Neal
voltou para casa revoltado. Em momentos assim ele realmente cogitava
desaparecer no mundo com sua família e Mozz. A vida deles não representava nada
ao FBI, muito menos à MI5. Queriam apenas usar Rachel nos casos mais perigosos,
mais arriscados. E, se ela morresse, não ligariam. Ninguém se importava com o
que ele sentiria, nem com o fato de George precisar da mãe. Isso lhe confirmava
que se falassem da gravidez iriam apenas trancafiá-la novamente. Nada do que
ela fez nesses meses seria bom o bastante para fazê-los reconhecer que Rachel
merecia ser livre. A única pessoa que o segurava ali era Peter. Ele não era só
um agente, o melhor de todos, era um agente que o via como amigo. Mas essa
amizade não podia fazê-lo esquecer que sua família vinha em primeiro lugar.
- Talvez
esteja chegando a hora de a gente dar adeus a NY. – Ele disse pegando as mãos
de Rachel já no apartamento. – É se arriscar demais.
-
Eu sei que você ama esse lugar, Neal.
-
É...mas eu amo mais vocês. Já está na hora de ir embora.
-
Calma. Conheço o Harabo. Ficarei atenta, mas não há tanto a temer. Sou melhor
que ele, Neal.
-
Eu sei. – Com um beijo ele encerrou o assunto. – Cuide-se, por favor. Não se
arrisque. Não posso perder vocês. – Ele ainda se lembrava com clareza do
momento em que aquele avião explodiu com Kate dentro e levou o sonho de uma
família embora com ela. Agora que tinha essa família, não iria arriscá-la.
Os
dois ainda ficaram juntos naquele domingo a tarde até que Mozz chegou. Para não
cair na tentação daquele vinho aberto sobre a mesa Rachel resolveu ir dar banho
em George. Ele reclamou quando saiu do colo do Tio Mozz.
-
Calma companheiro! Logo você volta! – Ele brincou com o pequeno que já tinha
mais de 10 meses.
A
intimidade que Mozz tinha com Neal lhe permitia saber de certas coisas sem nem
mesmo perguntar. E havia algo errado. Não era só o tal Harabo. Criminosos
querendo vingança era algo comum pra eles. Era algo mais pessoal. E lhe parecia
que aquele estranho pedido de casamento tinha a ver com isso.
-
"Sofremos muito com o pouco que nos falta e gozamos pouco o muito que
temos”. – Disse ao amigo enquanto bebericava do vinho.
- Citando Shakespeare?
- Ele é
‘o pai das tragédias’, Neal. E há uma aura trágica sobre você. Vamos lá?!? Diga
logo! Não é assim que deve estar o homem que acaba de pedir a mulher amada em
casamento. Já
comprou o anel de noivado? – Perguntou encarando Neal.
O olhar de Neal fez Mozz entender que tinha acertado em cheio...por mais
que ele disfarça-se.
- Além dos casos do FBI, de George para cuidar e um suposto assassino
vingativo atrás de Rachel, agora tenho de ver mais isso. A Elizabeth deveria
ter me avisado que inventou isso para o Peter. Eu teria encontrado uma
desculpa.
- Por ‘mais isso’ você se refere ao imenso e desagradável trabalho de
escolher o anel de noivado de sua futura esposa? Neal, você não me parece muito
animado com as bodas. Quem sabe você diz para Rachel a verdade? Se é que você
sabe qual é a verdade. Qual o problema?
Não foi apenas Mozz quem percebeu que Neal estava diferente. Rachel
também notou seu estresse exagerado. Ela não saiu da sala apenas para banhar
George. Ela deixou-os à sós para, assim, Neal se abrir com o amigo. E ela poder
ouvir tudo escondida. No closet de Neal, havia uma espécie de janela secreta,
herança do antigo cassino que funcionou ali. Neal mesmo já utilizou para ajudar
Peter em um caso. Ele só não sabia que agora ela se encontrava ali, quietinha,
ouvindo seu desabafo e recebendo a dolorosa notícia de que Neal não desejava se
casar.
- O problema? Eu...Mozz...eu não sei se eu estou pronto pra casar. Eu a
amo. Muito. Mas casar, tornar oficial, me comprometer para o resto da vida. É
muito. Não sei se é a hora.
- Você se sentia pronto para casar com Kate. Fez planos, guardou um anel
para ela, lembra?
- Foi diferente. É...sei lá. Eu levei um susto quando o Peter disse
aquilo na frente de todos. E eu fiz o pedido no susto.
- Então tudo não passou de um mal entendido que você não pode desmentir
na frente de todos. Uau! Você não quer casar com Rachel?
- Fala baixo! Vem pra sacada! Traz o vinho! – Neal respondeu com receio
de que ela ouvisse a conversa. - Não é isso. Eu só...eu não sei se eu quero.
Nós estamos bem como namorados. Para que mudar?
- Se me permite utilizar novamente
os conhecimentos de nosso nobre amigo Shakespeare: "Chorar sobre as desgraças passadas é a
maneira mais segura de atrair outras."
- Você acha que eu não quero casar
por causa da Kate? Não, Mozz! Ela está morta há muito tempo para eu guardar
alguma esperança. É passado.
Ambos se assustaram quando ouviram
uma porta bater. Estranharam. Não havia vento. Mas, a discussão estava acirrada
e logo esqueceram.
- Tem de
reconhecer que é estranha essa sua dificuldade de oficializar o casamento que
você, na prática, já tem. A Rachel domina a sua vida, Neal. Até os seus
pensamentos. Sem falar que é a mãe dos seus filhos.
- Eu a
amo. Isso não mudou nem vai mudar. Só não esperava casar agora. – Será que era
assim tão incompreensível?
-
Ok...bom, com o faro para mentiras que ela tem, é bom você contar logo a
verdade.
- Eu sei
e... – O choro de George tomou o ambiente. – Rachel está com ele.
Mas o
menino não parou de chorar. Então Neal foi vê-lo e o encontrou sozinho no
berço. Rachel não estava ali. Tinha saído. Quando voltou para a sala, já com o
filho sem chorar em seu colo, Neal tinha expressão preocupada. Sabia bem o que
tinha acontecido. Rachel não sairia sem motivo. Ela tinha ouvido ao menos parte
da conversa e não tinha gostado.
- Droga!
– Passou George para Mozz. – Ela está com a tornozeleira. Não vai poder se
afastar muito. Eu vou procurá-la! Fica com ele?
- Claro.
– O que mais poderia fazer?
Rachel
tinha ouvido até a parte em que conversavam sobre Kate. E teve a confirmação de
que nunca seria a mulher mais importante da vida de Neal. Sempre viria depois
de Kate. A bela morena de cabelos longos e olhos azuis que fez Neal arriscar um
grande golpe. A inocente que ele levou para o crime e viu morrer em uma
explosão de avião provocada por um grande inimigo. Alguém que, na verdade,
desejava apenas a morte de Neal. Se Kate estivesse viva, estariam juntos, por
aí, dando algum golpe.
Deixou
George calmo e quase adormecido no berço e saiu do apartamento. Foi caminhar,
esfriar a cabeça e decidir o que fazer. A jaqueta fechada escondia bem a
gravidez de mais de quatro meses e ela não tinha pressa para voltar ao apartamento.
Na verdade, pensava que se Neal não tinha vontade de oficializar a união, era
porque não a queria morando lá de verdade. Então, talvez, o melhor fosse voltar
a viver na sala de conferências do FBI e manter Neal mais afastado. Um namorado
mesmo. A vida familiar era uma brincadeira para ele. Brincadeira da qual Neal
já estava enjoando.
Ela
entrou em um Café que costumava ir. Queria apenas sentar e pensar na vida.
Decidir como ir embora da casa de Neal, se afastar um pouco, sem ser traumático
para George. Ele estava muito habituado a ter o pai e a mãe juntos. Foi tirada
de seus devaneios por uma voz muito familiar. Henry estava ao seu lado,
encarando-a. E ela se seu conta do quanto ele lhe fazia falta. Não o via há
quase dois meses, desde a semana em que Neal foi preso e ela descobriu a
gravidez.
- Foi
preciso uma coincidência para fazer a mulher que se dizia minha melhor amiga
encontrar comigo novamente. Porque ela não atende nem retorna as minhas
ligações! – Ele tinha a expressão fechada.
- Henry! – Esteve tão imersa em
problemas que nem pensou em procurá-lo. – Eu não esperava ver você.
- É claro que não! Ou nem teria
vindo aqui! E sabe porque, Rachel? Você ao menos lembra porque nós brigamos?
Foi pela sua imaturidade de não poder aceitar que eu preciso dar atenção à
minha esposa e não posso ficar ao seu dispor 24hs por dia. E então, por saber
que eu ficaria preocupado, você sumiu e não entrou mais em contato! Eu que
sempre te ajudei!
- Agora você tem a Molly e o seu
bebê! Não precisa mais se preocupar comigo e com George! – Ele sequer havia
notado que estava grávida. Como Henry, seu amigo da vida toda, podia não ver
claramente as mudanças em seu corpo. – Você não se importa mais comigo!
- Isso é bobagem sua! Rachel! Meu
filho nascerá em menos de um mês. A Molly está grávida, está vulnerável. Ela
precisa mais de mim agora. Será que você não consegue entender isso?
- Não, não consigo! – Ela não se
importava em ser sensata. Só queria o seu amigo de sempre. – Eu também estive
vulnerável esse tempo e também precisei de você e não tive. Quer saber?!?!? Não
quero te ver mais! Adeus!
Quando se afastou da mesa do Café
deixando Henry pasmo e sem palavras, viu Neal entrando. Parece que ele tinha
decorado os lugares que ela gostava e, bom...tendo apenas alguns quilômetros
liberados pelo FBI, não foi difícil ele encontrá-la. Não ia lhe facilitar as
coisas. Passou reto por ele sem nem mesmo cumprimentá-lo.
- Volte aqui! – Ele tinha visto
Henry e, por um momento, pensou que talvez ela não tivesse ouvido nada da conversa
com Mozz e a saída do apartamento fosse apenas para se encontrar com Henry Roussel.
– Não fuja, Rachel! Eu a peguei no flagra com seu amiguinho! Não adianta vir
com silêncio agora! Eu sair com Sara é um pecado, mas você ir ver o Henry não?!
Ela
deu a volta e parou na calçada bem enfrente a ele. Se Neal Caffrey queria fazer
um escândalo nas ruas de NY, ele teria um de primeira qualidade.
-
Eu não sou covarde, Caffrey! Não vou fugir de você! Não tenho nada com Henry e
esse ‘encontro’ nada agradável não passou de uma coincidência!
-
Quer que eu acredite nisso?! Você veio encontrar ele! Deixou nosso filho
sozinho para vir encontrar o Henry! – Ele a acusou.
-
Não tente virar as coisas a seu favor, Caffrey! – Ela começou a chorar. - Eu já
sei de tudo! Não precisa mais fingir noivar comigo. Eu vou voltar para o FBI e
a gente vai retornar ao acordo original. A gente ficar junto nunca fez parte
disso. Eu vou trabalhar no FBI e a gente será colega. Só isso.
Neal
observou-a caminhar pela rua e seguiu-a de longe. Ela estava indo para sua
casa. Não disse nada. Os dois precisavam se acalmar. Inferno! Não gostou de
vê-la com Henry. Não tinha engolido aquela coincidência. E não queria que ela
voltasse a viver no FBI. Quando subiram ao apartamento, Mozz foi embora só
parando para avisar que George já dormia.
-
Ele...está acostumado a viver aqui. Acho melhor que ele fique. Você o leva para
me ver como fazia antes. – Ela foi no quarto e pegou uma mochila. Estava
falando sério. – A gente apressou as coisas, Neal. Não deveríamos ter começado
a morar juntos tão rápido. Você não está pronto pra brincar de casinha. A
verdade é essa!
-
E na primeira oportunidade você correu para os braços do Henry!
-
Eu não vou nem discutir essa idiotice.
-
Claro! Mas quando foi a Sara, você me esbofeteou. Mas o seu amiguinho é
diferente.
-
Eu já disse que não tenho nada com o
Henry. Eu não o quero e ele não me quer. Diferentemente da sua situação com
Sara. Henry está muito feliz com sua mulher e filho. – Ela disse com raiva.
-
E você se ressente de não ter mais o seu cachorrinho de todas as horas! – Neal
devolveu.
Ela
pegou algumas roupas e jogou na mochila.
-
Pense o que quiser, Caffrey. – Estava cansada. Corpo e mente queriam repouso. A
vida com Neal era agitada demais.
Neal
observou-a arrumar a mala e pensou que vê-la sair pela porta seria doloroso
demais.
-
E como vai esconder a gravidez ficando o tempo todo no FBI? Vai usar cinta o
tempo todo na barriga? Até quando? Você não pode ir para lá.
-
Não preciso ficar lá! Tinha a opção de hotel, lembra?
-
Um lugar deplorável que você não aguentaria um dia. – Ele mesmo não havia
aguentado.
-
Eu me viro. – Ela colocou a mochila nas costas e foi dar tchau para George. –
Sai da frente, Neal.
-
Parei de ser o ‘Caffrey’? Já se acalmou então?
-
Eu não quero brigar com você, Neal. Me deixe passar, por favor. – Ela o encarou
firmemente. – Você não quer casar. Ok, é um direito seu. Só não precisava ter
me enganado na frente de todos. A gente supera isso. Podemos conviver
educadamente pelo George.
-
Não vou deixar minha filha ir para um hotel daqueles! Não quero você lá! Nem no
FBI. Seu lugar é aqui.
Ela
o encarou por um tempo.
-
Você não sabe se quer conviver comigo o resto da vida. Melhor termos um tempo
afastados. – Essa era a atitude mais sensata que podia ter.
Será?
Neal até reconhecia alguma lógica nisso. O afastamento poderia mostrar a ambos
o que sentiam. Mas não era certo ela se arriscar em qualquer espelunca ou viver
no FBI.
-
Eu fico no apartamento de Mozz! Você continua aqui, com George. E ninguém no
FBI fica sabendo. Ok?
O
gesto era nobre, Rachel reconhecia. Mas não podia tirar Neal da própria casa.
Não era justo. E nem sabia onde Mozzie morava. Ele passava mais tempo ali do
que em qualquer outro lugar.
-
Não, Neal. Aqui é a sua casa. A June gosta de tê-lo aqui. Eu sou a hóspede. Não
é o meu lar. – Era doloroso se despedir assim e abandonar a familiar que vinham
construindo. – O George ficará bem aqui com você. Eu venho visitar. Conversarei
com Peter.
-
Não! Eu quero ter certeza que você está aqui. A June não se importará. Eu falo
com ela. Não quero desfazer o acordo que temos com o FBI. Não quero que eles
saibam que... nós terminamos. Será melhor acharem que somos um casal quando a
gravidez vier a tona. Você fica. Está decidido. – Ele não sabia o que queria. –
Se Peter ou Ell aparecerem você dá uma desculpa e me manda um mensagem que eu
apareço.
-
Está bem. – Ela não queria se despedir.
-
Qualquer emergência você me liga. – Após reunir algumas coisas em uma mala ele
deixou o apartamento. Não havia clima para beijos. Era o fim. Mesmo assim lhe
deu um abraço e fez um carinho na barriga. – Cuide-se. E...me liga a qualquer
hora, se precisar.
Terminar um relacionamento não era
fácil. Com filhos, era impossível. E quando um bebê estava na barriga da mãe, a
ligação era ainda maior. Nenhum dos dois dormiu naquela noite. Neal se
preocupava com ela sozinha. Tinha conversado com June e pedido para ela não
liberar ninguém estranho para subir. Lhe mostrou a foto de Harabo e disse para
ficar atenta. Era um homem muito perigoso que podia estar rondando.
- Está bem. Conte comigo. – A
senhora lhe beijou o rosto. – Mas não fique afastado. Vocês se amam. Que
bobagem é essa de separação?
- Eu não sei, June. Talvez seja o
melhor. A gente vinha brigando muito.
Quando chegou ao apartamento de
Mozz, Neal sabia que seria bem recebido. Eram como irmãos. O problema era que
esse irmão também era intrometido e se sentia no direito de opinar sobre as
melhores atitudes a tomar. Em especial sobre George e o bebê a caminho.
- Menino George não pode passar por
essas coisas. Ele está em fase de desenvolvimento. Precisa de segurança
familiar. Peça perdão à sua Diaba Ruiva e resolvam suas diferenças na cama. Não
é o que sempre fazem?
- Dessa vez não é tão simples. E eu
não tenho que pedir perdão! Ela se decepcionou comigo porque eu não queria
casar e foi correndo para os braços do Henry. Ela saiu para se encontrar com
outro. Sente falta do Henry. Talvez a gente nunca dê certo junto. Agora a gente
só vai conviver pelos nossos filhos, eu só vou pensar neles. Não nela. Eu vou
esquecer a Rachel. Quando eu a procurei era pelo George, não por ela. Posso
ficar sem ela.
A certeza de Neal, no entanto, durou
só até a manhã seguinte quando a viu entrar no FBI abatida. Tinha certeza que
ela passou uma noite tão infernal quanto a dele. Peter encarou a ambos com
olheiras no rosto e presumiu que era algo com George.
- Vocês também, é? – Brincou ao
vê-los.
- Nós o quê – Neal respondeu.
- Tiveram problemas nessa madrugada.
Sophia teve febre e manteve eu e Ell acordados.
- Bem vindo aos problemas de ter
filhos, chefe. – Diana brincou.
- Sim, George esteve agitado e nós
quase não dormimos. – Rachel resolveu aproveitar a desculpa.
O dia de trabalho foi agitado
deixando Rachel e Neal seguiram atuando em casos diferentes. Ele já tinha
concluído sua parte do caso de tráfico infantil, indicando quem estava
falsificando os documentos. Naquela tarde, Peter iria fazer os interrogatórios.
Agora estava estudando um caso sobre contrabando de pedras preciosas com Diana
enquanto Peter, Rachel e Jones investigam e cercavam a quadrilha de tráfico. Edbert Shepherd e Henrique passaram a manhã no FBI.
A MI5 acompanhava de perto o andamento do caso e, agora, cuidavam de Joseph
Harabo. Ele não tinha sido pego em nenhuma fronteira, mas Shepherd dizia não
ter dúvidas de que ele viria aos EUA.
Na volta do horário de almoço Neal
tentou uma aproximação com Rachel. Ela e Diana tinham saído juntas e, ao
retornar, Rachel encontrou sobre sua mesa uma única Flor de Lis e um bilhete
dobrado: ‘Me desculpa? Eu gosto do que temos’.
Ela procurou-o e viu que estava
sozinho, próximo a cafeteira. Foi conversar com ele. Não queria ficar em guerra
com Neal. Só precisava de algum afastamento.
- Te desculpar pelo que, Neal? –
Sussurrou em seu ouvido. – Por não desejar casar comigo? Ora...você não é
obrigado. Você diz que gosta do que temos, mas tem medo de oficializar. É sinal
que você ainda tem dúvidas. Eu não quero te pressionar, Neal. A gente se
precipitou. – Ela resolveu dizer toda a verdade. – É que pra mim é difícil
competir com a Kate. Você sempre a terá sua perfeição. A mulher que te amou e
que morreu.
- Isso é bobagem! – Ele não sabia
que Rachel pensava assim.
- Não, não é bobagem. – Rachel olhou
em volta e viu que a maioria das pessoas não tinha voltado do almoço. – Você
não quer casar comigo porque sempre quis casar com ela. Eu posso colocar a Alex
pra correr a tapas, eu posso escorraçar a Sara pra longe...mas eu não posso
lutar contra um defunto perfeito, que você endeusa.
- Não é assim, Rachel. Kate é
passado. Você é o meu presente. – Ele se aproximou e cheirou seus cabelos. – Eu
gosto do que nós temos. Eu quero você. Eu quer ca...
Neal ia dizer que queria casar com
ela, mas Rachel colou-o colocando um dedo a frente de seus lábios.
- Não! Não fale sem pensar. Você já
fez isso na casa de Peter. Não seja impulsivo, Neal. Não brinque com o que a
gente tem. Um afastamento nos fará bem. Pra gente ver o que quer da vida, de
verdade. Não quero que você se arrependa de ter ficado comigo.
Então eles seguiram separados e
mantendo apenas as aparências ao FBI. Todas as manhãs Mozzie ia ficar com
George e, a tarde, ele passava na mesma escolinha de Teddy. E eles trabalhavam
lado a lado no FBI para, no fim da tarde, Neal acompanhá-la até em casa e se
despedir com um leve beijo no rosto e um carinho no ventre. Em cada um dos dias
da semana, uma nova Flor de Lis apareceu sobre a mesa de Rachel. Era como um
símbolo do que tinham e Neal não queria perder.
Em uma saída de campo acompanhado de
Diana, Neal estava desconcentrado e preocupado. Com todos os problemas que
tinham, seria melhor ao menos estarem juntos e unidos para resolver. Brigados
era ainda pior.
- O que você aprontou, Caffrey? –
Diana perguntou.
- Nada. Porque?
- Você está cabisbaixo e a Rachel já
tem uma floricultura na mesa dela! – Diana debochou. – Vai! Conta! Você está
dormindo no sofá?
- Vamos trabalhar, Diana? – Quem
dera estivesse no sofá...estava fora de casa.
- É sério o problema. – Ela ainda
brincou antes de continuar o trabalho.
A quadrilha de tráfico de crianças
estava sendo monitorada e já havia provas para prendê-lo. A ação poderia
ocorrer a qualquer momento. Joseph Harabo não foi visto. Era como se tivesse
desaparecido completamente. O que não acalmou as agências. Todos o
investigavam. Além deles, Mozzie também fez sua busca particular. Durante a
noite, ele e Neal faziam uma investigação própria.
- Edbert Shepherd tem razão, Neal. É
difícil para eu assumir, mas ele está certo. Harabo não fugiu por nada. – Mozz
decretou tendo a sua frente um arquivo do bandido.
- Que elementos conseguiu reunir? –
Neal perguntou.
- Rachel parece ter sido uma
engravata das difíceis de encarar no seu tempo de MI5. Ela o investigou pra
valer. Mas a grande ligação é com o pai dela. John Turner teve um conduta
ilibada por quase três décadas de serviço à MI5. Se não fosse a Rachel nos dar
a informação de que ele buscava ilegalmente aquele diamante, jamais saberíamos.
Ele soube disfarçar, Neal. Seu currículo é perfeito.
- Mas... – Tinha algo que Mozz não
disse.
- Existem dois momentos nebulosos na
fixa dele. O primeiro data de 1988...
- O ano em que Rachel nasceu e ele a
encontrou após um incêndio de carro. – Neal relembrou o grande segredo que fez
Rachel fugir sozinha na noite que deu à luz.
- Isso é a versão de Nicolle. – Mozz
falou.
- Você acha que não é verdade?
- Não há nada que diga que é
mentira...mas é sempre bom desconfiar. – Mozzie desconfia de tudo sempre. – O
que importa é que temos uma interrogação aqui. Porque o normal para um homem
com a ética de John seria procurar as autoridades e adotar Rachel. Não foi o
que ele fez. Ele forjou tudo e, estranhamente, não usou seus contatos para
descobrir a origem da filha que jurava amar. Em vez disso, mentiu para todos e
passou a treiná-la para encontrar o diamante. Não era o mesmo John Turner.
- Ok. Mas nada disso explica Harabo ter motivos para matar John. E é
isso que nós procuramos. Vamos deixar o passado da Rachel quieto, Mozz. Ela não
vai gostar nada se souber que a gente andou investigando.
- Levando em consideração que ela fez arquivos de todos nós, acho que eu
posso investigar. – Ele encheu a taça de vinho. – Mas seguiremos ao segundo
ponto nebuloso. Quando Rachel tinha oito anos, John teve seu primeiro embate
com Harabo. Investigou um sequestro. Harabo recebeu o resgate e matou a refém
da mesma forma. Sumiu com o dinheiro deixando a MI5 bem raivosa. John passou a
caçá-lo. Mas algo me diz que tratava-se de problema pessoal, Neal. Porque
oficialmente John só voltou a ter um caso envolvendo Harabo quatro anos depois.
Dessa vez uma investigação de tráfico de drogas. Há 8 anos, quando Rachel era
ainda uma novata na MI5, John morreu durante uma emboscada. Na época trabalhava
em outro caso, sem ligação alguma com Harabo, mas, Rachel sabia que seu pai o
investigava de forma particular e o acusou da morte.
- Mas porque o investigar escondido? – Era um mistério.
- Se tem alguém que pode explicar isso, é a Rachel.
- Não estamos em um bom momento para conversas difíceis como essa. Ela
nunca gostou de falar de passado. Agora é ainda pior.
- Quer um
conselho? – Mozzie nem esperou a resposta. – Se acerte com sua mulher! Quando é
que vocês vão resolver essa bobagem?
A
pergunta ficou sem resposta. Neal não tinha a resposta até aquele momento.
Queria aquela mulher. Queria acordar com ela ao seu lado e ir dormir sentindo o
cheiro de seus cabelos, queria até mesmo os problemas que ela trouxe à sua
vida. Mas era difícil para ele imaginar-se casado.
Quando a
sexta-feira chegou, Neal e Rachel sentiam a falta um do outro cada dia mais
forte. June levou logo cedo para Rachel um café da manhã especial. Na verdade,
queria conversar com ela e lhe dar alguma atenção.
- Não é o
café da manhã que o Neal prepara, mas servirá para colocar um sorriso no seu
belo rosto e alimentar essa pequenina que vem aí. George está bem?
-
Obrigada, June. Está bem sim...sentindo a falta de Neal, claro. Mas está bem.
- E você
também sente a falta. – June os tradava como seus filhos. – Vocês precisam resolver
isso.
- Eu
queria que esse casamento nunca tivesse sido cogitado, June. Eu não sonhava com
isso. Eu sempre soube que o Neal sonhou casar com outra, que eu não sou o sonho
de noiva para homem nenhum. Mas saber claramente que ele não cogita casar me magoou.
É sinal que aquele amor que ele dizia ter não era tão grande assim.
Ambas
ouviram uma batida na porta. Era o horário que Mozz chegava para pegar George.
Mas não foi Mozz a entrar, foi Neal. Ele carregava outro boque de Flor de Liz.
- Bom
dia, Neal. – June o cumprimentou. E se afastou de Rachel para lhe falar. - Vejo
que tomou juízo. Menino teimoso! Não jogue fora o que tem de mais valioso. Essa
moça entrou na sua vida para roubar um diamante, mas ela vale muito mais do que
qualquer joia. Ela é a sua parceira para uma vida.
-
Acredite! – Ele sussurrou. – Eu sei disso. Em nem uma semana longe dela, eu vi
que não posso ficar sem. Você leva George ao descer? O Mozz está chegando e eu
queria um minuto à sós com Rachel.
- Claro!
– A senhora saiu sorridente.
Quando
Neal viu a porta se fechar, aproximou-se de Rachel e lhe estendeu as flores.
Ela caminhou até ele e, em silêncio, pegou o delicado presente.
- São
lindas. Obrigada, Neal. – Ela o pegou pela mão e levou até o quarto onde, sobre
a cama, estavam algumas roupinhas de bebê. – Olha. Dizem que quando a gente
está triste, fazer comprar é bom. Eu fiz várias essa semana. Estava mal.
Esse foi
o jeito que Rachel encontrou para dizer que sentiu a falta dele em cada um
daqueles dias. Neal sabia que ela era orgulhosa demais para falar com todas as
letras. Mas ela sofreu exatamente como ele. E estava tocada, fragilizada. Neal
abraçou-a na cama.
- Não
fica assim. Não quero você triste. Eu errei, nós erramos. Desde que te conheci você mudou a minha vida, virou
meu mundo de cabeça pra baixo, um mentindo para o outro fingindo ser quem não
era. Você foi a mulher que fez com que eu esquecesse meu primeiro grande amor. –
Rachel iria interferir para lembrá-lo que nunca esqueceu Kate, mas ele a
cortou. – Shiiiii não me interrompa. Você é única, é eterna, a mais amada no
mundo todo. Você me proporciona tudo o que eu poderia desejar encontrarem numa
mulher: carinho, conforto, atenção e tranquilidade, surpresa, desejo, paixão e,
o mais importante de tudo, me deu dois filhos.
- Não quero
que fique comigo por eles. – Ela disse corajosamente.
- E não é o
caso. – Ele se ergueu da cama. – Rachel! É verdade que a Kate foi importante.
Eu a amei muito. Sonhei casar com ela. Sonhei ter uma família com ela. Sonhei
ter filhos com ela e levá-los para brincar no parque. Mas não passaram de
sonhos. Quem me deu essa família foi você. E eu tenho orgulho da nossa
familial. Você me alegra a cada vez que sorri para mim, me dá prazer sempre que
toca minha pele ou que me beija, você mexe comigo apenas com o olhar. Esses
nossos meses juntos, foram a época mais feliz da minha vida. Eu vejo o mundo
diferente hoje e, eu não sei como eu pude temer me casar quando a vida perderia
toda a graça sem você. – Ele tirou o anel comprado ontem a noite do bolso e se preparou para fazer o pedido. Dessa vez
sincero. – Eu quero passar com você toda a minha vida. Nos momentos bons e
ruins. Dividir com você as coisas boas e todos os problemas que aparecerem. Por
tudo isso, minha Deusa Afrodite, é que eu preciso fazer uma pergunta, repetir,
na verdade, porque na primeira vez eu agi no susto e estraguei tudo, mas eu vou
concertar agora e você me dará uma imensa alegria ao repetir o ‘sim’... ou eu
terei que pedir novamente até você me aceitar de volta. Você quer se casar
comigo?
Qualquer
dúvida se dissipou com aquele pedido. Neal Caffrey podia ser um salafrário
cheio de ex namoradas oferecidas. Mas ele a amava e era o homem da sua vida.
- Sim, eu
quero ser sua mulher, Caffrey. – Ela o abraçou o mais apertado que pode. – Eu
sempre quis...desde o início.
Depois de
algum tempo ali, eles perceberam que estavam atrasados para o trabalho. Era sexta-feira
e o dia no FBI prometia ser de muito trabalho. Antes, porém, Rachel queria lhe
mostrar uma coisa.
- Olha. Eu
vi e não resisti. – ela mostrou a cama cheia de roupinhas e sapatinhos cor de
rosa, com babadinhos e fru-frus. – É tudo tão lindo! Eu queria comprar as lojas
inteirinhas! Nossa bebê vai ser muito amada!
- Ela já é,
amor. Já é muito amada. – Disse ele pegando um sapatinho minúsculo. – Só falta
a gente escolher o nome dela.
- Eu tenho
uma sugestão. – Na verdade foi Neal quem lhe deu a ideia depois de presenteá-la
tantas vezes com a Flor de Lis. Agora o nome parecia quase óbvio. A bebê era,
assim como a flor, o símbolo de como uma amor tão improvável poderia surgir e
criar raízes tão profundas quanto duradouras. – Lis. É simples, bonito e, para
nós, inesquecível.
- Lis? –
Neal repetiu o nome baixinho algumas vezes. – Lis! Gostei. A minha Lis! A nossa
florzinha. É. Será Lis então!
Mais alguns
beijos e com a certeza de que chegariam atrasados, Neal e Rachel finalmente
desceram as escadas de mãos dadas.
- Sem mais
cenas de ciúme? – Neal provocou. – Nem por Sara, nem por Henry ou quem seja.
Não há razão para isso.
- Você está
certo. Sem mais cenas de ciúme. – Ela concordou.- Vamos fazer um piquenique no
parque? Eu, você, Lis e George.
- Vamos. –
Por um instante Neal imaginou os muitos piqueniques que faria com a família.
Tinham um futuro lindo se aproximando. - Algum cardápio especial para a minha grávida?
-
Não...apenas Neal Caffrey ao ponto. – Ela riu e o mordeu.
Foi um dia de
muito trabalho, mas feliz. Mesmo que com bastante serviço, a todo o momento se
procuravam e, numa carícia discreta, prometiam que a noite iriam matar a
saudade um do outro.
- Neal! Suba
na minha sala. – Gritou Peter do segundo andar da divisão. Quando Neal fechou a
porta ele voltou a falar. – A pista sobre o falsificador de documentos que você
me passou, é quente mesmo?
- Sim,
claro. Olha Peter...foi o Mozz que conseguiu e é pra valer. – Neal conhecia
pouco do cara que havia apontado como o falsificador. – Falsificador dessa
qualidade não tem em cada esquina e nem todos topariam entrar num esquema
desses, que tira crianças dos pais. Também existe ética no crime, Peter. Se
Mozz diz que é ele, pode apostar que é.
- Tomara que
você esteja certo, Neal. Porque eu requisitei um mandado pra invadir o lugar
onde esse cara vive e vou tentar um acordo para ele nos levar até o chefão da
quadrilha. A próxima documentação que ele fará, terá dados escolhidos por nós
e, quando for usada teremos a prova definitiva.
- Ótimo. – E
era mesmo. Mexer com crianças era demais. – Isso ficou bem pessoal para você.
- Como não
ficaria se uma vítima desse golpe agora vive lá em casa e me chama de papai? –
Peter sentou-se. – Ela acabou ao menos com pais que a amavam, Neal. Mas quantas
dessas crianças podem ter sido maltratadas, abandonadas, usadas para exploração
sexual ou trabalho escravo. Eu vou por fim nisso!
E Neal sabia
que iria. Quando Peter queria descobrir algo, ele conseguia. Sentiu na pele
como aquele federal podia ser insistente.
Ele e Rachel
almoçaram juntos, com a companhia de George. Namoraram feito dois adolescentes.
Parecia que precisaram recuperar a semana perdida. Quando viram, já era hora de
voltar ao FBI e não tinham comido. O jeito foi comprar sanduíches. Neal avisou
que a noite iriam comer algo mais saudável.
- Você anda
pior que médico, Neal. Só me dá recomendações. – Rachel brincou.
- Isso é
mentira. Também te dou beijos. – E deu, muitos.
Ali, deitados
na grama, ficaram até a hora de voltar ao FBI. Quando passavam pela porta de
vidro, Peter os observou. Percebeu que fosse qual fosse o problema que tiveram,
estava resolvido. Neal e Rachel tinham passado a semana estranhos, ainda mais
estranhos do que vinham agindo nos últimos tempos, mas agora já voltavam ao
normal. Se é que havia algo de normal entre eles.
Estranho foi
ficar observando-os e ver como Rachel estava diferente. Suas roupas haviam
mudado e ela andava muito discreta. Fazia o seu trabalho, mas parecia querer
passar despercebida. Isso sem contar na forma como Neal ficava o tempo todo
cercando-a. Agora mesmo, mantinha a mão em suas costas.
- Rachel! –
Chamou-a. – Suba com aqueles processos. Quero olhá-los com você.
Ela
subiu...mas Neal veio junto trazendo a caixa de papeladas referentes ao caso em
que Rachel atuava.
- O que você
faz aqui, Neal? – Peter perguntou.
- Nada. Só
vim ajudar trazendo os processos. – Na verdade a caixa estava pesada e subir a
escada com aquilo parecia demais para uma grávida. - Ajudar.
- Sim...ok.
Eu vou avisar a equipe que nós temos um novo carregador de processos! – Neal
andava estranho demais. – Obrigada. Agora deixe eu e Rachel trabalhar.
Naquela
noite Peter chegou em casa desconfiado. Tinha a sensação de que estava perdendo
algo. Havia alguma coisa sendo escondida dele e, tendo Neal por perto, ele era
naturalmente o primeiro alvo de sua desconfiança. Não que pudesse estar
envolvido em algum crime. Não! Neal estava muito familiar para isso. Ao menos
por um tempo poderia confiar nele. Mas havia algo. E, se tinha Neal, tinha
Rachel. Tentou relembrar os últimos meses e unir cada uma das atitudes
estranhas que presenciou. Não eram poucas. Fingia que não percebia. Fechava os
olhos. Mas estavam lá. Como uma cortina de fumaça, as mentiras tentavam
confundi-lo. Mas ele descobriria.
- Tudo bem,
Peter? – Elizabeth perguntou enquanto ambos arrumavam a louca do jantar.
- Tudo...é
só que sinto que estou sendo enganado.
- Enganado?
Porque? Por quem?
- Eu não sei
exatamente. É como se uma mentira pairasse no ar. Mas eu vou descobrir, Ell.
No sábado a
tarde, Rachel e Neal chegaram em casa pra lá de cansados. Desde o meio da manhã
estavam passeando com George pela cidade. Ele não queria saber de ficar no
carrinho mais. Era no chão engatinhando para todos os lados ou no colo de um
dos pais. Normalmente com Neal.
- Não pode
ficar carregando ele, Rachel. George está pesado. – Neal reclamou.
- George,
diz pro seu pai que ele está ficando um velho resmungão e que a mamãe não vai
parar de dar colo pro bebê dela. – Foi a resposta bem humorada de Rachel.
- Espera
chegar em casa pra eu te mostrar quem está velho, espera!
A noite
anterior já havia sido bem gostosa, o que também explicava o cansaço deles.
Tirar o atraso de uma semana afastados exigia energia. Neal tinha lhe feito uma
deliciosa massagem. Ela agradeceu fazendo-o gritar ao chupá-lo até o limite
quando, contra a parede da sala, penetrou-a. Não tiveram paciência para chegar
em casa. O amor calmo e paciente foi adiado para o dia seguinte. Iam dar banho
em George e assim que o menininho dormisse, continuariam exatamente de onde
pararam.
O plano foi seguido à risca, até a
parte em que George adormeceu. Quando Rachel abria os botões da blusa para
tomar um banho e ia provocar para que Neal a acompanhassem, ouviram batidas na
porta.
- Seja quem for, vou despachar. –
Avisou-a antes de abrir a porta. – Essa noite é nossa!
Quando abriu a porta, Neal encontrou
Peter, Elizabeth e Sophia. A menina animada com o passeio, Ell constrangida e
Peter com aquele ar de policial ‘em serviço’. Quase perguntou se ele trouxe as
algemas de tão sério e desconfiado que parecia. Mas aí viu que seu amigo
carregava um engradado de cervejas. Rachel puxou a blusa para baixo o quanto
pode e manteve as mãos em frente do ventre. Não esperava encontrar Peter e,
como a cinta apertada era desconfortável, ficou sem.
- Oi Príncipe! Oi tia Rachel! Cadê o
George? – Sophia gritou.
- Ele está dormindo já. Chegou
cansado do Parque. – Rachel respondeu beijando a garotinha. – A gente não
esperava vocês.
- Eu avisei ao Peter, Rachel. – Ell explicou
e olhou para o marido. – Melhor nós irmos. Eles estão ocupados.
- Nãooo. Tenho certeza de que o Neal
vai querer assistir o jogo!
- Eeee Peter...nós passamos o dia
fora. Chegamos há pouco e...
- Ei sei!
- Sabe? – Neal não entendeu.
- Sim! Eu olhei a localização da
tornozeleira da Rachel! Muito útil! Melhor que celular!
Sem muita alternativa já com
Elizabeth e Sofia se instalando as sacada e Peter recostado no Sofá, Neal foi
abrir um vinho enquanto Rachel resolveu procurar na cozinha ingredientes para
preparar um lanche rápido. Estava com fome, cansada e com convidados na casa.
Tinha que ser prática.
- Não, não, não. – Neal disse vindo
até ela. – Você estava indo tomar banho. Vá. Eu preparo algo...ou peço pizza.
Melhor.
- Não! Eu preparo algo rápido.
- Não, Rachel. Já disse que não.
Você vai tomar banho e descansar. Aproveita enquanto o George está dormindo pra
descansar um pouco. – Ele abraçou-a na cozinha e acariciou as costas enquanto
sussurrava. – Já exagerou hoje. Se acomoda um pouco. A Lis precisa de repouso.
- Tá...eu vou tomar um banho e
colocar a cinta. Volto logo.
Peter observava-os e percebeu que cochichavam algo. Mais uma vez,
o cuidado excessivo de Neal com Rachel o surpreendeu. Seu consultor sempre foi
um homem atencioso com suas namoradas. Mas nos últimos tempos, parecia que Neal
colocava Rachel em uma redoma de proteção. Coisa que, aliás, ela seria a última
mulher a necessitar.
Sua desconfiança só piorou quando,
de relance, viu Neal passar a mão na barriga dela. A blusa parecia esticada
sobre o ventre arredondado. O corpo de Rachel estava diferente, muito
diferente. Ela estava...
- Papai! Papai! Eu quero ver a rua
lá embaixo! Me leva lá na sacada e pega no colo. - Mas a recente desconfiança de Peter o deixou
mudo. Rachel, Neal e Ell olharam para ele. - Agora papai!
- Sim, sim. Claro Sophia. Papai te
pega.
Rachel saiu discretamente deixando
Neal cuidar de tudo e distrair as visitas. Tomou um banho rápido e se permitiu
alguns minutos relaxando enquanto passava cremes na pele e escovava os cabelos.
Calmamente passou óleo sobre a pele da barriga e carinhosamente massageou-a.
- A mamãe vai ter que te apertar
novamente, Lis. Mas será rápido. – Disse antes de colocar a cinta bem apertada.
Quando voltou para sala Rachel teve
a sensação de que Peter a analisava. Por um instante, teve certeza de que ele
olhava seu ventre. Encolheu a barriga o quanto pode e manteve uma postura
impecável. Neal avisou que a pizza devia chegar em meia hora e que estava tudo
organizado, então deveria ir se sentar e conversar com Ell.
- Não vai servir uma taça de vinho
para sua mulher, Neal? – Peter indagou.
- Ela está evitando o álcool, Peter.
Para não engordar. Rachel acha que ganhou alguns quilinhos desde que veio para
o FBI. – Ele beijou-a. – Uma bobagem, sem dúvida. Mas...se ela não quer álcool,
eu respeito. E já preparei um suco.
- Obrigada, amor. Você é o melhor
noivo do mundo! – Rachel ainda olhou para Peter para responder. – Além disso,
um de nós tem que estar sóbrio para quando o George chora.
Quando Rachel bebia o primeiro gole
de seu suco, novas batidas na porta soaram. Certamente não era a pizza pois nem
que o entregador viesse de avião seria capaz de chegar tão rápido.
- E as visitas não param. – Disse Neal
já desistindo da noite romântica que pretendia.
Ao abrirem a porta, Neal e Peter
concordavam que não se tratava de uma visita. Era Mozz quem batia e Neal só
estranhou ele não ter entrado direto.
- Para que
não digam que eu sou intrometido. O que seria mentira terrível! Olá Sophia, o
tio Mozz chegou para alegria de todo. – Ele parou no meio da sala. – Neal, não
vai servir meu vinho?
A ‘festa
improvisada’ continuou. Elizabeth percebeu claramente que Peter mudou
drasticamente. Se antes ele observava Neal com todo o cuidado e tentava farejar
mentiras, agora Rachel era o alvo. E do alto de seus 12 anos de casamento,
podia dizer com certeza que Peter estava muito próximo de descobrir o segredo
deles.
- Rachel!
Porque você não me mostra aquele sapato que comprou? Eu fiquei curiosa! – Disse
para tirar o alvo de Peter da sala.
- O que foi,
Ell? – Rachel sabia que havia algo errado.
- Não sei
exatamente. Mas cuidado. Peter está bem desconfiado. Vocês terão que contar
logo, Rachel!
- Eu sei, eu
sei. Logo! Agora olha isso. Olha a roupinha que eu comprei. – Rachel mostrou um
macacão verde, muito delicado. – Nossa princesa já tem nome: Lis.
- Que lindo!
Lis Turner Caffrey. – Elas se abraçaram. - Muito bonito. Parabéns.
Na próxima
vez que ouviram uma batida à porta, todos pensaram que se tratava do jantar que
havia chegado. Rachel e Ell voltaram do quarto e, vendo Neal pegar mais
bebidas, Rachel gritou que abriria a porta. Encontrou June. A senhora disse que
apenas trazia uma caixa deixada na entrada endereçada à ela.
- Está bem.
Eu vou abrir. – Mas ela estranhou aquilo e pressentiu algo ruim. – Não quer
ficar e jantar conosco?
- Não...você
está bem, querida? – June notou Rachel pegar a caixa um tanto trêmula. – Se
acha que é algo ruim, não abra. Neal! Venha aqui.
Não só Neal,
mas todos se aproximaram. Mas foi Rachel quem fez questão de abrir a caixa
misteriosa. Se era endereçada a ela, abriria. Não seria covarde. Tirou a fita
colante que lacrava a embalagem e lá encontrou dois envelopes. Abriu o
primeiro, continha apenas uma mensagem:
“Quem diria que um dia nos reencontraríamos,
Rachel. E que você teria uma família. Gente como você não deveria se reproduzir”.
Suas mãos
tremiam e ela só sentia a presença de
Neal ao seu lado. Não viu todos os demais trocarem olhares assustados. Rachel
abriu o segundo envelope. Ela imaginou coisas terríveis. Só não pensava que doeria
tanto e lhe deixaria tão atormentada. Dentro, encontrou
fotos de George, Neal e ela no passeio do dia anterior no parque. Rachel sentiu
que tudo em sua volta escurecia e não viu mais nada.