Os
dias que se seguiram foram agitados e desagradáveis para Elizabeth. Após
despachar Miguel e ir para casa sozinha, como em tantas noites, ela estava
tranquila. Já tinha agido assim com outros homens e nunca sentiu-se culpada. Trabalho
era responsabilidade, homens uma distração. Mas o passar das horas trouxe um
sentimento novo. E um certo arrependimento. Os lençóis pareceram frios demais
naquela noite.
O dia seguinte
apenas piorou seu ânimo. Ela trabalhou como sempre. Rebecca fez avanços nas
investigações que arrancaram elogios de Tom. Matt lhe disse que tinha
solicitado habeas corpus para Patrícia e, mesmo com a tradicional lentidão da
justiça brasileira, logo ela deveria ter uma decisão favorável e ganhar uma
liberdade temporária. Tudo estava certo. Mas faltava algo. E esse algo tinha
nome, sobrenome e telefone. Miguel a ignorou durante todo o dia. Ele realmente
ficou magoado por passar a noite lhe aguardando e ela tê-lo dispensado após um
beijo. Ele não ligou e ela sentiu falta daquela atenção no meio da tarde. Por
orgulho, também não lhe procurou. Estava decidida a tentar manter uma distância
até que tudo estivesse resolvido. Mas era duro ficar mais de 24hs sem ouvir
aquela voz rouca lhe chamando de ‘Liz’, apesar dela sempre lhe xingar por isso.
Quando
o novo dia se apresentou, ao abrir a janela de seu quarto às 6h45min, Elizabeth
deu boas vindas ao sol que entrava e pediu por um dia melhor. Estava descansada
apesar das poucas horas de sono. Sua única decepção foi pegar o celular e não
encontrar nenhuma mensagem de Miguel. Sua chateação não era tão passageira
quanto imaginou.
-
Tem de se acostumar a ouvir um não, Miguel. Nem sempre terá tudo o que deseja.
– Falou enquanto preparava uma xícara de café.
-
Poderia ser para a Eva essa frase. – Bia entrou falando.
-
Nada disso, Bia. A Eva é muito obediente se comparada ao Miguel. Aquele homem
não aceita não.
-
E você está caidinha por ele, não é?
-
Caidinha não. Eu reconheço que ele é bonito, atencioso e gostoso. Mas não pense
que vou fazer todas as suas vontades. Porque não vou. Minha carreira é a
prioridade.
Beatriz
observou a irmã por um longo tempo antes de fazer uma pergunta mais íntima, que
há bastante tempo desejava. A relação delas era muito próxima, mas ainda assim
Liza sempre a deixou afastada quando o tema era sentimental. Não sabia se
Elizabeth teve em algum momento um grande amor. Ela nunca lhe falou nada assim.
Nunca caiu de amores por nenhum colega da escola. Jamais abandonou a faculdade
para sair com um paquera. E, agora, já com 31 anos, mantinha-se solteira e
relutante em se entregar a um relacionamento com Miguel Benitez.
-
Eu acho ótimo que Miguel seja teimoso. Só assim pra não desistir apesar de
todos os foras que você dá. Você não quer mesmo ter um companheiro, Liza? Vai
querer envelhecer sozinha? Sem criar uma família?
-
Eu tenho você. Tenho Eva. Tenho Matt. Não preciso de um homem para criar
família.
-
Mas...Miguel mexe com você, não mexe?
Liza
riu da irmã antes de responder. Beatriz sempre fora a mais romântica e sonhadora.
Para ela a ideia de ser solteira era muito desagradável. Por isso emendou um namorado
no outro até conhecer Rafael, um workaholic que nunca tinha tempo pra ela
enquanto jurava amor eterno, casar e engravidar logo depois. O resultado foi o
divórcio em menos de um ano de casados. E Eva sendo criada pela mãe e recebendo
mais pensão alimentícia do que atenção por parte do pai. Mesmo assim Beatriz
seguia acreditando em conto de fadas.
-
Mexe, Bia. Mexe muito. Como se eu estivesse num liquidificador. Mas não vai me
fazer perder a cabeça. Miguel é maravilhoso, mas ainda assim é rico, envolvido
num escândalo policial e, se isso fosse pouco, a mãe dele não me suporta.
-
O que não significa que não acontecerá nada. Ele pode nem ligar pra mãe dele e
investir em vocês. Parece que está disposto. E se te pedir em casamento? O que
você faz?
-
Não pira, Bia! Não vai ter casamento. Eu não pretendo me amarrar em homem
nenhum. Agora...por falar nisso...e o pai da Eva? Alguma aparição?
-
Nada. Eu já desisti, Liz. Se nem no aniversário de Eva o Rafael conseguiu lhe
dar atenção, nunca terá tempo. Ele só liga pra empresa dele. Devo agradecer que
paga a pensão e não se nega a ajudar quando eu preciso de
algo...financeiramente. Mas nunca estará com a gente. Ele não era o meu
príncipe, definitivamente!
-
Chega de papo, Bia. Eu vou trabalhar e não tenho hora pra voltar. A noite vou
para uma operação bem importante.
-
Ok, senhora policial...e liga para o Miguel!
Já
na polícia e depois de muito evitar e adiar, Elizabeth ligou. Miguel não
atendeu sua ligação. E isso a magoou bastante. Ele estava claramente
castigando-a por não ter aceito passar a noite com ele.
-
Então não atenda! Se pensa que irei rastejar, está é muito enganado! – Gritou
sozinha em sua sala.
Matt
atendeu a seus clientes com uma urgência maior que o normal naquele dia.
Adiantou a todos os compromissos de seu pequeno escritório para voltar ao
presídio e rever Patrícia. Estava fazendo o que podia por ela e deveria agora
prepará-la para depor ao juiz. Se tudo corresse bem, ganharia liberdade para
acompanhar de casa o andamento do processo. Ela era a vítima. Não merecia ficar
encarcerada.
Já
era o terceiro dia após seu primeiro encontro e notou nela uma cor melhor.
Provavelmente, mesmo uma cadeia brasileira era mais saudável do que uma vida
escravizada, tendo de se prostituir para vários homens a cada noite ou se
prestar aos caprichos de apenas um e tornar-se capacho dele.
Ficou
olhando-a nos olhos durante alguns instantes sentindo uma profunda pena daquela
juventude jogada fora. A pena tornou-se raiva quando sentiu o cheiro de
cigarro. Ela esteve fumando. E o pior era imaginar como conseguiu a droga
lícita que entrava nos presídios como moeda de troca. Infelizmente é muito
comum que os guardas ‘ajudarem’ as detentas, recebendo algum pagamento. Sexual
na maior parte das vezes.
-
Como conseguir cigarros, Patrícia? Eu não te trouxe...- E agora ele se
arrependia de não ter atendido ao pedido. – Foi algum policial, não foi? Você
se prostituiu aqui dentro...por alguns cigarros.
Era
deprimente ver o quão pouco o corpo passava a valer depois de ser tão usado.
Ela mal estava saindo dessa vida e já tinha caído na mesma armadilha. Como
seria quando ganhasse a liberdade?
E Patrícia
sequer se preocupou em negar. Ainda assim, abaixou a cabeça e fugiu do seu
olhar antes de assumir.
-
Eu não tenho muito com o que barganhar. Preciso de cigarro e o único a vir me
ver não quis me trazer...tive de pagar com a única moeda disponível.
-
Diz o nome do carcereiro. Agora! Isso é abuso de poder. Nem era para ter homem
trabalhando aqui e se tem é porque nem sempre conseguem mulheres o bastante
para atuar nesses postos, mas eles não podem molestar vocês. Tem de
respeitá-las.
Ela
riu da sugestão de delatar o guarda.
- Tá
na cara que você não vem muito aqui. É muito idealista Matt. As coisas não são
assim.
-
O nome, Patrícia. Agora.
- Nem
pensar. Depois ele descobre e me desmonta à pancada. Vou ficar é quieta. E
você? Me tira daqui quando?
Por
mais raiva que a resposta trouxesse, era digna de atenção. Ela estava realmente
à mercê dos que ali trabalhavam e ele não desejava colocá-la numa situação
ainda pior. Além disso, Patrícia dava sinais de ter medo. Natural depois de
tudo o que lhe contou.
-
Em alguns dias você será chamada para depor e contará toda a sua história. Dará
ênfase a parte de ter trazido drogas obrigada por um homem que te ‘comprou’ de
um esquema de prostituição. Dará todos os detalhes que puder sobre Nikolay.
-
Eu não sei muito dele.
-
Terá de convencer o juiz de que é uma vítima e não alguém envolvido no esquema.
E isso só conseguirá entregando informações úteis. Entendeu? – Depois ele
suavizou a voz. – E...eu vou lhe mandar cigarros. E o que mais precisar.
Entenda que não é mais uma prostituta e não precisa disso. Eu vou te ajudar.
-
Obrigada. E depois que eu sair daqui?
-
Isso a gente vê depois.
No
meio da tarde, quando o mau humor de Liza já era comentado pelos corredores da
Polícia Federal e seus colegas já evitavam entrar na sua sala, uma notícia
surpreendente chegou dos EUA. Após uma denúncia anônima, a polícia americana
afirmava já saber a localização de Javier. A operação ficaria a cargo deles e,
caso o resultado fosse o esperado, em alguns dias ele seria deportado e
entregue a justiça brasileira.
-
Quando farão a operação?
-
Em duas horas. Logo saberemos. – Tom a informou. – Em breve daremos fim a esse
caso. Parabéns, investigadora. Você conseguiu trabalhar com profissionalismo, mesmo
não sendo uma situação fácil.
-
Eu aceitarei o parabéns quando o culpado estiver algemado à minha frente. Não
antes. Essa prisão vai tirar muitos problemas da minha vida.
-
Eu sei que você fez o seu melhor, Elizabeth. – Tom confiava nela acima de tudo.
Por isso fechou os olhos para seu envolvimento pessoal com um dos investigados.
- Agradeço
a confiança. – Respondeu Elizabeth antes de se despedir do chefe. Era hora de
se preparar para a sua operação. Mas Miguel continuava em seus pensamentos. - Se
você não fosse tão infantil, Miguel, eu poderia te contar que logo não teremos
uma investigação entre nós. Mas você não atende ao telefone! – Ela disse com
raiva.
Elizabeth
e sua equipe não puderam ficar aguardando notícias. Tinham a própria operação
para cumprir. Um endereço afastado, porém nobre, abrigaria uma ‘seleção’ de
mulheres sob o pretexto de fazer apresentações na Europa por boa remuneração.
Se embarcassem, nunca mais retornariam. Golpe era conhecido e divulgado, mas
ainda atraía jovens carentes na esperança de um futuro melhor.
-
Belo lugar hem? – Rebeca comentou ao entrarem. As três mulheres da equipe iam
na frente para não gerar desconfiança. Passavam por candidatas. Os homens
viriam logo atrás, para completar a operação.
-
Querem fazê-las acreditar que esse tipo de riqueza fará parte de suas vidas. –
Liza respondeu. – Mas hoje o show é nosso.
Quando
chegaram, viram cerca de 15 mulheres sentadas aguardando enquanto uma já
dançava sensualmente um samba à frente de três ‘jurados’. Na saída outros dois
homens, seguranças, disfarçavam armas sob as roupas. A garota negra que dançava
terminou sua apresentação e ouviu elogios. Disseram que ela era, certamente,
uma forte candidata. Em toda sua inocência, a jovem foi sentar-se com os olhos
brilhando de esperança.
Um
dos homens sentados na mesa de jurados olhou para Elizabeth, Rebecca e Carla e
percebeu haver algo errado. Elas não pareciam mesmo jovens dispostas a dançar.
Após um olhar, os seguranças seguiram para a porta.
-
Você! – Disse o jurado apontando para Elizabeth e gerando reclamações das que
chegaram antes. – Samba ou funk?
-
Nenhuma dessas é meu forte. Sinto muito. – Ela sacou a arma e apontou para a
mesa. Rebecca e Carla já tinham os seguranças no alvo. – Não se mexam ou eu
atiro. Todas as garotas fiquem sentadas onde estão.
Acompanhando
tudo pela escuta, a equipe de apoio entrou para render os criminosos. Começaram
com os dois que estavam na porta e cinco disparos foram feitos. Por sorte,
ninguém foi atingido.
-
Vocês estão presos por formação de quadrilha e tráfico de pessoas. – A gritaria
entre as garotas começou e Elizabeth tratou de esclarecer as coisas. – Todas
vocês serão liberadas após depor. Essa quadrilha entra nas comunidades
prometendo emprego na Europa, mas faz das garotas escravas sexuais.
Somente um
dos que escolhiam as mulheres tentou dificultar a prisão alcançando uma arma
trazida às costas. Rebecca foi rápida no gatilho e lhe atingiu o centro da mão
antes que ele pudesse disparar contra Elizabeth.
-
Belo tiro, Policial. – A chefe a elogiou. – Terminar o dia no pronto-socorro
não estava nos meus planos mesmo.
-
Sua vagabunda! Minha mão! – Gritou o homem. – Eu faço eventos...não sou
traficante. Meu advogado vai acabar com vocês!
-
Temos muitos eventos no calendário penitenciário. Não se preocupe.
Elizabeth
pretendia coletar os depoimentos ainda naquele fim de tarde, mas foi impedida.
O baleado precisava de atendimento médico e teria de ficar para o outro dia.
Algo lhe dizia que ele era o único que iria lhe falar algo de interessante.
Eram peixes pequenos e, naquele momento, o líder da quadrilha já estava sabendo
da ação policial e tratando de esconder qualquer possível pista. Se essa fosse
a mesma quadrilha para a qual Javier usou a BTez a fim de lavar dinheiro, seria
ótimo. Mas isso era improvável. Eram muitos a sugar esse mercado ilegal.
Já
a outra razão a deixou bem mais feliz. Tom trouxe a notícia de que a denúncia
anônima foi certeira. Javier estava instalado numa casa discreta e,
possivelmente, logo iria fugir para Europa e continuar seus negócios
criminosos.
-
Em no máximo uma semana estará aqui e à sua disposição para um depoimento.
-
Mal posso esperar pra ter esse tubarão enjaulado. Os peixinhos de aquário vou
deixar para enquadrar amanhã.
-
Vá descansar e...pode avisar o Benitez. A filha já foi informada da prisão e a
família receberá um aviso oficial.
Eram
18hs e Elizabeth sabia que Miguel ainda estava na empresa. Devido as
dificuldades, ele ficava na BTez até mais tarde diariamente ou levava o
trabalho para jantares de negócios. Ao entrar pelo hall da empresa ela não
contava, no entanto, em ver Rúbia e Alejandra de saída.
-
O que faz aqui? – Rúbia questionou-a.
- Boa
tarde, Dona Rúbia. É um prazer revê-las. Eu vim falar com Miguel.
-
Podemos saber o assunto? – Alejandra questionou.
-
Não, não podem. Perguntem para ele depois. Agora se me permitem, vou subir.
Elizabeth
não precisou falar com a secretária. Miguel estava na recepção falando de
assuntos leves e liberando-a para ir descansar. Quando a viu sua expressão foi
uma mistura de espanto com felicidade. E Elizabeth soube que ele também
ressentiu-se dos dias de afastamento. O orgulho foi grande. A saudade maior.
-
Vá para casa, Clarisse. Vou atender Liz e logo irei também.
-
Mas o senhor disse para sua mãe que tinha muito trabalho. – A secretária
comentou.
-
Ela queria minha companhia para uma peça de teatro com Alejandra. Não estava
nos meus planos. Boa noite Clarisse. Nos vemos amanhã. Venha, Elizabeth.
Ao
fechar a porta do escritório, a saudade pesou mais e a mágoa foi esquecida.
Encostados à porta, os lábios se encontraram sem pensar em mais nada. Foram
alguns minutos de um beijo longo e intenso, capaz de descarregar a ânsia
acumulada no afastamento.
-
Precisamos conversar, Miguel. Tem coisas impor...
-
Eu preciso de você agora. Deixa o resto pra depois, minha investigadora
birrenta.
Elizabeth
jurou que Miguel iria colocá-la sobre a mesa do escritório e continuar beijando-a
e acariciando-a. Ele fez tudo isso, mas surpreendeu-a ao tirar o paletó e
arrancar a gravata com uma agilidade exagerada. Ele não pretendia parar.
-
Miguel! Nós estamos no seu trabalho...e...
-
Correção, Liz, estamos na minha empresa! Aqui eu mando. Faço o que desejo e
agora eu só desejo você. – A camisa também foi atirada no chão. – Tira a
roupa...ou vai deixar para eu tirar cada peça?
Ela
não iria negar o prazer que ele oferecia e começou descendo do salto e tirando
a saia. A blusa preta de couro Miguel atirou longe antes de soltar o sutiã. Em
poucos minutos os dois estavam nús e com os corpos colados.
-
Assume que sentiu minha falta, Liz. Diz! Eu quero ouvir.
Os
papéis que Clarisse havia habilmente organizado sobre a mesa foram descartados
e amassados. Elizabeth estava com as costas completamente apoiadas no tampo da
mesa enquanto Miguel lhe puxava a calcinha lentamente e fazia com que as pernas
se cruzassem em sua cintura.
-
Eu não quero ficar longe de você, Miguel. Não gosto.
-
Ótimo. Porque eu não pretendo deixá-la se afastar mesmo. – Ele sentia-a
tentando erguer o quadril para apressar o contato na região mais íntima.
-
Você está quente demais, Liz. Terei de esfriar você. – Ele lhe soltou as pernas
e se afastou. – Fica assim. Quero continuar vendo você oferecer seu corpo para
mim.
Miguel
não foi longe. Deu apenas alguns passos para alcançar o lugar onde havia um
pequeno bar, com um balde de gelo. Pegou algumas pedras para perturbar Liz.
Quente como ela estava, logo derreteriam no contato com sua pele.
-
AAAAAA isso é muita maldade, Miguel. – Ela gritou quando sentiu-o circundar seu
mamilo esquerdo com o gelo e deixou-o ainda mais sensível ao toque. – É o meu
castigo?
- É!
Não devia ter me tratado daquela forma...mas aposto que gostará desse castigo.
Uma
das pedras teve destino certo. Miguel colocou-a dentro dela, na vagina, e
segurando-lhe as mãos pediu para que mantivesse a pedra até que se desmanchasse
completamente. Elizabeth foi se contorceu enquanto ele lhe acariciava os seios
com a boca fazendo o corpo ferver enquanto lá embaixo a pedra gelada
contrastava. Elizabeth gemia e erguia o quadril esfregando-se contra Miguel e
sentindo o membro ereto.
Miguel
até pensou em seguir, mas resolveu que bastava de tortura e assim que a pedra
transformou-se em gotas de água entrou nela totalmente. Manteve-a com as pernas
bem abertas e aprofundou-se o máximo possível. Estavam entregues um a outro e
sentiam-se livres.
-
Está tão quente que nem parece ter abrigado aquele gelo, Liz. Está fervendo.
-
Você me põem fogo, Miguel. Só você. – Miguel começou a se mover com força e Liz
a gritar. – Que merda! Não precisava ser tão gostoso. Vai, vai, com força!
Vai...vai....isso.
Não
pararam até ambos chegarem ao orgasmo. Ela um pouco antes, com gemidos
abafados. Ele logo depois. Com um grito só dado pela certeza de que não havia
mais ninguém no andar.
Depois
escorregaram para o chão e esperaram a respiração e as batidas do coração
voltarem ao normal. Não falaram por algum tempo, até que decidiram ser hora de
parar com a brincadeira e falar sério.
-
Eu não vim aqui só para te ver...é bom que isso fique claro. – Elizabeth
afirmou enquanto procurava seu sutiã.
-
Não? Isso foi muito ruim para meu ego, Liz. Então me conte porque veio.
-
Bom...além de te ver, vim para contar que seu tio foi encontrado. Estava nos
EUA e será deportado. Em no máximo uma semana ele estará preso temporariamente
aqui no Brasil. Eu vou interrogá-lo e, a menos que ele consiga explicar porque
todas as pistas me levam até ele e porque fugiu, será denunciado. E você estará
definitivamente inocentado.
-
E ficará definitivamente confirmada essa mancha na história da BTez. Os
acionistas vão adorar isso. Merda!
-
Está com problemas muito sérios na empresa? Eu sinto por isso.
-
Não ficarei pobre, Liz. Mas é questão de honra não permitir a queda da empresa
de papai. Eu vou transformá-la em líder de mercado. É o que faria papai feliz.
-
E o que faz você feliz, Miguel?
-
Ter uma investigadora federal gostosona na minha cama ajuda bastante. – Ele
brincou para aliviar o assunto. – Imagino que você não queira dormir lá em
casa. Então escolha entre o seu apartamento ou um hotel.
-
Eu estou cansada. Meu dia foi cheio...e amanhã será também. – Liza procurava
uma forma de dizer não sem criar um novo conflito.
-
Eu também estou cansado, Liz. Isso não nos impede de dormir juntos.
-
Mas...
-
Mas nada. – Estava decidido. – Não é apenas quando quer sexo que um casal se
encontra. Estou satisfeito de sexo por essa noite, mas ainda quero a sua
companhia. Hotel ou sua casa?
Como
dizer não depois disso?
-
Hotel. Mas amanhã terei de sair cedo pra passar em casa e trocar de roupa.
-
Combinado.
Liz
dormir fora de casa não foi surpresa nem motivo de preocupação para Beatriz. A
irmã estava bem, ela sabia. Então foi dormir e só acordou no meio da madrugada
por conta de Eva.
A menininha
acordou com febre e ela foi para a cozinha lhe fazer um chazinho para dar
depois de um antitérmico.
As
4 horas da madrugada a febre ficou mais forte. Não houve alternativa se não
ligar para o médico. A mensagem de ‘fora da área’ não ajudou muito e logo o
desespero começou a aparecer. Eva não parava de chorar. O jeito foi chamar um
táxi e correr ao hospital. Mais de uma hora depois, ainda esperando na recepção
mesmo tendo plano de saúde, acabaram com a paciência de Bia. A explicação da
atendente a revoltou ainda mais.
-
Estamos sem pediatra nessa noite, Sra. O mais rápido possível o clínico geral
vai olhar sua filha.
Um
clínico geral não era o mesmo que um pediatra. Ainda mais um que jamais olhou
sua filha. Não a conhecia, não tinha as informações necessárias. Não iria ficar
tranquila. Então arriscou ligar para um pediatra que certamente iria poder atendê-la,
mesmo que a consulta com o clínico fosse satisfatória. Mal não faria.
-
Desculpe te acordar Will...mas você me deu seu telefone e... – Disse assim que
ele atendeu ao celular.
-
BIA! O que foi? – Ele assustou-se ao ser acordado pelo telefone as 5h20 da
madrugada. – É a Eva?
-
Está com febre, eu levei no hospital, mas não tem pediatra e...será que você
pode...
-
Claro. Volta pra casa. Eu já estou indo.
O
sol ainda nem havia nascido e Willian estava com Eva nos braços, examinando-a e
garantindo à Bia que não era nada grave. No máximo um resfriado. Ela estava
febril e enjoadinha, mas a temperatura não era preocupante.
-
Vamos dar um bainho morno combinado com mais uma dose do antitérmico e Eva vai
dormir mais tranquila. Não é mocinha? Sem sustos com a sua mãe, pequena.
Amanheceu
e Will tomou café da manhã junto de Bia. Ela, agora vendo não se tratar de nada
demais, sentia vergonha por tê-lo acordado. Will estava acostumado e gostava de
ajudar as mães naqueles momentos. Muitas vezes deu por telefone a orientação do
banho morno, mas desejava ver Bia e um dia agradeceria Eva pela ajuda.
-
Ligue sempre precisar...e quando quiser conversar sobre a Eva também e.... – O
recado era dado suavemente. Ele queria ficar próximo delas.
Bem
devagar Willian se aproximou e lhe roubou um beijo. Ela era delicada, apesar de
firme e decidida. Bia beijou-o com vontade. Mas depois foi franca quanto ao
relacionamento deles.
-
É bom te ver Will...mas...mas você vai embora logo e eu passei da fase de
brincar. Tenho Eva. Não sirvo para ser o seu caso de férias. Me desculpe.
-
Eu entendo, Bia. Não vou te forçar a nada. – Ele sorriu e se afastou. – Porque
não tinha médico? Era um hospital público?
-
Não! A clínica pediátrica particular onde tenho convênio de saúde. O médico de
Eva não atendeu ao celular e não tinha nenhum plantonista. Ainda bem que tem
você.
-
É, ainda bem que tem eu...descansa. Eu já vou indo.
-
Está bem. E muito obrigada.
Ao
sair, Will ainda viu Elizabeth chegando e a cumprimentou. Estava com a cabeça
cheia de dúvidas e saiu caminhando calmamente até seu carro. O sol brilhando no
céu ajudou para o seu bom humor. Do carro ele mandou uma mensagem de texto para
o celular de Bia.
[Desculpe ter te beijado. Mas eu quis. E ainda quero. Vamos jantar uma
noite dessas? Você pode trazer a Eva. Você não será só um caso de férias.]
Ao
entrar em casa Elizabeth também estava de bom humor. Não foi apenas o sexo no
escritório. Nem a noite nos braços dele. Tão pouco o sexo pela manhã. Era tudo.
Cada segundo. Cada toque. Até o cheiro de Miguel lhe fazia falta.
Trocou
meia dúzia de palavras com Bia, viu a sobrinha, tomou banho, trocou de roupa e
foi trabalhar. Tinha na agenda algumas burocracias e os interrogatórios. Pura
perda de tempo. Aqueles homens que prendeu na véspera sabiam que estavam
traficando pessoas e ela garantiria suas prisões. Porém, tinha certeza de que
eles desconheciam os chefes do grupo. Os grandes lucravam e se protegiam enquanto
os iniciantes se arriscaram.
No
meio da tarde Tom foi lhe procurar querendo uma preliminar do relatório sobre a
operação que comandou.
-
O maior resultado é ter impedido o tráfico de mais garotas. Não servirá de
muito para encerrar a quadrilha. Eu os interroguei mais cedo e nada de útil foi
apresentado.
-
E se apertá-los mais?
-
Já fiz, Tom. Dali não sai nada.
-
Então ficou por isso? Eles são soltos e fim. – Tom estava decepcionado.
-
Não exatamente. O caso de Javier, a prisão de Patrícia no aeroporto e agora
estouramos esse negócio deles. Eu estou irritando-os...vão se arriscar mais. E
nós vamos pegá-los.
-
Só cuidado para não irritá-los tanto para você não ser pega. Ok?
-
Está me dizendo para pegar leve? Logo você, Tom?
-
Não! Mas se cuide. Por favor.
Depois de
dar andamento em outros casos e analisar um processo de contrabando de armas,
Elizabeth liberou sua equipe. O relógio já marcava 18hs, mas ela ainda
pretendia analisar com calma os depoimentos de hoje, antes de anexa-los ao
inquérito. A verdade era que desejava encontrar ligação entre os casos. Ainda
pretendia mostrar fotos dos homens para Patrícia tentar reconhecê-los. Sem
nenhuma prova contundente, eles sairiam livres. Presos poderiam ser úteis.
Não
encontrou nenhuma prova, mas um indício lhe chamou a atenção. O homem que lhe
pareceu o líder do trio, Pedro Ferraz, tinha muitos registros de entrada e
saída do Brasil. Tinha apenas uma passagem pela cadeia e por furto. Nada
relacionado ao tráfico. Porém, em seu passaporte aparecia, no intervalo de dois
anos, diversas viagens e os destinos coincidiam com uma história que ouviu
recentemente. Grécia e Rússia. E foi na Rússia onde estouraram o cativeiro que
vinculou a BTez ao esquema.
- Está tudo
ligado. De alguma forma está! – Essa informação, por enquanto apenas uma
dedução, Elizabeth guardou para si. Era muito grave e ela teria de organizar os
pensamentos antes de passar para Tom.
Olhando para
o relógio e vendo que já passava das 11h30min, Elizabeth resolveu pegar sua
bolsa e ir para casa. Estava cansada e com fome e ainda tinha de se preparar
para outros compromissos no dia seguinte. Sua carga de trabalho andava grande
demais ultimamente. No subsolo do prédio, ao sair do elevador equilibrando
vários processos, viu apenas mais dois carros além do seu. Provavelmente outros
investigadores que faziam hora extra. O lugar estava totalmente vazio e só os
saltos de seus sapatos faziam algum barulho. De longe, liberou o alarme do
veículo e ao ver o celular dentro da bolsa, discou para Miguel.
-
Oi! Acordei você?
-
Não. Estou saindo de um jantar de negócios. E se tivesse acordado não tinha
problema. Ligou para me dizer que está nua na sua cama e pensando em mim?
-
Não! – A audácia dele a fez parar no meio do caminho. – Estou saindo da polícia
agora e carregando uma pilha de arquivos. Nada sexy.
-
Duvido. Você é sempre sexy. Deixa eu ir te encontrar?
-
Se eu disser que não você ficará magoado? Estou realmente cansada.
-
Não ficarei magoado...mas é só porque você lembrou de me ligar. E amanhã? Vamos
nos ver?
Ao
chegar mais próximo de seu carro, um barulho fez Elizabeth tirar a atenção do
telefone. O som ritmado vindo do veículo alertou-a e fez com que desse alguns
passos para trás. Havia algo de errado. À sua frente o carro começou a pegar
fogo e ela jogou tudo no chão correndo em busca do extintor de incêndios. O
carro explodiu antes dela alcançá-lo.
Ouvindo
o estrondo, Miguel soube que havia algo de muito errado. Ele chamava por
Elizabeth e só ouvia barulhos incompreensíveis.
-Liz! Liz! Elizabeth!
Elizabeth não respondia aos seus chamados. Até que a linha foi cortada. E ele ficou
completamente sem saber o que fazer. Restava apenas seguir até a polícia e
tentar entender o que se passou.
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