Na
sala de espera do hospital todos se olhavam. Henrique, Shepherd, Diana, Jones,
Peter, Elizabeth e Neal esperavam. E a cada segundo que passava tinham a
certeza de que algo errado ocorria. Neal andava de um lado para o outro. Chegou
correndo ao hospital achando que logo ela estaria liberada, mas não foi assim.
Já fazia 1 hora e não tinha visto Rachel ainda.
Peter
estava nervoso. Olhar para Neal fazia a sensação piorar ainda mais. Ela levou
aquela bala na tentativa de ajudá-lo. E essa demora exagerada começava a gerar
preocupação. Rachel levou um tiro de raspão. No braço. Perdeu bastante sangue,
mas estava longe de ser um ferimento grave. Ele a tinha visto. Sabia disso. E
não entendia porque ela estava sendo mantida na área restrita por tanto tempo.
Ninguém, nem mesmo Neal, foi autorizado a entrar para vê-la.
-
Eu preciso de notícias sobre uma paciente. – Ele cansou de esperar e foi até a
recepcionista. Neal o seguiu de perto. – Rachel Turner. Era um caso simples! Já
era para ter sido liberada.
-
A senhorita Turner está sendo atendida pela enfermeira chefe do hospital. Ela
está em boas mãos. Não precisam se preocupar.
-
Eu quero vê-la. Agora! – Neal disse.
-
Infelizmente é impossível. A enfermeira Vivian Sanford
não liberou entrada de ninguém porque a paciente está fazendo exames. Só haverá
visitas em caso de internação.
- Mas ela só levou um tiro! – Peter
gritou como se um tiro fosse pouco. – Ora! Diga que é Peter Burke, do FBI! Eu
quero falar com ela.
Peter e Neal lembravam-se de Vivian
Sanford. A enfermeira chefe que se negou a entregar o exame médico de Rachel no
dia em que ela fugiu do hospital. Ela e Peter se desentenderam. Praticamente
discutiram e, para ter acesso ao resultado que mudou a vida de Neal, tiveram
que conseguir um mandado judicial. Vivian Sanford os tinha atrapalhada bastante
para ser leal a uma paciente, detenta à época. Segundo ela, a fim de respeitar
o direito da paciente.
A demora estava realmente longa
demais para quem tem apenas de fazer um curativo no braço. A enfermeira Vivian
tinha feito muito mais que isso. Rachel chegou ali muito assustada. Lembrava
claramente do que aconteceu quando levou um tiro estando grávida de George.
Passou muito perto de perder seu menino. Tinha medo de tudo se repetir. Quando
reconheceu a chefe da enfermagem, sentiu-se melhor. Aquela mulher a tratou com
muito respeito quando esteve ali vestindo um uniforme laranja. E desde a
primeira vez que a viu percebeu que tinham algo em comum: ambas não gostavam do
FBI. Vivian Sanford podia não saber ainda, mas seria muito útil.
Quando Vivian se aproximou trazendo
uma jovem enfermeira junto, Rachel começou a chorar. Fazia parte de seu plano.
Se já havia levado um tiro e estava dentro do hospital, porque não aproveitar
para fazer todos os exames que precisava. Se alguém poderia ajudá-la a enganar
Peter, esse alguém era Vivian Sanford.
- Está sentindo alguma dor? – Disse
a mulher. Ela não havia reconhecido Rachel. – Vamos lhe dar um calmante.
- Não! Não são de calmantes que
preciso. Lembra-se de mim? Eu sou a detenta que fugiu grávida do hospital há quase
2 anos. Rachel Turner. Apenas não sou mais ruiva. – A mulher a observava
tentando se lembrar. – Eu fugia do FBI...tentando esconder meu bebê deles.
Rachel sabia que ela tinha a
tendência a desgostar de agentes. Usaria isso para convencer a enfermeira a
ajudá-la. Teria que contar algumas mentiras e usar a antipatia de Vivian por
Peter Burke. Seria fácil.
- Sim. Eu me lembro. – Ela sorriu. –
E como está seu bebê?
- Eles o tomaram de mim. – Rachel
fez sua melhor expressão de sofredora. – Tomaram o meu filho e me obrigam a
trabalhar para eles no FBI.
- Como fizeram isso? – A enfermeira
já tinha escolhido seu lado.
- Com isso. – Ela mostrou a
tornozeleira. – Eu cometi alguns erros na vida e me obrigam a ajudá-los em
casos do FBI me mantendo nessa tornozeleira. E me tiraram meu pobre bebê.
- Eles não podem fazer isso! –
Vivian disse.
- Você não sabe o quanto o FBI é
cruel.
- Que coisa mais triste Rachel. Eu
lembro bem daquele agente que a caçava. O Burke...ele veio aqui e tentou mandar
em tudo com o seu distintivo. Mas nessa enfermaria quem manda sou eu. – O plano
funcionou perfeitamente. – Como posso te ajudar, querida?
Rachel brindou-a com um doce
sorriso.
- Eu estou grávida novamente. Veja.
– Ela mostrou a barriga. – Mas é um segredo. O Burke não pode descobrir. Vão me
tirar esse bebê também. E eu preciso ter certeza de que ele está bem. – Mais
uma lágrima escorreu pela face antes dela fazer o pedido. – Eu sei que é pedir
muito, mas...será que você não me ajudaria a fazer alguns exames? Um segredo
nosso.
Quando Rachel finalmente saiu pela
porta da emergência amparada pela enfermeira chefe e com braço enfaixado, todos
a olharam. Depois de toda aquela demora já não esperavam vê-la saindo assim,
tão saudável, e andando calmamente. Ela sorria e o rosto de Neal refletia o
gesto. Ele foi até ela e a abraçou.
-
Tudo bem? – Perguntou olhando-a.
-
Sim. Só estou um pouco sonolenta pela medicação para dor que me deram. – Ela
sorriu para enfermeira. – Muito obrigada por tudo. Você foi muito atenciosa.
Não tenho como agradecer.
-
Não foi nada. – A mulher respondeu entregando um envelope a Rachel, e logo
encarou Peter. – Você está levando a receita de medicamento para a dor. E o atestado
para que fique dois dias de repouso. Espero que o FBI respeite isso!
Quando
saíram do hospital Peter ainda estava confuso. Porque a enfermeira chefe o
encarou daquela forma? E porque ele não respeitaria a indicação para Rachel
repousar? Aquela mulher era estranha mesmo.
-
Porque demorou tanto tempo lá dentro, Rachel? – Ele perguntou no carro quando
foi deixá-los em casa. – Que exames são esses que você fez?
-
Nada demais. Coisas de rotina. Eles falaram que eu perdi sangue então
resolveram me deixar em observação. Só isso.
A
medicação e o cansaço estavam realmente fazendo efeito e Rachel chegou
adormecida ao apartamento. Neal a levou no colo enquanto Peter carregava o
envelope do hospital. Depois que ela já estava na cama eles se despediram. Mozz
os cumprimentou discretamente, com um aceno para não atrapalhar o sono de
Rachel.
-
Precisa de alguma ajuda? – Peter estava constrangido.
-
Não, Peter. Vão tranquilos. Mozz está aqui. A June também se ofereceu para o
que precisar. Mas eu acho que ela está bem. Pra falar a verdade...já é tão
tarde que só vou me deitar e dormir.
- Eu sinto muito pelo que houve, Neal?
Eu realmente não queria que ela se ferisse. – Se fosse Ell, estaria nervoso e
reclamando por não ter estado lá para socorrê-la.
- Eu sei. Ela é uma agente treinada,
Peter. Eu entendo. Boa noite.
Neal a
ajeitou na cama, despindo-a e colocou uma camisola leve. Depois ainda a
observou durante alguns minutos antes de voltar a sala. Ela parecia tranquila e
sem dor.
- Como ela
está? – Mozz perguntou.
- Ela perdeu um pouco de
sangue e terá que ficar de repouso dois dias. Eu só fiquei preocupado pelo
bebê...porque ela ficou tempo demais na enfermaria. Não pudemos conversar com o
Peter por perto. Mas sei que ela está bem.
Ouviram George se chorar baixinho no berço.
-
Deixa ele comigo, Mozz. Vai pra casa descansar. Obrigado por tudo.– Disse Neal
já indo pegar o filho e só ouvindo a porta bater quando Mozz saiu. – Esse
resmungo é saudade, filho? Papai e mamãe estão aqui.
Não
demorou muito para George acabar na cama, entre os pais, aconchegado no peito
de Rachel. A pequena mãozinha descasava na barriga da mãe. A cena não poderia
ser mais bela aos olhos de Neal. Ele também se deitou e ficou ali, tocando,
sentindo o bebê. Rachel dormia pesadamente, mas, se alguma forma, Neal sabia
que ela sentia aquele carinho. Ela deveria ter passado por momentos difíceis,
de muito nervoso ao ser baleada. Era um alívio ver sua família bem.
- Você terá que ser um bom irmão mais velho,
George, para sua irmã ou seu irmãozinho. – Brincou com George. – Ajudá-lo a se
acostumar com essa vida louca que a gente leva.
Os três dormiram bem juntinhos.
Neal acordou na
manhã seguinte viu que George dormia tranquilamente ao seu lado e ao perceber
que Rachel não estava na cama, a lembrança de tudo o que aconteceu lhe veio na
mente e não entendeu porque Rachel não estava ao seu lado. Um instante depois a
viu se aproximar equilibrando uma bandeja de café da manhã com o braço que não
estava machucado.
- Qual a parte do ‘dois dias de
repouso’ você não entendeu? Rachel! Não precisava café na cama e ainda é cedo.
Tem que se preservar! Pobre desse bebê aí dentro. Vive apertado na sua barriga,
a mãe leva um tiro e nem mesmo uma manhã de descanso na cama consegue ter! –
Ele parecia uma matraca reclamando sem parar. – Poxa! Olha o susto que nos deu
ontem! Eu tive que chamar o Mozz às pressas e...
- Chega Neal, e não
grita pra não acordar George. Eu estou bem. Nada de ruim nos aconteceu. – Ela o
beijou quando a bandeja de café já estava sobre a cama. – E você devia conferir
o café da manhã. Aqui tem coisas bem mais interessantes que comida.
Quando Neal
destapou o prato, lá estavam as imagens da ultrassonografia. Ele sorriu
observando-as. Seu bebê estava ali, perfeitamente visível nas pequenas imagens.
E pelo sorriso de Rachel, estava saudável. Neal puxou Rachel pra cama e a
beijou intensamente. Quase não conseguia falar de tanta emoção que estava
sentindo naquele momento. Olhou para George e viu um filme passar em sua mente
lembrando de quando descobriu que seria pai de um menino e quando recebeu a
carta enviada por Rachel, no passado, com o ultrassom do George. Não sabia o
que falar, não tinha palavras. Rachel interrompeu o silencio e falou:
- Tenho 17 semanas fechadas. E você
acertou: é uma menina.
Ele não cansava de
olhar a imagem. A família aumentaria logo. Teriam mais um bebê em casa. Muito
mais alegria. Mais fraldas. Mais mamadeiras. Mais noites em claro. Mais beijos
molhados e sorrisos encantadores. Teriam uma filha.
Após alguns
segundos, Neal falou e agradeceu a Rachel por aquele momento especial que
estavam vivendo.
-
Obrigada! Eu não sei como você consegue, mas eu sou mais feliz a cada dia ao
seu lado. Eu te amo. E eu amo os nossos filhos mais que tudo na vida. – Disse
olhando-a. Depois voltou a ficar sério. – Mas isso não muda o fato que você não
está repousando. Fica aqui na cama. Foi por isso que demorou tanto ontem? Eu
achei que você estava muito machucada.
- Foi só um arranhão. Eu apenas usei para
fazer os exames. Você terá que ir ao hospital pegar os de sangue e nós
enviaremos tudo ao Dr. Richard. – Ela tornou a beijá-lo. – Nossa filha está
bem. Está perfeita!
- Ótimo! – Entre outros beijos eles
comiam. – Cama! Repouso hoje!
- Eu não vou ficar na cama por um
aranhão no braço!
Logo George acordou
e começou a fazer companhia para os pais, Neal pegou o filho no colo, acariciou
a barriga da Rachel e disse:
-
E ai meu meninão...agora você irá ganha uma irmãzinha e terá que ajudar o papai
viu? Principalmente com os meninos viu! Não vamos deixar nenhum menino chegar
perto da sua irmã!
-
Filha se prepara que você terá um papai e um irmão muito ciumentos! – Respondeu
Rachel no mesmo tom de brincadeira.
Tiveram
um dia preguiçoso com direito a filme e pipoca. Não fizeram absolutamente nada.
Apenas namoraram e aproveitaram o dia em família. Era quinta-feira, mas Peter
também liberou Neal de ir ao FBI. Nem Mozzie apareceu para não atrapalhar o dia
em família.
E também porque ele tinha outros
planos. Foi visitar Ell e Sophia! Conforme a menina disse, Mozz era um amigo
seu...só que crescido. No início Ell brincou junto. Mas eles estavam tão bem
juntos que ela resolveu adiantar outras coisas que, tendo uma filha, ficavam em
segundo plano. Ela lembrou que precisava ir ao supermercado. Mozzie e Sophia
passaram aquela tarde de uma forma muito divertida.
- Você já jogou cartas, Sophia? –
Ele perguntou tirando o baralho do bolso.
- Não...é uma brincadeira legal?
- Muito legal! – Ele adorou a ideia
de ter uma aluna.
- É difícil?
- Não se preocupe! O tio Mozzie vai
te ensinar. Você será a melhor.
Três horas se passaram e Sophia
adorou a brincadeira com cartas. Eles ouviram o barulho na porta, mas não
ligaram. Devia ser Ell voltando do mercado. Estava tão divertido que eles
seguiram no jogo. E Mozzie dava dicas a Sophia.
- O segredo e saber enganar o outro
jogador. – Disse. – Você encara ele como se tivesse a melhor carta. Mesmo que
não tenha.
- Isso não é mentir? – Sophia sempre
ouviu que mentir era feio.
Mozzie pensou no que responder.
- Sim, é mentir. Mas na brincadeira
das cartas pode mentir.
- Pode?
- Sim, sim. E sabe qual o melhor
jeito de mentir com as cartas? – Os olhos de Mozz brilhavam como os de uma
criança que faz uma travessura. – Você ter uma carta escondida na manga. Aí
você troca!
Quando ele lhe mostrava como
esconder a carta, ouviram o grito de Peter. Não era Ell quem havia chegado. E
Peter não gostou nada de ver Mozz ensinando Sophia a jogar...muito menos a roubar
no jogo. Se conhecendo Neal aos 18 anos Mozzie o transformou num dos maiores
criminosos do século XXI, do que ele não seria capaz ‘treinando’ alguém desde
criança?! Melhor nem pensar.
- O que isso? Mozzie! Dentro da
minha casa! Ensinando crimes para Sophia! Ela é uma criança! Eu devia prender
você! – Bradou.
- Você tem apenas provas
circunstanciais, Engravatado. Conheço meus direitos! – Mesmo assim iria se
livrar daquelas cartas para não deixar pistas. – E não estávamos apostando
nada. Não é crime.
- Estava ensinando-a a trapacear!
Suma da minha frente, Mozz!
- A palavra trapacear é muito forte
para.... – Ele bem que tentou se defender.
- Saia da minha casa! Agora! Você é
péssima influência para Sophia!
Mozzie não se ofendeu com Peter.
Sabia que ele era um tanto rígido com as regras, mas já o tinha ajudado em
algumas coisas. Logo fariam as pazes. Ele só não imaginou que seria tão breve
assim. Ambos os adultos se assustaram quando ouviram o choro vindo da escada.
Sophia tinha o rosto banhado em lágrimas.
- O que houve, pequenina? – Peter se
assustou. – Fale. Porque esse choro?
- Você tá brigando com o tio Mozz! –
Entre alguns soluções ela explicou. – Ele é meu amigo.
Peter olhou para Mozzie. Ele estava
sorridente por ver a menina defendê-lo com tamanho sentimento. Peter não sabia
o que fazer. Não ia deixá-la triste por algo tão pequeno. E se eles estavam se
divertindo...bom podia deixar passar para não fazer Sophia sofrer.
- Não chore! – Pediu. – Eu não vou
brigar com o Mozz.
-
Nem gritar com ele?
-
Nem gritar com ele. Eu prometo. – Ele a viu sorrir novamente e, sem querer, sorriu
também. – Ele pode vir brincar com você sempre que quiser. Feliz agora?
-
Sim. – Era fácil fazer Sophia feliz. – Me pega no colo?
-
Pego. – Como dizer não para ela?
-
Que ótimo! – Foi Mozz a comemorar. –
Semana que vem vou lhe ensinar o jogo dos copos, Sophia! Temos tantas
possibilidades! – Mozzie se despediu antes que Peter perdesse a paciência
novamente. – Boa noite, engravatado!
Peter
e Sophia continuaram brincando na sala e, quando Ell chegou, ele já estava tão
relaxado que nem lembrava do pequeno desentendimento com Mozz. Elizabeth achou
linda a cena deles juntos e deixou-os sozinhos. Adorava ver aquele laço de
afeto crescer a cada dia.
-
Já está na hora da senhorita dormir, Sophia. – Peter viu que ela estava
bocejando.
-
Você me conta uma história? – Ela ergueu os braços pedindo por mais colo. Peter
não demorou para pegá-la.
-
Conto...mas eu não sou bom em histórias. Acho que eu nunca contei uma. – Isso
seria um problema. – Eu acho que eu lembro da Branca de Neve. Serve essa?
Sophia
sorriu.
-
Pode ser essa sim. Eu gosto do Zangado. – Na verdade ela queria apenas ficar
perto de seus pais temporários.
Apesar
de muito nova, Sophia sabia o que acontecia, ao menos em parte. Ninguém lhe
dizia que aquela era a sua casa. Então, provavelmente, não era. E logo os Burke
também iam abandoná-la. Isso a deixava triste. Peter contou a história, como
ele se lembrava, com algumas adaptações. Mas Sophia gostou e isso era o que
importava. Quando terminou, a agasalhou bem embaixo do cobertor e ia saindo do
quarto a menina lhe chamou.
-
O que foi, Sophia? É hora de dormir.
-
É que eu quero perguntar uma coisa. – Ela estava tímida. – Eu já tive dois
papais e duas mamães...mas agora eu não tenho nenhum.
-
Mas você tem a mim, o seu tio Peter, e a Tia Ell. – Ele respondeu.
-
É, tenho vocês...mas eu não posso te chamar de pai também? E a tia Ell de mãe?
– Ela o olhou com aqueles olhos que o faziam se derreter. – Deixa? É só de faz
de conta. Não precisa ser de verdade. Deixa eu brincar que vocês são meus pais?
-
Deixo, claro que eu deixo...então boa noite, minha filha Sophia. – Peter
disfarçou os olhos cheios de lágrimas. – Vamos dormir agora?
-
Vamos! Boa noite, papai.
Depois que ela adormeceu, Peter voltou para a sala e abriu uma
garrafa de vinho para beber com Elizabeth. Podia se dizer um homem feliz.
-
Ela dormiu fácil? – Ell perguntou.
- Sim. – Peter
sorria feito bobo e Ell não entendia a felicidade do marido.
Na manhã
seguinte Peter acordou logo cedo antes mesmo da Ell, ajudou Sophia a se arrumar para a escola e fez um simples
café da manhã. Ao acordar, Ell percebeu que Peter não estava na cama e ao ver a
hora se desesperou pois tinha que correr ou a menina perderia a hora na escola.
Ell saiu correndo direto ao da Sophia e, ao notar que a menina não estava mais
ali, seu coração acelerou. Entro em desespero.
Desceu
correndo as escadas e não viu ninguém na sala. Correu à cozinha e os viu terminando
de arrumar a mesa para o café. Sophia foi até Ell e disse:
- Bom dia,
mamãe!
Nesse momento
os olhares da Ell e Peter se cruzaram. Ela não sabia o que dizer. Abaixou-se e
pegou a menina no colo para abraçá-la e chamá-la como desejou desde o início.
- Bom dia,
filha, minha filhinha.
Peter veio e
abraçou as duas, sua família agora estava formada e tinha mais um membro: Sofia
Burke.
Depois do café,
Sofia foi escovar os dentes e seus pais foram se preparar para o trabalho.
Enquanto se arrumavam, conversavam:
- Ela já é
nossa. Eu sou a mãe dela desde o dia que decidi que ela ficaria conosco, Peter.
E você é o pai de Sophia desde aquela tarde em que fomos buscá-la. Até Satchmo
já decidiu que é o cachorro dela. A Sophia pertence a essa família, Peter
Burke.
- Devo
entrar com os papéis solicitando a guarda definitiva, então. – Não era uma
pergunta.
- E como diria
o Mozz: vejamos se algum Engravatado tentará me afastar de minha filha! – Ell
encerrou o assunto.
Se
a quinta-feira mais pareceu um sábado de folga, a sexta não poderia ser assim.
Neal foi trabalhar. E mesmo sabendo que Rachel estava bem, passou o dia todo
inquieto. Era estranho estar no FBI e não vê-la, apressada e concentrada,
trabalhando em um caso. Ela jamais iria reconhecer, mas aquele lugar tinha a
cara dela. Quando já passavam das 17hs, foi até a sala de Peter. Ele passou o
dia pensativo, de bom humor, mas estranho. Não se abriu com ninguém.
- Tudo bem, Peter? – Ele disse
batendo à porta.
- Sim, tudo. Está calmo, não? Já é
clima de final de semana.
- É...não vai me contar porque está
tão pensativo?
O fato de Sophia agora chamar ele e
Ell de ‘papai e mamãe’ o estava preocupando. Era bom, era bonito, mas nomeava o
que eles eram um para o outro e tornava oficial o que viviam. Ele simplesmente
não se via mais vivendo sem aquela criança. E isso mudava todos os planos que
tinha na vida. Mas não queria discutir isso com Neal.
- Deixa pra lá. – Tinha outro
assunto de que desejava falar. – Agora que as coisas se acalmaram...porque não
me conta porque a Rachel te deixou com um vergão no rosto?
- Ciúme. – Neal riu. – Ela parece
que tem um radar pra pegar qualquer coisa, qualquer olhada minha em outra
mulher. E se eu mentir então?!?! É pior que o FBI! Ela sabe perceber se eu
minto!
- Eu queria que a Rachel me
ensinasse isso! – Peter riu alto. – Sua mulher é esperta e possessiva.
Combinação perigosa.
- Você é o único que se refere a ela
como ‘minha mulher’. Os outros falam que ela é a namorada de Neal Caffrey!
- Ora Neal...não sou tão conservador
quanto posso parecer. Você não colocou um anel no dedo dela, mas a trata como
sua mulher. Vocês vivem juntos, decidem a vida como um casal, têm o George. Ela
é a sua mulher! Por mais que eu ache que é a pior escolha que você poderia
fazer, afinal ela o leva de volta ao crime. Mas foi a sua escolha.
- Eles são a família que eu sempre
quis. – Era uma resposta sincera. Sempre sonhou com aquilo.
- Então avise sua mulher que ‘a
família’ está intimada para um jantar amanhã a noite, lá em casa. Todos os do
outro jantar, no seu apartamento, vão. Diana e Mozz também. Levem o George.
- Legal. A Rachel vai...espera...você
falou TODOS que foram no outro jantar? Sara? Diz que não! – Era só o que lhe
faltava.
- Sara também, claro. Mas Henrique
irá. Eu mesmo liguei pra ele. Ela não ficará no seu pé. Acho que a Rachel foi
bem convincente no último. – Ele observou a expressão de Neal. – O que há?
- O que há? Há que a causa do vergão
no meu rosto se chama Sara Ellis! A Ell não te contou? Aquele dia das compras,
Rachel viu eu almoçando com Sara e me esbofeteou! Nós não iremos, Peter. Melhor
assim. Rachel precisa de repouso mesmo.
- Dois dias é mais que suficiente
para um tiro de raspão no braço! Vocês vão sim...Sara é um mulher de classe.
Não fará uma cena.
Neal pensou um pouco.
- Assim espero. A Rachel arranca meu
couro em tiras, da forma mais doloroso possível, se desconfiar que eu cheguei
perto da Sara. Que droga! Não quero outra briga por ciúme!
- Esse crédito eu tenho de dar à
Rachel, Neal. Ela colocou em você uma coleira muito mais eficaz que a do FBI! –
Neal jamais assumiria, mas era verdade. – Relaxa Neal. A Ell também é ciumenta.
Eu sei como é. E nós morremos de medo de ficar sem elas. Eu lembro de quando
começamos a trabalhar juntos. Você adorava me dar ‘dicas’ de como manter o
casamento. Agora está vendo como é difícil?
- Muito, realmente difícil. Você
estava certo.
- Conquistar uma mulher a cada dia é
fácil, Neal. Para alguém com o seu rosto, ainda mais. Manter um casamento com a
mesma mulher, isso sim é difícil. Eu vou pra casa. Encontro vocês amanhã, às 8
horas.
Neal também foi embora e no caminho,
lembrando das palavras de Peter, pensou que já fazia algum tempo que não tinha
nenhum gesto romântico. Se estivesse conquistando Rachel, já teria lhe enviado
flores essa semana. No caminho pra casa, escolheu um boque. Quando ia pegando
as tradicionais rosas vermelhas, avistou um arranjo mais exótico. Flor de lis,
vermelha, simbólica e perfeita para a mulher diferente de todas as que
conheceu.
- Uau!!! – Rachel se surpreendeu
quando viu o presente. – O que eu fiz para merecer as flores?
- Entrou na minha vida. – Ele
realmente estava no modo conquistador naquela noite.- A Flor de Lis representa
luz e perfeição.
Eles se beijaram e decidiram que
pular o jantar era algo plenamente possível. Até George colaborou e eles
puderam desfrutar da noite de amor e paixão e, por fim, descanso. Uma noite de
sono, tranquila, encaixado nela, abraçadinhos, era tudo o que Neal queria. E
eles aproveitaram bem.
Aproveitaram...até as 2h25min da
madrugada. Quando Rachel o sacudiu pelo braço até fazê-lo acordar.
- Nossa, amor...você já quer mais.
Eu ainda nem me recuperei para uma segunda rodada. – Dizem que eram os
hormônios, mas ela andava ainda mais insaciável.
- Não é isso! Acorda, Neal.
- O que é?
- Eu estou com desejo! E não é
sexual! – Já explicou logo para ele não ter mais ideias. – Eu quero sorvete,
Neal! Nós queremos. Eu e a bebê precisamos de sorvete. Necessitamos. Muito sorvete! De pistache! E não tem na
geladeira!
Ela o deixou zonzo de tão rápido que
falava.
- Rachel...não dá pra esperar? É
madrugada.
- Neal! É desejo de grávida! Vai nos
negar isso? – Isso era chantagem emocional, ela sabia, mas o desejo era tão
grande que valia o esforço. – Por favor! Pela nossa filha.
- Ok, ok...eu só não sei onde eu
irei encontrar sorvete de pistache as 2h30 da manhã! Mas eu vou procurar. Se
acalme.
E ele realmente procurou, com
afinco, em todos os estabelecimentos que encontrou. Mas sorvete de pistache não
era o favorito dos moradores de NY. Na verdade, eram raras as pessoas que
gostavam. Como ele iria encontrar algo assim? Ninguém tinha à venda! Claro,
afinal, ninguém comprava! Provavelmente Peter era o único que comia esse sabor
de sorvete. E, para agradá-lo, Ell fazia e...e mantinha no freezer de casa! É
isso! Elizabeth certamente tem sorvete de pistache em casa.
Sem se importar com o horário, ligou
para o celular de Ell e deixou tocar até que ela atendeu. Não ligou para a voz
mal humorada e de sono. Ela iria entender.
- Você precisa me ajudar Ell. É caso
de vida ou morte!
- O que é, Neal? São 3h30 da manhã!
– Ela sussurrava. Sinal que Peter não tinha acordado.
- Você tem sorvete de pistache em
casa? A Rachel quer. É desejo! Por favor, diz que tem! – Ele implorou.
- Ouuuu. Sim, tenho. Sempre tenho. É
só vir pegar. – Ela tinha entendido a gravidade do caso. – Vou te esperar na sala.
Não aperte a campanhinha.
Deixando Peter dormindo, Ell foi até
a cozinha e tirou do freezer um grande pote de sorvete de pistache. Desejo de
grávida era realmente algo especial. Esperou na sala até que Neal chegou e
pegou a encomenda.
- Obrigada, muito obrigada. A
‘família Caffrey’ agradece’. – Ele disse e logo saiu com a encomenda.
- Ok. Vá logo, antes que derreta!
Rindo da situação, Ell voltou para o
quarto. Ela só não esperava encontrar Peter acordado e caminhando em direção a
porta.
-
O que aconteceu? Eu ouvi a voz do Neal!
Ela
teve de pensar rápido. Em hipótese alguma poderia dizer a Peter que Neal veio
em busca de sorvete, muito menos que era desejo de grávida. Na verdade,
precisava ser uma mentira muito bem contada para enganar Peter.
-
Sim...Neal esteve aqui. – Não poderia negar.
-
E porque? É madrugada, Ell! O que o Neal queria na nossa casa? – Seria possível
que Neal passaria a vida lhe guardando segredos?
-
Nada de im...
-
Ell! Eu não sou idiota! O que o Neal queria?
-
Conselhos! – Foi a primeira coisa que lhe ocorreu.
-
Conselhos?! Neal Caffrey queria conselhos seus? Às 4hs da madrugada?
-
Sim...ele...ele quer pedir Rachel em casamento e queria minha opinião sobre o
momento mais adequado.
-
E esse ‘conselho matrimonial’ não podia esperar até amanhã?
-
Não. Ele não estava conseguindo dormir e...
-
E aí veio estragar o nosso sono...ok. – Só Neal mesmo. – Vem, vamos dormir!
Neal e Rachel noivos! Era só o que faltava! Podiam trocar algemas ao invés de
alianças!
Rachel lambeu até a
última colherada de sorvete. Parecia que daquele doce dependia sua vida. O
relógio marcava 5h11 minutos quando ela largou o pote na pia da cozinha e foi
deitar. Feliz e satisfeita, agradeceu com muitos beijos adocicados. - Obrigada!
Nossa filha não nascerá com cara de pistache!
-
Foi Ell quem nos salvou. Eu não achava em lugar algum. - Eu telefonarei pra ela
para agradecer. - Não precisa. Poderá fazer isso pessoalmente. Eles organizaram
um jantar amanhã. – Ele olhou o relógio. – Hoje, tecnicamente.
Ele
lhe contou o que sabia do jantar, inclusive os possíveis convidados. Mesmo não
gostando nada da ideia, Rachel concordou em encontrar Sara mais uma vez e
prometeu evitar brigas na casa de seus amigos.
- Nossa filha já passou por muito nervoso.
Quero que você fique calma e ignore a Sara.
- Se você não ficar dando atenção à ela, ok,
eu ignoro.
-
Eu não dou atenção para a Sara desde o dia que te conheci. Ela não toma mais
nem um minuto dos meus pensamentos. – Com mais um beijo, ambos dormiram sabendo
que logo o sol brilharia e George não ficaria no berço por muito tempo.
Cansados, eles ficaram em casa até a
hora de ir à casa de Peter e Elizabeth. A casa ficou cheia. Além de Neal e
Rachel, Diana, Mozz, Henrique e Sara compareceram. Para a alegria de Sophia, George
engatinhava para todos os lados e Teddy dava alguns passos e caía sentado. Tudo
sob olhar atendo de Satchmo.
- Mamãe! Mamãe! Eu quero o doce de
chocolate! – Sophia gritou entrando na sala.
- Ele é a sobremesa, Sophia. Depois
do jantar. – Ell respondeu sabendo que Peter já tinha contrabandeado uma porção
do doce e dado à ela durante a tarde.
A menina voltou a brincar com os
bebês e todos olharam para Ell e Peter. A família deles tinha mudado muito
desde o último jantar.
- Mamãe? – Sara externou o que todos
pensavam. – Ela já te chama de mãe?
- Sim! – Toda orgulhosa, Ell
respondeu. – E Peter de pai. Nós já entramos com o pedido de guarda definitiva.
Não vou entregar minha filha!
- É isso aí, Sra. Engravatada! – O
ato de Elizabeth fez com que Mozz gostasse ainda mais dela. – Se os meios
legais não funcionarem, me avise. Posso ajudar nos alternativos.
- Não será necessário falsificar
nada! – Peter tratou de dizer. – Sophia será nossa filha legalmente.
Durante todo o jantar, Neal se
manteve distante de Sara. Tudo para evitar uma briga. Não que tenha sido um
sacrifício. A maior parte do tempo ele passou acariciando os cabelos de Rachel
e perguntando se ela estava bem. Como há dois dias ela levou um tiro e ainda
tinha o braço enfaixado, ninguém desconfiava de nada. Aos olhos de Peter, Neal
era apenas um homem apaixonado mimando a mulher que amava e que, recentemente,
viu em perigo.
- Tudo bem? A cinta não está te
apertando muito? – Sussurrou no ouvido e Rachel.
- Não, tudo bem. Só não quero ficar
até muito tarde para tirar logo.
- Sim, voltaremos cedo. Depois do
jantar, diga que está com dor no braço. – Tinham a desculpa perfeita. – Vou
adorar tirar a cinta e todo o resto.
Já à mesa, todos comiam e tinham
conversas amenas. Henrique contou que estava cuidando de outros casos da MI5
ali e existia a possibilidade de ficar no escritório deles nos EUA, não
retornando a Inglaterra.
- Quando encerrarmos o caso do
tráfico, decidirei. – Ele era um homem agradável e vinha mostrando interesse em
Sara. Ela era a causa de querer ficar.
- Parece que a Inglaterra já foi
mais interessante. Primeiro Sara, agora Henrique. – Ell brincou.
- Ou Sara veio em busca de algo que
desejava muito. – Rachel provocou e Neal a olhou feio.
Sara estava apenas esperando para
mostrar as garras. Essa era a oportunidade perfeita.
- Pode ser, Rachel. Pode ser que eu
tenha deixado aqui algo muito importante e queira de volta.
- Boa sorte na busca! Vai precisar!
– Rachel a fuzilou com o olhar.
Peter ficou preocupado com o rumo
que o jantar estava tomando. Pensou que, talvez, Sara precisasse ver o quanto
Neal estava comprometido com Rachel. Seria indiscreto, talvez, mas era por uma
boa razão.
- Neal, já fez o pedido? Será um
noivado longo? – Peter se levantou e ergueu a taça. – Vamos fazer um brinde ao
nosso casal de colaboradores do FBI que logo oficializarão a união.
- Neal! – Diana gritou. – Você não
nos avisou.
- É Neal...você não avisou. – Mozzie
sabia que havia algo de errado.
Todos olhavam para Neal. Sara estava
pálida e séria. Os outros sorriam. Rachel tentava disfarçar a felicidade. Neal
não entendeu nada. Só Ell tinha ideia da onde Peter tirou aquela infeliz ideia.
- Desculpe a nossa indiscrição,
Neal. É que eu contei ao Peter da nossa conversa sobre a sua vontade de pedir Rachel
em casamento. – Ela via nos olhos de Neal que ele não entendia nada. Teria que
lhe dar uma dica. – Você iria esconder o anel numa taça de sorvete.
- Ouuu claro. Só que eu não tinha
pedido ainda. – Ele olhou para Rachel e percebeu que não poderia regredir. Ela
sorria lindamente. – Na verdade eu nem comprei o anel ainda. Era pra ser uma
surpresa...mas...
Ele se levando e decidiu fazer o que
tinha de ser feito:
- Rachel Turner, você aceita se
casar comigo? – Saiu meio gaguejado. Mas ele disse.
- Sim, claro que sim! – Ela
respondeu antes de puxá-lo pela gravata e beijá-lo sob aplausos.
Apenas uma pessoa à mesa não bateu
palmas.
Depois de jantarem, todos ficaram na
sala para beber um café. As crianças já haviam adormecido no andar de cima.
Diane, Henrique e Peter conversavam sobre casos do passado e Neal foi chamado
para participar.
- Vá! – Rachel disse. – Vou lá
encima ver se George está bem e já venho. Aí, bebemos um café e nos despedimos.
Ela foi até o quarto de Sophia. E
viu as três crianças dormindo tranquilamente. A menina em sua cama. E os dois
bebês adormecidos sobre vários cobertores colocados no chão. Estavam bem.
Quando saiu do quarto, viu Sara fechando a porta do banheiro.
- Veio conferir quantas calorias
ganhou no jantar? – Rachel provocou.
- Não, não preciso. Mantenho a forma
naturalmente. Já você, Rachel...está bem gordinha. E o Neal, sempre em forma e
com o abdome malhado, deve achar horrível.
- Olha...ele não costuma reclamar.
Mas hoje a noite..depois de ter um orgasmo fabuloso, eu vou perguntar pra ele.
E sim, caso você esteja se perguntando, Neal continua com aquele abdômen
pecaminosamente delineado. E eu o beijo, lambo e mordo todos os dias. Porque
ele é meu. Eu posso!
A raiva borbulhou nos olhos de Sara.
Ela lembrava bem como era beijar aquele abdômen.
- Ele te contou do nosso delicioso
almoço? – Sara olhou para os dois.
- Sim, ele contou. – Ela daria uma
resposta que Sara jamais esqueceria. – A diferença entre eu e você, Sara, é que
você o Neal fazia de idiota o quanto desejava. Você estava mais preocupada em
recuperar aquele Rafael do que em cuidar do seu homem. Eu, não. Eu sei quando
MEU homem mente. Então, ele não tenta me enganar. Por isso eu sei que o Neal
não a quer, por mais que você se ofereça a ele.
- Você não merece o Neal. É uma
assassinazinha. Você não vale nada! – A loira gritou.
Rachel se aproximou, prensando-a na
parede.
- Nisso você está certa. Eu não
valho nada. Eu não mereço o Neal. E eu sou uma assassina. E com tudo isso, ele
me quer. Ele é meu! – Ela sussurrava no ouvido de Sara. – Não se esqueça disso
na hora em que tiver vontade de tirar a calcinha para o meu homem. Eu estou
cansada de te avisar.
- O que você está sugerindo?
- Não estou sugerindo! Estou
avisando! Na próxima, você vai levar a maior surra da sua vida!
- O Neal sabe que você ameaça as
pessoas?
- Sabe! E ele sabe que eu cumpro as
ameaças! É uma das coisas que ele ama em mim.
Rachel ainda tinha algumas coisas
para dizer à Sara, mas Elizabeth a interrompeu. Rachel desceu parando apenas
para se desculpar com Ell pela cena feita ali. Elizabeth ficou com Sara, que
tremia dos pés a cabeça, de choque, raiva e ódio, e levou-a até seu quarto.
Teriam uma conversa séria.
Quando chegou à sala, Rachel chamou
Neal. Ele percebeu que algo errado tinha ocorrido e ao olhar em volta e não ver
a ex, soube exatamente o que foi.
- Pega o George e vamos? Meu braço
dói.
Rapidamente se despediram de todos
que estava ali. Peter disse que chamaria Ell, mas Rachel afirmou que era
desnecessário por ela estar ajudando Sara. E era verdade. Por mais que a agente
de seguros não gostasse daquela ajuda.
- Eu achei que você fosse minha
amiga também! – Ela gritou para Ell.
- Eu sou! E vou adorar quando você
encontrar um homem com quem queira passar a vida. Mas não vou apoiar as suas
ridículas tentativas de separar o Neal da Rachel! Pense, Sara! Eles têm um
bebê!
- Ela não serve para ele! É uma
criminosa. Uma assassina.
- Ela faz bem a ele. Basta Sara!
Você está se humilhando por um homem que não te quer. Nem mesmo o Neal vale
algo assim. – Ell sabia que no fundo Sara era uma boa pessoa. – E pare de dizer
que Rachel está gorda e que Neal não irá desejá-la mais. Primeiro porque é
idiota! Eu já estive bem acima do peso e Peter não me deixou por isso. E Rachel
não está gorda.
- Como não? Ela está bem barri... –
Não?!?!?! Não podia ser?!??! Ela não podia estar grávida. – Esse menino não tem
nem 1 ano! Ela não está!
- Está, Sara! E eu não deveria estar
te dizendo isso. Só disse para você entender que é ‘fim de linha’ para você e Neal.
Se você tivesse visto a alegria dele pela chegada de outro bebê. Neal está
realizado, Sara. Respeite isso. Eu te peço.
Uma lágrima escorreu pelo rosto de
Sara.
- Está bem. Eu não farei nada. – Ela
limpou o rosto. – Henrique me convidou para sair. Vou aceitar.
- Ótimo. Vamos descer então? – Elas
foram até a porta. – Mais uma coisa, Sara: Peter não sabe da gravidez. Poucas
pessoas sabem e você guardará esse segredo em nome da nossa amizade e do
sentimento que tem por Neal.
- Está bem. – Ela decidiu que
manteria a palavra.
Enquanto o jantar continuava até bem
tarde na casa dos Burke e George já repousava em seu berço, Rachel fazia
questão de comemorar seu noivado surpresa. Naquele momento Neal estava amarrado
a cabeceira da cama com duas gravatas e ela tirava a lingerie sensual que
usava.
- Sabe como é difícil encontrar
calcinhas e sutiãs de gestante que sejam sexy? É muito, muito raro. – Rachel
disse.
Ela
desceu por seu corpo deixando uma trilha de beijos pelo peito, depois em cada
gominho do abdômen, até encontrar o chamado ‘caminho da felicidade’ e segui-lo,
com muito prazer, para livrá-lo da cueca que usava e se deliciar no pênis que
pulsava.
-
Sabe por que, minha Afrodite? – Ela raspou os dentes nele e Neal gritou. – É
que não existe nada capaz de te deixar mais sexy. Nem renda, nem cetim. Minha
filha fez você alcançar o limite da perfeição.
Ela
continuava acariciando-o com a boca, língua e dentes. Neal urrava. Logo
perderia o controle. Ia desmoronar nos lábios dela.
-
Chega, Rachel! Chega! AAAAA! Eu vou gozar! Para! AAA!!! Puta que pariu! – Neal
nunca falava palavrões. Rachel adorou ouvir a prova do seu descontrole.
Infeliz
ou infelizmente, Neal não gozou na boca de Rachel. Quando ela se deliciava de
olhos fechados, viu-se sendo girada do ar. Neal havia se soltado da cabeceira.
-
Quando eu quero muito algo, nem mesmo um nó de Diaba Ruiva me segura. – Seu
sorriso era safado e guloso. – Agora você é minha!
-
E o que você quer? – Neal a deitou apoiada sobre os travesseiros. Estava
confortável e sedenta por ele.
-
Quero tudo. Você inteira. – Ele beijou seus seios e sentiu-a se arrepiar. – Mas
vou começar com eles.
Neal
lembrava-se do tempo em que saía com modelos que usavam sutiã 36 e adorava.
Achava aqueles peitos empinadinhos lindos. Agora, olhando e, principalmente,
tocando a fartura de Rachel, não entendia como. Seus seios estavam grandes e
pesados. E ele adorando essa fase. Na verdade, aquela mulher o tinha mudado
completamente. Qualquer outra parecia não bastar.
Devolveu
cada carinho que ela lhe deu. Beijou a barriga, exposta e redonda como apenas
na intimidade do lar podia expor. Colocou dois dedos dentro dela e a ouviu
gemer. Seus músculos o apertavam. Com a boca, a provocava mordendo-a no colo e
nos seios.
Neal
tornou a inverter as posições e deitar de costas na cama para ela sentar-se
sobre ele e, cavalgando-o, pudesse controlar a força e a profundidade com que a
penetrava. A gravidez já estava um tanto avançada e queria saber até onde ela
se sentia confortável. Com as mãos sobre as dele, Rachel controlou a relação
com bem quis e gritou sobre o peito dele quando o sentiu explodir em gozo
dentro dela.
-
Você ainda me mata, Neal. – A respiração acelerada.
-
Eu te acompanho ao céu ou o inferno, por apostar.
Rachel
se deitou de lado na cama. Precisava recuperar as forçar. Neal ainda ficou
parado mais algum tempo e quando se mexeu foi para lhe mordida na parte interna
da coxa pouco antes de abraçá-la por trás.
-
Você adora me morder nas coxas e na bunda, Caffrey.
-
Correção, Turner: eu adoro as suas coxas e a sua bunda. Com ou sem mordida.
-
Essas foram as primeiras coisas que você gostou em mim? – Ela adorava o fato de
satisfazê-lo.
-
Não. Eu notei primeiro, lá no museu, o quanto você é inteligente e apaixona por
história...as coxas e a bunda foram a segunda coisa. – Abraçando-a apertado
Neal notou que ela estava caindo de sono. – Boa noite.
O
domingo prometia ser de paz e descanso. Neal acordou achando que o único
problema que teria seria correr a uma joalheria para comprar um anel de noivado
já que sua mulher e os colegas de FBI acreditavam que ele tinha resolvido se
aconselhar com Elizabeth e pedir Rachel em casamento.
-
Será que eu estou pronto pra isso? – Ele disse falando sozinho enquanto
preparava o café da manhã às 10hs.
Mas
esse seria o último dos problemas naquele domingo. Eles foram chamados às
pressas no FBI. A equipe completa. E, o pior, não foi Peter quem exigiu a
reunião. O comando fora dado pelo agente Edbert Shepherd, da MI5. Isso garantiu o mau
humor de Rachel.
- Inferno! Estou cansando, Neal. – Ela desabafou. –
Cansando do papel de cadelinha que sai correndo a cada chamado da MI5. Esse
acordo era eu trabalhar para o FBI! Não a MI5 me controlar!
- Calma! Vamos ver do que se trata.
Eram treze horas quando as equipes do FBI e da MI5
se reunião na sala de Peter. Ninguém tinha uma boa expressão no rosto. Era
domingo e todos queriam estar em casa. Mas Henrique e Shepherd pareciam mais
preocupados.
- O caso de tráfico de crianças teve algum avanço?
– Diana pressionou.
- Não! É outro caso. – Ele respondeu.
- Shepherd, não posso ficar assumindo todos os
casos que você juntar interessante usar a Rachel! É impossível. – Peter também
já estava cansado.
- Dessa vez, Peter, não fui eu quem resolveu
envolver Rachel no caso. Foi o criminoso!
- O que? – Foi Peter a falar. Mas todos estavam e
choque.
Shepherd colocou uma foto do monitor da sala e
disse apenas um nome. O resto deixaria para Rachel explicar.
- Conheçam Joseph
Harabo. Fugiu há 24hs do uma prisão de segurança máxima na Espanha. Apresente
Harabo aos seus colegas, Rachel. Ninguém melhor do que você para isso.
-
Não sei o que isso tem a ver conosco do FBI, mas ok. Joseph Harabo tem
acusações na França, Espanha e Inglaterra e Turquia. Os crimes variam desde
tráfico de drogas e sequestro, até assassinato e tortura. Foi condenado a
prisão perpétua há 6 anos. É isso. Encontrem-no!
-
Continue, Rachel! – Shepherd disse. – Tem mais algumas coisinhas aí. Porque eu
pedi que você o apresente?
-
Provavelmente porque fui eu a prendê-lo.
-
E? – Neal já estava apavorado com o restante daquela história. Peter também
pressentia coisas desagradáveis.
-
E acusei-o de envolvimento na morte de meu pai. Nunca consegui provar. Mas sei
que ele tem responsabilidade nisso. Mas provei outros dois assassinatos e o
prendi. Armei uma emboscada e o peguei.
-
Não antes de... conte tudo, Rachel. - Edbert Shepherd pressionou.
-
Ele não se entregou por bem e nós lutamos, só nós dois. Ele tirou minha arma,
eu tirei a dele. Trocamos alguns murros. Eu lhe dei algumas rasteiras. Ele
tirou uma faca do bolso e tentou me ferir. Eu lhe tomei a faca e o navalhei.
Quando acordou no hospital, Harabo só teve tempo de olhar a cicatriz que ia do
pescoço ao ombro antes de ir ao presídio. Eu fiz pouco perto do que ele
merecia.
-
E ele foi condenado no julgamento e sempre jurou vingança a você. – Shepherd
disse.
Não
era uma história agradável de se ouvir e todos na sala trocavam olhares
preocupados. Bandidos obsessivos não era novidade para ninguém ali, mas
reconheciam que Harabo não parecia ser do tipo que esquecia ameaças.
-
Mas isso faz seis anos! – Peter tentava entender as evidências que tinham. –
Ele não esperou tempo demais, não?
-
Nesse meio tempo Rachel traiu a MI5 e ficou usando nomes falsos por anos.
Depois fugiu do FBI e também ninguém sabia o seu paradeiro. Agora ele tem onde
encontrá-la. Saíram algumas notícias de Rachel Turner na Espanha. O curioso
caso da assassina que trabalhava para o FBI agora.
-
Isso são suposições! – Jones se manifestou. – Vocês não podem afirmar que ele
viu essas notícias.
-
Infelizmente temos provas. – Henrique falou. E colocou outra imagem no monitor.
Era uma foto da cela dele. – Se você
observar o jornal sobre a cama, verá que a página é estampada por uma foto de
Rachel. Ele deixou exatamente assim. Como um aviso do que faria.
Neal
perdeu a paciência.
-
E, sabendo disso, do risco, vocês vieram aqui para levá-la a Europa participar
de uma caçada a esse lunático? – Era inacreditável.
-
Não, Neal. Não é isso que a MI5 quer. – Rachel falava com a tranquilidade de
quem sabia exatamente como jogar aquele jogo. – Eles querem que eu sirva de
isca. Que deixe o meu pescoço bem amostra para o Harabo se sentir tentado a vir devolver a facada.
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