Acho que não precisará usar dinheiro da Rachel.
- É uma casa bem
localizada...deve ter vendido um bem dos valiosos.
- Somente algumas reservas dos
nossos bons tempos. Mas o Peter não faz ideia. Então você colocará essa casa no
seu nome. Ele não faz ideia.
- Está bem. Mas não é essa a
grande missão pela qual há essa ruga na sua testa no dia em que Helen nos brindou
com sua chegada ao mundo.
Neal colocou a par de Nohan e sua
misteriosa aparição. Deu ao amigo todos os detalhes. Mais do que contou à
Rachel. Não pretendia estressá-la naquele momento. Ela tinha de curtir Helen,
dedicar-se a ela. E não com um maluco que iria estragar isso.
- Missão entendida, Neal! Dos
males o menor! Diaba e diabinha vão sair do hospital direto para casa. E vamos
descobrir os segredos desse Nohan.
- Será mesmo? E se o parecer da
juíza for negativo?
- Não será! Eles não vão arriscar
um atentado. Sua mulher amanhã será livre.
Foi crente nessa possibilidade
que Rachel adormeceu após entregar Helen aos enfermeiros. Isso depois da
pediatra vir lhe garantir a saúde de sua filha e afirmar que ela seria bem
cuidada. Depois dormiu tranquila. E acordou num quarto silencioso e perfumado
por uma imensa cesta de flores colocada numa mesa à direita do cômodo.
- Neal já esteve aqui! – Ela derreteu-se.
– Deve estar com Helen.
Mas foi a enfermeira a entrar
alguns minutos depois, carregando a menina em prantos. Helen
tinha fome e não estava interessada em esperar. Geniosa ,
Helen já mostrava sua personalidade. E todo seu amor e ligação com a mãe. Nos braços
de Rachel, ela se acalmou.
- Ora, ora meu amor. Tudo isso é
fome ou é saudade da mamãe? Depois de tantos meses juntas é difícil mesmo ficar
longe, não é? Vem....vamos mamar.
- Ela tem personalidade. – A enfermeira
lhe disse. – Parabéns. A senhora ganhou uma linda filha.
- Obrigada. Linda e geniosa. Exatamente
como eu desejava. Forte para enfrentar o mundo...e deixá-lo com a sua marca. Minha
Helen.
- Assim que ela mamar e a senhora
se ajeitar, têm visitas aguardando para entrar.
- É meu marido! Ele já esteve
aqui e deixou as flores. Mande-o entrar!
- Não. Amigos seus estão aí fora.
O seu marido eu não vi hoje, ainda.
Rachel estranhou, mas não
questionou. Logo ele deveria aparecer. Com George. E seus filhos iriam se
conhecer. Quando terminou de amamentar, Helen foi colocada em um pequeno berço
ao lado de seu leito e após rápidos cuidados com o visual, ela recebeu as
visitas. Primeiro Peter e Ell.
- Parabéns, Rachel. Onde está o
Neal? – Peter estranhou a ausência do
amigo. – Jurei que ele não arredaria o pé daqui.
- Ele esteve, deixou essas
flores. E sumiu!
- Eu vou ligar para ele. Temos
uma decisão importante hoje. Ele te falou?
- Sim, Peter. Estou nervosa com
isso.
- Chega, Peter! Não é hora de
falar nisso. Veja como Helen é linda. – Elizabeth estava encantada e já com
saudade do nascimento de Valentina. – Será ruiva como você.
- Sim, será. Minha Helen.
Depois Rachel recebeu Diana, numa
passada rápida antes de seguir para outro compromisso. Nicolle chegou exigindo
dar colo à neta. E as duas se acertaram muito bem. Helen adorou os braços de
sua avó.
- Vovó vai brincar com você, dar
papinha, te levar no parque. Tudo, tudo, tudo o que você desejar, meu amor.
Mozzie também apareceu logo cedo.
E exigiu tomar a ‘Diabinha’ da avó. Disse que tinha seus direitos.
- Acostume-se ‘pequena-Rachel’.
Titio Mozz passará muito tempo ao seu lado e vai te ensinar coisas muito legais.
Quando Rachel já estava chateada
pela demora de Neal e George, a chegada de mais amigos distraiu-a. Henry encantou-se
pela menina. Mãe e filha estavam ótimas.
- Fiquei sabendo que logo estará
na rua. Fico feliz por você, Rachel.
- Eu estou ansiosa por isso,
Henry. Muito. Quero ver a rua, passear com meus filhos, trabalhar.
- Logo.
Rachel já tinha se despedido dos
amigos quando Neal chegou. Era tarde para quem disse vir pela manhã. Mas ele
chegou com um sorriso tão lindo e trazendo George. Impossível reclamar.
- Oi Helen! Eu sou o seu irmão. –
George tratou de se apresentar. – Ela não faz nada? Não fala? Helen! Fala
comigo!
- Calma, filho. – Neal disse
bagunçando os cabelos do filho. – Logo, logo ela vai estar falando com você. Não
vai beijar a mamãe?
- Oi mãe! Agora você vai vir pra
casa né?
- Sim, meu amor. Logo, logo mamãe
estará com você, Helen e papai em casa.
Neal beijou-a nos lábios. Sentia
falta daquele carinho sem grades nem guardas do presídio. Sua vida estava
voltando ao normal. Mas estranhou ver seu marido com flores.
- Mais? A cesta já era tão linda,
amor. Não precisa trazer mais. Eu amei seu presente.
Mas aquela cesta não era de Neal
e ficou claro em seus olhos que aquele não era apenas o presente de um amigo. Neal
aproximou-se da cesta e viu ter, além das flores, dois pequenos embrulhos e um
cartão.
Leu o texto breve em voz alta:
‘Mãe e filha merecem ser
agraciadas feito rainha e princesa no dia de hoje, momento tão importante em
suas vidas. Parabéns pela chegada de Helen, Rachel. Estou ansioso por conhecê-la.’
Ass: Nohan.
Trêmula, Rachel ouviu as palavras
e assistiu Neal abrir os presentes. Nohan era mais estranho do que imaginava.
Mandar apenas flores já seria demais. Mas presentes e com aquele bilhete era
como um recado. Quando viu o conteúdo dos pacotes, seu incômodo aumentou. Tratava-se
de uma linda e minúscula pulseira de pérolas para Helen. E um colar trazendo mãe
e filho, cercados por pedrarias e ouro envelhecido. Rachel viu no olhar de Neal
a raiva do marido por aquele presente.
- Diamantes e rubis. Legítimos! –
Seu olhar de especialista reconheceu a autenticidade das pedras
instantaneamente. – Quem ele pensa que é para lhe enviar uma joia assim? O que
esse cara quer!?!?!?
Essa dúvida também persistia na
cabeça de Neal.
Nota das autoras: desculpem o cap pequeno, mas vou viajar no feriado e não quis deixá-los sem capítulo. Bjss