Ter de aguardar seis meses para ter a
certeza de que meus filhos e minha mulher sairiam dessa com 100% de saúde era
uma agonia interminável. Ao menos eu sabia que tudo estava correndo bem. A
fazenda era um lugar calmo e com total segurança. Isso, é claro, foi reforçado.
Os problemas de minha vida foram tantos que eu acabei deixando de lado
episódios estranhos e perigosos que ocorreram com Bella. Mas não esqueci! James
teve a coragem de fechar aquele maldito portão e forjar a batida do carro dela
e Tânia foi inconveniente muitas vezes. Meu pai foi bruto com ela e o tal Jacob
apareceu num dos poucos momentos onde estávamos juntos e felizes. Foram atos
desastrosos e decisivos para tudo de ruim ocorreu com eles e assim, tudo junto,
coincidência demais.
- Alô, Jasper? Preciso de algo que só
você pode fazer. É sigiloso!
- Se depender de Alice, eu não olho
mais na sua cara. Sabe disse não é?
- Sei, mas ela deveria se lembrar que
é por minha causa que vocês se conhecem. Ou você a viu pela primeira vez
rezando na igreja? Não né? Foi na perseguição à Bella.
- Isso é verdade! – Meu amigo
respondeu sorrindo.
- Vou encarar isso como um sim.
- Pode falar Edward. Não vou te deixar
na mão.
- Quero que investigue umas coisas.
Algo me diz que Tânia e James têm alguma ligação.
- Só pensou nisso agora? Depois de
tanto tempo!
- Eu estava cego meu amigo,
completamente cego.
- Ok, vou trabalhar nisso. – Eu podia
perceber a agitação tomando conta dele. Jasper gostava de desafios. – E Bella,
como está?
- Falei com ela hoje cedo. Está bem,
está se cuidando. E eu estou louco para ficar com ela. Se pudesse eu largava
tudo aqui e passava os próximos seis meses na fazenda alisando a barriga dela.
- Talvez esse afastamento faça bem.
Isso parecia a coisa que as pessoas
mais gostavam de me dizer. Queria ver se fosse com elas! Mas a vida seguia
relativamente comum, regada a muitas ligações para a fazenda.
- Eles mexeram?
- Uma ou outra vez. Mas não sinto
muito. Acho que deve ser muito apertado. Aí eles ficam paradinhos.
- É, deve ser isso. E você? Está se
alimentando bem?
- Claro! Não paro de comer, estou
sempre com fome.
- Ótimo. É...Bella...o que você acha
de eu ir aí no sábado...para ver você.
- Claro, pode vir.
Ficar com ela foi fantástico. No
início até fiquei triste pensando que as lembranças da nossa lua de mel me
fariam sentir falta de carinho. Não foi assim. Apensar de nos tratarmos apenas
com cortesia, o dia foi muito agradável. Minha vontade era beijar sua boca e procurar
cada mudança que meus filhos fizeram em seu corpo. Mas, não o fiz em respeito
ao que ela decidiu.
Aliás, suas decisões me preocupavam
cada vez mais. Bella pretendia sumir com meus bebês assim que eles nascerem e
eu me tornaria um pai eventual, um pai que veria os filhos apenas no final de
semana. Isso é inaceitável.
Por outro lado, depois de toda a
crueldade com que a tratei, porque Bella iria confiar em mim para criar nossos
filhos? Eu, no lugar dela, não os deixaria chegar perto de um maníaco capaz de
trancá-la em um quarto ou expulsá-la de casa em um dia chuvoso. Era um milagre
que ela tivesse conseguido segurar a gestação depois de passar por tantas
dificuldades. Mas ela conseguiu. Minha Bella é uma guerreira!
A primeira coisa que notei ao chegar
na casa da fazendo foram as flores que enfeitavam e perfumavam a grande sala
principal. Bella havia mudado todo o lugar, o ambiente agora tinha o seu jeito
e os empregados faziam todas as suas vontades. Eles não sabiam dos detalhes de
nossa relação e a aceitavam como a patroa, como a dona da casa.
-Como você está? – Não sabia bem se
podia, mas a abracei assim que cheguei.
- Tudo bem. Os bebês parecem bem
calminhos.
- Isso é ótimo, mas eu perguntei de
você. Quero saber como se sente, se está sendo bem tratada, confortável?
- Sim, é tudo perfeito aqui. – Ela
ficou encabulada. – Bom, a casa é sua. Não me sinto confortável em lhe oferecer
nada.
- Pode ser minha casa, mas é o seu
lar. Mas não se preocupe, depois vou ver o pessoal na cozinha e na estrebaria.
Agora quero tomar um banho e descansar da viagem.
- Claro! Eu vou me sentar um pouco lá
fora, depois conversamos.
Eu queria muito conversar com ela,
mostrar que não era aquele mostro que aparentei. Ao menos, não em tempo integral.
Iria me comportar bem! Tinha até trazido um presente. Nada demais, apenas uma
lembrancinha afinal ela não aceitaria uma joia. Tomei banho e desci com a caixa
nas mãos. Encontrei-a sentada na varanda, olhando o sol se por e alisando a
barriga já bem arredondada apesar de não ter completados nem quatro meses de
gestação.
- Trouxe um presente. Espero que
goste. – Coloquei a caixa em seu colo.
- O que é? É para os três?
- Não, é para a mãe deles.
Ela voltou a corar. Sorriu apenas ao abrir
o pacote e ver o kit com vários cremes para gestantes.
- A vendedora disse a futuras mamães
devem cuidar da pele. Espero que goste.
- Eu gostei, é claro. Mas sabe que
não precisa me dar nada.
- Acho que precisa não é a palavra
correta Bella. Eu...quero muito poder cuidar de você e minimizar o mal que te
fiz.
Ela não respondeu e logo falávamos de
outros assuntos. Passeamos pelas estrebarias e Bella me apresentou a Cesare, um
potro nascido a pouco com pelo castanho.
- Cesare é muito simpático e já
ganhou o coração de todos por aqui. Das crianças, em especial.
- Crianças?
- Alguns de seus empregados têm
filhos Edward. Não sabia?
- Sim, claro. – Sabia mesmo. Apenas
não pensava muito nisso.
- Eles vêm pra cá, brincam, acariciam
e mimam Cesare o tempo todo. Deve ser o potro mais mimado planeta.
- É, as crianças têm um carinho e
repeito especial pelos animais. – Imaginei três lindas crianças de olhos cor de
chocolate correndo pela fazenda e meu coração bateu a galope. – Os nossos
também vão amar esse lugar e mimar os animais. Você verá.
- Eu imagino que sim, mas não acho
que eu vá ver.
- Porque diz isso Bella?
- Ora Edward...não pretendo impedi-lo
de ver nossos filhos ou trazê-los para passar férias ou finais de semana aqui,
mas eu não farei parte desses momentos. Na segunda feira, quando você deixá-los
em casa, apenas ouvirei as milhares de histórias de suas aventuras com o pai.
Esse cenário onde nossos bebês mais
pareciam encomendas entregues pelo correio não me agradava. Eu tinha a
obrigação moral de oferecer à essas crianças. Além disso, a ideia de nunca mais
ter Bella era dolorida demais.
- Bella, você não acha que nós
podemos...tentar? Mais uma chance...é só o que te peço. – Supliquei.
- Não, Edward. Nós estamos separados e
assim ficaremos, mas não se preocupe, meus filhos vão morar comigo, com a mãe,
como é o certo, no entanto, jamais vou afastá-los de você. Garanto que saberão
o pai maravilhoso que você é.
- Pena que esse pai maravilhoso não
soube ser um bom marido. – Disse e me retirei para o quarto.
No dia seguinte tentei várias outras
aproximações e nada funcionou. Estava convicto de que, desta vez, havia perdido
Bella definitivamente. O sábado e o domingo passaram rapidamente. Quando
estávamos jantando e minha mala já estava ao lado da porta para logo eu partir
quando Bella disse:
- Quero muito que seja feliz Edward,
mesmo depois de tudo de ruim que minha chegada em sua vida trouxe.
- Não diga bobagens Bella. Você é
quem está me presenteando com o único presente que realmente já esperei na
vida.
- Quero te dizer uma coisa...na
verdade quero te contar o que se passou na noite do nosso casamento.
- Diga.
- Eu lhe contei que ainda muito jovem
descobri minha infertilidade. – Chegava a ser cômico ouvir Bella dizer isso com
o ventre volumoso por três bebês. – Eu me preparei para jamais gerar, sempre
soube que era impossível então jamais me permiti sonhar com a maternidade.
- Entendo.
- Meu pai nunca foi santo e eu sempre
soube que não podia confiar em suas tramoias. Só que era o meu pai, a única
pessoa com quem podia contar e, quando ouvi sobre seus problemas financeiros,
não resisti. Além do mais eu...e...eu...
- Diga Bella, pode confiar em mim.
- Eu tinha uma certa...paixonite por
você, eu o queria.
Sei que não deveria ficar feliz, mas
fiquei. Bella me queria antes mesmo de nos conhecermos!
- Só que depois fiquei com muita
raiva de seu pai e acabei transferindo um pouco desse sentimento ruim por você.
Eu estava sendo comprada! No início só sabia que você queria uma esposa e...que
pagaria bem por isso. Depois veio a história de que eu teria de parir uma
criança sua e...abandonar. Pode lhe parecer insano, mas foi muito fácil mentir
e dizer que teria um bebê e o deixaria com você para nunca mais velo porque eu
sabia que jamais esse plano imoral seria concretizado.
- Imoral não é a palavra certa. – Defendi
o desejo de meu pai...e meu.
- Imoral sim! Que nome você dá para o
ato de vender uma vida?!
- Continue Bella, por favor. Isso não
esclarece sua fuga precipitada. Afinal, se você me amava ou me desejava,
deveria ter ficado para consumar nossa união.
- Eu contava com que você descobrisse
minha infertilidade só depois e daí eu fingiria que também não sabia.
Pensar nessa Bella ardilosa e fingida
era doloroso.
- E o que a fez mudar os planos? –
Perguntei.
- Tânia!
- Tânia?! – Fiquei pasmo. Tânia
ficara sabendo do casamento e não esboçara nenhuma reação. Seus olhos eram como
pedras de gelo no momento em que afirmei que iria me casar com outra e que essa
outra seria a futura mãe de meus filhos. – Mas nem ligou para o fato de eu me
casar com você. Éramos apenas amantes, sem nenhum compromisso.
- Ora Edward, você mexeu com o
orgulho dela. Tânia pode até não amar você, mas jamais deixaria barato o fato
de ser desprestigiada. Se sentiu humilhada e soube revidar sem que você sequer
desconfiasse. Não sei como, mas ela investigou minha vida, descobriu meu
segredo e me ameaçou durante nossa festa. Eu tentei afastá-la, mas ela se
aproximou e mostrou uma cópia do exame que confirmava minha doença. Fiquei
desesperada porque sabia que você e seu pai iriam ficar furiosos com a verdade.
Tânia disse que vocês tinham marcado um encontro para aquela noite e, além de
uma rapidinha, ela lhe daria a prova da minha mentira. Eu fugi.
- E conheceu Jacob? – Esse era outro
que não me descia na garganta.
- Sim, ele me deu uma carona. Eu
precisava fugir para qualquer lugar e ele me ajudou muito. Nós chegamos a
namorar, mas, para mim, ele é apenas um amigo.
- Mas não para ele...
- Não, para ele não. Mas ele não
representa nenhum problema. Foi uma coincidência ele estar no baile e só me beijou
porque estava um pouco bêbado.
- Sei...- Eu não confiava nisso.
- Daí conheci Alice, começamos a
trabalhar juntas e minha vida tomou um rumo tranquilo.
- Até eu aparece e destruir tudo o
que você conquistou. Bella eu...eu fico feliz em agora saber o que se passou.
Vou fazer de tudo para recompensar o que lhe fiz e ajudá-la na educação de
nossos filhos. Você sabe que eu te amo e se mudar de ideia...meu coração é seu.
Ela me olhou profundamente e, por um
instante, achei que ia me aceitar de volta. Mas não foi assim.
- Melhor seguirmos assim Edward.
Logo depois, quando ela me
acompanhava até a porta para ir embora meu telefone vibrou. Era Victória. Olhei
para Bella que estava desconfortável com minha presença e achei que o melhor a
fazer por nós dois era seguir minha vida.
- Oi Vic! Como está?
- Bem eu...estou com saudades suas.
Podemos nos ver...quem sabe?
- Claro... eu estou na minha fazenda,
mas volto ainda hoje para Boston. Podemos jantar juntos amanhã. Que acha?
- Eu adoraria.
Me despedi de Victória e dei um
último abraço em Bella. Ela me olhava estranho após ouvir minha ligação. Não
achei que lhe devia alguma explicação.
Por: Bella
Victória? Quem é essa tal de
Victória? Seja quem for não era da minha conta. Minha prioridade agora era
cuidar de meus três bebês e fazê-los vir ao mundo lindos e fortes.
Três meses depois...
Alice estava me fazendo uma visita e
desembarcou na fazenda cheia de pacotes. Nada surpreendente se tratando de
Alice.
- É tudo triplo! Não posso presentear
mais uma do que outro Bella!
- Ali, você se superou dessa vez! Não
sei como o helicóptero não caiu de tão cheio.
- Que nada amiga! Se tivesse algum
risco eu tinha feito duas viagens. Sem presente meus afilhados amados não
ficariam. – Alice havia exigido ser a madrinha dos três, exagerada como sempre.
- E aí mamãe do ano... não vai me
contar como vai esse coração?
- Batendo.
- Pelo pilantra ainda?
- Não fale assim Alice! Ele é o pai
dos meus filhos e...nessa história eu também errei muito.
- Já vi que continua caidinha por ele.
- Não é isso e ele já está com outra
mulher e...acho que ela é bacana. Está fazendo bem a ele.
- Eu sei, Jasper me falou que ele
anda saindo com a tal Victória. Disse que ela é chique e elegante, mas um pouco
fria. Falou também que o Edward a considera uma companhia agradável, mas que
não a ama.
- O amor não nos fez darmos certo.
Talvez uma relação ‘mais fria’ seja o melhor.
- Você não acredita no que está
falando Bella.
- Chega Alice! Isso não me diz
respeito. Ele que fique com a ruiva fria então ou volte para Tânia. Problema
dele! – De uma forma ou de outra, ele não estaria comigo e eu estava fervendo
de ciúme. Mas isso eu não vou confessar nem para Alice. – Tenho uma dúvida
ainda mais séria.
- O que há? - Ela segurou em minhas mãos.
- Eu não sei se...posso ficar com os
bebês e não realizar o sonho dele. Ali...ele merece viver com os filhos, ele os
ama demais. Eu estou me sentindo mal por afastá-los. – Sem querer comecei a
chorar.
- Calma Bella! Amiga, você não vai
afastá-los! Edward poderá ver os filhos sempre que desejar.
- Ver não é o mesmo que conviver.
Alice, você não vai me entender...é que a cada vez que Edward vem aqui eu vejo
ele se realizar ao se envolver com seus filhos.
- E você também os ama Bella.
- E eu achei que jamais poderia ter
sequer um filho. Deus me presenteou com três bebês e agora eu me sinto uma
pessoa ruim, egoísta e má por não oferecer essa benção ao pai de meus filhos.
- Você está pensando em abrir mão
deles Bella?
- Eu não sei!
Depois de chorar mais um pouco nos braços
de minha amiga, fui dormir pensando em que atitude tomaria. E seria logo,
sentia que não tinha muito tempo para decidir. Isso, apesar de ainda ter três
meses até o parto. Eles estavam fazendo uma espécie de rodízio para não me
deixar sem visitas em nenhum final de semana. Mas nessa semana Edward teria uma
surpresa. Combinei com Alice que iria com ela no domingo a noite e ficaria num
hotel em Boston. Ela disse que deveria avisar Edward ainda naquela noite, mas
eu não quis. Ele poderia estar com Victória eu não desejava atrapalhar a noite
deles. Na verdade, querer eu queria, mas não o faria.
Então, na segunda-feira no início da
tarde entrei com minha enorme barriga no prédio onde Edward trabalhava. Quando
a secretária me anunciou ele a deixou falando sozinha e logo corria abrindo a
porta e vindo nos abraçar, eu e aos seus filhos.
- Que faz aqui? É a alguma consulta
médica que eu esqueci?
Eu entendi a pergunta. Todas as vezes
que deixei a fazenda ele estava comigo. Acompanhou cada consulta e cada exame
com uma dedicação única. Ele chorava ao meu lado no dia que vimos que se
tratava de duas meninas e um menino.
- Não.
- Ficou com saudade da cidade então?
- Na verdade Edward...vim para
conversar com você. – Somente naquele momento eu resolvia o que fazer. Seria
doloroso, mas era o certo.
- Então vamos sair para conversar.
Abriu uma confeitaria aqui perto com umas tortas que você vai adorar.
- Eaaa Sr. Cullen na verdade...a sua
agenda está lotada. Alías, o advogado que tem reunião marcada já deve estar
chegando. – Disse a secretária.
- Então é bom irmos logo Bella, antes
que ele chegue. – Ele se virou para a funcionária. – Para que o advogado não
perca a viagem, peça que Emment o atenda. Vão se entender bem, estou certo. Os
demais compromissos você cancela. Hoje eu não retorno ao escritório.
- Ok.
Já na fantástica confeitaria e com
uma enorme fatia de torta de chocolate à minha frente eu comecei a explicar
minha decisão. Comecei dizendo que sabia o quanto ele seria importante aos
nossos filhos.
- Bella, sinto que você está
protelando algo. Fale logo o que é tão importante para você ter feito essa
viagem só para conversarmos.
- Decidi que não posso tomar seus
três filhos e apenas deixá-lo visitá-los. Você merece ter a experiência do
dia-a-dia, ser presente e não apenas uma visita.
- E???
- Sei também que ter um filho homem
para assumir seus negócios é muito importante e decidi que.
- Esqueça os negócios Bella! Eu me
preocupo com isso. Deve se preocupar apenas com nossa família e a felicidade de
nossos filhos.
- Eu sei e para um menino o pai é tão
importante, ele terá você como um guia. Edward eu...eu decidi que nosso menino
deve viver com você e nós vamos fazer com que eles convivam e, mesmo assim,
sejam unidos.
Edward não disse nada. Apenas chorou
por alguns minutos sem se preocupar com estarmos em um lugar aberto cheio de
pessoas nos vendo. Sem pensar ele se levantou, veio até mim e se abaixou para
beijar minha barriga.
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